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sexta-feira, 31 de janeiro de 2025
SIM, O PRESENTE É PASSADO
quinta-feira, 30 de janeiro de 2025
SAUDADE DOS QUE SE FORAM
Ei, você aí lembra da canção que começa assim: "A saudade mata a gente, morena..."
Pois é, um clássico, mas não é desse clássico que eu quero falar. Quero falar sobre quadrinhos e quadrinistas brasileiros.
No dia 30 de janeiro do ano da graça de 1869, o italiano Angelo Agostini (1843-1910) publicou, na revista Vida Fluminense, RJ, a primeira história em quadrinhos de que se tem notícia por cá. Chamou-se As Aventuras de Nhô Quim.
Agostini foi, pois, pioneiro no campo dos quadrinhos brasileiros. Teve e tem ainda muitos seguidores.
Quem não se lembra do bom mineiro Ziraldo?
Entre nós continuam nos fazendo bem Laerte, Angeli, Jô Oliveira, Juca, Fausto, Klévisson, ...
Fausto tem ilustrado muitas coisas que tenho escrito e publicados neste Blog e em lugares outros.
Klévisson, amigo de longa data como os aqui já citados, também não se faz de rogado e lá vamos nós firmes nas asas da imaginação.
O Klévisson chegou a dar caras ao roteiro que fiz sobre a vida e trajetória artística do rei do baião Luiz Gonzaga. O que fizemos está publicado no livro Luiz Gonzaga O Rei do Baião (2012).
É coisa boa e bonita o mundo dos quadrinhos e quadrinistas. E dos roteiristas.
Magrão como também é conhecido o músico e roteirista Paulo Garfunkel, é o criador do personagem Vira-Lata.
Vira-Lata é roteirizado por Magrão e desenhado pelo quadrinista Líbero.
Coisa essa de altíssima qualidade desses dois craques das artes.
Bom, eu comecei falando indiretamente sobre saudade, certo?
Pois bem, hoje 30 é o Dia da Saudade.
E se falei também sobre quadrinhos e quadrinistas é porque hoje 30 comemora-se o Dia do Quadrinho Nacional, para que nunca nos esqueçamos de Angelo Agostini.
Fui!
quarta-feira, 29 de janeiro de 2025
MAIS UMA ESTRELA NO CÉU: LUCAS EVANGELISTA
(Obra Coletiva)
A poesia entristecida
Chora a morte de um artista
Referência em nossa arte
Um genial cordelista
E a musa mandou mensagem
Pra prestarmos homenagem
A Lucas Evangelista.
Artista que o povo tem
Um carinho especial
Foi ele autor consagrado
De ‘A Carta do Marginal’
O Brasil todo conhece
Tem respeito e enaltece
Seu talento magistral.
No seio de sua gente
Foi artista consagrado
Era Mestre da Cultura
Do Ceará, nosso Estado
Nas páginas da poesia
Cordel, livro e antologia
Pra sempre será lembrado.
Pra Canindé, todo ano
Ia para romaria
Na Festa de São Francisco
Mostrava sua poesia
Cheia de belos roteiros
Para encantar os romeiros
Com brilho, encanto e magia.
Sabia escrever histórias
Bem ao agrado do povo
Para toda ocasião
Tinha sempre um cordel novo
Grande artista popular
Fazia rir e chorar
Ganhando palmas e aprovo.
Quem desconhece as histórias
Do nosso cancioneiro,
Tenta negar o passado,
Escrevendo outro roteiro,
Despreza nossa cultura
E joga a Literatura
De Cordel num atoleiro.
Essa ilusão transitória
É o abrigo tumular
De quem, mesmo vivo, morre
Sem nada de bom deixar.
Portanto, mudando o tom,
Afirmo que se algo é bom,
Nada consegue matar.
João Lucas Evangelista,
Nosso bluesman nordestino,
Deu voz a quem voz não tinha,
Fez da sua obra um hino.
Nas cruzadas dos martírios,
Converteu espinho em lírios,
Foi senhor do seu destino.
Legou cordéis e baladas
Numa monumental saga,
Como um rio caudaloso
Que as ipueiras alaga;
Partiu, porém, permanece,
Seu legado prevalece,
Pois nem o tempo o apaga.
Lucas da Bíblia nos fala
Sobre Cristo o galileu,
Evangelista é aquele
Que um evangelho escreveu,
Nosso Lucas, cordelista
O nome de evangelista
Colocou no nome seu.
Crateús no Ceará
Foi sua terra querida,
Deixou seu berço natal
Para o mundo fez partida,
E fez com força inaudita
Nossa poesia escrita
Ter fama reconhecida.
Lucas foi artista múltiplo
Foi músico e cordelista,
Grande mestre da cultura,
Escritor e repentista,
No Brasil em qualquer parte
Não há quem supere a arte
De Lucas Evangelista.
Assim como toda vida
Tem o seu ponto final
Lucas parte nos deixando
Uma saudade imortal,
Aqui deixou sua história,
Foi para o trono da glória,
A Corte Celestial.
