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domingo, 30 de junho de 2024

LICENCIOSIDADE NA CULTURA POPULAR (110)

Dalton Trevisan
Na literatura brasileira do século 19 fácil, fácil, acham-se muitos padres como personagens. Em Portugal, inclusive. Eça de Queiroz era craque em criar padres e padrecos.
São muitos os casos de padres envolvidos com freiras e não freiras de idades diversas.
Padres geraram músicos, escritores, advogados.
Entre os autores famosos gerados por padres se acham José de Alencar e José do Patrocínio.
Há muitos filhos renegados por padres e freiras.
Na literatura estrangeira e da nossa Pátria há muitos casos verídicos e inventados em que os personagens são católicos.
Entre os casos inventados, não custa lembrar Mocinha de Luto, do curitibano Dalton Trevisan. Trata do caso de uma jovem seduzida pelo namorado e depois por um advogado, um médico e um padre. Ai, ai, ai…
Livro que dá o que pensar, do mesmo Trevisan, é Novelas Nada Exemplares (1979). 
A Polaquinha, livro de 1985, é um personagem que Trevisan foi buscar no noticiário de antigamente, pois foi antigamente, ali no começo do século 19, que as polacas ou polaquinhas passaram a desembarcar no Rio de Janeiro, São Paulo e outras grandes cidades. Eram jovens mulheres que vinham da Rússia, Polônia e proximidades para ganhar a vida como prostitutas no Brasil. 
No livro A Polaquinha o autor Trevisan conta suas aventuras nas noites curitibanas. 
Dalton quieto no seu canto, dificilmente dá em público o ar da sua graça. Não recebe visita de amigos e admiradores. Vive enclausurado. Difícil saber o que faz, além do que diz nos seus textos curtos e provocadores. No gênero e forma não tem paralelo.
É difícil, impossível, seja quem for pegar um livro de Trevisan e não gostar. Ele é cirúrgico com sua pena infalível.
Dalton Jérson Trevisan continua escondido em lugar incerto e não sabido feito um ermitão.
Trevisan é a versão brasileira do norte-americano J. D. Salinger (1919-2010), autor do livro O Apanhador no Campo de Centeio.
Trevisan nasceu no dia 14 de junho de 1925.

Foto e reproduções de Flor Maria e Anna da Hora

sábado, 29 de junho de 2024

LICENCIOSIDADE NA CULTURA POPULAR (109)

Júlia Lopes de Almeida
Não tem como não dizer da importância do paulistano Mário de Andrade na literatura e nos estudos de cunho poético/musicais. Importantíssimo.
Mário, pianista e compositor bissexto, andou fazendo pesquisa de campo Brasil afora. No Rio Grande do Norte foi ciceroneado pelo estudioso da cultura popular Luís da Câmara Cascudo.
Foi Cascudo quem apresentou o embolador Chico Antônio à Mário.
Esse Chico teve o nome incluído em três livros do Mário de Andrade, entre os quais O Turista Aprendiz.
Chico foi tão importante para Mário, como Manuelzão (1904-1997) para João Guimarães Rosa.
A obra de Mário de Andrade é recheada de erotismo e sensualidade. O amor nas páginas de Mário é uma constante. 
Entre 1923 e 1926, Mário escreveu quase uma dezena de contos. Esses contos, sete, foram publicados em 1947 no livro Contos novos.
Nesse livro o autor parecer identificar-se com um ou outro personagem. Em Frederico Paciência, por exemplo. 
Mas Mário de Andrade mostrava preocupação com o dia a dia negativo do seu tempo. 
O conto Nízia Figueira, sua criada fala duas mulheres: uma branca e uma negra. Patroa e criada.
A criada atendia com toda dedicação a Nízia. 
Um dia, Rufina é enrolada por um cara que a engravida. Ele some e ela entra em desespero passando a viciar-se em cachaça. 
Pois é, na literatura brasileira se acha o comportamento dos brasileiros e brasileiras. 
No livro Memórias de Marta, a autora Júlia Lopes de Almeida (1862-1934) fala através da protagonista que dá título ao livro que a vida é dura, duríssima. Sem arrodeios, Júlia não mede palavras para criticar a sociedade do seu tempo.
Memórias de Marta foi publicado em folhetim no jornal carioca Tribuna Liberal, entre os anos de 1888 e 1889. Uma década depois o texto ganhou o formato de livro.
A história é fantástica, seja ela ficcionista ou realista.
Em janeiro de 2024, o Papa Francisco voltou a surpreender a ateus e cristãos quando afirmou que “o prazer sexual é uma dádiva de Deus”.
Já falamos aqui de filhos de papa. História real, sem possibilidade nenhuma de dizer o contrário. História é história.
A história inspira ficção.
Em 1959, o jornalista, contista, romancista e novelista Rodrigues Marques escreveu o livro de contos Os Quatro Filhos do Papa.
A história que dá título ao livro fala de um cara que faz uma turnê mundo afora. Um “bon vivant”. Ele conta a uma tia querida das suas andanças. Na Itália, conheceu filhos de um papa. A tia fica em êxtase. E mais ainda quando o tal diz que os filhos do papa que conheceu vão estar no carnaval do Rio de Janeiro.

