“Trabalhar com
cultura popular em nosso país não dá, é muito difícil”, disse num tom de
desabafo, triste, o cara que deu voz, sorriso e choro à cuíca: Osvaldinho da
Cuíca, de batismo Osvaldo Barro, cidadão paulistano nascido no bairro do Bom
Retiro num dia de Carnaval.
Osvaldinho, desencantado
com o nosso meio musical, acrescentou numa conversa comigo, que está abandonando
a carreira.
Ontem 8, fez
dois meses que a cantora paulistana da Barra Funda , Inezita Barroso morreu. Pouco
antes de eu publicar o primeiro livro a seu respeito (A menina Inezita Barroso;
Editora Cortêz, 72 pags.; 2011), ela me contou que fizera uma longa e proveitosa
viagem por estados nordestinos colhendo ditos, benditos, cantos populares,
coisas do povo enfim. Para colher tudo isso, um tesouro, ela permaneceu na região
por meses. Aliás, foi nessa ocasião que ela, pelas mãos do compositor e pianista
Capiba, iniciou sua carreira profissional no mundo artístico. Conclusão dessa
historieta: ela voltou com centenas e centenas de anotações e, toda feliz, se apresentou
à direção da rádio e TV Record e para sua surpresa as pesquisas que fez não
despertaram nenhum interesse. Decepcionada ela voltou para casa e chorou,
chorou e chorou. Em seguida acendeu a lareira e por horas o fogo engoliu o
motivo de sua decepção. “É duro trabalhar com cultura popular”, resumiu a mais
importante cantora de sambas e do folclore brasileiros.
Hoje faz nove
dias que partiu para Eternidade o cantor e apresentador de rádio e TV Jorge
Paulo Nogueira, o homem do Chapéu de Couro.
Jorge foi um dos
nomes mais conhecidos da televisão e da radiofonia de São Paulo a partir do
começo dos anos de 1960. Ele apresentou programas na Bandeirantes, Gazeta,
Record, Cultura e Globo, com muito sucesso. Por seus programas passaram Jackson
do Pandeiro, Luiz Gonzaga, Marinês, Carmélia Alves, Oswaldinho do Acordeon e
todo mundo.
Você amigo/amiga,
viu ou leu alguma notícia a respeito da morte do Jorge Paulo?
No correr do mês
passado morreram três sanfoneiros famosos: Mangabinha, Camarão e Severo.
Severo
acompanhou por muitos anos o rei do ritmo, Jackson do Pandeiro.
Você amigo/amiga,
viu ou leu alguma notícia a respeito da morte desses artistas?
Pois, infelizmente,
está mais do que provado que trabalhar com cultura popular no nosso país não é
bolinho, não.
Certa vez, no
programa São Paulo Capital Nordeste que apresentei por mais de seis anos na
rádio Capital AM 1040, apareceu de supetão o maestro João Carlos Martins. Como
muita gente ainda lembra, o programa era uma festa só, e transmitido ao vivo para
todo o País. Comigo, naquele dia, estavam Pery Ribeiro, Claudia e o Trio Virgulino,
entre outros artistas. De repente, sorrindo, o maestro pegou a sanfona do Enok
e dela puxou a melodia de Ciranda, Cirandinha.
Ciranda,
Cirandinha é do nosso rico folclore. E aproveito para dizer o seguinte: a
cultura popular, seja de onde for, é de muita importância para a identificação
de um país, pois é a cultura popular na sua essência que dá identidade a um
povo, uma nação. Mas no Brasil, quem poderia entender e chancelar isso, não
entende nem chancela.
E pensar que
toda a obra de Shakespeare é baseada no folclore da sua terra...
Você já ouviu
falar do Instituto Memória Brasil, IMB?