O Lucas Evangelista
Foi um grande inspirador
Além de ser cordelista
Foi poeta cantador
Mestre da nossa cultura
Que lutava com bravura
Dignidade e fervor .
Aqui na Terra ele foi
O menestrel da canção
Escrevia seus cordéis
Com bastante inspiração
Foi um vate valioso
Um poeta primoroso
De toda sua geração.
Nosso cantador querido
Para outro plano partiu,
Mas sabemos que sua arte
Por todo o mundo expandiu
Conquistar toda uma gente
Através do seu repente
Nosso Lucas conseguiu.
O mundo dos Cordelistas
Acordou entristecido
Com a notícia que o Mestre
Lucas havia morrido.
João Lucas Evangelista
Foi um grande Cordelista,
Famoso e reconhecido!
Ao Lucas Evangelista
Segue o póstumo tributo.
Meu mestre você será
Vate sem substituto.
Partiu pro reino Celeste
E hoje este discípulo veste
O triste manto do luto!
João Lucas Evangelista
Foi um grande menestrel
Criou histórias e músicas,
Na arte fez seu papel.
Feito um grande timoneiro
Rodou o Brasil inteiro
Divulgando seu cordel.
Hoje a musa do cordel,
Vestiu seu traje de luto,
Pois Lucas Evangelista,
Poeta versátil, astuto.
O Mestre imortal, decano
Foi versejar noutro plano,
Num elevado reduto!
Um vate quando nos deixa
Voltando a casa do Pai
Deixa imensa saudade,
Mas sua história não vai
Assim nosso cordelista
João Lucas Evangelista
Sua lembrança não sai.
Percorreu nosso Brasil
Essa importante figura
Do Nordeste ao Sudeste
Lucas com literatura
Tocava linda canção
Levando assim emoção
De maneira bem segura.
Fez da arte o seu viver
Emocionando o povão
Com "Carta de um Marginal"
Bem feita composição
Mostrando a realidade
Da tal marginalidade
Que envergonhava a Nação.
Foi chamado pelo Pai
Pra sua Santa Morada
Lá no Céu, Evangelista,
Cumprirá nova jornada
Viverá novo rojão
E cantará seu baião
De forma bem animada.
Partiu um grande poeta
Mestre no verso e viola
Levou consigo um ensino
Que não se ensina em escola
Levou a chuva e o tostão
Mais um Mestre do sertão
Levou cheia sua sacola.
Com nome forte e profundo
Discípulo do salvador
Lucas, o Evangelista
Lavrou a terra com amor
Plantando sua poesia
Fez chover paz e harmonia
Com seu pinho de valor.
Despedimo-nos chorosos,
De Lucas Evangelista,
Poeta, compositor,
Violeiro, repentista,
Da arte, divulgador,
Folheteiro, cantador
E afamado cordelista.
Autor de ‘Um tostão de chuva’,
De “A carta de um marginal”,
“Foronfonfom”, “Mototaxi”,
Legado exponencial!...
Sem sequer se despedir
Partiu para residir
Na pátria celestial.
Muito vasta e conhecida,
Sua produção reluz,
Sendo merecidamente
Aclamado como um dos
Aedos de maior claque
E um dos nomes de destaque
Das artes de Crateús.
Um exemplo de amigo,
Probo chefe de família,
Semeador de amizade,
Aparador de quizília.
Em Crateús foi nascido,
Mas tornou-se conhecido
Quando morou em Brasília.
O bardo abraçou a sorte
Como vira-mundo, errante;
Foi nas feiras nordestinas
Uma presença marcante
Com sua lira primorosa
Na fase áurea e saudosa
Do poeta itinerante.
Por esse Nordeste imenso
De feira em feira atuou,
E nas praças da Ceilândia
Diversas vezes cantou.
Lá ainda tem família,
Pois o poeta em Brasília
Por doze anos morou.
Nas feiras, com sua Kombi,
Ele chamava atenção
Cantando suas toadas,
Tocando seu violão,
Ouvindo as canções bonitas
Pra comprar cordéis e fitas
Juntava uma multidão.
Entre as canções mais tocantes
Nascidas de sua pena
Cito “Filho de cigano”,
E, de comovente cena,
“Canção do sentenciado”
E outro clássico afamado
Que é “Lembrança de Helena”.
É grande a lista de títulos
De cordéis que publicou.
Cinco LPs, muitas fitas
E CDs também gravou;
Viveu pra se eternizar,
Sua arte singular
Nossa cultura marcou.
Foi Lucas Evangelista
Grande mestre da canção
Divulgador incansável
Da popular tradição
Com sua arte soberana
Cantou sobre a lida humana
Em cada composição.
Em "Carta de um marginal"
Expos uma triste história
Assim eternizou um
Exercício de memória
A dor de um excluído,
Um malfazejo e sofrido,
Versando uma vida inglória.
Andarilho da poesia
Com suas letras e voz
Lucas foi fonte fecunda
Jorrando versos à foz
Inspirou, foi referência,
Um vate de excelência
Grande exemplo para nós!
