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terça-feira, 30 de abril de 2024

TEM COISA BOA NA SALA ADONIRAM

Cadu Ribeiro e Arthur Favela

Atenção, atenção, pessoas de bom gosto!
Logo mais, às 19h, a dupla Cade Ribeiro e Arthur Favela vai estar se apresentando na sala Adoniram Barbosa. Essa sala se acha nas dependências do Centro Cultural São Paulo, ali na Rua Vergueiro, 1000.
Cadu é um dos músicos mais completos do nosso sambe-a-bá. Ele canta, toca e fala coisas bonitas. É paulistano. 
O parceiro de Cadu, Arthur, é músico e letrista dos bons.
O trabalho dos dois, musicalmente falando, é primoroso. Isso pode ser constatado por quem gosta do que é bom. E não custa lembrar que Cadu é um dos criadores do Trio Gato com Fome.
E chega de conversa!

segunda-feira, 29 de abril de 2024

SOROCABA EM ESTADO DE GRAÇA




O Brasil sofre, chora, em desespero por razões diversas. Apesar disso, o Brasil brinca, ri e faz rir. Exemplo disso é a exposição Cartunistas inaugurada no último dia 26, no Sesi de Sorocaba. 
A mostra, gerada pelo fotógrafo Paulo Vitale, reúne chargistas de quase todos os Estados brasileiros. Fausto e JAL são representantes de São Paulo.
Não fui à exposição, mas é como se tivesse ido. Acima uma amostra da mostra que permanecerá aberta ao público até o dia 29 de setembro.
O Sesi Sorocaba fica na rua Rua Duque de Caxias, 494 - Mangal - Sorocaba/SP.

LICENCIOSIDADE NA CULTURA POPULAR (93)

O estupro é uma prática antiga e parece não ter fim no Brasil e em todo canto do mundo.
A violência contra a mulher, qualquer tipo de violência, merece punição.
Hoje em dia as mulheres, grosso modo, estão conquistando merecidos espaços na sociedade conservadora e hipócrita em que vivemos.
São muitos os casos vitoriosos alcançados pelas mulheres, seja lá onde for.
Já falei, mas repito: o primeiro livro classificado como romance no Brasil foi escrito por uma mulher de nome Maria Firmina dos Reis.
Outra escritora de livros eróticos, Adelaide Carraro (1936-1992) também não saiu da mira dos militares. Era uma figura sensível e politizada. Não casou, mas adotou duas crianças. 
Adelaide considerava o Brasil como o melhor país do mundo.
Adelaide Carraro tinha 36 anos de idade em 1968, cinco processos judiciais em andamento e dúzia e meia de prisões nas costas.
Em meio às dezenas de livros que Adelaide publicou acham-se O Estudante e Eu e o Governador, que trata das suas relações sexuais com o político mato-grossense Jânio da Silva Quadros (1917-1992).
Cassandra e Adelaide foram as escritoras mais censuradas no decorrer do regime militar (1964-1985).
Adelaide, Cassandra e o erotismo na literatura brasileira mereceram estudos publicados em livros de Rodolfo Rorato Londero em 2016 (Pornografia e Censura: Adelaide Carraro, Cassandra Rios e o Sistema Literário Brasileiro nos Anos 1970), Juana Belinaso em 2020 (Escrever é Subversivo: Censura a Livros Eróticos e Pornográficos na Ditadura Civil-Militar Brasileira) e Juliana Moreira de Sousa também em 2020 (Censura e Erotismo na Literatura de Cassandra Rios).

Foto e reproduções de Flor Maria e Anna da Hora

domingo, 28 de abril de 2024

SEM EDUCAÇÃO NÃO HÁ CIVILIDADE

 As datas comemorativas constantes no calendário de qualquer país para lembrar ao cidadão, fale ele que língua fale, que há história. 

História é história. 

Um país faz história, com guerras e mortes.

As datas começam em quaisquer calendário já no dia 1° de janeiro. 

O 1° de janeiro é o dia mundial da Paz.

Em fevereiro, no Brasil, quase sempre é Carnaval. 

Mais importante do que o Carnaval em fevereiro é o dia do nascimento do historiador santista José Ramos Tinhorão. É dele o dia 7 desse mês. O 12 seguinte é o dia de nascimento do cuiqueiro paulistano Osvaldinho.

Março 8 é o Dia da Mulher.

Como se não bastasse, o mês de março nos traz a triste lembrança da escuridão total provocada pelos militares a partir desse mês em 64.

Maio marca o Dia do Trabalhador e da Abolição.

Triste, muito triste, o longo tempo que durou a submissão forçada dos negros trazidos de África pata o Brasil.

Junho é o mês dos três mais famosos santos do calendário católico: Antonio, João e Pedro. De tabela, Paulo.

Julho é importantíssimo por ser o mês do nascimento de Clarissa.

Agosto nos traz a lembrança da importância da cultura popular. 

Setembro é importante por ser o mês da Primavera. 

E outubro, hein?

Esse belo mês de vento livre, leve e solto nos leva à reflexão da importância das crianças na formação do mundo. 