sexta-feira, 28 de junho de 2024

VIVA O NORDESTE DE TODO MUNDO!

Eu nasci numa terra bonita chamada Brasil, a qual se insere uma região de nome Nordeste. 
Eu nasci em João Pessoa, PB, no ano da Graça de 1952.
O Nordeste é uma região formada por nove Estados. Nessa região a cultura popular é rica, variada e de belezas mil.
No Nordeste nasceram João Gilberto, Vandré, Caetano, Gil, Sivuca, Humberto Teixeira, Luiz Gonzaga, Dorival Caymmi, Dominguinhos, Jackson do Pandeiro, Zé Ramalho, Alceu Valença, Marinês, Alcione, Maria Betânia, Anastácia, Lia de Itamaracá;  os irmãos Artur e Aluísio de Azevedo, Augusto dos Anjos, José Américo de Almeida, José Lins do Rego, Raquel de Queiroz, Ariano Suassuna, João Cabral de Melo Neto, Câmara Cascudo, Gilberto Freyre, Patativa do Assaré, Jorge Amado, José de Alencar, Manuel Bandeira, Castro Alves, Ferreira Goulart, Nelson Rodrigues, Maria Firmina dos Reis...
O Nordeste é rico em tudo.
É isso!

quinta-feira, 27 de junho de 2024

AINDA FESTA NO METRÔ

Interessante e oportuno o evento joanino que está se realizando na Estação República do Metrô paulistano. Interessante por ter alguém do Metrô lembrado do mês em que se comemora São João, de tabela Antônio e Pedro. De lambuja, São Paulo, no dia 29. E oportuno por tudo isso, ora ora.
Com sensibilidade e delicadeza o pessoal do Metrô instalou barraquinhas com comes e bebes, próprios do período, uma exposição sobre dois concursos de literatura de cordel que promovi nos tempos em que passei por lá e até um palco para apresentações musicais. Gostei.
Nas barraquinhas havia também folhetos de cordel à venda por seus autores.



ADÉLIA PRADO

A poeta e romancista mineira Adélia Prado acaba de ganhar mais dois prêmios. Um da Academia Brasileira de Letras, ABL, e o outro Camões. O da ABL leva o nome de Machado de Assis, fundador.
A primeira mulher a ganhar o prêmio Machado de Assis foi a Tetrazzini de Almeida Nobre de Teffé, mais conhecida como Tetrá de Teffé. O romance que deu-lhe o prêmio foi Bati à Porta da Vida, publicado em 1940.


quarta-feira, 26 de junho de 2024

METRÔ COM FESTA É MELHOR

Assis com a filha Clarissa passeando no Metrô de São Paulo

O Brasil está em festa. De São João.
O São João brasileiro está espalhado de Norte a Sul. É coisa antiga. 
No início não havia festa nenhuma de São João ou a São João. Tampouco aos santos Antônio e Pedro.
Nos tempos de colheita lá pras bandas da Europa, do velho mundo, agricultores colhiam o que plantavam meses antes. Havia fartura e pra comemorar a fartura colhida dos campos os agricultores comiam, comiam e enchiam a cara. Eram pagãos. Portanto, eram pagãs as festas improvisadas pelo povo.
De olho no que sucedia nos tempos de colheita, a Igreja logo cuidou de por carimbo naquilo em seu benefício. E assim foi. E assim é.
E assim, trazida pelos portugueses, comemos e bebemos em louvor aos santos juninos ou joaninos.
Logo mais às 15h tem festa junina na estação República do Metrô de São Paulo.
Andei falando a respeito. Veja:



OUÇA TAMBÉM: RAÍZES DO BRASIL COM ASSIS ANGELO

terça-feira, 25 de junho de 2024

QUE TAL UM DIA DA RABECA?

