Hoje
é sexta feira 13, de Carnaval.
É
a festa mais popular do Brasil e uma das maiores do mundo.
Começou
com o Entrudo, no século 19.
O
carnaval como nós conhecemos, é brasileiro. Mas as suas origens remontam há
muitos séculos, desde os tempos em que galinha tinha dente. No entanto, repito:
Como tal o conhecemos é brasileiro.
Nos
barracões a bagunça está organizada há meses e ganhará a avenida logo mais às
23 horas.
A
primeira escola a desfilar é ....
Na
telinha de fazer doido, como dizia o bem humorado Stannislaw Ponte Preta, é uma
mesmisse só com muito colorido e pernas e outras coisas de fora. Mas há
alternativa para olhos cansados dessa mesmisse: O rádio.
Aliás,
hoje é o Dia Mundial do Rádio, criado pela ONU - Organização das Nações Unidas.
Quando
o carnaval começou a substituir o entrudo, a bagunça começou a ser organizada.
Tão organizada que o Barão do Rio Branco chegou a falar a respeito:
E
aí vieram as marchinhas.
Vieram
as marchinhas, os sambas de ritmos diversos e só bem depois, os sambas de
enredo.
O
primeiro disco com sambas de enredo, foi gravado nos fins de 1950.
Era
tudo muito simples, tudo muito natural, tudo, a bem dizer, familiar.
Em
São Paulo, havia corsos, como no Rio de Janeiro.
Lembro
que certa vez, o maestro - vejam só! - Eleazar de Carvalho contou-me da beleza
que era desfilar na Rio Branco dos anos 50; ele, tocando tuba; Pixinguinha,
flauta; João da Baiana, Villa-Lobos e Almirante, entre outros bambambans da
época.
Uns
20 anos antes, o mesmo Eleazar estreara em disco "de 78 voltas", acompanhando
com a sua tuba a portuguesinha abrasileirada Carmem Miranda.
Mas
essa é outra história.
Em
São Paulo, as escolas de samba datam dos anos de 1930.
Em
São Paulo, o carnaval passou a ser notícia de rádio, com narração inclusive, no
começo dos anos de 1960. Quando, por iniciativa do radialista Moraes Sarmento,
a gravadora Continental levou à praça o primeiro LP reunindo sambas de enredo
interpretados pelo paulistano Geraldo Filme e a rainha do baião, a carioca
Carmélia Alves.
A
televisão encontrou nos desfiles carnavalescos um modo simples de ganhar
audiência e faturar alto para seus cofres.
Só
anos depois, e me refiro aos anos 60/70, é que o rádio também entrou na parada.
A
partir de hoje por exemplo, a Rádio Estadão promete por seu bloco de
jornalistas/radialistas na rua e no ar, sob o comando do craque Emanuel Bomfim.
Com Bomfim, estarão Leão Lobo, Renê Rodrigues, a compositorta, deputada e
cantora Leci Brandão e o veteraníssimo Moisés da Rocha, titular há quase 40
anos do Programa O Samba Pede Passagem, pela rádio USP.
A
palavra Carnaval aparece escrita pela primeira vez no dicionário Aulete,
impresso em Portugal no ano de 1842. Diz o verbete:
"Carnaval
(kar-na-vál), s. m. os dias próximos e anteriores á quaresma, e principalmente os
três dias antes da quarta feira de cinzas. // Folguedos, mascaradas; orgias.//
F. ital. Carnavale.
Como
se vê, pouco mudou da essência do carnaval desde as suas origens.
Os
sambas de enredo do carnaval paulistano deste ano de 2015 são, na sua maioria,
muito bonitos. Destaque para "Entre confetes e serpentinas, Tucuruvi
relembra as marchinhas do meu, do seu, do nosso Carnaval", dos
compositores Fábio Jelleya, Henrique Barba, Leandro Franja, Serginho Moura,
Gabriel, Fabinho Chaves, Edu Borel e JC Castilho.
Clique:
NOTA
TRISTE
Da
página do Facebook do amigo cordelista Marco Haurélio, o seguinte registro:
Morreu
ontem, como um passarinho, em Brumado, Bahia, Dona Maria Rosa Fróes, contadora
de histórias, cantadeira de romances, rezadeira, mestra da cultura baiana,
brasileira, universal.
Conheci-a
em 2005, apresentado por minha colega do curso de Letras da UNEB e neta de Dona
Maria, Giselha Rosa Fróes. Registrei com a sua voz dezenas de contos e lendas,
espalhados nas seguintes obras:
_Contos
folclóricos brasileiros_ (Paulus, 2010);
_Contos
e fábulas do Brasil_ (Nova Alexandria, 2011);
_O
Príncipe Teiú e outros contos do Brasil_ (Aquariana, 2012);
_Contos
e lendas da Terra do Sol_ (com Wilson Marques, Folia de Letras, 2014).
