Bolsonaro foi recebido na
manhã de hoje 21 pelos potiguares de Mossoró, cidade “petrolífica”, localizada
a 282km da capital, Natal.
Também
na manhã de hoje o IBGE divulgou dados sobre nova pesquisa. Dessa vez o foco
foi o modo como os brasileiros estão se alimentando.
Os
resultados da pesquisa indicam que os brasileiros estão deixando de lado o
velho, bom e saudável hábito de comer feijão e arroz. Em troca, estamos nos
entupindo de tranqueiras embutidas, ou embutidos, como se diz.
Muita
coisa pesada estamos nos habituando a ingerir. Não à toa, está crescendo o
número de pessoas obesas.
Existem
pelo menos 15 tipos de feijão.
Existe
feijão fradinho, feijão roxo, feijão preto, jalo, carioca, muito bom para
gestantes.
E tem
ainda a fava, que é um tipo de feijão bom pra danado.
Meu
amigo Papete (1947-2016) adorava comer fava.
E o
arroz, hein?
Existem
milhares de tipos de arroz, você sabia?
O
feijão surgiu em tempos imemoriais do Egito e Grécia.
O
arroz teve origem, segundo os pesquisadores, lá pras bandas do Sudeste
asiático.
Não
conheço nordestino do meu tempo que não goste de arroz e feijão.
Eu
sou do tempo da República dos Estados Unidos do Brasil, que existiu entre 1891
e 1967.
O
estudioso potiguá Luís da Câmara Cascudo tem um livro muito legal sobre o tema
alimentação (Capa ao lado).
No
dia 13 de junho de 1927 o destabanado Lampião invadiu com seu bando a cidade de
Mossoró, mas lascou-se. O povo o pôs pra correr.
Luiz
Gonzaga (1912-89) agarrou-se na terra e na memória para ressaltar e enriquecer
a região onde nasceu, Nordeste, para o Brasil e para o mundo.
Analfabeto
da escola e doutor da vida, formado pela seca, pelo vento e doutorado em fauna
e flora e na alma humana, Luiz Gonzaga — não à toa do Nascimento — nasceu pra
não morrer.
Cedo,
muito cedo, ele encontrou no pai Januário o caminho das histórias encantadas,
do folclore, que apostou transformar no real, na realidade da vida Nordestina.
Da vida brasileira.
A
sanfona foi seu instrumento para alcançar a realidade que pretendia, em termos
de Nordeste e Brasil.
Antes
dele não havia Nordeste.
O
Nordeste dos invasores, dos escravos, da violência era o Nordeste do Inferno
sem entendimento geográfico, sem mapeamento geográfico. Com Luiz Gonzaga o
Nordeste começou a ser uma terra conhecida e boa, embora problemática, dentro
deste mundo que é o nosso Brasil com seus mais de 200 milhões de seres.
Mais
de um terço da população brasileira habita os nove estados da região
nordestina.
O
total dos nove estados passa do 1,5 milhão de km².
Luiz
Gonzaga foi um ser diferente dos seres seu tempo: ele via além dos olhos.
Detalhe:
Gonzaga, nos seus tempos de rapaz, fez tudo aparentemente de errado,
apaixonando-se, inclusive, por uma jovem que imaginou transformar-se na mulher
da sua vida. Essa ousadia rendeu-lhe uma mega surra dada com gosto/desgosto
pelos pais Januário e Santana que o levou a fugir de casa e alistar-se no
Exército mesmo com idade inferior a 18 anos. Isso mudou-lhe a vida.
Em
março de 1978, ele disse a mim em entrevista publicada no extinto D. O.
Leitura, que seu sonho era ser “cartaz”.
Cartaz,
pra quem não sabe ou lembra, era/é pessoa de destaque num grupo. De artistas,
principalmente.
E
folclore, você sabe o que é?
O
estudioso da cultura popular Luís da Câmara cascudo (1898-1986) detestava o
termo “folclorista”. Escute: https://youtu.be/TeLQm3SbyJQ
e leia http://almanaque.folha.uol.com.br/entcascudo.htm. Mais: cascudo escreveu 39
livros que tratam especialmente de cultura popular, num total de quase nove mil
páginas.
A
expressão Folclore é de origem inglesa: folk, povo; lore, ciência.
Essa
história de folclore, como tal definida, data do século 19. Começou com William
Thoms (1803-85), quando enviou uma carta à revista Athenaeum mostrando seu
pensamento sobre o comportamento do povo, até então impensáveis.
Essa
história é muito bonita, pois tem a ver com o nosso comportamento. A propósito
publiquei um opúsculo explicando essa história (reprodução da capa ao lado).
Comportamento,
meu amigo, minha amiga, você sabe o que é?
Comportamento
é tudo que fazemos, que falamos...
Nesse
quesito, Luiz Gonzaga foi absolutamente fantástico.
Luiz
Gonzaga, conhecido como Rei do Baião, foi o artista que, mais do que qualquer
intelectual, refez o Nordeste para o Brasil. E feito/refeito isso, ele mapeou o
Brasil através da música.
E
Carmen Miranda, hein?
Não
falei de Carmen Miranda (1909-55) até agora. Pois, pois.
Luiz
Gonzaga levou o baião para o Brasil e Carmen Miranda, que nasceu em
Portugal,para o mundo.
Aliás,
não foi por acaso que Carmen gravou a música Baião. Em inglês, numa versão do
norte-americano Ray Gilbert (1912-76). Ouça:
Essa
história e outras mais estarei detalhando sábado 22, a partir das 20h, numa
live que será transmitida para o mundo (Eita!), entre o Instituto Memória
Brasil, IMB, e o Centro Cultural Santo Amaro. Agende-se: https://www.facebook.com/assis.angelo.9/videos/3201090999972017
O dia
22 de agosto é o dia Internacional do Folclore.
Toda
a obra musical de Luiz Gonzaga tem por base o folclore, a partir do próprio
gênero baião que ele estilizou.
Asa
Branca, Assum preto, Lenda de São João, Juazeiro e outras mais tornaram-se
clássicos da nossa música.