Na foto, sentados: Serrador, Cego Sinfrônio, Cego Aderaldo e Jacob Passarinho. Em pé, Leonardo Mota

A rabeca é um belo instrumento, não é mesmo?
Esse instrumento tem origem muito antiga. Surgiu ali nas lonjuras do Oriente Médio, África do Norte e Europa toda. Chegou ao Brasil através dos portugueses e espanhóis.
No começo de tudo, a rabeca tinha uma ou duas cordas.
No Nordeste brasileiro ganhou fama através de hábeis rabequeiros como Cego Sinfrônio, Jacob Passarinho, Serrador e Aderaldo; Cego Aderaldo.
A rabeca fazia parte praticamente do corpo de Aderaldo.
Batizado de Aderaldo Ferreira de Araújo, o grande rabequeiro cearense perdeu a visão ao chegar à idade de 18 anos.
Órfão de pai e mãe, Aderaldo aprendeu a tocar rabeca para se sustentar. Encontrou na escritora Raquel de Queiroz (1910-2003) e no historiador Leonardo Mota (1891-1948) o apoio que precisava.
O Cego Aderaldo nasceu num dia de São João e morreu num dia de São Pedro, com 89 anos de idade.
Há um livro muito interessante que fala a respeito da vida e trajetória profissional de Aderaldo. Título: Eu Sou Cego Aderaldo.



segunda-feira, 24 de junho de 2024

SÃO JOÃO PRA TODO MUNDO!



O Brasil e o Nordeste, principalmente, está em festa. Motivo?
O Brasil está em festa porque hoje é Dia de São João, o santo que batizou Jesus nas águas do rio Jordão.
Aliás, o Brasil está em festa no correr de todo este mês, notadamente em Caruaru-PE e Campina Grande-PB.
Falar de São João, Antônio, Pedro e Paulo é uma beleza, sejamos cristãos ou ateus.
Festa é festa, sejamos gregos ou troianos.
O São João como festa é uma herança de Portugal.
A história desses santos eu já andei contando de trás pra frente, de frente pra trás. No rádio, inclusive. Ouça:



domingo, 23 de junho de 2024

LICENCIOSIDADE NA CULTURA POPULAR (108)

Pois é, não são poucas as histórias em que personagens femininas se dão mal.
Isso ocorre também num dos mais polêmicos livros de Aluísio Azevedo: O Homem, publicado em 1887. Nele, uma jovem de nome Magda se apaixona por Fernando. Os dois prometem se casar. É quando entra em cena o pai de Magda, também pai de Fernando. Detalhe: esses jovens não são filhos de uma mesma mãe. Fernando morre e Magda fica lelé. Fim trágico. Tem veneno na parada e mais não digo.
A ideia de pôr veneno em copos e pratos alheios sempre foi corrente nos contos e romances escritos mundo afora.
No livro Lágrima de Mulher, do mesmo Aluísio, tem disso. O caso envolve uma certa Rosalina e seu amado Miguel, moço pobre e apaixonado. Órfão e sem vintém, Miguel herda uma rabeca e o talento do pai. E por aí vai. O livro é de 1880.
Veneno há também na história que envolve Romeu e Julieta, não é mesmo?
E no enredo de Tristão e Isolda?
E com Peri de Ceci no famoso romance de Alencar?
Até nas histórias infantis o veneno se faz presente como na história A Branca de Neve e os Sete Anões. A personagem come uma maçã envenenada, morre e é ressuscitada com um beijo de língua bem dado por um príncipe que vivia sem fazer nada.
Nuns 10 ou 15 livros da escritora inglesa Agatha Christie (1890-1976) o veneno faz o efeito esperado, matando quem a autora quis. Num desses livros, Brinde de Cianureto, a autora põe na roda um casal e amigos para comemorar um aniversário. A aniversariante morre na hora ao ingerir um copo de bebida. Suicídio ou assassinato? A leitura é palpitante.
Na vida real, pessoas encontram no veneno o meio de desaparecer do mundo. São muitos e muitos casos. Incontáveis. Desde sempre.