Ah! Nesse mesmo mês de outubro os católicos brasileiros param para pensar e rezar em memória da santa Aparecida. 

Depois de Aparecida em outubro, logo em seguida vem o Dia do Professor: 15. 

Foi em novembro de 1889 que os militares puseram no poder o marechal Deodoro. Com isso, caiu o Império e no seu lugar ganhou forma a República. 

Dezembro, finalmente, nos traz a lembrança do nascimento do Rei do Baião. 

"Você não falou do mês de abril", observa Flor Maria.

Concordo e adianto: o mês de abril nos lembra o dia dos povos indígenas (19), o dia da chegada do navegador português Cabral na Bahia (22) e o Dia da Educação (28).

O dia 28 de abril é o dia nacional e mundial da educação. 

A educação no Brasil e no mundo engatinha com dificuldade. 

O que será do Brasil e do mundo sem educação?

Sem educação não há compreensão, nem respeito entre as pessoas. 


LICENCIOSIDADE NA CULTURA POPULAR (92)

Seguindo os passos de Schopenhauer, Frédéric Nietzsche (1844-1900) tentou fazer “melhor” como poeta e filósofo. O resultado disso é que disse um monte de asneiras nos livros que publicou. Exemplo: “Todas as mulheres me amam, com exceção das mulherzinhas vitimadas, as ‘emancipadas’, as incapazes de terem filhos”.
Nietzsche quis se casar, mas a pretendente fugiu da raia com alguém que julgou ser melhor do que o filósofo. Isso pode ter gerado nele rancor, pois justificativa não houve para que se transformasse no misógino em que se transformou. Pra ele, mulher não significava nada a não ser servir ao homem. Dizia, por exemplo: “A mulher deve ser considerada como propriedade do homem, como fazem os orientais”.
E como se não bastasse, atirou sua ira contra o Criador: “Não ouvimos o barulho dos coveiros a enterrar Deus? Não sentimos o cheiro da putrefação divina? Também os deuses apodrecem! Deus está morto! Deus continua morto! E nós o matamos!”.
Nietzsche morreu num hospício, doido, depois de uns 12 anos sem escrever nada.
Como Schopenhauer, o filósofo francês Jean Paul Sartre optou por não se casar e nem ter filhos.
E como Sartre, Simone de Beauvoir também não se casou e nem teve filhos.
Sartre e Beauvoir viveram juntos por muito tempo. Conheceram-se em 1929. No ano seguinte, ela publicou seu primeiro romance: A Convidada.
Nesse livro ela cria um triângulo amoroso. Até que chega mais alguém. Rolou orgia, troca troca e tal.
Ela teve muitos amantes, entre homens e mulheres.
No seu livro mais famoso, O Segundo Sexo, Simone discorre sobre maternidade e lesbianismo. O livro é denso.
O lesbianismo está presente em muitos livros, muitos filmes, peças de teatro e tudo o mais. 
Um dos últimos livros da paulistana Cassandra Rios Intitulou-se Eu Sou Uma Lésbica. 
A personagem tinha por nome Flávia, talvez seu alter ego.
Foi um Deus nos acuda!
Naqueles tempos duros de chumbo grosso a escritora paulistana alcançava a marca histórica de um milhão de exemplares vendidos de sua obra considerada pelos milicos pornográfica.
Cassandra, cujo nome verdadeiro era Odette Pérez Ríos, escreveu seu primeiro livro quando tinha 16 anos de idade. Título: A Volúpia do Pecado.
Cassandra era assumidamente lésbica e a escritora mais perseguida pelos poderosos da época. Pelo menos 36 dos 50 títulos publicados foram censurados, retirados do mercado e incinerados.
Pra provocar seus perseguidores, Cassandra escreveu o livro A Santa Vaca (1978) por ela mesma classificado, aí sim, pornográfico.
Entre seus admiradores se achavam Jorge Amado e o Bandido da Luz Vermelha.
A obra de Jorge Amado é toda recheada de encontros e desencontros, de prostitutas valentes.
Nas histórias de Jorge o bem sempre vence.
O Bandido da Luz Vermelha, de batismo João Acácio Pereira da Costa (1942-1998), era catarinense e morreu assassinado num bar depois de cumprir uns 30 anos de reclusão no antigo Manicômio de Franco da Rocha, SP. Sua condenação deveu-se a assaltos e estupros que praticava nos bairros da elite paulistana. Não escreveu livro, nem nada, mas foi tema de um filme em 1968.

quinta-feira, 25 de abril de 2024

NO SESC, UM DEFEITO DE COR

Livro fundamental para o conhecimento de um passado recente no Brasil é Um Defeito de Cor, de Ana Maria Gonçalves.
Esse livro, de 1.000 páginas, ouso dizer ser saboroso. Até porque nele a autora fala do que comemos.
A culinária brasileira tem tudo a ver com a culinária africana.
Um Defeito de Cor é uma viagem importantíssima.
Como se não bastasse como valor literário e histórico, o livro de Ana Maria inspirou exposição aberta hoje 25 no Sesc unidade Pinheiros. Desde já, recomendo uma visita ao 2º andar do referido Sesc.
A exposição Um Defeito de Cor permanecerá aberto à visitação pública, gratuitamente, até o dia 1º de dezembro.
Boa viagem!