Deixa saudades o Mestre
De violão ritmado,
Porém na Corte Celeste
O Sarau "tá preparado!"
Pra celebrar sua vida
A sua missão cumprida
E o seu imenso legado!
Herdando o nome do santo
Que a palavra ‘desdobra’
O poeta Evangelista
Com as rimas de sua obra
Em sua vida fecunda
De poesia profunda
Mostrou talento de sobra.
A inspiração veio cedo
Dos antigos menestréis
Violeiros, cantadores
Que declamavam cordéis
E as historias dos seus pais
Bem guardadas nos anais
Galopa ainda corcéis.
À cultura popular
Deu asas e deu alento
Conseguiu com sua arte
Garantir o seu sustento
Foi do romance ao forró
Até em cobra deu nó
E conseguiu seu intento.
Parte com missão cumprida
Sua obra ficará
No ‘rela bucho’ ou cordel
Muito além do Ceará
Viaja como Asa Branca
Sua rima alegre e franca
Sempre lembrada será.
Meus versos fazem homenagem
A um mestre da tradição,
É Lucas Evangelista,
Da cultura e do sertão.
Cantou com alma e viola,
Rima que encanta e consola,
Nos tocando com emoção.
Nas praças fez poesia
De Crateús para o mundo.
Sua voz e seu repente
Ecoaram tão profundo.
Que até no céu seus cantares
São eternos, nos altares,
Como um legado fecundo.
Foi um mestre de talento,
Na viola ao improvisar.
Nos folhetos e cantigas,
Fez o povo se encantar.
Na sua arte divina,
Cada verso se destina
A nunca se apagar.
Sua lira continua
Brilhando na imensidão.
E nós, que aqui ficamos,
Guardamos sua emoção.
Lucas vive na memória,
Imortal pela história,
Eterno no coração.
Um grande prazer na vida
Foi conhecer Evangelista
Um cantador de viola
Que nunca perdeu de vista
Levar pelo mundo afora
A alegria a toda hora
Era um poeta ativista.
Conheci Evangelista
Pela José de Alencar
Sua belina e radiadora
Fazia o povo parar.
Pra degustar do seu verso
Que atingia o universo
De um sublime poetar.
A bênção, poeta Lucas,
Nosso Mestre da Cultura
Que levou sertão afora
Com tanta desenvoltura
A cultura popular
Que só tem neste lugar
Por ser terra de bravura...
Como um trem, com longo apito,
Deslizando sobre o trilho
Partiu o poeta Lucas
E Crateús perde um filho.
Foi um poeta impoluto,
A poesia está de luto
E o cordel perdeu o brilho.
As folhas verdes da mata
Da Caatinga nordestina,
Que já nas primeiras chuvas
Vertem água cristalina
Choram por Evangelista,
Poeta e grande artista
De rima afiada e fina.
João Lucas Evangelista
Foi um poeta gigante.
Seu cantar ultrapassou
A fronteira mais distante.
Na viola ou no papel
Seu poema de cordel
É marca muito importante.
Mas, Lucas Evangelista
Encanto-se, não morreu.
Teve recital no céu.
Como a musa prometeu,
A alegria foi completa
Com a chegada do poeta
Uma grande festa deu.
Ninguém viveu a cultura
Do jeito que ele viveu
Na sua época o cordel
Ficou mais forte e cresceu
O poeta de Crateús
Foi mostrar para Jesus
A rima do verso seu.
E por isso digo eu,
Digo sem pestanejar,
Nesta arte tão bonita
Da gente vivenciar
Que Lucas Evangelista
Deixou como cordelista
Um nome pra respeitar.
Lucas nasceu com a viola
Desenhada na sua mente
Cresceu e desenvolveu
O verso como semente
No terreno que plantou
A poesia se espalhou
Com a viola e o repente.
Tive o prazer de aplaudir
Este grande repentista
Agora foi para cima
Nosso amigo cordelista.
Deixando a sua história
Presa na nossa memória
No nosso quadro de artista.
Mestre Lucas foi um vate
Do nosso tempo atual;
Um Aedo – nosso Orfeu...
Referência nacional
No romance de cordel
Excelente menestrel
Na canção tradicional.
A “Carta de um Marginal”
Ficou sem o seu autor
Nós ficamos sem o mestre,
No peito tristeza e dor!
Quem seus cordéis cantará?
Nas feiras do Ceará
Tá faltando um tocador.
Quem irá cantar a dor
Daquele povo sofrido...?
O inverno; a invernada
Ou o sertão ressequido
Ou mesmo ler um cordel
Narrando história fiel
Do último fato ocorrido?
Aqui, de peito partido
Sou eu quem registra o fato...
Da partida do herói
Que destino tão ingrato!
Bastante triste fiquei
Mas pra vida eterna, eu sei,
Ninguém assina contrato...
Lucas será “sempre vivo”,
Pois além de seus talentos
Também gerou quatro filhos,
Sua prole, seus rebentos,
Gente que ama a cultura,
Sua geração futura,
Frutos de dois casamentos.