O pai do socialismo científico, Karl Marx (1818-1883), em vida comeu o pão que o diabo amassou. Se não fosse o amigo Friedrich Engels (1820-1895), Marx não teria sido Marx. Engels o alimentava financeiramente, até mesmo após casar-se com Jenny von Westphalen.
Marx era um cidadão conservador, duro com os filhos. Foi pai sete vezes. Dessa ninhada sobreviveram até a fase adulta Jenny, Laura e Eleanor.
A caçula Eleanor teve fim trágico, suicidando-se ao tomar uma dose de ácido prússico.
Laura, das três irmãs a do meio, suicidou-se junto com o marido Paul, ambos também tomando uma dose de veneno, cianeto. Isso foi na França e, mais precisamente, no dia 25 de novembro de 1911.
Jenny foi dessas a única que não optou matar-se. Morreu vítima de câncer.
Marx, não custa dizer, seguiu exemplo de muitos machos do seu tempo e dos tempos atuais. Casado, traiu a mulher com a governanta. Dessa relação nasceu um varão: Freddy, que morreu em janeiro de 1929 com 78 anos de idade.
Causa-mortis de Marx: bronquite.
O veneno se apresenta nas formas mais variadas. 
Tem vários casos de pessoas que envenenam relações de outras pessoas, inventando mentiras.
Mais coisa brava, brava mesmo, ocorreu no período da caça a judeus e minorias diversas por Hitler.
Em Auschwitz, pelo menos 6.000 pessoas foram sufocadas e mortas pelo gás Zyklon B. Muitos livros contam essa história. O livro A Menina Que Roubava Livros, de Markus Zusak, por exemplo. Embora volumoso, com umas 500 páginas, o livro é de fácil leitura. Emociona. Tem palavrões aqui e acolá.
A Chave do Tamanho não tem palavrão nem veneno, embora faça referência ao nazismo é de Monteiro Lobato, publicado em 1942.
O nazismo é uma praga que jamais será esquecida. E que nunca se repita.
Bom, veneno por veneno…
No final do século 19 rolou um papo que dava conta de que Machado de Assis fora pai de um filho gerado pela mulher de José de Alencar. Hummm… Veneno puro cuspido pela língua ferina de Humberto de Campos (1886-1934). Mário, morreu em 1925. Era advogado e poeta.

Foto e reproduções de Flor Maria e Anna da Hora

sábado, 22 de junho de 2024

LICENCIOSIDADE NA CULTURA POPULAR (107)

José de Alencar era cearense e Machado de Assis, fluminense.

Machado tem coisas maravilhosas no campo do adultério. Contos como A Carteira e A Missa do Galo prendem o leitor do começo ao fim. 

Não sei se todos os cornos são idiotas, mas Honório é no mínimo de uma ingenuidade franciscana. Imperdoável. Dá pra rir. Aparece no conto A Carteira. 

E Capitu, a protagonista do romance Dom Casmurro (1899), traiu ou não traiu Bentinho com Escobar?

Acho que não, mesmo contrariando a máxima de Flaubert. Ele dizia que toda mulher deveria trair o homem. 

A história de Machado passa-se no século 19 no Rio de Janeiro.

No século 19 também foi escrito um romance baseado num fato real. Caso de uma fazendeira casada que passa a ter um trelelê com um parente do maridão. Não há rock nas páginas do livro, até porque isso ainda não existia. Porém, diga-se depressa: o que há é muito sexo e poetas repentistas tirando baião à viola. O marido descobre a safadeza da mulher e por isso é por ela assassinado.

Anos depois, a assassina é vista mendigando nas ruas da cidade onde vivia. 

De que romance estou falando?

Dona Guidinha do Poço, do cearense Manuel de Oliveira Paiva, que foi publicado nos primeiros anos da década de 50 quando o autor já havia falecido há pelo menos 60 anos.

Manuel de Oliveira Paiva foi seminarista, jornalista e militar. Tinha 31 anos de idade quando morreu.

Algo parecido com o enredo de Oliveira Paiva ocorre nas páginas do romance Estudos de Mulher, de Honoré de Balzac, escrito em 1837. No enredo uma mulher trai o seu par.

A personagem de Balzac é astuta, mas isso não impede que o traído trame e execute um plano de vingança.

Quem já leu o conto O Gato Preto, escrito em 1843 por Edgar Allan Poe (1809-1849), encontrará o final de Estudos de Mulher. 

Poe teve uma vida pessoal pra lá de atribulada. Ele fumava, bebia e enchia a cabeça de droga. Um dia foi encontrado caído na rua e levado ao hospital onde morreu. Tinha 40 anos e 20 quando casou-se com uma prima de 13. Foi um poço de infidelidade. 

A história de Edgard Allan Poe lembra um pouco o enredo do russo Vladimir Nabokov (1899-1977) desenvolvido no livro Lolita (1955).