LEIA MAIS: CARNAVAL: NEGROS NA AVENIDA • AINDA HÁ ESCRAVIDÃO NO BRASIL • O NEGRO NA HISTÓRIA (1)

terça-feira, 23 de abril de 2024

LULA, ATENÇÃO: LER É BOM E DOCE!

Ler é bom e doce.
Quem não lê, que não sabe ler, aprende menos de quem sabe e gosta de ler.
Somos cerca de 10 milhões de analfabetos, no Brasil. Fora os analfabetos funcionais, cujo número chega à casa dos 30 milhões.
Certamente não é fácil, doloso mesmo, olhar uma placa e não saber no que nela está escrito. Ou pegar um livro sem saber ler uma frase, um parágrafo, uma página...
A leitura é meio caminho da cidadania.
Ninguém nasce ou nascerá sabendo ler e escrever. Isso é no dia a dia na escola...
Ouço no rádio Lula pedir ao ministro da Fazenda, Haddad, que "ao invés de ler um livro, tem de perder algumas horas conversando no Senado e na Câmara".
Haddad achou graça e minimizou a questão, o puxão de orelha que sofreu do chefe: "esqueci os livros em São Paulo e estou liberado".
Em 2002, Lula disse à rádio Bandeirantes que para ser presidente não precisa de diploma coisa nenhuma. Mais ou menos isso. Disse ainda: "Para governar o país, as pessoas precisam ser doutores em povo brasileiro, ter capacidade de comando".
Pra reforçar o que disse, Lula lembrou que Silvio Santos, Roberto Marinho e o empreiteiro Camargo Corrêa chegaram aonde chegaram sem diploma nenhum. Pois, pois.
Na verdade, eu acho que o Lula deveria parar de dizer besteiras desse tipo.
Estudar sempre foi necessário, em qualquer língua.
O escritor Monteiro Lobato deixou para a história uma frase exemplar: "Quem  lê, sabe mais".
Simples assim.


domingo, 21 de abril de 2024

LICENCIOSIDADE NA CULTURA POPULAR (91)

No dia 17 de janeiro de 2024 o papa Francisco, em audiência pública, disse que “o prazer sexual deve ser valorizado, mas é minado pela pornografia”. Disse mais: 
Vencer a batalha contra a luxúria, contra a "objetificação" do outro, pode ser uma empreitada ao longo da vida. O verdadeiro amor não possui, ele se doa; servir é melhor do que conquistar. Porque se não há amor, a vida é triste, é uma solidão triste.
A luxúria é o 3º dos sete pecados capitais. Diz: 
A luxúria (do latim luxuriae) é o desejo passional e egoísta por todo o prazer sensual e material. Também pode ser entendido em seu sentido original: “deixar-se dominar pelas paixões”. Consiste no apego aos prazeres carnais, corrupção de costumes; sexualidade extrema, lascívia e sensualidade.
O alemão Arthur Schopenhauer (1788-1860) disse muitas coisas interessantes e outras nem tanto. Pra ele, a mulher nasceu apenas para procriar. Isso justificava dizendo ser “a mulher mais fiel do que o homem”. Por natureza. E por natureza o homem, depois de casado, acabava por se cansar da companheira. Por essa razão, ainda segundo Schopenhauer, o homem é por natureza adúltero. Mais: o casamento é uma espécie de prostituição, no qual o homem manda e desmanda.
Isso está no livro A Metafísica do Amor.
Nesse livro, lançado em 1818, o autor cita grandes nomes do passado como Platão, Shakespeare, Spinoza, Lord Byron e outros.
E foi nesse mesmo livro que tomei conhecimento de um autor muito importante para a literatura alemã: Friedrich Schiller (1759-1805).
Schiller escreveu uma peça de contornos trágicos intitulada A Noiva de Messina, cuja história se passa na Sicília medieval. A personagem título não é tão amada como gostaria. O resultado disso é sangue.
Essa peça foi traduzida para o português pelo poeta maranhense Gonçalves Dias (1823-1864).
Em tempo: Schopenhauer dizia gostar muito de cachorros e outros animais domésticos. Para ele “não pode ser bom o homem que maltrata animais”.
Muitas tragédias reais ou fictícias envolvem casais apaixonados como Romeu e Julieta.
Na vida real, houve no Brasil o suicídio de Stefan Zweig e Lotte Zweig.

