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sexta-feira, 13 de fevereiro de 2015

O SAMBA PEDE PASSAGEM

Hoje é sexta feira 13, de Carnaval.
É a festa mais popular do Brasil e uma das maiores do mundo.
Começou com o Entrudo, no século 19.
O carnaval como nós conhecemos, é brasileiro. Mas as suas origens remontam há muitos séculos, desde os tempos em que galinha tinha dente. No entanto, repito: Como tal o conhecemos é brasileiro.
Nos barracões a bagunça está organizada há meses e ganhará a avenida logo mais às 23 horas.
A primeira escola a desfilar é ....
Na telinha de fazer doido, como dizia o bem humorado Stannislaw Ponte Preta, é uma mesmisse só com muito colorido e pernas e outras coisas de fora. Mas há alternativa para olhos cansados dessa mesmisse: O rádio.
Aliás, hoje é o Dia Mundial do Rádio, criado pela ONU - Organização das Nações Unidas.
Quando o carnaval começou a substituir o entrudo, a bagunça começou a ser organizada. Tão organizada que o Barão do Rio Branco chegou a falar a respeito:
E aí vieram as marchinhas.
Vieram as marchinhas, os sambas de ritmos diversos e só bem depois, os sambas de enredo.
O primeiro disco com sambas de enredo, foi gravado nos fins de 1950.
Era tudo muito simples, tudo muito natural, tudo, a bem dizer, familiar.
Em São Paulo, havia corsos, como no Rio de Janeiro.
Lembro que certa vez, o maestro - vejam só! - Eleazar de Carvalho contou-me da beleza que era desfilar na Rio Branco dos anos 50; ele, tocando tuba; Pixinguinha, flauta; João da Baiana, Villa-Lobos e Almirante, entre outros bambambans da época.
Uns 20 anos antes, o mesmo Eleazar estreara em disco "de 78 voltas", acompanhando com a sua tuba a portuguesinha abrasileirada Carmem Miranda.
Mas essa é outra história.
Em São Paulo, as escolas de samba datam dos anos de 1930.
Em São Paulo, o carnaval passou a ser notícia de rádio, com narração inclusive, no começo dos anos de 1960. Quando, por iniciativa do radialista Moraes Sarmento, a gravadora Continental levou à praça o primeiro LP reunindo sambas de enredo interpretados pelo paulistano Geraldo Filme e a rainha do baião, a carioca Carmélia Alves.
A televisão encontrou nos desfiles carnavalescos um modo simples de ganhar audiência e faturar alto para seus cofres.
Só anos depois, e me refiro aos anos 60/70, é que o rádio também entrou na parada.
A partir de hoje por exemplo, a Rádio Estadão promete por seu bloco de jornalistas/radialistas na rua e no ar, sob o comando do craque Emanuel Bomfim. Com Bomfim, estarão Leão Lobo, Renê Rodrigues, a compositorta, deputada e cantora Leci Brandão e o veteraníssimo Moisés da Rocha, titular há quase 40 anos do Programa O Samba Pede Passagem, pela rádio USP.
A palavra Carnaval aparece escrita pela primeira vez no dicionário Aulete, impresso em Portugal no ano de 1842. Diz o verbete:
"Carnaval (kar-na-vál), s. m. os dias próximos e anteriores á quaresma, e principalmente os três dias antes da quarta feira de cinzas. // Folguedos, mascaradas; orgias.// F. ital. Carnavale.
Como se vê, pouco mudou da essência do carnaval desde as suas origens.
Os sambas de enredo do carnaval paulistano deste ano de 2015 são, na sua maioria, muito bonitos. Destaque para "Entre confetes e serpentinas, Tucuruvi relembra as marchinhas do meu, do seu, do nosso Carnaval", dos compositores Fábio Jelleya, Henrique Barba, Leandro Franja, Serginho Moura, Gabriel, Fabinho Chaves, Edu Borel e JC Castilho.
Clique: 



NOTA TRISTE
Da página do Facebook do amigo cordelista Marco Haurélio, o seguinte registro:

Morreu ontem, como um passarinho, em Brumado, Bahia, Dona Maria Rosa Fróes, contadora de histórias, cantadeira de romances, rezadeira, mestra da cultura baiana, brasileira, universal.
Conheci-a em 2005, apresentado por minha colega do curso de Letras da UNEB e neta de Dona Maria, Giselha Rosa Fróes. Registrei com a sua voz dezenas de contos e lendas, espalhados nas seguintes obras:
_Contos folclóricos brasileiros_ (Paulus, 2010);

