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quinta-feira, 17 de fevereiro de 2022

HÁ 100 ANOS, JORNALISTAS PARTICIPAVAM DA SEMANA DE 22

A Semana de Arte Moderna, que foi de apenas 3 dias, reuniu nordestinos e cariocas ao grupo de paulistas liderado basicamente por Mário de Andrade, Oswald de Andrade e Menotti Del Picchia.
A Semana não foi tudo que se diz.
Na verdade a Semana foi, digamos, um festival ou salão de múltiplas expressões artísticas, incluindo exposição de quadros, declamações e música.
O evento, que teve lugar no Teatro Municipal de São Paulo, foi aberto com uma palestra do maranhense de São Luís Graça Aranha (1868-1931), à época um nome bastante conhecido das letras e da diplomacia brasileira.
Foi Graça, autor do livro Canaã (1902), o cara incumbido de arrecadar grana, entre cafeicultores, para a realização do que ficou conhecida como a Semana de Arte Moderna ou Semana de 22.
Essa semana foi feita quase toda por jornalistas: Graça Aranha, Ronald Carvalho, Afonso Schmidt, Guilherme de Almeida, Sérgio Milliet, Mário de Andrade, Oswald de Andrade, Menotti Del Picchia e até Plínio Salgado.
Plínio, paulista de São Bento do Sapucaí, entrou para a história como o criador do movimento político Ação Integralista. Era da direita radical.
Retrato de Graça Aranha
Vários participantes da Semana eram conservadores. Pois é.Na noite de 13 de fevereiro, uma segunda-feira, o teatro não estava com sua lotação completa. Na quarta, também não. E na sexta, pouquíssimas pessoas deram o ar de sua graça. Detalhe: aquela pode ter sido a melhor das noites, pois já estava o carioca Heitor Villa-Lobos (1887-1959) mostrando parte do seu enorme talento. Mesmo assim, recebeu vaias e berros de uma plateia na qual se incluíam estudantes da Faculdade de Direito do Largo São Francisco, cooptados por Oswald de Andrade.
Oswald foi um marqueteiro e tanto.
A ideia da Semana não partiu dos paulistanos. Partiu do jovem pintor carioca Di Cavalcanti (1897-1976).
À época, Di tinha 25 anos incompletos. E teria dito a Mário, ou a Oswald, de Andrade: “Está na hora de fazermos um grande evento artístico pra chamar atenção das pessoas”.
O evento contou com a exposição de uma centena de quadros, 20 e pouco dos quais assinados por Anita Malfatti (1889-1964).
Mário de Andrade e Tarsila do Amaral
no traço de Fausto Begocce

Anita, uma paulistana, tinha 28 anos de idade quando realizou, em 1917, a sua primeira exposição individual. Essa exposição despertou a ira do escritor paulista Monteiro Lobato (1882-1948), que escreveu um artigo demolidor contra Anita, no Estadão. Disse, depois de comparar a sua obra à obra dos loucos: “... A única diferença reside em que nos manicômios esta arte é sincera, produto ilógico de cérebros transtornados pelas mais estranhas psicoses”.
Lobato é o autor do personagem Jeca Tatu e de Narizinho, que deu início às histórias do Sítio do Pica Pau Amarelo.
Muita gente pensa que Tarsila do Amaral (1886-1973) participou da Semana, mas não. Na ocasião ela se achava em Paris. Aliás, foi em Paris que ela conheceu Oswald, com quem se casaria em 1926.
Entrevista de Menotti Del Picchia
a Assis Ângelo
Depois de separar-se de Oswald, Tarsila entrou em parafuso. A propósito: é dela a obra-prima Abaporu (1928), que inspiraria o ex-marido a criar o movimento Antropofágico.
A Semana de Arte Moderna tinha por objetivo, segundo dizem, romper com as tradições inovando a arte brasileira. Conversa!
A Semana não quebrou tradição alguma.
A Semana foi um evento de pouca repercussão e sem nenhuma importância, a rigor. Foi apenas um movimento de jovens insatisfeitos com o momento em que viviam. Um momento de tensão, de pressão política. O presidente da República era, não custa lembrar, o paraibano Epitácio Pessoa.
Não foi a Semana de 22 um evento direcionado ao povo. Mas de elite para elite.
Alguns nomes que participaram da Semana entrariam para a história independentemente da Semana.
Em maio de 1984 publiquei uma matéria de 2 páginas no extinto suplemento literário D.O. Leitura, de São Paulo, com o último dos participantes daquela Semana: Menotti Del Picchia (1892-1988). Na entrevista, o autor de Juca Mulato diz, com todas as letras, que “Mário de Andrade era um gênio”. Diz também coisas curiosas como acreditar em fantasmas, embora não cresse em reencarnação, que gostava de Mozart e de poetas como Cassiano Ricardo.
Capa da revista Klaxon e Charge de Belmonte.

Menotti Del Picchia teve uma vida agitada na imprensa paulistana. Foi redator chefe, por exemplo, dos jornais Tribuna de Santos, A Gazeta e Diário da Noite.
No dia 15 de maio de 1922, logo após a realização da Semana, começou a circular em São Paulo a revista Klaxon. No expediente, entre os colaboradores, se achavam Guilherme de Almeida, Mário e Oswald de Andrade.
Em suma, a Semana de 22 não serviu praticamente pra nada, até porque a cultura popular (expressão maior do povo, de qualquer povo) esteve completamente ausente da programação.
E pensar que Mário de Andrade foi o autor da belíssima moda Viola Quebrada, hein?
O chargista Belmonte (Benedito Carneiro Bastos Barreto, 1896-1947) foi um dos muitos críticos da Semana de 22.

PRESIDENTE MENTIROSO. E PERIGOSO

Charge de Renato Aroeira
Feio e perigoso é o mundo fabuloso do presidente Bolsonaro.
Feio e perigoso porque é um mundo feito de mentiras.
Bolsonaro, cara de pau sem verniz, põe no bolso facilmente personagens da cultura popular como Pinóquio (Itália) e João Grilo (Portugal).
Pantaleão, personagem de Chico Anysio (1931-2012), desavergonhado que nem o presidente, sentia prazer em mentir. E ainda perguntava à mulher: "É mentira, Terta?".
Pesquisas sobre as mentiras do presidente indicam que o tal mente, em média, 7 vezes ao dia.
Números colhidos pela plataforma Aos Fatos carimbam o absurdo de que só em 2021 Bolsonaro mentiu 2.516 vezes, o que significa 6,9 mentiras por dia.
Segundo a plataforma, a mentira mais repetida por Bolsonaro no ano passado foi sobre a pandemia, provocada pelo novo Coronavírus.
As urnas eletrônicas do TSE são também alvos prediletos do conhecido mentiroso. Semana passada, por exemplo, ele usou sua enfadonha live para dizer que as Forças Armadas haviam detectado insegurança nas urnas.
Na verdade, as Forças Armadas haviam encaminhado ao TSE uma relação de perguntas sobre o funcionamento técnico das urnas. Pediram sigilo, mas Bolsonaro incumbiu-se de tornar pública a consulta e mentir como mentiu, dizendo que os seus comandados haviam detectado fragilidades no equipamento. Isso fez com que o ministro Luís Roberto Barroso, do TSE, divulgasse o questionário e as devidas respostas.
É enorme o questionamento e as respostas.
Nunca, em tempo algum, um presidente da República mentiu tanto e descaradamente como Bolsonaro.
É desse jeito que ele deverá entrar para a história.
Mentir é feio. E com meus botões penso que tamanho teria o nariz de Bolsonaro se crescesse toda vez que mentisse.

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