Foto e reproduções de Flor Maria e Anna da Hora

sábado, 20 de abril de 2024

LICENCIOSIDADE NA CULTURA POPULAR (90)

Oscar Niemeyer
O ano de 1968 foi um ano bastante agitado. Foi o ano em que as mulheres foram às ruas para protestar e exigir direitos iguais entre gêneros. Rasgaram e queimaram sutiãs em praça pública de Nova Iorque, EUA. Nascia ali os movimentos feministas que tiveram na romancista e filósofa francesa Simone de Beauvoir (1908-1986) a sua inspiração e símbolo.
Naquele ano de 68, na Suécia, foi realizada uma grande exposição de arte pornográfica. Os organizadores dessa exposição não conseguiram, porém, reconhecer a palavra pornografia, “Em vez disso, eles descreveram a exposição como uma mostra de arte erótica e propuseram uma tentativa de distinguir esta última da pornografia ao tratar pornografia como especulação financeira prejudicial e arte erótica como uma forma de arte meritória”, lembrou anos depois o escritor inglês Poul Gerhard, acrescentando: “Esta distinção apenas preservou uma confusão de ideias claramente demonstrada na legislação, a qual, por um lado, permite arte de conteúdo erótico enquanto, por outro, proíbe pornografia. Uma indicação da impraticabilidade de tal distinção é o caos jurídico que ocorre com tanta frequência nos últimos anos, quando a questão da pornografia tem sido levada aos tribunais. Os limites da arte pornográfica são mais do que formalmente fixos, e surge o fato de que a atividade artística-pornográfica não está restrita a um período articular, nem está ligada a nenhum ‘ismo’. Arte pornográfica é tão antiga quanto a própria arte”.
Foi naquele maldito ano, mais precisamente no dia 13 de dezembro, que os brasileiros tomaram conhecimento do enorme catatal pornográfico intitulado AI-5.
Esse Ato fechou portas e bocas no Brasil. Muita gente foi perseguida, presa, torturada, morta e muitos dos que não morreram, foram exilados.
Antes de 68, mais precisamente quatro anos antes, o arquiteto Oscar Niemeyer foi preso pelos gorilas da repressão. Ao ser inquirido sobre como “ganhara tanto dinheiro”, entredentes respondeu: “Dando o cu”.
Na versão definitiva do seu depoimento, o escrivão pôs lá: “Quando perguntado sobre como havia auferido tantos resultados financeiros, o inquirido afirmou que praticando a pederastia passiva”. Oscar não aceitou essa versão, dizendo: “Eu não disse isso, disse dando o cu!”.
Triste ano.
O assunto é amplo e sempre polêmico.

sexta-feira, 19 de abril de 2024

DEUS CRIA, O HOMEM MATA

Drones e mísseis pipocam no céu do Oriente Médio, assustando Deus e o mundo. 

É muito pipoco. 

É muita gente caindo ferida e morta no chão. Crianças e mães clamam por Deus, mas parece que Ele não está nem aí.

Tenho medo, quem não tem?

Lendo o livro A Chave do Tamanho (1942), escrito pelo taubateense Monteiro Lobato, deparo-me com o narrador falando a respeito do poeta do povo, Castro Alves. Mais adiante o autor vai falando pela boca dos personagens sobre a maldade dos homens e a loucura que são as guerras. 

Lembro também de Jorge Amado, por ter escrito o belíssimo livro ABC de Castro Alves (1941).

Não posso aqui deixar de lembrar também do cearense José de Alencar. 

Esses três autores representam com categoria, através dos personagens que criam, a mistura de cores de que se enriquece o Brasil: índio, branco e negro. 

Alencar foi o primeiro a pôr indígenas numa leitura de romance (O Guarani, 1857). Esse livro virou ópera composta pelo negro paulista Carlos Gomes.

Jorge Amado pôs as três cores nas suas histórias. Escreveu sobre o Brasil pé no chão, representado pelo povo.

No livro A Chave do Tamanho Lobato diz o que pensava sobre nazismo, dinheiro e poder pela boca da boneca Emília. 

Bom, hoje é o Dia dos Povos Indígenas. E por assim ser não custa dizer que dos cinco ou oito milhões de indígenas que o Brasil tinha antes da colonização portuguesa restam de descendentes menos de dois milhões. Segundo o IBGE, 1,7 milhão. 

Fora isso, ainda há 274 línguas indígenas de um total estimado em 1,2 mil até o ano de 1500.

É isso!

quinta-feira, 18 de abril de 2024

LER É PRECISO. SEMPRE!

Embora carregue comigo cara e gestos de adulto metido a besta, confesso-me criança desde que aprendi a andar com os próprios pés e a falar coisas deste mundo vão. 

Sou, como alguns devem saber, da safra de 52 do século passado. O berço, de origem simples, teve por nome Paraíba. 

Profissionalmente entrei para o jornalismo. Li e continuo lendo muito.  Só que de modo diferente, como fazem aqueles que perderam a graça de ler com os olhos. 

Nos tempos de criança eu fortaleci a alma ouvindo histórias de Trancoso contadas por minha santa avó Alcina.

Vim a tomar conhecimento da existência dos irmãos Grimm ali pela virada dos 50...

Os irmãos Grimm eram dois, Jacob e Wilhelm, que bem cedo passaram a gostar das lorotas infantis, ou quase infantis, que ouviam dos mais velhos.