No enredo de Nabokov há um pedófilo que mira suas garras numa garotinha de 12 anos. Mas o tal, que se diz “escravo de uma ninfeta colegial”, começa a cair em desgraça quando a mãe da menina descobre a safadeza num diário guardado a sete chaves por ele. Deu polêmica mundial.

Também parecido com a história de Nabokov é a personagem de 16 anos que aparece no livro A Fugitiva (2012). Nesse livro a autora, Anaïs Nin, fala de uma certa Nicolly que vive sendo o tempo todo abusada por um homem que ela detesta. É quando traça um plano pra fugir do algoz, deixando entender que matou-se. Enfim, a personagem vai em busca de uma nova vida.

Curiosidade por curiosidade, não custa lembrar que essa mesma temática é abordada pela escritora canadense Alice Munro (1931-2024). Ler Fugitiva, livro formado por 8 contos publicado em 2004. Alice Munro foi ganhadora do Prêmio Nobel em 2013.


sexta-feira, 21 de junho de 2024

ALMOÇO COM BOM PAPO, BOULOS E ERUNDINA...



Fazia tempo que eu não comparecia ao restaurante Amigos do Picuí, na Freguesia do Ó. Assim que me viu dona Maria, a chefa, veio correndo me abraçar e lembrar de tempos idos quando lá eu ia junto com o ator Jackson Antunes, ou o compositor e cantor Téo Azevedo e outros mais da linha de ponta da nossa cultura popular.
Ontem 20, no princípio da tarde, voltei ao Picuí levado que fui pelos cantores Dantas do Forró e Fatel.
Quando chegamos ao Picuí, lá já estavam Guilherme Boulos e amigos.
Boulos é o nosso candidato à prefeitura de São Paulo.
Logo após juntaram-se a nós o deputado estadual Paulo Fiorilo e os federais Alfredinho e Luiza Erundina (registro acima). O papo foi bom. Falamos de tudo. Dos nordestinos em São Paulo e da nossa Paraíbeabá.
Lá pras tantas foi anunciado o aniversário de Boulos.
Pra Boulos de repente apareceu um belo bolo. Todos nós comemos e brindamos.
É isso aí!


quinta-feira, 20 de junho de 2024

PUTARIA COMO ARTE?

Em parte, Lula tem razão quando diz que "artista não deve ensinar putaria".
Tal manifestação o presidente da República fez ontem 19 durante solenidade de posse da nova dirigente da Petrobrás, Magda Chambriard. Textualmente, disse ele: 

“Eu sou da turma em que artista, cinema e novela não é para ensinar putaria. É para ensinar cultura. É para contar história, é para contar narrativas e não para dizer que nós queremos as crianças coisas erradas. Não, nós só queremos fazer aquilo que se chama arte. Quem não quiser entender o que é arte, dane-se”.

Pois é, isso mesmo.
Novela, TV, cinema, teatro, são janelas ou vitrines de apresentação do que se faz em arte aqui e alhures.
Agora, especificamente, como classificar putaria?
Putaria seria palavrão, cópula, condenação à mulheres que abortam ou canalhas que estupram?
No campo político há muitas ações ou eventos que podem ser classificadas de "putaria".
No campo sexual é possível também encontrarmos detalhes que podem ser classificados como putaria. Pornografia, por exemplo. Sensualidade, não. E erotismo?
O erotismo e paixão são coisas ou sentimentos que se acham em escritos desde a antiguidade.
Amor, sexo, sedução, e adultério também são ingredientes que poetas e romancistas não deixam de usá-los nas suas obras. O mesmo fazem os artistas plásticos desde sempre. E nem precisa ir longe. O espanhol Picasso e o francês Delacroix usaram os pincéis para produzir belas obras.
Bom, quero crer que Lula se referisse ao ensino da educação sexual nas escolas. E quem pode ensinar isso não são os artistas, claro, são os professores especializados.
É isso aí!


