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quinta-feira, 17 de agosto de 2023

VIVA ELBA RAMALHO!

Agosto é, de fato, um mês danado de conturbado e triste por ser recheado de agouros e levar muita gente para o outro lado da vida.
Não à toda agosto é chamado de "o mês do desgosto".
Agosto levou muita gente famosa em tudo quanto é área. Política, inclusive:
Foi num dia 2 de agosto que o Rei do Baião Luiz Gonzaga nos deixou.
Foi num dia 4 de agosto que o humorista Oscarito nos deixou.
Foi num dia 5 de agosto que o cantador repentista Otacílio Batista nos deixou.
Foi num dia 19 de agosto que o cantor "El Broto" Francisco Carlos nos deixou.
Foi num dia 21 de agosto que o compositor e cantor Raul Seixas nos deixou.
Foi num dia 27 de agosto que o gaúcho Lupcínio Rodrigues nos deixou.
Foi num dia 31 de agosto que a cantora Dalva de Oliveira nos deixou...
Elba e Assis
Pois é, o céu está cheio de cantador, sanfoneiro, e tal. Mas tem coisa e gente bonita nascida e nascendo neste alvoroçado mês "agostiano":
Foi num dia 2 de agosto que o compositor Aldir Blanc nasceu.
Foi num dia 6 de agosto que o compositor Adoniran Barbosa nasceu.
Foi num dia 10 de agosto que o cantor e compositor Gordurinha nasceu.
Foi num dia 12 de agosto que a cantora Clara Nunes nasceu.
Foi num dia 20 de agosto que o rei da voz Chico Alves nasceu.
Foi num dia 30 de agosto que o compositor Edu Lobo nasceu.
Foi num dia 31 de agosto que a cantora Emilinha Borba nasceu...
E foi num dia como hoje, 17 de agosto, que nasceu na Paraíba a querida cantora Elba Ramalho, prima do Zé.
Elba é da safra de 1951 e antes de tornar-se cantora atuou com categoria nos teatros da vida. E mesmo como cantora de sucesso Elba topou desafio de participar da peça Vida e Morte Severina, de autoria do pernambucano João Cabral de Melo Neto.
Nunca é demais enaltecer o canto personalíssimo de Elba.
Num ano que já não me lembro direito, dos anos 90, tive a alegria de ter Elba declamando comigo no CD Assis Angelo Interpreta Poetas Brasileiros. Confiram:


NEM MISSA, NEM VAQUEIRO PRA GONZAGÃO

Recebo do amigo Onaldo Queiroga a notícia de que já não há mais a Missa do Vaqueiro, que desde 1970 era celebrada pelo Padre João Câncio em Serrita, PE. Dessa Missa participavam Luiz Gonzaga e centenas de vaqueiros da região. Isso ocorria todo segundo domingo de agosto. 
A Missa do Vaqueiro, que rendeu um álbum duplo lançado pela extinta Copacabana, foi criada por Gonzaga, Padre João e Pedro Bandeira, dos mais aplaudidos poetas repentistas do Brasil.
A notícia trazida por Onaldo é esta:
MISSA, SEM VAQUEIROS
Assis, Gonzaga e o padre João Câncio

A obra de Luiz Gonzaga do Nascimento, o Rei do Baião, possui um traço importante que é a seara de protesto, ou seja, existem muitas músicas criadas como forma de protestar contra determinadas situações injustas, na visão desse ícone maior da canção nordestina.
Dentre tantas canções há uma de muito significado – A morte do Vaqueiro, que fora construída como protesto e para homenagear o vaqueiro Raimundo Jacó, tido como o mais afamado do sertão nordestino, morto covardemente e por interesses políticos, além de que a justiça do homem deu pro mundo, como bem diz a canção.
Raimundo Jacó tornou-se símbolo dos vaqueiros e, em decorrência dessa canção, Gonzaga e o Padre João Câncio dos Santos, resolveram também criar a Missa do Vaqueiro, celebrada em Serrita, Pernambuco pela primeira vez em 1971.
Celebrada sempre ao terceiro domingo do mês de julho, ao ar livre, num local onde fora construído um altar de pedra rústica em forma de ferradura, a missa do vaqueiro, todos os anos reúne vaqueiros de todos os recantos do Nordeste, que assistem a missa, onde a celebração é conduzida por um padre, com chapéu de coro na cabeça, tendo o canto inicial entoado por um cantor nordestino, com trajes de vaqueiro, destacando em seu canto de aboio a identificação do vaqueiro, a fé e as dificuldades enfrentadas nas ressequidas terras do sertão.
Neste ano de 2023, a missa completou 53 anos de celebração. Contudo, o terceiro domingo de julho deste ano foi de muita tristeza. A missa foi completamente descaracterizada pelo gestor municipal de Serrita – PE, que de forma desconstrutiva agrediu um dos maiores símbolos da cultura gonzagueana, do próprio Estado de Pernambuco e do Brasil – A MISSA DO VAQUEIRO.
Quebrando toda ritualística da Missa, o prefeito integrou ao evento um festival musical que em nada tem ligação com contexto da Missa. Inacreditavelmente, parecem que desejam a todo custo aniquilarem a cultura nordestina. Este ano, a missa, sem vaqueiros foi regada ao som de Gustavo Lima, Xande Avião, Nattan, Tarcísio do Acordeom, Simone Mendes e outras atrações que não possuem conexão alguma com esse evento.
Mas, o que significa Missa do Vaqueiro? A Missa do Vaqueiro é um evento religioso, tradicional na cultura popular do sertão pernambucano, então, indago, qual o motivo de se agredir tão violentamente essa cultura.
Há tempos que existe um articulo movimento para a desconstrução da nossa cultura e, não podemos assistir tudo isso calados. É preciso reagir. Não se pode permitir que esse evento possa ser transformado numa missa, sem vaqueiros e sem a essência para a qual fora idealizada, criada e que já se perpetua por 53 anos.
Quer fazer um festival musical, seu prefeito? Faça, mas de outra forma, sem aniquilar a cultura de um povo chamado Nordeste. É preciso respeito. É preciso que as autoridades competentes tenham responsabilidades e que o Estado de Pernambuco, por seu Ministério Público, possa adotar medidas que visem freiar essa conduta destrutiva.
Esperamos que em 2024, a Missa volte a ter o seu formato original, até porque, missa não combina com esse tipo música, que muitas vezes troca o “P” da poesia pelo “p” da pornografia.
Como escritor e amante da cultura nordestina não podia, nem posso ficar silente diante de tão grave situação.
Viva Luiz Gonzaga, Viva Padre João Câncio, Viva a Missa do Vaqueiro!
ONALDO QUEIROGA
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