São muitas as histórias que os Grimm escreveram pensando nas crianças. 

Depois dos irmãos Grimm, outros autores vieram à tona trazendo histórias e personagens encantados. Uma beleza!

E no Brasil, hein?

Figueiredo Pimental foi um cara nascido nas cercanias da capital carioca, em 1869. Foi jornalista, poeta e romancista que acabaria seguindo a carreira diplomática. Foi uma figura e tanto.

Pimental publicou muitas coisas nos jornais do Rio. 

Ao mesmo tempo que escrevia pra jornais, Figueiredo Pimentel arregaçava as mangas e se divertia escrevendo histórias de amor, sexo e, grosso modo, muita putaria para adultos. Era da linha naturalista como Aluísio Azevedo e Adolfo Caminha. 

Depois de Pimentel deu o ar da graça o paulista de Taubaté Monteiro Lobato. 

Lobato entrou para a história como o pai da literatura infanto-juvenil. 

A obra de Lobato é enorme, a partir do seu Sítio do Pica-pau Amarelo.

Ao contrário de Pimentel, Lobato não escreveu livro de safadeza.

A propósito, hoje é o Dia Nacional do Livro Infantil. 


quarta-feira, 17 de abril de 2024

A MORTE NÃO MATOU CHAPLIN!

A vida é coisa grande, não é mesmo? 
Quando na vida há entendimento entre pessoas, fica melhor ainda. 
Compreensão e bem-estar fazem-nos cada vez melhor no dia a dia.
O dia a dia com sorrisos e abraços nos completam.
Outro dia lendo Guimarães Rosa ouvi de um de seus personagens a frase marcante: "Tristeza é aboio que traz o Demônio". 
Isso está lá na história contada por Rosa, esta: Hora e Vez de Augusto Matraga.
Agora há pouco o compadre Fausto lembra-me que hoje é o dia do encantamento de Charles Chaplin. Aquele de Tempos Modernos, manja?
Foi em 1977. Na cama o personagem fechou os olhos e dormiu. Não teve tempo de acordar, porque na carência de alguns celestiais o Chaplin tinha que estar lá naquele dia, hora e vez.
O que Deus quer não se discute.

terça-feira, 16 de abril de 2024

O BRASIL MAIS POBRE SEM ZIRALDO



Pra mim fica claro que toda vez que morre um cartunista, um artista do valor e vigor de Ziraldo, o Brasil fica mais triste e mais pobre. 
Essa sensação senti domingo retrasado com a notícia do passamento de Ziraldo lá pra cima.
Conheci Ziraldo no tempo em que colaborei com textos para o Pasquim. Anos 70, 80.
Quando Ziraldo completou 90 anos de idade a Editora Melhoramentos convidou 90 cartunistas para homenageá-lo. Entre esses o querido cearense Klévisson Viana.
Essa história, a história de Ziraldo e do Brasil se acha no relato do próprio Klévisson:

Ziraldo, o generoso


Corria o ano de 1988, tinha eu 15 anos incompletos. Vivíamos em Canindé (CE). Meu irmão Arievaldo, cinco anos mais velho do que eu, editava, com outros amigos, um fanzine de humor chamado Tramela. Um dia, revirando os materiais da sala onde ele costumava preparar a publicação, dei de cara com um jornal humorístico chamado Torre de Babel. Lendo o jornal, vi um pequeno anúncio que divulgava o 3º Salão de Humor do Piauí. Eu não sabia bem o que era um salão de humor, mas me deu uma vontade imensa de fazer um.
Pintamos de branco uma casa velha e a transformamos numa galeria de arte, que chamamos de Salvador Daki, em homenagem ao pintor espanhol Salvador Dalí, que havia falecido recentemente.
Juntei todos os meninos que conhecia, que gostavam de desenhar, e criei com eles a 1ª Mostra de Humor Canindeense.
Quando da abertura do pequeno evento, para nossa surpresa, recebemos a visita de Albert Piauí e José Elias Arêa Leão (coordenadores do Salão de Humor do Piauí, que ainda não era internacional) e do cartunista fortalezense Mino. A mostra foi um sucesso e fomos convidados a ir a Teresina participar do Salão de Humor do Piauí.
Laurismundo Marreiro, amigo, professor de inglês, empresário e entusiasta dos artistas, se colocou à disposição para nos levar ao Piauí em seu velho jipe apelidado de Jaspion. A viagem foi uma grande aventura do começo ao fim. Nessa jornada, foram, além de mim e de Laurismundo, Arievaldo Vianna e outro rapaz chamado Nildo Bento, que depois abandonou o desenho.
Já em Teresina, Albert Piauí nos recebeu bem, mas, pelo fato de o Salão ter extrapolado o orçamento, ele mandou Arievaldo e Laurismundo para o hotel, enquanto eu e Nildo ficamos hospedados na residência de sua família, onde fomos muito bem acolhidos e amparados por sua mãe e seu irmão Mauro, já falecido.
O Salão de Humor ocorria no Clube dos Diários e no Teatro 4 de Setembro, que são prédios contíguos. A abertura foi inesquecível, emocionante para os garotos que jamais haviam viajado na vida e presenciado algo daquela magnitude. Naquele ano, o Salão havia recebido quase 50 artistas consagrados. Foi realmente uma grande festa.
À noite, após a abertura, os artistas foram se confraternizar numa imensa mesa no Clube dos Diários. Lembro que estavam lá Fortuna, Jaguar, Jayme Leão, Biratan Porto, Ziraldo e muitos outros. Estávamos deslumbrados com a oportunidade ímpar de poder conhecer todos aqueles mestres do humor gráfico nacional.
Eu andava com uma pasta cheia de desenhos meus e de meu irmão Arievaldo. Eu me lembro de que, ao chegar perto de Ziraldo, ele parou o que estava fazendo e perguntou:
– São desenhos? Posso olhar?
Entreguei-lhe a pasta, e o que mestre fez com meus desenhos jamais esqueci. É provável que ele mesmo sequer se lembre disso, mas para mim foi muito marcante.
Ziraldo olhava atentamente cada desenho, cada tira, cada cartum contido na pasta e, desenho após desenho, parava, tecia comentários e dava orientações de como melhorá-los.
Ele deve ter gastado com isso cerca de meia hora ou mais, mas foi o suficiente para me tornar, além de fã do seu lindo trabalho, fã também da sua pessoa.
Para mim, aquela atitude de Ziraldo demostrou, sobretudo, uma generosidade gigantesca com uma criança que gostava de desenhar. Talvez, se não fosse o estímulo e incentivo desse grande artista, eu jamais teria seguido em frente e chegado aonde cheguei.