Lucilane, Luciléa,
Linda Léa e Márcia Linda,
Estes filhos, com certeza,
Farão a linhagem infinda.
Sua vida foi completa
E a memória do poeta
Viverá bem mais ainda!
FIM
Autores: Mestre Geraldo Amâncio Pereira, Evaristo Geraldo da Silva, Paulo de Tarso, Paola Tôrres, Dideus Sales, Julie Oliveira, Paiva Neves, Pádua de Queiroz, Gerardo Pardal, Vânia Freitas, Rosinha Miguel, Tião Simpatia, Rouxinol do Rinaré, Rafael Brito, Marco Haurélio, Arlene Holanda e Klévisson Viana
domingo, 26 de janeiro de 2025
LICENCIOSIDADE NA CULTURA POPULAR (163)
O Diabo, aliás, é personagem presente em tudo quanto é romance mundo afora.
Quem não se lembra do incrível texto Doutor Fausto, de Tolstói?
Nessa obra, o autor cria um personagem que quer ter o conhecimento de tudo que há no mundo. É um sabichão. Mas quer mais e aí ele, o doutor, faz um pacto com o demônio. O final é fantástico.
E Machado de Assis, hein?
Machado tem um conto intitulado A Igreja do Diabo.
Tem também Olavo Bilac, que foi jornalista, poeta e tal. É dele o conto envolvendo uma jovem e um padre. Título: O Diabo:
Tinham metido tantas caraminholas na cabeça da pobre Luizinha, que a coitada, quando, às dez horas, apagava a luz, metida na cama, vendo-se no escuro, tinha tanto medo, que começava a bater os dentes... Pobre Luizinha! Que medo, que medo ela tinha do diabo!
Um dia, não pôde mais! E, no confessionário, ajoelhada diante de padre João, abriu-lhe a alma, e contou-lhe os seus sustos, e disse-lhe o medo que tinha de ver uma bela noite o diabo em pessoa entrar no seu quarto, para a atormentar...
Padre João, acariciando o belo queixo escanhoado, refletiu um momento. Depois, olhando, com piedade a pobre pequena ajoelhada, disse gravemente:
— Minha filha! Basta ver que está assim preocupada com essa idéia, para reconhecer que realmente o Diabo anda a perseguí-la... Para o tinhoso amaldiçoado assim é que começa...
— Ai, senhor padre! Que há-de ser de mim?! Tenho a certeza de que, se ele me aparecesse, eu nem forças teria para gritar...
— Bem. filha, bem... Vejamos! Costuma deixar a porta do quarto aberta?
— Deus me livre, santo padre!
— Pois, tem feito mal, filha, tem feito mal... Para que serve fechar a porta se o Amaldiçoado é capaz de entrar pela fechadura? Ouça o meu conselho... Precisamos saber se é realmente Ele que quer atormentá-la... Esta noite, deite-se, e reze, deixe a porta aberta... Tenha coragem ... Às vezes, é o Anjo da Guarda que inventa essas coisas, para experimentar a fé das pessoas. Deixe a porta aberta esta noite. E, amanhã, venha dizer-me o que se tiver passado...
— Ai! Senhor padre! Eu terei coragem?...
— É preciso que a tenha... é preciso que a tenha... vá... e, sobretudo, não diga nada a ninguém... não diga nada a ninguém...
E, deitando a benção à rapariga, mandou-a embora. E ficou sozinho, sozinho, e acariciando o belo queixo escanhoado.
E, no dia seguinte, logo de manhã cedo, já estava o padre João no confessionário, quando viu chegar a bela Luizinha. Vinha pálida e confusa, atrapalhada e medrosa. E, muito trêmula, gaguejando, começou a contar o que se passara....
— Ah! Meu padre! Apaguei a vela, cobri-me toda muito bem coberta, e fiquei com um medo... com um medo... De repente, senti que alguém entrava no quarto... Meu Deus! Não sei como não morri... Quem quer que fosse, veio andando devagarinho, devagarinho, devagarinho, e parou perto da cama... não sei... perdi os sentidos... e...
— Vamos, filha, vamos...
— ... depois quando acordei... não sei, senhor padre, não sei... era uma cousa...
— Vamos, filha... era o Diabo?
— Ai, senhor padre... pelo calor , parecia mesmo que eram as chamas do inferno... mas...
— Ai, senhor padre... mas era tão bom que até parecia mesmo a graça divina...
Luisinha é também um personagem que enriquece o texto do livro O Cabeleira, de Franklin Távora (1842-1888). Nessa história o leitor fica sabendo que Cabeleira é filho de Joana e Joaquim Gomes. Esse Joaquim é uma figura totalmente temerária, violenta, assassina. É história terrível, de cangaço, de morte e tudo mais.
Luisinha é uma menina do passado de Cabeleira. Ela o amava.
É uma história de muito sangue essa história de O Cabeleira. Mas nessa história tem também momentos de divertimento em cabarés e mulheres da vida. Tem dança, tem viola, tem cantiga…
Foto e ilustrações de Flor Maria e Anna da Hora
sábado, 25 de janeiro de 2025
LICENCIOSIDADE NA CULTURA POPULAR (162)
Trevisan falou de todas as relações possíveis que há entre o homem e a mulher, seja novo, seja velha.
