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quarta-feira, 22 de julho de 2015

HADDAD, PETER E PETER



Amanhã, 23, completam-se dois anos da transferência do sanfoneiro Dominguinhos, da terra para o infinito. Pernambucano de Garanhuns, o primeiro e principal discípulo de Luiz Gonzaga, o rei do baião, foi uma pessoa de grande compreensão entre os homens. Era sensível, discreto e tinha gosto de ajudar quem o procurava. Mais ou menos como Gonzaga, com quem aprendeu todos os segredos e mistérios da sanfona. Ele levava muito a sério a máxima franciscana que diz “é dando que se recebe”. Gonzaga o ajudou em tudo. E numa situação mais difícil, Fagner também. E assim foi até que Deus o levou.
Dia desses, aqui em casa, seu colega de muitos baixos, Oswaldinho do Acordeon me disse que ele sofreu muito nos meses que antecederam sua morte. “Dominguinhos, com voz muito cansada, contou-me da sua tristeza de ter sido esquecido ainda em vida porque poucos foram os amigos que o visitaram. Ele me disse isso com profunda tristeza”.
Eu conheço essa história, a história do esquecimento em vida; o luto em vida.
Pois é, eu conheço essa história.
Mas não era de Dominguinhos que eu ia falar. Eu ia falar do presente de grego que o prefeito paulistano Fernando Haddad inventou de dar ao Papa Francisco, no Vaticano: o disco "Sobrevivendo no Inferno", dos Racionais MC's. Podia ter dado um CD de Dominguinhos ou de Gonzaga ou de Katya Teixeira ou de Renato Teixeira ou de Consuelo de Paula ou de Celia e Celma (acima), que, aliás, cantaram para ele na primeira vez que nos visitou, em Aparecida do Norte; ou, ainda, uma coletânea de músicas dos quatro cantos do Brasil e por que não o disco A paixão segundo Cristino, de autoria do paraibano Geraldo Vandré que conta a história da vida difícil do trabalhador brasileiro? Podia também ter dado o folheto de cordel Encontro no Metrô, de Pedro Nordestino/Peter Alouche (abaixo). Nesse folheto, o autor conta uma história muito bonita que tem Cristo como personagem. Mas, não, o prefeito paulistano decidiu dar de presente ao papa Francisco, um CD de rap, recheado de cabeludos palavrões etc.
Tomara que vocês que me leem não entendam que esteja eu, com estas palavras, mostrando qualquer tipo de discriminação musical, social, racial, religiosa, até porque já fui alvo desse tipo de coisa. E eu sei, dói. Portanto, longe de mim qualquer tipo de discriminação. Acho apenas que presente a um papa tem que ser de altíssimo nível, que mostre pelo menos parte da nossa tão rica e abrangente cultura. Particularmente, eu gosto dos Racionais.
Aliás, não é de hoje que o papa recebe presentes esquisitos e até grotescos, como o que o Presidente da Bolívia, Evo Morales lhe deu há poucos dias: um crucifixo com foice e martelo, o símbolo do Comunismo.
Eu li Marx e sabe o que eu acho dessa história da foice do martelo para o papa? O Marx do Capital não iria gostar desse chafurdo.

Você já imaginou o papa dançando rap?


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