segunda-feira, 15 de abril de 2024

LICENCIOSIDADE NA CULTURA POPULAR (89)

Noutra ocasião eu perguntei, mas não custa perguntar de novo: pornografia é arte?
Palavras como pornografia e licenciosidade são palavras praticamente novas na boca do povo mundo afora.
Um pintor renascentista pintando uma modelo pelada, não é pornografia.
E fotógrafo de hoje fotografando modelos peladas, hein?
Assim dito, simplesmente, não é pornografia.
Pornografia é a imagem e texto feitos especialmente para provocar excitação sexual. Veja o que diz o verbete do Dicionário Houaiss: 
Pornografia (1899 cf. CF1)  
substantivo feminino
1. estudo da prostituição
2. coleção de pinturas ou gravuras obscenas
3. característica do que fere o pudor (numa publicação, num filme etc.); obscenidade, indecência, licenciosidade
4. qualquer coisa feita com o intuito de ser pornográfico, de explorar o sexo tratado de maneira chula, como atrativo (p.ex., revistas, fotografias, filmes etc.) ‹vende pornografias› ‹fica vendo p. pela televisão› tb. se diz apenas pornô
5. (1899) violação ao pudor, ao recato, à reserva, socialmente exigidos em matéria sexual; indecência, libertinagem, imoralidade
O jornalista e humorista Apparício Fernando de Brinkerhoff Torelly, o Barão de Itararé, nasceu no Rio Grande do Sul em 1895 e morreu no Rio. Fez muita gente rir com suas tiradas bem humoradas. Tiradas essas que irritaram profundamente os agentes da ditadura militar. Foi vereador. Preso certa vez, e depois de muito apanhar, escreveu numa tabuleta que pôs presa na porta do seu escritório. Nela lia-se: “Entre sem bater”.
Vejam só de que o Barão era capaz:

Na França, pescoço é cou
(como anda tudo a esmo!)
No Japão, Ku é ministro,
No Brasil cu é cu mesmo…

Essa pérola se acha no livro Antologia da Poesia Erótica Brasileira, organizado por Eliane Robert Moraes.
Torelly e seu personagem morreram em novembro de 1971.

Foto e reproduções de Flor Maria e Anna da Hora

domingo, 14 de abril de 2024

LICENCIOSIDADE NA CULTURA POPULAR (88)

No Brasil, além de Bernardo Guimarães, outros poetas e romancistas abordaram explicitamente a linguagem pornográfica em livros e folhetos. Muitas dessas publicações não eram assinadas e eram vendidas às escondidas, anonimamente.
Essas publicações, na maioria, traziam a indicação: “Leitura para homens”.
No artigo Erotismo & Pornografia na Arte: Uma História Mal Contada, assinado pelo professor da Universidade Federal do Pará Afonso Medeiros, lê-se que:
A simples menção da palavra “pornografia” acarreta estranhamento e, no campo das artes visuais, resume-se tudo ao termo “erotismo”. No tratamento do tema persiste a ideia de que basta uma inversão de sentido dos signos (entre pornografia e erotismo) para se resolver a questão. E, no entanto, a pornografia é, ao mesmo tempo, ascendência e descendência do erotismo na medida em que a existência de ambos é inextricável e essencialmente interdependente. Em outros termos, não existe erotismo sem pornografia e vice-versa.
Houve um jornalista e escritor português muito conhecido no Brasil chamado Joaquim Alfredo Gallis (1859-1910), que usava pseudônimos nos seus livros e folhetos de cunho pornográfico: Rabelais e Condessa de Til, por exemplo.
Como Rabelais, sobrenome do grande escritor francês, publicou Volúpias: 14 Contos Galantes, Lascivas, Libertinas e por aí vai.
Como Condessa de Til, Alfredo Gallis pôs à praça O Que as Noivas Devem Saber! Livro de Filosofia Prática.
Com seu próprio nome, Alfredo publicou dois livrecos que deram muito o que falar no seu tempo: A Amante de Jesus e As 12 Mulheres de Adão. Críticos da época não economizavam adjetivos para esculambá-lo.