Falar de Dalton Trevisan é o mesmo que falar de feijão com arroz. No caso, amor e putaria.
A estreia de Loyola Brandão ocorreu em 1965 quando lançou à praça um livro de contos intitulado Depois do Sol. Entre os contos se acha O Homem do Furo na Mão. Muito bom, ótimo.
O personagem, um professor de história, volta às páginas do escritor em 1981. Nesse ano é publicado o romance Não Verás País Nenhum. Distópico. Há momentos hilariantes.
De Brandão é também bacana o romance Bebel que a Cidade Comeu. É de fundo político, como quase tudo que Brandão escreve. A história passa-se em São Paulo, como em São Paulo se passa também as histórias narradas no livro Cadeiras Proibidas (1976).
Tudo ou quase tudo que ele se dispõe a contar nos seus livros parecem banais, mas o fato é que o leitor quase sempre tem uma surpresinha no final.
Ao contrário de Machado, Loyola nunca até aqui pôs em suas páginas de ficção uma viúva.
Dá até pra comparar os escritos de Brandão com os escritos de Lima Barreto, que nos seus 41 anos de vida escreveu provocativos, críticos e engraçados contos. Nessa mesma linha, o jornalista João do Rio também escreveu bonitos e sangrentos textos em jornais da sua época.
O curioso em João do Rio é que seus textos tinham origem na vida real. Até os personagens aparentemente fictícios eram reais.
Num dia qualquer do começo do século 20, João esteve numa cadeia pública do Rio e lá ouviu alguns presidiários. Depois, contou. Um trecho:
- Pois vá ver esses criminosos. O assassino por amor é o único delinquente que confessa o crime.
Alguns chegam mesmo a reviver detalhes insignificantes. Ao passo que os gatunos, os incendiários e os homicidas vulgares, mesmo tendo a cumprir sentenças longas, negam sempre o crime; essas vítimas da paixão não se cansam de contar a sua história, cada vez com maior número de minúcias e mais abundâncias de memória.
"- Ora, nós brigamos. Eu gostava dele. Nós brigamos. Um dia ele me disse uma porção de nomes. Eu fiquei calada, mas quando o vi deitado, com o pescoço à mostra, roncando, parece que o diabo me tentou. E fui então com a faca..."
- Aproximei-me, bem perto, quase murmurando as palavras:
- Diga: era capaz de fazer o mesmo outra vez, de abrir o pescoço do pobre rapaz, de ascender as velas, de cantar? diga: era?
Ela riu como um fera boceja, e disse num arranco de todo o ser:
" - Eu era, sim, Senhor..."
sexta-feira, 24 de janeiro de 2025
UMA COISA PUXA OUTRA
Qualquer brasileiro ou brasileira que tenha pelo menos um pingo de sensibilidade deverá estar orgulhoso ou orgulhosa com a ampla e positiva repercussão do novo filme de Walter Salles: Ainda Estou Aqui.
Esse filme, entre tantos, está disputando o Oscar de 2025 em Los Angeles. Foi baseado no livro homônimo de Marcelo Rubens Paiva.
Marcelo, também jornalista, é um dos filhos do deputado Paiva com Eunice.
Eunice foi uma mulher comum que viveu feliz enquanto foi possível. Falamos do ano de 1971, quando Marcelo Rubens Paiva foi sequestrado, torturado e morto por agentes do golpe cívico-militar ocorrido em 1964 no Brasil.
Foi o diacho aquela intromissão militar contra o povo brasileiro.
A viúva do deputado mudou de vida e foi estudar Direito para ajudar oprimidos, incluindo indígenas.
O filme Ainda Estou Aqui está em cartaz nos cinemas de boa parte do mundo todo.
A atriz Fernanda Torres está cotada para ganhar a estatueta Oscar pelo altíssimo nível como desenvolveu a personagem Eunice...
Ainda Estou Aqui trouxe-me de volta a lembrança do filme O Pagador de Promessas de Dias Gomes.
O Pagador de Promessas estreou, primeiramente, no TBC de São Paulo. Isso em 1960. A direção foi de Flávio Rangel.
Depois do teatro, O Pagador de Promessas ganhou telões mundo afora com direção do craque Anselmo Duarte. Na França ganhou a Palma de Ouro. Na Espanha...
Trabalhei com Flávio na Folha e dele sinto saudade. A seu pedido cheguei a lhe apresentar Vandré, lá em casa. Queria Flávio convencer o autor de Pra Não Dizer Que Não Falei de Flores a voltar aos palcos sob a sua direção. Não deu.
Quanto a Anselmo lembro das vezes que ia tomar um café comigo no escritório e tal.
Bom, é isso.
quarta-feira, 22 de janeiro de 2025
DORNELES, É O CARA
Meus amigos, minhas amigas, estou feliz, hoje, que nem um passarim diante de um saco de alpiste. Esse saco de alpiste, perdoem-me os precipitados, tem o nome bonito e mágico de origem portuguesa, Manoel.
