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domingo, 20 de outubro de 2024

LICENCIOSIDADE NA CULTURA POPULAR (140)

Bahia, Rio, São Paulo e Minas têm revelado para o Brasil muitos autores, como Fernando Sabino, Drummond, Guimarães Rosa e Ivan Ângelo. É dele o conto Bar, que conta a história de uma jovem moderninha, bonitinha, vestindo uma sainha bem curtinha, chega num bar com as portas quase fechando. É noite. Quer fazer uma ligação urgente. O cara do caixa deixa. De repente chega um sujeito esquisito e um tanto bêbado. Compra cigarro e fica por ali rondando, enquanto a menina fala. Quando ela percebe, está cercada por três marmanjos, com olhos gulosos. Ela consegue safar-se… E mais não conto.
Fernando Sabino (1923-2004), destacou-se na Imprensa e nos livros que escreveu. Em 1998 descreve uma situação vivida por um dos seus personagens, no conto O Homem Nu. É curiosíssimo, virou filme.
Das Dores é uma mulher que, como tantas, foi criada para os afazeres domésticos. Isto é, para cuidar de casa e tal. Ela sonha com um provável namorado  imaginário. Ao armar o presépio natalino, ela imagina ver no menino nascido o homem que quer amar. O desejo aflora nela com ímpetos de violência. Aí está o poeta Drummond prosador.
Coisas esquisitas também colocou o jornalista João do Rio. João deixou muitas reportagens e muitos livros. Uma trintena, mais ou menos. Teatro e coisa e tal. Foi até tradutor de Oscar Wilde (1854-1900), com quem se identificava.
Em Dentro da Noite, João do Rio conta a história de um cara que namora uma mulher e com ela fica noivo. De uma hora pra outra ele sente uma vontade incontrolável de enfiar agulhas no corpo dela. Começa pelos braços e termina completamente viciado nisso e ela a ele submissa. Quer dizer, estamos falando de um sádico.
Nessa mesma linha de submissão vive uma personagem criada por Nélida Piñon. Apaixonada pelo marido, faz tudo que ele pede. Tudo mesmo. O prazer dela é ver seu companheiro feliz. Essa personagem se acha no conto I Love My Husband. Coisa doida, né?
Ainda sobre esse tema, mas um pouco fugindo dele, é o bom punhado de contos inseridos nas 140 páginas do livro Insubmissas Lágrimas de Mulher, que a romancista e poetisa mineira Conceição Evaristo publicou em 2011. As histórias se interligam de certo modo em boa parte pela violência dos personagens masculinos. Chega doer em alguns momentos. A autora não nega a mistura que fez da realidade com a ficção. É bem escrito, muito bom.

Foto e Ilustrações de Flor Maria e Anna da Hora

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