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sexta-feira, 24 de janeiro de 2020

SÃO PAULO, A CIDADE MAIS CANTADA DO MUNDO


2019 nos deixou duas grandes tragédias nacionais: o estouro da barragem da Vale do Rio Doce em Brumadinho, MG, e o AVC sofrido pelo historiador paulista, de Santos, José Ramos Tinhorão.
Em Brumadinho foram assassinadas 270 pessoas e nenhum dos assassinos foi preso ou condenado.
Isso ocorreu no dia 25 de janeiro.
Tinhorão ainda não se restabeleceu.
O dia 25 de janeiro também marca a fundação do município de São Paulo.
Durante mais de vinte anos bati pernas pesquisando sobre músicas que tratam da cidade de São Paulo. Essa pesquisa resultou em mais de três mil títulos no gêneros mais diversos.
As músicas recolhidas – sambas, xotes, choros, valsas, maxixes, emboladas, tangos, baiões, forrós, marchas, hinos, poemas sinfônicos etc. – compõem um retrato fiel da cidade de São Paulo, sintetizando de modo harmonioso a sua feição urbana, gentes e bairros, indústrias e culturas diversas.
São Paulo ocupa o primeiro lugar no ranking das maiores capitais brasileiras e do hemisfério Sul, e também o quarto ou quinto lugares entre as maiores cidades do mundo, em termos populacionais.
A cidade dos paulistanos reúne representantes de centena e meia de países, falando línguas e dialetos diversos. Nas suas ruas e avenidas mais movimentadas, como Quatá, Consolação e Paulista, e esquinas como Ipiranga/São João e Santa Ifigênia/Andradas, é possível ouvir gente se comunicando nas mais diversas línguas, grega, russa, árabe, alemã, etc. É a megalópole do presente e do futuro. É uma espécie de Babel, daí seus acertos e contradições naturais.
Em 1822, São Paulo foi cenário da independência e em 1932, palco da Revolução Constitucionalista.
Esses e muitos outros acontecimentos estão referidos nas músicas. Mais não fosse, São Paulo é uma das cidades que mais crescem no mundo. É também a capital dos negócios.
Em 2008, participei como autor do livro São Paulo Minha Cidade (reprodução da capa ao lado). Esse livro, distribuído gratuitamente após um festejado concerto na Sala São Paulo, trazia inserido um CD por mim produzido. Sala lotada. Entre os presentes, foram homenageados Paulo Vanzolini (1924 - 2013), Alberto Marino Jr. (1924 - 2011) e Zica Bérgami (1913 - 2011). Na ocasião, eu fui incumbido de entregar troféus a esses compositores.
Assis Ângelo entre Paulo Vanzolini
e Alberto Marino Jr.
O ano de 1954 foi o ano que São Paulo recebeu o maior número de composições, inscritas num grande concurso musical promovido pela Prefeitura. Perfil de São Paulo, de Francisco de Assis Bezerra de Menezes ficou em primeiro lugar na voz de Silvio Caldas, mas o dobrado, Quarto Centenário, de Mario Zan (versão japonesa a foto acima) foi a mais executada nas emissoras de rádio. Vendeu mais de um milhão de cópias.
A primeira composição a receber como título o nome de um bairro foi a valsa choro, Rapaziada do Brás, de Alberto Marino (1902 - 1967).
Um ano antes do quarto centenário da Capital paulista, Mario Genari Filho (1929 - 1989) lançou, pela Odeon, o hino, Parabéns São Paulo, por ele mesmo executado à sanfona. Detalhe: Mario perdeu a visão dos olhos quando tinha cerca de cinco anos de idade.
No acervo do Instituto Memória Brasil, IMB, se acha tudo ou quase tudo que foi composto e gravado nos mais diversos formatos desde discos de 78 RPM até CD’s e DVD’s.

Clique abaixo e ouça um trecho da música da Rapaziada do Brás, com letra de Alberto Marino Jr. Na voz do argentino naturalizado Carlos Galhardo:

O ÍNDIO MERECE RESPEITO...


Em 1986, a Editora Nacional publicou,
de minha autoria o livro O Brasileiro Carlos Gomes

Eu gostaria de saber, sinceramente, o que leva a mais alta autoridade de um país a atacar, sem nenhuma razão, e a menosprezar o índio, o negro, o povo, e a quem não votou nele ou a quem dele discorda.
Ainda estou estarrecido com o que disse ontem 23 o presidente da República: "O índio mudou, tá evol... Cada vez mais, o índio é um ser humano igual a nós".
Ano passado, na ONU, ele já tinha posto no chão a estima do cacique Raoni e, de tabela, a de todos os índios brasileiros.
É muito triste ouvir o que diz o presidente nos seus momentos de total insensibilidade. Por essas e outras, Jorge Ribas e eu compusemos a modinha Presidente sem Noção. 
Mas isso não é de hoje.
O nosso índio já foi personagem de poemas e de belas obras literárias, como O Guarani. Essa obra, aliás, serviu de base para o paulista Antônio Carlos Gomes (1836-1896) desenvolver ópera Homônima no Alla Scala de Milão, Itália, na noite 19 março de 1870.
O Guarani é um romance indigenista de autoria do cearense José de Alencar (1829-1877), publicado em 1857. Bem depois, em 1963, o carioca Antonio Callado publicou o belíssimo romance Quarup, cujo leitura recomendo à todos.
Na música popular, o índio também já apareceu como herói. Senhor da Floresta por exemplo, samba de René Bittencourt, gravada por Augusto Calheiros no dia 03 de Abril de 1945 e lançada à praça pela extinta Victor no mês seguinte.
Mas o índio também já foi alvo de galhofa. Em 1961, o compositor Haroldo Lobo levou ao disco a marchinha carnavalesca Índio Quer Apito. Ouça:

Em janeiro de 1963,  foi a vez de Serafim Adriano compor a marcha Índio Maluco, gravada por Zilá Fonseca pro carnaval daquele ano.
Não custa lembrar que somos descendentes de índios e negros.
Atualmente há cerca de 800 mil índios habitando o Brasil e falando 274 línguas.
O presidente da República deveria ler a Constituição Federal vigente, em cujo Art. 5º lê-se:
"Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade..."

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