Esse Manoel, por completo, é Manoel Dorneles.
Esse Manoel é paulista de um lugar chamado São José do Rio Pardo, cidadezinha bela que fica a 300 quilômetros da capital de São Paulo.
Meus amigos, minhas amigas, a minha casa fica mais bonita e cheia de alegria quando esse Manoel cá chega. É jornalista. Trabalhamos juntos no Grupo Folhas. Figura incrível, maravilhosa, que sempre soube desenvolver com categoria a profissão que eu assumi no final dos anos 1960.
Dorneles foi demitido no final da greve, a primeira e única até agora, dos jornalistas de São Paulo, dois anos antes de mim.
E a vida foi, foi, foi...
E o tempo, que ninguém segura, foi nos levando pra lá e pra cá, porém, nunca nos perdemos.
Dorneles tem uma deusa chamada Silvana Lima.
Silvana é daquelas mulheres que encanta quem dela se aproxima nos momentos mais simples, como num bate-papo sobre coisas banais. Ela é engraçada, ri, e nessa brincadeira faz de conta, ela sabe, que quem está junto dela a conhece há muito tempo.
É uma jovem, 40 anos, que sabe de ontem e de hoje, até porque não é à toa que tem por pai, José e Flor.
Seo José, a mim foi dito, é tão grande como o pensamento e ações de dona Flor. Deus, é bonito, isso eu sei desde o tempo de ontem.
Dorneles tem a minha idade.
Quanta coisa bonita fez esse Manoel Dorneles no campo do jornalismo. No campo das artes.
Fico eu, mais do que pedindo, mais do que sugerindo, que publique uma belíssima série de entrevistas com artistas brasileiros, que fez quando era editor da extinta e belíssima Revista Kalunga.
De novo, agora, Dorneles, toma vergonha na cara e procure publicar em livro as belíssimas entrevistas que você fez com amigos meus, como Rolando Boldrin, Inezita Barrozo, Jair Rodrigues, Sérgio Reis, Pena Banca e Xavantinho e tantos.
Meus amigos, minhas amigas, quem sabe um dia eu apresentarei a vocês esse cara chamado Manoel Dorneles.
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segunda-feira, 20 de janeiro de 2025
LICENCIOSIDADE NA CULTURA POPULAR (161)
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Machado de Assis |
Viúvos e viúvas abundam na literatura nacional e estrangeira. Não são poucos os autores que criam esses personagens. Nesse campo, Machado de Assis deitou e rolou. No seu último livro, ele põe um viúvo e uma viúva no romance Memorial de Aires (1908).
Aires, depois de se aposentar e de perder a mulher, decide contar a sua própria história num diário. E vai, vai e chegam na sua vida a viuvinha Fidélia e um jovem que ao vê-la logo se apaixona. E é correspondido, para tristeza do velho conselheiro.
Viúvos e viúvas aparecem bastante nos escritos de Machado, como se vê.
É dele a história curiosíssima que conta O Caso da Viúva. Nesse conto, o pai da personagem Luísa, viúvo, mora com uma irmã também viúva. Luísa, muito recatada, faz tudo o que o pai pede e vice-versa. É aí que aparece um tal de Dr. Rochinha, ou simplesmente Rochinha. Em seguida, mais um cara: Vieira. Com Vieira ela se casa, pra desencanto de Rochinha. Mas Vieira morre e Luísa fica viúva…
Também é de Machado o conto Confissões de Uma Viúva Moça. Nessa história a viúva atende pelo nome de Eugênia. Antes de o marido falecer, a personagem estica olhares para o moço Emílio. E vai, vai, vai… De repente Eugênia descobre que Emílio é um canalha. E mais não digo.
E não custa lembrar que o Bruxo do Cosme-Velho, como era chamado na intimidade Machado de Assis, ficou viúvo depois de 35 anos de casado com a mulher a quem tanto amava: Carolina.
Ele não era brinquedo, não. E foi não foi, lá vem ele sempre surpreendendo os leitores. Enganando, às vezes.
No conto A Mulher de Preto, ele dá um nó no leitor. De cara pensamos que essa mulher é uma viúva, pois trajada costuma andar de preto. E não é viúva de ninguém, apenas o seguinte: o marido Menezes, um deputado, desconfia que ela o traía.
Num momento qualquer desse conto de 11 capítulos, aparece um médico chamado Estevão, tem 24 anos e apaixona-se pela tal mulher de preto. Hmmm… Nada digo mais.
A sempre extraordinária Júlia Lopes de Almeida nos encanta já no seu primeiro livro, Memórias de Martha. Em Memórias de Martha, a Martha do título é filha de outra Martha, essa viúva. Sofreu com a acusação de roubo que o marido sofreu. Acusação injusta, mas que levou o marido de dona Martha ao suicídio.