MORRE CHRYSTIAN DA DUPLA COM RALF

Chrystian
Morreu ontem em São Paulo o cantor goiano Chrystian, de batismo José Pereira da Silva Neto. Tinha 67 anos de idade.
Chrystian, irmão de Ralf, começou a carreira artística na Capital paulista. Primeiro disco foi um compacto simples com as músicas Raio de Sol e Hoje a Praia está tão Linda, a primeira uma versão do compositor e ator Mário Lago (1911-2002) e a segunda de autoria de Teófilo Azevedo e Davi Nelson.
O Téofilo aí citado foi nada mais, nada menos o cantor, violeiro e produtor musical Téo Azevedo (1943-2024).
O primeiro disco de Chrystian foi gravado em 1970. Ele tinha 14 anos. RCA Victor. Desse disco participou o irmão Ralf, de batismo Ralf Richardson da Silva. Tinha 9 anos. Os dois foram batizados de Os Pássaros. Afinadíssimos!
Chrystian e Ralf gravaram ótimas modas de viola.
Dois anos depois do primeiro disco, a dupla passou a gravar em inglês com os nomes de Charles e Ralf.
Num ano qualquer dos 80, talvez 82 ou 83, fiz uma entrevista com os dois. Essa entrevista, de uma ou duas páginas, foi publicada na extinta revista Visão cujo o editor era o craque Oswaldo Mendes.
Vamos ouvir Os Pássaros cantando?

quarta-feira, 19 de junho de 2024

ENFIM CHICO OITENTÃO

Hoje é dia de Chico Buarque de Hollanda. 
Hoje é dia de o Brasil bater palmas para Chico Buarque de Hollanda, pois nascido foi no dia 19 de junho de 1944.
Na pia batismal o moço aí recebeu o santo nome de Francisco. Com o passar dos anos e a sua benfazeja entrada no campo da música popular passou a ser chamado de Chico.
Chico passou a ganhar notoriedade a partir do momento que dividiu o 1° lugar com Geraldo Vandré no Festival da Música Popular promovido pela TV Record. As músicas campeãs foram A Banda e Disparada.
A Banda logo recebeu dezenas de gravações no Brasil e no Exterior. 
Tinha Chico Buarque 26 anos de idade quando, em 1966, ganhou o Festival. E não parou mais. Dois anos depois, em 1968, voltou a empatar o 1° lugar com o mesmo Vandré. Dessa vez no I Festival Internacional da Canção, realizado no Maracanãzinho. As músicas empatadas foram Sabiá e Pra Não Dizer Que Não Falei de Flores (Caminhando).
Mas o campo musical não foi suficiente para acolher todo o talento de Chico. 
Ao mesmo tempo em que compunha músicas, Chico enveredava pelo minado terreno do teatro. Ainda insatisfeito, lá foi ele construindo uma obra literária. O primeiro dos vários títulos foi Estorvo, em cujas páginas se movimentam personagens praticamente anônimos envolvidos em violência e erotismo. 
A obra musical de Chico Buarque trata de tudo: Natal, Carnaval, Futebol, Política, Amor... 
A música natalidade composta e cantada por Chico foi inserida num compacto (vinil) bancada por uma imobiliária de São Paulo. 
Na virada dos 70, por ali, entrevistei o Chico num restaurante localizado nas proximidades da Av. Paulista. Foi publicada numa das revistas da Editora Três. 

terça-feira, 18 de junho de 2024

SÃO JOÃO NO METRÔ DE SÃO PAULO



É sempre bom receber amigos, pessoas queridas, como Rodrigo, Marcelo e Reginaldo.
No final da tarde de ontem 17, eu tive a alegria de escancarar a porta para os cabras aí citados. Trabalhei com Rodrigo e Marcelo. Faz mais de 30 anos. Por esse tempo, concluía o curso de jornalismo o bom Reginaldo, hoje linha de ponta das rede sociais que envolvem o Metrô paulistano. Foi um encontro maravilhoso, bem posso eu dizer assim. E tenho dito!
Rodrigo, Marcelo e Reginaldo fizeram-me relembrar os bons tempos que vivi na labuta metroviária. Foram tempos que andei cuidando da assessoria de imprensa do Metrô.
Realizamos exposições e apresentações musicais no Metropolitano. Lembro que levei as queridas Inezita Barroso e Carmélia Alves, Rainha do Baião, para se apresentar na área livre da Estação São Bento. Coisa bonita e de ótimas lembranças.
À propósito, Reginaldo contou que nos próximos dias 26 e 27 a estação República estará aberta para comemorar o São João. Pois é. Merecemos a alegria que nos dá São João. É isso.
Ah! Sim: eu fiz uma música falando do Metrô. Foi gravada por Costa Senna. Ouça:



Quer saber mais? Clique: 