_Contos e fábulas do Brasil_ (Nova Alexandria, 2011);
_O Príncipe Teiú e outros contos do Brasil_ (Aquariana, 2012);
_Contos e lendas da Terra do Sol_ (com Wilson Marques, Folia de Letras, 2014).
Também devo a Dona Maria talvez a versão mais estruturada em língua portuguesa da milenar “História dos três Conselhos”, que registrei em sua forma original e depois verti para o cordel, conservando sua estrutura básica.
Reproduzo aqui, em sua homenagem, o conto “Toco Preto e Melancia”, que faz parte da obra _Contos e fábulas do Brasil_.
Era uma vez um homem que vivia com a mulher e as filhas. Uma de suas filhas se apaixonou por um rapaz que morava nas redondezas. Pelo fato de o moço ser tropeiro, o pai dela não permitia o casamento, alegando que ele viajava muito e não parava em casa. Ela respondeu que ele viajava para ganhar a vida, mas que se tratava de um bom rapaz:
— Quem vai casar com ele sou eu, e não o senhor, meu pai!
Como não adiantava reclamar, a moça e o rapaz começaram a namorar escondido. Um dia, combinaram um encontro na roça de mandioca do pai dela, onde tinha um toco preto no lugar de uma árvore queimada. Ele disse:
— Nós vamos nos encontrar toda semana no dia tal.
E assim foi feito: eles se encontravam para conversar sem o pai da moça saber. De noite, ela dizia que ia à casa da vizinha e, desviando do caminho, ia ao encontro dele. O namorado, então, fez essa proposta:
— Vamos nos tratar com outros nomes: você me chama de Toco Preto e eu a chamo de Melancia. Assim ninguém vai desconfiar. O casal continuava a se encontrar nos dias marcados. Mas, depois do último encontro, ele ficou um ano sem vir, viajando com sua tropa. Nesse espaço de tempo, apareceu um moço chamado Antônio de Zé Moreira que queria casar com Melancia. A moça disse aos pais:
— Ele é muito bom, mas não para casar comigo. — Mas, depois de pensar que já fazia um ano sem ver o seu amado, resolveu aceitar o casório. O casamento foi marcado no mesmo dia em que se davam os encontros entre Toco Preto e Melancia. Quando Toco Preto retornou da viagem, ficou sabendo do casamento de sua amada. Então ele disse:
— Não tem nada, não. — E chamou um empregado, dizendo:
— Vai na casa da moça que está se casando e faça tudo o que eu mandar. — E passou todas as informações para o empregado.
A festa rolava solta com os noivos no salão. Naquilo, chegou um homem e começou a jogar uns versos que diziam:
Lá na serra da Taquara
Desceu hoje um cachorrinho
Tomando sol pela testa
E vento pelos ouvidos.
Lá no toco preto, ingrata,
Eu deixei o seu gemido.
E o homem continuou dançando e cantando:
— Samba pra trás, rapaziada! Samba pra trás, rapaziada! — enquanto jogava os versos. Mas Melancia só ouvia, sem desconfiar do que se tratava:
Oh! que moça tão bonita
Tão custosa a desconfiar.
Minhas avistas, Melancia.
Toco Preto está no lugar!
Bastou ele cantar estes versos para ela entender tudo. Pediu licença à madrinha, dizendo que ia se deitar um pouquinho para descansar. Em casa, chamou uma empregada que lavava a louça, e disse:
— Ana, pegue uma lata, coloque uma galinha cheia e um lombo com farofa, feche-a e ponha numa sacola e traga para mim, rápido!
As outras empregadas pensaram que era presente para alguém na festa. Com toda cautela, Melancia saiu pelos fundos com a empregada Ana. Na estrada para a roça, tinha uma porteira. Ana segurou-lhe o vestido para não se sujar e as duas seguiram viagem. Quando chegaram na roça de mandioca, no toco onde se davam os encontros, o rapaz que jogou os versos já as esperava. Toco Preto ordenou, então, ao empregado que pegasse os cavalos, que estavam arreados. Montaram rapidamente e tocaram viagem para a terra de Toco Preto.Na festa, quando deram por falta da noiva, a mãe perguntou à madrinha:
— Cadê Ana?
— Está na cozinha lavando louça!
— E minha filha?
— Ah, ela foi se deitar um pouco porque estava cansada, mas já faz um bocadinho.
A mãe resolveu, então, ir ao quarto procurar a fi lha, mas não a encontrou. Na cozinha, soube que ela e Ana saíram com uma sacola, e que já fazia um tempinho.
Desta forma, Melancia saiu para encontrar-se com seu Toco Preto e deixou noivo, festa e todos para trás.


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