Luiz Gonzaga, o Rei do Baião, todos nós sabemos quem foi.
Gonzaga era negro e talvez nem soubesse que fosse.
O problema maior do Gonzaga, que eu conheci bem de perto, era a pobreza. Ser preto, era condição secundária. Na verdade, quero crer que ele nem punha isso como fato dolorido da vida cotidiana.
Eu acho que Gonzaga fechava os olhos a pretos e brancos, homens e mulheres.
Gonzaga, ele me disse mais de uma vez, que desde moleque queria ser cartaz da música (leia: O FOLCLORE NA OBRA DO REI DO BAIÃO).
O baião como gênero/ritmo foi lançado no dia 22 de maio de 1946.
Em 1951, Luiz Gonzaga já era considerado o Rei do Baião.
Nesse ano, 51, Luiz Gonzaga foi barrado à entrada da Rádio Gazeta.
A Rádio Gazeta, SP, em 1951, era uma das mais importantes do País.
Pois bem, convidado para uma entrevista à rádio, ele foi barrado. Motivo? A cor da pele.
Luiz Gonzaga do Nascimento, pernambucano de Exu, o 2º dentre 9 irmãos, nasceu pra ser artista...
A negritude para Gonzaga não significava muita coisa.
Gonzaga, que o mundo passou a conhecer como Rei do Baião, era a reunião de tudo de bom e conflitos: cidadão.
Ser negro ou ser branco, para Luiz Gonzaga, significava uma coisa só: gente.
Luiz Gonzaga nasceu, viveu e morreu como um ser simples.
A alma não tem cor, não é mesmo?
Isso achava o pernambucano Luiz Gonzaga do Nascimento. Pra mim, foi bom conhecê-lo.
Meu amigo, minha amiga, ouça:
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terça-feira, 24 de novembro de 2020
RACISMO NA NOSSA MÚSICA (3)
RACISMO NA NOSSA MÚSICA (2)
Por acaso acabo de ligar a televisão e através dela ouvi a notícia de que Francisco, pai de Zezé e Luciano, acabara de morrer.
Todos morremos.
Francisco, pai de Zezé e Luciano, era branco.
Juntando pretos e pardos o Brasil é maioria nesse nosso território.
E...?
O Brasil começou no batuque.
Batuque é negro.
E aí bate, bate acolá, o batuque se fez forte e nasce o samba.
Antes do samba, o negro brasileiro mostrou o seu talento no choro.
Choro, é choro.
Estou falando do choro como um gênero mu-si-cal.
Ninguém fez isso, ninguém fez choro gênero/ritmo musical no mundo. Fizemos.
Quem inventou o choro como gênero musical foi Joaquim Antônio da Silva Callado (1848-1880). Esse cara foi incrível. Pergunto: como esse cara pode ser um nome esquecido no meu Brasil de hoje?
Callado era negro.
Quem me falava muito sobre o Callado era o Carlos Poyares (1928-2004).
Poyares era um cara que fez uma história enorme.
Poyares era flautista. Sabia tudo sobre choro. Conheceu Benedito Lacerda, Pixinguinha e todos os grandes da sua época.
A flauta de Poyares está em mais de 3 mil discos, inclusive em discos do rei do baião Gonzaga.
Ah! E tem Pixinguinha...
Pixinguinha era um negro retinto do caralho!
O José Ramos Tinhorão, meu amigo de muitas décadas, conheceu Pixinguinha e sobre ele me disse coisas incríveis.
Pixinguinha montou um grupo musical chamado os Os 8 Batutas. Isso em 1919, por ali.
Em 1922, quando muita gente ficou sabendo que Os 8 Batutas como grupo musical ia tocar na Europa, a imprensa brasileira caiu de pau. A interrogação que essa notícia gerava era: Esse Brasil não é o Brasil, Brasil negro na Europa?
Pois é, o preconceito e o racismo são filhos da escuridão mais profunda: da ignorância.
A ignorância é a escuridão mais profunda da vida.
À época o presidente do Brasil era o paraibano Epitácio Pessoa.
Epitácio foi um racista imperdoável na vida brasileira.
A música brasileira, principalmente o samba, foi violentada. E por que não dizer estuprada?
Conheci Zezé di Camargo e Luciano, num ano qualquer dos fins dos 80. Quem me apresentou aos dois, foi o tocador de sanfona Dominguinhos. Isso aconteceu numa sala da extinta gravadora Continental. Nessa sala estavam diversos jornalistas. Era uma entrevista coletiva. Nessa coletiva estávamos eu e outros quatro.
A impressão que tive de Zezé foi ótima.
O Dominguinhos enfiou uma sanfona no peito de Zezé e Zezé com a sanfona enfiada no peito tocou, cantou e riu. Foi legal.
Em 1945, os compositores Janete de Almeida e Haroldo de Andrade compuseram uma obra-prima, no ritmo samba, chamada Pra que Discutir com Madame?, com João Gilberto. Ouça:
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