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quinta-feira, 25 de maio de 2023

PRA REFLETIR: HOJE É O DIA DA ÁFRICA

  Esta tirinha faz parte do livro Histórias de Esquina, do cartunista Fausto e Assis Ângelo
 
Não é só o Brasil que tem andado de cabeça pra baixo. O mundo está de cabeça pra baixo, tonto, cambaleante. Isso, claro, não é bom.
Este nosso planetinha de josta está implodindo. Nós, seus habitantes, estamos próximos de, juntos, somarmos oito bilhões. É muita gente, é muita alma penando por aí afora sem rumo, sem nada.
Somos pretos e brancos, ricos e pobres, uma mistura danada e tonta. Ocupamos quase 200 países.
Os conflitos de todos os tipos se complicam.
O problemas reais pululam. 
Ontem 24 o jogador de futebol brasileiro Vini foi homenageado por seu time, o Real Madrid.
Ontem 24 o presidente de La Liga, Javier Tebas, pediu desculpas pelo comportamento racista dos torcedores do Valência e tal. Foram desculpas assim, assim, sem convicção. Desculpas com aspas. Assim, do tipo "pero no mucho".
O que os torcedores espanhóis estão fazendo contra o jogador Vini é lamentável. Merecem punição braba, cana com multa e tudo mais.
O futebol é receita importante na economia espanhola. Significa algo em torno de 1,7% do PIB.
O mundo civilizado está de olho na Espanha, especialmente no futebol espanhol.
O caso Vini faz-me lembrar o caso Luiz Gonzaga.
Em 1951 o rei do baião, Luiz Gonzaga, foi convidado pra uma entrevista na rádio Gazeta, cujo slogan era "A Rádio da Elite". Ao chegar à portaria foi barrado por um porteiro branco e metido a besta que o proibiu de passar na porta. Gonzaga perguntou por que estava sendo impedido de entrar. E a resposta foi que só entraria com um convite. Gonzaga perguntou onde arrumaria um convite para comprar. E aí começou um bate-boca. Rápido Gonzaga conseguiu acessar o elevador, mas foi agarrado. E antes do pau cantar de verdade, a confusão chamou a atenção do apresentador do programa e de seus assistentes. Desse modo Gonzaga, reconhecido, adentrou ao ambiente da entrevista. Depois, insatisfeito, o Rei do Baião procurou jornais pra falar do ocorrido. A ninguém interessou a questão e tudo ficou por isso mesmo.
Eu soube ontem 24 que a cantora negra norte-americana Tina Turner morreu. Pena. Grande cantora, sem dúvida. Veio do nada, sofreu, pastou, como se diz, antes de alcançar o estrelato mundial. No rádio ouço loas a seu respeito. Dizem que não podemos nos esquecer nunca de Tina. Concordo.
A olhos nus vejo grandes artistas negros da nossa música completamente esquecidos como Pattápio Silva, Pixinguinha e João da Baiana; Clementina de Jesus, Dona Ivone Lara e Carmen Costa.
Carmen Costa foi a primeira cantora brasileira a gravar um chorinho de Luiz Gonzaga, em 1943. Os casos de esquecimento são muitos. E a nossa música é negra, porque não dizer?
O choro é negro, o samba é negro, o baião é negro e isso é muito bom, certo?
Em 1942 um cidadão piauiense muito afoito Berilo Neves escreveu num artigo da Revista da Semana que "O samba é uma reminiscência afro-melódica dos tempos coloniais. Não é a expressão musical de um povo: é o prurido eczematoso do morro. É o irmão gêmeo destas entidades abstrusas que se chamam Suor, Jogo do Bicho e Malandragem".
Pois é, né?
Esse Berilo nasceu em 1900 morreu 74 anos depois, sem deixar saudade.
A carioca Elza Soares partiu faz pouquíssimo tempo e já está esquecida.
Tem muita coisa errada neste mundão de meu Deus do céu!
Ah! Sim, para refletir: hoje é o Dia Mundial da África.


LEIA MAIS: O CHORO É NEGRO 

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