Também
devo a Dona Maria talvez a versão mais estruturada em língua portuguesa da
milenar “História dos três Conselhos”, que registrei em sua forma original e
depois verti para o cordel, conservando sua estrutura básica.
Reproduzo
aqui, em sua homenagem, o conto “Toco Preto e Melancia”, que faz parte da obra
_Contos e fábulas do Brasil_.
Era
uma vez um homem que vivia com a mulher e as filhas. Uma de suas filhas se
apaixonou por um rapaz que morava nas redondezas. Pelo fato de o moço ser
tropeiro, o pai dela não permitia o casamento, alegando que ele viajava muito e
não parava em casa. Ela respondeu que ele viajava para ganhar a vida, mas que
se tratava de um bom rapaz:
—
Quem vai casar com ele sou eu, e não o senhor, meu pai!
Como
não adiantava reclamar, a moça e o rapaz começaram a namorar escondido. Um dia,
combinaram um encontro na roça de mandioca do pai dela, onde tinha um toco
preto no lugar de uma árvore queimada. Ele disse:
—
Nós vamos nos encontrar toda semana no dia tal.
E
assim foi feito: eles se encontravam para conversar sem o pai da moça saber. De
noite, ela dizia que ia à casa da vizinha e, desviando do caminho, ia ao
encontro dele. O namorado, então, fez essa proposta:
—
Vamos nos tratar com outros nomes: você me chama de Toco Preto e eu a chamo de
Melancia. Assim ninguém vai desconfiar. O casal continuava a se encontrar nos
dias marcados. Mas, depois do último encontro, ele ficou um ano sem vir,
viajando com sua tropa. Nesse espaço de tempo, apareceu um moço chamado Antônio
de Zé Moreira que queria casar com Melancia. A moça disse aos pais:
—
Ele é muito bom, mas não para casar comigo. — Mas, depois de pensar que já
fazia um ano sem ver o seu amado, resolveu aceitar o casório. O casamento foi
marcado no mesmo dia em que se davam os encontros entre Toco Preto e Melancia.
Quando Toco Preto retornou da viagem, ficou sabendo do casamento de sua amada.
Então ele disse:
—
Não tem nada, não. — E chamou um empregado, dizendo:
—
Vai na casa da moça que está se casando e faça tudo o que eu mandar. — E passou
todas as informações para o empregado.
A
festa rolava solta com os noivos no salão. Naquilo, chegou um homem e começou a
jogar uns versos que diziam:
Lá
na serra da Taquara
Desceu
hoje um cachorrinho
Tomando
sol pela testa
E
vento pelos ouvidos.
Lá
no toco preto, ingrata,
Eu
deixei o seu gemido.
E
o homem continuou dançando e cantando:
—
Samba pra trás, rapaziada! Samba pra trás, rapaziada! — enquanto jogava os
versos. Mas Melancia só ouvia, sem desconfiar do que se tratava:
Oh!
que moça tão bonita
Tão
custosa a desconfiar.
Minhas
avistas, Melancia.
Toco
Preto está no lugar!
Bastou
ele cantar estes versos para ela entender tudo. Pediu licença à madrinha,
dizendo que ia se deitar um pouquinho para descansar. Em casa, chamou uma
empregada que lavava a louça, e disse:
—
Ana, pegue uma lata, coloque uma galinha cheia e um lombo com farofa, feche-a e
ponha numa sacola e traga para mim, rápido!
As
outras empregadas pensaram que era presente para alguém na festa. Com toda
cautela, Melancia saiu pelos fundos com a empregada Ana. Na estrada para a
roça, tinha uma porteira. Ana segurou-lhe o vestido para não se sujar e as duas
seguiram viagem. Quando chegaram na roça de mandioca, no toco onde se davam os
encontros, o rapaz que jogou os versos já as esperava. Toco Preto ordenou,
então, ao empregado que pegasse os cavalos, que estavam arreados. Montaram
rapidamente e tocaram viagem para a terra de Toco Preto.Na festa, quando deram
por falta da noiva, a mãe perguntou à madrinha:
—
Cadê Ana?
—
Está na cozinha lavando louça!
—
E minha filha?
—
Ah, ela foi se deitar um pouco porque estava cansada, mas já faz um bocadinho.
A
mãe resolveu, então, ir ao quarto procurar a fi lha, mas não a encontrou. Na
cozinha, soube que ela e Ana saíram com uma sacola, e que já fazia um tempinho.
Desta
forma, Melancia saiu para encontrar-se com seu Toco Preto e deixou noivo, festa
e todos para trás.