SÃO JOÃO DE TODOS NÓS



O São João continua espalhado Brasil afora, principalmente no Nordeste.
Tem São João bonito em Sergipe, Paraíba e Pernambuco. Vai vendo...
No último dia 8 no chamado maior São João do mundo, a grande atração foi o craque Dantas do Forró. Foi muito legal, ele disse. "Pretendo voltar a Caruaru no próximo ano", acrescentou.
No Dia dos Namorados, 12 de junho, o pernambucano Luiz Wilson e a mineira Fatel botaram pra quebrar no palco do São João de Caruaru: "Só deu coisa bonita e ficamos muito felizes", contou a cantora Fatel.
Luiz Wilson, radialista de primeira nas ondas do rádio paulistano, entusiasmou-se todo ao sentir ser mais do que bem vindo a Caruaru. "Senti-me alegre que nem uma criança chupando pirulito", disse.
Bom, eu gosto muito da chamada Capital do Agreste. Morei lá e até editei um jornal chamado Diário do Agreste.  Começo dos anos 70.
Eu conheci bem de perto a famosa Feira de Caruaru, que o rei do baião Luiz Gonzaga cantou. É isso, e mais não digo.



segunda-feira, 17 de junho de 2024

BELCHIOR: SANTO OU SEITA?

Último encontro de Belchior com Jorge Mello, em 2006


Belchior na casa do Assis
Igrejinhas, altares e pequenos oratórios estão se erguendo e se multiplicando em ambientes familiares Brasil afora em memória de Belchior.
Até aí tudo bem, caso o Belchior citado não fosse o nosso Belchior cantor, compositor e ex-seminarista nascido no Ceará no ano de 46.
Isso mesmo, o brasileiro Belchior pode até virar santo! 
A vida pessoal  de Antônio Carlos Gomes Belchior Fontenelle Fernandes foi uma vida pra lá de atribulada. Foi um intelectual. Falava bem o francês, o inglês e arranhava outros idiomas como o espanhol e o italiano. O latim ele o tirava de letra, com a naturalidade de quem bebe água, cheira uma flor e respira.
Eu o conheci bem.
Belchior era um cara pacato, reservado, incapaz de ferir uma mosca.
A sua música, versos e canto eram incomparáveis, com personalidade própria. 
Cidadão afável, Belchior atendia a todos que o procuravam. Gostava de bom vinho, bacalhau e charutos cubanos. Aparentemente normal, não era machão do tipo clássico, mas adorava pular cerca. 
"Meu último encontro pessoal com Bel foi em dezembro de 2006", lembra o parceiro e sócio Jorge Mello. "Esse encontro ocorreu no hall do Cesar Park Hotel, em Fortaleza, onde realizávamos uma exposição de artes plásticas", acrescenta Jorge. 
Dessa exposição participaram também Jô Soares, Chico Anísio e outros pintores bissextos. 
Belchior foi um ótimo pintor.
Jorge Mello compôs 29 músicas com Belchior, duas ou três ainda inéditas. No início da carreira, moraram juntos no Rio de Janeiro. 
O surgimento de altares feitos em memória de Belchior foi natural e natural continuam se multiplicando. Essa multiplicação já se acha na casa dos 50. São iniciativas de pessoas que admiravam muito o artista e nele acreditavam ser alguém fora do comum. Coisa de fã exagerado.
O sumiço de Belchior, injustificado até agora, começou em 2007. Era visto aqui e ali. Até no Uruguai, onde foi localizado por uma equipe da TV Globo. A entrevista foi um tanto atabalhoada. 
Fisicamente, o artista morreu no Rio Grande do Sul em 2017.
Guardo ótimas lembranças dele comendo, bebendo e cantarolando lá em casa. Numa ocasião presenteei-lhe com um pequeno aparelho de tocar discos em 78RPM, que ele adorou. 
Além de vários filhos, Belchior deixou carros (importados) que se acham até hoje em estacionamentos de São Paulo e dívidas que se acumulam. Curiosidade: no ECAD se acham mais de 200 milhões de reais procedentes de direitos autorais em nome de Belchior. Essse dinheiro, porém, não pode ser sacado por estar "sub judice".
Até onde essa coisa vai só Deus sabe. 
Bom, só falta o querido Belchior virar santo ou seita.

domingo, 16 de junho de 2024

LICENCIOSIDADE NA CULTURA POPULAR (106)

O primeiro navegador português a chegar ao Brasil foi Duarte Pacheco (1460-1533).

Depois de Pacheco e Cabral, aportou na costa baiana o lisboeta Diogo Álvares Correia (1475-1557). Isso em 1510. Esse Diogo logo foi apelidado de Caramuru. E é aí que começa a bagunça.

Caramuru juntou-se com várias indígenas da etnia Tupinambá e com elas teve muitos filhos.

Essa era uma prática comum entre os indígenas.

Entre os indígenas, eu disse.

