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sábado, 22 de junho de 2024

LICENCIOSIDADE NA CULTURA POPULAR (107)

José de Alencar era cearense e Machado de Assis, fluminense.

Machado tem coisas maravilhosas no campo do adultério. Contos como A Carteira e A Missa do Galo prendem o leitor do começo ao fim. 

Não sei se todos os cornos são idiotas, mas Honório é no mínimo de uma ingenuidade franciscana. Imperdoável. Dá pra rir. Aparece no conto A Carteira. 

E Capitu, a protagonista do romance Dom Casmurro (1899), traiu ou não traiu Bentinho com Escobar?

Acho que não, mesmo contrariando a máxima de Flaubert. Ele dizia que toda mulher deveria trair o homem. 

A história de Machado passa-se no século 19 no Rio de Janeiro.

No século 19 também foi escrito um romance baseado num fato real. Caso de uma fazendeira casada que passa a ter um trelelê com um parente do maridão. Não há rock nas páginas do livro, até porque isso ainda não existia. Porém, diga-se depressa: o que há é muito sexo e poetas repentistas tirando baião à viola. O marido descobre a safadeza da mulher e por isso é por ela assassinado.

Anos depois, a assassina é vista mendigando nas ruas da cidade onde vivia. 

De que romance estou falando?

Dona Guidinha do Poço, do cearense Manuel de Oliveira Paiva, que foi publicado nos primeiros anos da década de 50 quando o autor já havia falecido há pelo menos 60 anos.

Manuel de Oliveira Paiva foi seminarista, jornalista e militar. Tinha 31 anos de idade quando morreu.

Algo parecido com o enredo de Oliveira Paiva ocorre nas páginas do romance Estudos de Mulher, de Honoré de Balzac, escrito em 1837. No enredo uma mulher trai o seu par.

A personagem de Balzac é astuta, mas isso não impede que o traído trame e execute um plano de vingança.

Quem já leu o conto O Gato Preto, escrito em 1843 por Edgar Allan Poe (1809-1849), encontrará o final de Estudos de Mulher. 

Poe teve uma vida pessoal pra lá de atribulada. Ele fumava, bebia e enchia a cabeça de droga. Um dia foi encontrado caído na rua e levado ao hospital onde morreu. Tinha 40 anos e 20 quando casou-se com uma prima de 13. Foi um poço de infidelidade. 

A história de Edgard Allan Poe lembra um pouco o enredo do russo Vladimir Nabokov (1899-1977) desenvolvido no livro Lolita (1955).

No enredo de Nabokov há um pedófilo que mira suas garras numa garotinha de 12 anos. Mas o tal, que se diz “escravo de uma ninfeta colegial”, começa a cair em desgraça quando a mãe da menina descobre a safadeza num diário guardado a sete chaves por ele. Deu polêmica mundial.

Também parecido com a história de Nabokov é a personagem de 16 anos que aparece no livro A Fugitiva (2012). Nesse livro a autora, Anaïs Nin, fala de uma certa Nicolly que vive sendo o tempo todo abusada por um homem que ela detesta. É quando traça um plano pra fugir do algoz, deixando entender que matou-se. Enfim, a personagem vai em busca de uma nova vida.

Curiosidade por curiosidade, não custa lembrar que essa mesma temática é abordada pela escritora canadense Alice Munro (1931-2024). Ler Fugitiva, livro formado por 8 contos publicado em 2004. Alice Munro foi ganhadora do Prêmio Nobel em 2013.


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