segunda-feira, 8 de abril de 2024

ZIRALDO NÃO MORREU!



Conheço bem o artista Fausto Bergocce.
Conheço bem um monte de cartunistas, chargistas, pessoas que viraram amigas como Angeli, Glauco, Laerte, Fortuna. Fui amigo dessas pessoas queridas ali na Folha, no Folhetim.
Doeu muito, em nós, a notícia do desaparecimento de Ziraldo. Do humanista Ziraldo.
Em julho de 1978 eu telefonei para o Pasquim e lá, no outro lado, atendeu Ziraldo. 
Ele me ouviu e rapidamente chamou Jaguar: "É de São Paulo, um cara chamado Assis".
A conversa era sobre uma reportagem de muitas páginas que eu escrevi sobre o Esquadrão da Morte, que a Folha não quis publicar.
A matéria foi publicada três ou quatro dias depois. Capa do Pasquim. Seis ou sete páginas.
A última vez que vi Ziraldo foi numa Bienal do Livro em São Paulo, onde ele, eu e outras pessoas fomos homenageadas com um prêmio.
Pois, pois: o que falar mais?
O Fausto Bergocce tinha em Ziraldo o seu mestre.
Ziraldo conquistava as pessoas da mais tenra idade à idade maior. Dos 100 anos, por exemplo.
Bom, leiam o que Fausto acaba de nos mandar para este Blog: 

Um maluquinho por Ziraldo (1932-2024)

No início dos anos 1960, uma das grandes diversões da garotada de Reginópolis era a leitura
de gibis, que chegavam em profusão à cidade. Entre todos os estilos, todas as histórias e todos os personagens, um gibi muito especial se destacava: “Turma do Pererê”, do Ziraldo.
Grandes aventuras se passavam na Mata do Fundão, através dos personagens tipicamente
brasileiros. Foi para mim meu primeiro toque de “brasilidade”. Desde então, me tornei um
menino maluquinho por Ziraldo e pude seguir seu trabalho pela vida inteira.
Por toda a sua grande obra, mestre Ziraldo se tornou referência para muitas gerações,
inclusive para a minha. Obrigado, Ziraldo.

 

VIVA A ANA MARIA!

Procurei, mas não achei no calendário gregoriano e noutros calendários nada de importante a não ser o dia 6 de abril.
O dia 6 de abril é o dia que o Brasil transformou-se em berço para acolher Ana Maria. Minha filha.
Ana está sempre batendo palmas para alegria e chutando pra riba e para os lados a tristeza e tudo que nos faz mal.
Hoje é 8. Foi um dia importante. Todo dia é importante quando acordamos.
À propósito de acordar: Ziraldo foi dormir e... Pronto!
Acordar morto ninguém acorda. Acordar...
No último dia 6 foi uma festa de amigos encontrando amigos. E amigas.
Lá, tomando um negocinho na casa de Ana, conversando sobre tudo. Tentamos até reconstruir o mundo. A humanidade. A conclusão a que chegamos é que não há salvação para nós ditos humanos.
E foi lá na casa da aniversariante, que falamos, falamos e falamos. E comemos. Um vinhozinho rolou solto e uma cerveja também. Eu fiquei no destilado...
Participando da alegria que Deus nos deu no dia 6 de abril, brindamos à esperança. 
E lá na casa da Ana estavam Pat, Nancy, Célia, Nalva, Francisca, Lúcia, Celma, Jeremias, claro, Manu...
De macho tinham esses. Eu cheguei depois. Ah! E aí chegaram a filha do Jê, o genro e o filhote Arthuzinho.
É o que lembro.
E pra garantir a veracidade de tudo que digo, uma menina vinda do céu registrou tudo em áudio e foto: Clarissa.
E aí, como se não bastasse, o querido amigo pernambucano Luís Wilson bota para seus ouvintes a coisa mais linda que já foi feita, A Canção de Ana Maria. Ouça:



domingo, 7 de abril de 2024

LICENCIOSIDADE NA CULTURA POPULAR (87)