A personagem narradora desse livro, de pouco mais de 100 páginas, é a filha do pai suicida. Ela conta todas as dificuldades que ela e a mãe passaram depois da tragédia. As duas deixaram a casa onde moravam e, sem escapatória, foram habitar um cortiço. Sofreram muito. Preparem o lenço, pois a história leva as almas mais sensíveis às lágrimas.
Memórias de Martha foi originalmente publicado em capítulos no jornal Tribuna Liberal do Rio de Janeiro, entre 3 de dezembro de 1888 e 17 de janeiro de 1889. Em livro saiu exatamente dez anos depois.
No Memorial de Maria Moura (1992), da cearense Rachel de Queiroz, a personagem do título encontra a mãe pendurada numa corda, morta e se desespera. Uma das razões de seu desespero é o fato de que as terras que herda estão sendo tomadas por familiares, incluindo o padrasto Irineu, que a estupra. A heroína sofre e vai-se embora construindo seu destino recheada de ódio, perseguição e violência. Pode-se-ia até dizer que Moura é a versão feminina do rei do cangaço, Lampião.
Memorial de Maria Moura foi o último livro de Rachel. Livraço!
Em 1982, o português José Saramago passou a ser mundialmente conhecido por seu magnífico romance Memorial do Convento. A história se passa na primeira metade do século 18, no decorrer do reinado de João V.
Esse João era metido, vaidoso, galante e tudo mais. Casou-se por procuração com a Maria Ana de Áustria, mulher nascida para rezar e parir. Deu seis filhos ao rei.
Além dos filhos que a rainha lhe deu, o rei teve muitos outros filhos com amantes diversas. Entre as amantes, uma certa freira que foi por ele embuxada todas as vezes.
O rei faz uma promessa de construir um grande convento caso a sua querida esposa lhe desse filho no prazo de um ano. Deu-lhe uma menina: Marina Xavier. A partir daí, a história segue a passos largos com personagens reais.
Sobre essa figurinha poderosa de Portugal há um livro que merece leitura: As Amantes do Rei João V, do escritor portuense Alberto Pimentel (1849-1925).
Pouco ficcional é o personagem Baltasar que perde a mão esquerda em guerra na Espanha. Abandonado pelo exército o personagem volta pra casa e um dia encontra uma mulher de nome Blimunda.
Blimunda, filha de uma mulher posta pra correr pelo santo ofício, é vidente. Ela vê o interior dos corpos humanos. É apelidada de Sete Luas e o seu Baltasar, de Sete Sóis.
Na parada entra também o brasileiro de Santos Bartolomeu de Gusmão (1685-1732). É padre, com passagem na Bahia. Foi o primeiro cientista e inventor cá desta nossa terrinha de meu Deus do céu. Entrou para a história como o Padre Voador.
Essa história de Saramago é maravilhosa.
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Domingos Fernandes Calabar |
A propósito de voador, há a história de um boi que voou durante a inauguração da Ponte do Recife, ora ainda chamada de Ponte Maurício de Nassau. Não é lenda.
Essa ponte foi inaugurada no dia 28 de fevereiro de 1644. Milhares de pessoas estiveram presentes e, como prometido, um boi empalhado foi visto nos ares de Recife.
Tal boi ganhou páginas de um livro do frei português Manuel Calado do Salvador (1584-1654). Título: O Valeroso Lucideno e Triunfo da Liberdade na Restauração de Pernambuco, lançado em 1648.
Frei Calado foi o confessor do alagoano Domingos Fernandes Calabar (1609-1635), acusado de trair a Pátria em favor dos holandeses que invadiram o Brasil em 1630. Condenado, o acusado foi enforcado e o seu corpo esquartejado.
Em 1973, Chico Buarque e Ruy Guerra escreveram a peça Calabar O Elogio da Traição. Essa peça foi censurada pelos milicos no dia 22 de janeiro de 1974.
O resto é história.
Foto e ilustrações por Flor Maria e Anna da Hora
domingo, 19 de janeiro de 2025
LICENCIOSIDADE NA CULTURA POPULAR (160)
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Ignácio de Loyola Brandão |
Há casos confirmados dando conta de que humanos já têm substituído braços e pernas mecânicos. Até cabeças humanas já tentaram e continuam tentando transplantar de um corpo para outro. Com chips e tudo mais.
RoboCop é um personagem meio humano, meio máquina, que ganhou repercussão internacional na TV e no cinema.
Num campo mais amplo, além da Terra, há muito se cogita a existência de seres chamados, grosso modo, ETs, OVNIS...
Há muitos estudos sobre o assunto desde tempos imemoriais.
Não é de hoje que todo mundo diz que os gringos norte-americanos sabem muito mais do que nós, pobres mortais, nem sonhamos saber, pelo menos no campo científico e tal.
Sobre esse assunto, existe um seriado chamado Arquivo X (1993).
O suiço caçador de mistérios interplanetários Erich von Däniken, autor do best-seller Eram os Deuses Astronautas?, disse acreditar piamente na existência de seres vivos espalhados galáxias mundo afora. Eu o entrevistei. Disse ele que não estamos sós no Espaço. Hmmm…
Em nome da ciência, muita bobagem tem sido feita, inclusive no que tem a ver com safanagem.
