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quinta-feira, 3 de setembro de 2020

FALAS TRUNCADAS


A fala do vice-presidente Mourão, "traduzindo" o que seu chefe disse segunda-feira 31 à uma tresloucada fã, remeteu-me à ilha de Java, Indonésia. De tabela à personagem do conto O Homem Que Sabia Javanês, do jornalista e escritor Lima Berreto.
A personagem de Barreto passa a perna numa vítima ao convencê-la de que dominava o Javanês. Não dominava, mas saiu-se bem no seu criminoso propósito. No fundo, no fundo, crítica social. É sempre bom ler barreto: O BRASIL SEM POLICARPO QUARESMA
Eu sempre achei que o atual presidente, como a ex Dilma, fala uma língua atravessada, esquisita, tipo sei-lá-o-que! A Dilma era engraçada, pelo menos.
A fala de Bolsonaro sempre carece de tradução. Foi o que fez o Mourão. 
Vocês lembram, não é?
A diaba da mulher quase implorou a Bolsonaro que proibisse a aplicação de vacina contra o novo Coronavírus. E a resposta foi: "ninguém pode obrigar ninguém". E seu tradutor especial, o vice-presidente, traduziu:
"Acho que você pode encontrar gente que não quer tomar a vacina. É o que eu te digo: você vai agarrar à força? Foi isso que ele quis dizer"
Vocês aí já ouviram falar da revolta da vacina?
Muita gente morreu por recusar-se a tomar a vacina contra varíola. Foi em 1904, no correr do governo Rodrigues Alves, que morreu ao pegar a Gripe Espanhola em 1918.
Entra em circulação nota de 200 reaisO Brasil todo anda de cabeça pra baixo. Uma loucura.
Bolsonaro continua em campanha política dando aos necessitados o dinheiro que não tem. Isso está fazendo com que cresça a sua popularidade. Vamos pagar caro.
Está chegando à praça a nota de 200 paus. Tem a cara de um guará. Meio assustado o bichinho sabe que não vai frequentar o bolso do povo.
O cartunista Fausto, que não deixa barato situações como esta, puxou da memória a música Dezessete  e Setecentos, uma beleza tornada clássico por Luiz Gonzaga. É aquela que diz:

"Eu lhe dei vinte mil réis
Pra pagar três e trezentos
Você tem que me voltar
Dezesseis e setecentos
Dezessete e setecentos
Dezesseis e setecentos..."
[DEZESSETE E SETECENTOS, Luiz Gonzaga]

O Fausto é um cara incrível. É dele a charge que abre este texto, com Gonzaga na boca do caixa.

UM ANO SEM BAEZ NO PALCO


Setembro de 2019 chegou sem trazer aos palcos a cantora nova-iorquina Joan Baez.
O anúncio dessa despedida foi feito pela própria artista, num teatro da Espanha. Um mês antes.
Conheci Baez logo depois que Deus me levou os olhos em 2014.
Ela ficaria muito feliz ao conhecer Vandré, que tanto queria conhecer.
Alegre e simpática, sorriso na cara, mulher.
Mandou-me um email agradecendo por te-la apresentado a Vandré.
Dizia no email que depois de se afastar da música (a voz não é eterna) iria dedicar-se às artes plásticas. Passatempo.
Baez nasceu em 1941 e antes de se tornar alguém incrível, assistiu uma palestra de um negro famoso falando das injustiças cometidas por brancos, na sua escola. Tinha 13 anos de idade. Revoltou-se.
O tempo parece que não passa e quando passa parece trazer só o passado.
Decidida a virar artista, a menina botou pra fora sua bela voz e em 1959 já era admirada por muita gente.
Livre como um pássaro e objetiva como um voo razante dado por um falcão, com olhos de lince, rapidamente identificou no garoto Robert Allen Zimmerman o artista que viria a ser com o nome de Bob Dylan.
Foi ela quem o descobriu para o mundo da música.
Baez e Dylan tiveram um caso, sem filhos.
O caso que ambos tiveram foi um caso de identificação mútua, e forte, com todos os jovens do mundo.
Joan Baez transformou-se na mais importante intérprete da música folclórica e de protesto no mundo, em todos os tempos.
Foi contra todos os tiranos e a favor de todas as liberdades.
Na primeira vez em que Baez chegou ao Brasil não pode cantar em público, mas cantou num camarim em dueto com o paraibano Zé Ramalho.
Ramalho deu-me uma cópia da gravação que ele e ela fizeram em 1981, no Rio.
O tempo passou e por razões inexplicáveis Vandré telefona pra mim perguntando se eu conhecia Joan Baez...
Eu apresentei Joan Baez a Geraldo Vandré. Essa história é longa. Cliquem:

VERÍSSIMO, VIETNÃ: O PRISIONEIRO
HÁ 54 ANOS VANDRÉ LANÇAVA PRIMEIRO LP
O NOBEL E A ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS:
VANDRÉ, DITADURA E JOAN BAEZ
JOAN BAEZ E VANDRÉ, O ENCONTRO


No acervo do Instituto Memória Brasil, IMB, é possível achar todos os discos de Vandré e quase todos os discos da Baez.
Ah, sim: Vandré renunciou a carreira artística em dezembro de 1968, quando tinha 33 anos de idade e 4 LPs.
Joan Baez abandonou a carreira deixando mais de 30 LPs.
Com a sua despedida, também levou um depoimento meu e do Vandré.

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