Amanhã, 23, completam-se dois anos da transferência
do sanfoneiro Dominguinhos, da terra para o infinito. Pernambucano de Garanhuns,
o primeiro e principal discípulo de Luiz Gonzaga, o rei do baião, foi uma
pessoa de grande compreensão entre os homens. Era sensível, discreto e tinha
gosto de ajudar quem o procurava. Mais ou menos como Gonzaga, com quem aprendeu
todos os segredos e mistérios da sanfona. Ele levava muito a sério a máxima
franciscana que diz “é dando que se recebe”. Gonzaga o ajudou em tudo. E numa
situação mais difícil, Fagner também. E assim foi até que Deus o levou.
Dia desses, aqui em casa, seu colega de muitos baixos,
Oswaldinho do Acordeon me disse que ele sofreu muito nos meses que antecederam
sua morte. “Dominguinhos, com voz muito cansada, contou-me da sua tristeza de
ter sido esquecido ainda em vida porque poucos foram os amigos que o visitaram.
Ele me disse isso com profunda tristeza”.
Eu conheço essa história, a história do
esquecimento em vida; o luto em vida.
Pois é, eu conheço essa história.
Mas não era de Dominguinhos que eu ia falar. Eu ia
falar do presente de grego que o prefeito paulistano Fernando Haddad inventou
de dar ao Papa Francisco, no Vaticano: o disco "Sobrevivendo no
Inferno", dos Racionais MC's. Podia ter dado um CD de Dominguinhos ou de
Gonzaga ou de Katya Teixeira ou de Renato Teixeira ou de Consuelo de Paula ou de
Celia e Celma (acima), que, aliás, cantaram para ele na primeira vez que nos
visitou, em Aparecida do Norte; ou, ainda, uma coletânea de músicas dos quatro
cantos do Brasil e por que não o disco A paixão segundo Cristino, de autoria do
paraibano Geraldo Vandré que conta a história da vida difícil do trabalhador
brasileiro? Podia também ter dado o folheto de cordel Encontro no Metrô, de
Pedro Nordestino/Peter Alouche (abaixo). Nesse folheto, o autor conta uma história muito
bonita que tem Cristo como personagem. Mas, não, o prefeito paulistano decidiu
dar de presente ao papa Francisco, um CD de rap, recheado de cabeludos
palavrões etc.
Tomara que vocês que me leem não entendam que
esteja eu, com estas palavras, mostrando qualquer tipo de discriminação
musical, social, racial, religiosa, até porque já fui alvo desse tipo de coisa.
E eu sei, dói. Portanto, longe de mim qualquer tipo de discriminação. Acho
apenas que presente a um papa tem que ser de altíssimo nível, que mostre pelo
menos parte da nossa tão rica e abrangente cultura. Particularmente, eu gosto
dos Racionais.
Aliás, não é de hoje que o papa recebe presentes
esquisitos e até grotescos, como o que o Presidente da Bolívia, Evo Morales lhe
deu há poucos dias: um crucifixo com foice e martelo, o símbolo do Comunismo.
Eu li Marx e sabe o que eu acho dessa história da
foice do martelo para o papa? O Marx do Capital não iria gostar desse chafurdo.
Você já imaginou o papa dançando rap?