Isso porém não quer dizer que todos os povos indígenas tivessem o mesmo comportamento. Nem todos eram canibais, por exemplo. Tinham regras a cumprir. No campo sexual, inclusive.

A poeta e psicóloga Geni Núñez, da etnia Guarani, aborda a questão no livro Descolonizando Afetos: Experimentações Sobre Outras Formas de Amar (Paidós). Começa dizendo da intromissão dos jesuítas na cultura nativa: “O esforço missionário direcionou-se ao processo de incutir, violentamente, a percepção de que determinados costumes e práticas deveriam ser alvo de remorso, culpa, vergonha e arrependimento. A listagem de condutas imorais era extensa”. 

Caramuru

Para reforçar o que diz, Núñez cita Ana Lúcia Sales de Lima e Sezinando Luiz Menezes: “Dos pecados mais condenáveis pelos padres, destacam-se a nudez, as relações de poligamia entre os membros das aldeias e a condução de suas vidas através dos ensinamentos do pajé (responsável tanto pelo conforto espiritual como por curas aos enfermos)”.

Giacomo Puccini

Lima e Menezes são autores de Que Proveja Isto com Temor, Pois Nós Outros Não Podemos por Amor: A Ação Catequética do Padre Manuel da Nóbrega nos Trópicos Entre 1549-1559.

No seu livro, Núñez define a monogamia e outras práticas sexuais com suas devidas diferenças:


Os prefixos de monogamia (mono-) e de poligamia (poli-) podem aludir, em um primeiro momento, a uma questão de quantidade, como se monogamia fosse pertinente a quem quer se relacionar com apenas uma pessoa e poligamia se referisse àquelas pessoas que desejam se relacionar com várias. Esse é um dos equívocos mais comuns, justamente porque nem “monogamia” é sobre um/único nem “não monogamia” corresponde necessariamente a vários. Na não monogamia, alguém que queira se relacionar com apenas uma pessoa tem o direito de fazê-lo, mas isso diz respeito apenas a si mesmo. Se a outra pessoa quiser também se relacionar com apenas um, sem problemas, mas, se sentir de outra forma, cabe apenas a ela essa escolha. Só quem pode dar consentimento nesse sentido é a própria pessoa, sobre si mesma.


Grosso modo, a história registra que a presença dos jesuítas nas novas terras fez mais mal do que bem.


Foto e reproduções de Flor Maria e Anna da Hora

sábado, 15 de junho de 2024

LICENCIOSIDADE NA CULTURA POPULAR (105)

Outro romance também muito legal de José de Alencar é Senhora.
A história de Senhora gira em torno de uma órfã de pai e mãe. O pai morre, a mãe morre e um irmão que tinha, também morre. Mas de uma hora pra outra, por iniciativa do destino, a protagonista Aurélia ganha uma fortuna de muitos contos de réis. A herança é de um avô. Com tanta grana no caixa, Aurélia traça plano pra se vingar de um antigo namorado que não lhe dava bola por ser pobre. Esse personagem tem por nome Fernando Seixas. É um livro arretado!
Outro seguindo essa mesma linha, romântica, é Diva.
A protagonista de Diva, Emília, é uma garotinha feia de 14 anos que ao crescer fica linda e apaixonante. Ainda na adolescência passa mal e é curada por um amigo da família, o médico Augusto.
José de Alencar
A personagem e família são riquíssimas e Augusto, coitado… Esse romance é uma crítica velada à sociedade brasileira do século 19.
Alencar escreveu também três livros identificados com a narrativa indigenista, incluindo O Guarani, Iracema (1865) e Ubirajara (1874).
O romance Iracema conta a história da personagem-título engravidada por um invasor português de nome Martim que a abandona sem nenhuma explicação.
Ubirajara é um herói respeitado na sua tribo, Araguaia. Tem duas mulheres “fixas” e várias amantes. É um relacionamento natural.
Curioso nessa história é o patriarcalismo exercido com todo seu vigor.
Outra curiosidade é a prática de poligamia. Não em todas as tribos, claro.
Não podemos, porém, esquecer que o autor de Ubirajara é um homem branco.
A Iracema de Alencar faz-me lembrar a história contida na ópera Madame Butterfly, de Giacomo Puccini (1858-1924), levada à cena no alla Scala de Milão em 1904.
Nessa ópera, um oficial da Marinha norte-americana engravida uma jovem japonesa e desaparece para depois voltar acompanhado de uma mulher.
Antes de Cabral, outros portugueses apearam por cá. No real e na ficção.

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