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Monteiro Lobato |
Na sua doçura adolescente, Lúcia cai na onda do seu primo e mostra tudo o que ele quer ver e apalpar. No momento X chega a vovó quase cega de Lúcia. E espantada pergunta: “Minha filha! Tudo bem!?”.
Uma coisa puxa outra.
Pois, pois: no decorrer da sua existência, Coelho Neto abordou temas sobre homossexualidade e tal. Provocou polêmica. E muita.
No conto O Patinho Torto, ele faz ligação inversa do que fez Christian Andersen (1805-1875) com O Patinho Feio.
Na sua história, Neto conta que uma mulher deu à luz a uma criança no mesmo dia em que morria o seu marido. A mulher entrou em parafuso, em depressão, quase ficando doida. A criança foi crescendo, crescendo pelas mãos de uma babá que aos poucos ia transformando o seu comportamento de menino numa menina, como desejava a mãe.
A mãe do menino queria uma menina, mas deu zebra. E aí…
Essa história ganhou formato impresso em 1924. Quatro décadas depois foi encenada pela primeira vez em outubro de 1964, no Teatro Nacional de Comédia, RJ. E, em 2001, ganhou espaço na série Brava Gente (Globo).
Como jornalista, Coelho Neto começou a carreira num jornal de José do Patrocínio, de quem se tornou amigo. Usou muitos pseudônimos, entre os quais Anselmo Ribas, Caliban, Ariel, Democ, N. Puck, Tartarin, Fur-Fur e Manés.
Em 1923, Coelho Neto conheceu o escritor português Júlio Dantas (1876-1962).
Neto e Dantas tornaram-se amigos de infância.
Dantas é autor do interessantíssimo livro A Conquista.
Os personagens que transitam nas páginas desse livro são reais denominados, porém, por nomes como Anselmo Ribas, Rui Vaz, Paulo Neiva e Octávio Bivar, respectivamente, Coelho Neto, Aluísio Azevedo, Paula Ney e Olavo Bilac.
O título do livro é uma referência à vitória dos abolicionistas.
Casado, Coelho Neto foi pai 14 vezes.
Também por 14 vezes foi pai o poeta simbolista de Minas Alphonsus de Guimarães.
Os poemas de Alphonsus tratam de religião, amor e morte. Seu personagem mais conhecido é Constança, dedicada à uma prima por quem se apaixonara e que morrera aos 17 anos de idade.
Alphonsus era casado com uma filha do romancista Bernardo Guimarães, autor do livro A Escrava Isaura.
A história em todos os tempos é longa e a tendência é se alongar cada vez mais.
O movimento modernista de 22 foi ingrato com Coelho Neto e Lima Barreto.
Injustiçado como Coelho Neto, foi o inspiradíssimo escritor Júlio Dantas.
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Júlio Dantas |
Em 2011, essa Ceia foi apresentada no Theatro Municipal de São Paulo.
Ceia por ceia, bobagem, pois histórias surgem e seguem quase sempre de modo incomum, aqui e alhures.
Há histórias simples e complexas, reais e inventadas. Reflexivas…
Do nada, Machado de Assis inventava histórias reais.
Do nada também há quem crie ficção do real.
A cada história que traz à tona, o escritor paulista de Araraquara Ignácio de Loyola Brandão se supera. Seus livros são todos bons, desde Zero lançado em 1971 na Itália e aqui proibido pelos milicos de plantão.
No conto Obscenidades para uma Dona de Casa, Brandão deixa o leitor babando. E quanto mais lê, o leitor baba. Muito bom. Trata de uma mulher que passa a receber cartas obscenas de um desconhecido. No começo ela não quer saber de nada, mas com o passar dos dias vai se envolvendo chegando ao desespero quando a carta demora pra chegar. E mais não digo.
Em 1980, Ignácio de Loyola Brandão havia publicado apenas oito livros. Até 2024, ele contabilizava exatos 58 títulos publicados em francês, italiano, alemão e outras línguas mais.
Loyola Brandão é membro da Academia Brasileira de Letras, ABL, desde 2019. A cadeira que ocupa é a de número 11.
Machado de Assis conta num conto o caso de uma mulher casada que passa a receber cartas anônimas. Nessas cartas a pessoa que as manda sugere de forma incisiva que a destinatária pare de trair o próprio marido e de atacar os maridos alheios.
São muitas as cartas anônimas que a suposta adúltera recebe. Uma dessas cartas, é interceptada pelo marido que até então de nada desconfiava.
O caso cá em pauta não termina bem.
Ah! Sim: ia-me esquecendo que há uma viuvinha nessa história do bruxo.
Digo com certeza que Machado de Assis foi o escritor que mais criou personagens viúvas na literatura brasileira. Dezenas e dezenas. Começa já no seu primeiro romance, Ressurreição (1872), segue em A Mão e a Luva (1874), em Helena (1876) e, entre outros mais, Memorial de Aires (1908).
Foto e ilustrações por Flor Maria e Anna da Hora
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