Nos tempos do Brasil Império muitos autores puseram seminaristas, padres e bispos nas páginas de seus romances. Bernardo Guimarães (1825-1884), por exemplo, pintou de doido o personagem Eugênio recém-saído do seminário pra onde fora mandado a contragosto pelo pai, espécie de coronel. Autoritário, manda-chuva do lugar.
Eugênio mantém por todo o tempo na memória a lembrança de uma amiga de infância. Seu nome é Margarida, por ele apaixonada. Os dois prometem se casar e serem felizes para sempre. Mas aí entra o destino. Termina em tragédia. Livro: O Seminarista (1872).
Em tragédia também finda o romance Amor de Perdição, de Camilo Castelo Branco (1825-1890).
No seu mais conhecido romance Castelo Branco, que deixou uns 300 livros publicados, põe na sua história um jovem estudante de Direito em Coimbra, Simão, que se apaixona perdidamente por uma moçoila pra lá de bonita. E tudo vai mais ou menos numa boa. O pai da jovem não aceita o estudante como genro. Encurtando: a menina de nome Teresa, é enfiada num convento e logo adoece e morre de tuberculose. Ele morre também, no mar. E atrás dele segue uma jovem cujo amor ele não correspondia com a mesma intensidade que ela desejava. Seu nome: Mariana. Mas isso não quer dizer que Simão, Teresa e Mariana não formassem um trio cheio de vontade de um ter ao outro.
Eça de Queiroz era português e Camilo Castelo Branco também.
Castelo enfrentou problemas com a jogatina. Era viciado. Com o tempo ficou cego e, desesperado, deu um tiro no coco, mas antes disso, cumpriu pena na cadeia do Porto numa cela contígua à cela do bandido Zé do Telhado (1818-1875).
O brasileiro de Minas Bernardo Guimarães (1825-1884) deixou uma obra ótima. Além de O Seminarista, ele escreveu A Escrava Isaura (1875). Há amor nas páginas desse livro, tortura e morte também. Ganhou a tela da Globo e o coração dos chineses. É de fins do século 19.
Bernardo foi um dos autores pioneiros na arte de versificar amor e sexo, prazer, paixão e erotismo.
Em 1875 ele discorre sobre a temática em pelo menos dois longos poemas marcantes: A Origem do Mênstruo e O Elixir do Pajé.
Em Origem do Mênstruo, o famoso romancista começa cantando em quadras a mulher e deuses como Vênus, Cupido, Vulcano, Anquises, Marte. Fala isso tudo com talento invejável. E coragem, pois a época palavrões e coisas que tais diziam-se e faziam-se nos escuros da madrugada. Bernardo:

‘Stava Vênus gentil junto da fonte
Fazendo o seu pentelho,
Com todo o jeito, p’ra que não se ferisse
Das cricas o aparelho.

Tinha que dar o cu naquela noite
Ao grande pai Anquises,
O qual, com ela, se não mente a fama,
Passou dias felizes…

Rapava bem o cu, pois resolvia,
Na mente altas ideias:
— Ia gerar naquela heróica foda
O grande e pio Enéias.

Mas a navalha tinha o fio rombo,
E a deusa, que gemia,
Arrancava os pentelhos e, peidando,
Caretas mil fazia!...

Foto e reproduções de Flor Maria e Anna da Hora 

sábado, 6 de abril de 2024

TODO DIA É DIA DE ANA MARIA

Não quero saber de calendário nenhum. A mim basta este 6 de abril, que está lá no gregoriano.
O dia 6 de abril é a data mais importante do mundo Ocidental e demais mundos. Por quê?
Hoje é o dia de bater palmas pra Ana Maria. Só não digo a idade, porque de lady não se pergunta a idade.
Bom pessoal, é isso. Dizer mais o quê?
Fiz um texto poético e o meu amigo músico Jorge Ribbas pôs melodia. Ouçam como ficou:


LICENCIOSIDADE NA CULTURA POPULAR (86)

Padres e freiras danosos à religião católica se acham presentes na memória real de personagens sofridos e inventados.
O romance O Crime do Padre Amaro (1875), de Eça de Queiroz, traz o protagonista todo cheio de amor pra dar. E aí rola um triângulo amoroso. Uma pérola.
Essa foi a maneira que Eça encontrou para tascar a ripa no Clero mostrando assim, impiedosamente, suas vísceras maltratadas pelo vício da putaria e da hipocrisia então presentes nos velhos monastérios espalhados mundo afora.
Como se vê, Diderot e Eça foram observadores de um tempo que parece não ter passado. Não à toa, o Papa Francisco tem mostrado com firmeza os pecados cometidos pela Igreja num passado não tão remoto.
O crime de Amaro se repete de várias formas em tudo quanto é história inventada ou não. 
Esse foi o primeiro grande sucesso literário de Eça.
Depois da história do padre Amaro, o autor português ganharia a atenção dos seus milhares e milhares de leitores espalhados por aí com outra originalíssima história envolvendo um par de parentes: Luísa e Basílio.
Luísa é casada com Jorge, mas o trai com Basílio. Daí o título do livro: O Primo Basílio, cuja primeira edição data de 1878.
Pra pôr o caldo a ferver, entra na história dos primos a empregada Juliana. E tome chantagem!
Em 1888, o mesmo Eça revoluciona o campo literário com um novo romance intitulado Os Maias.
Esse livro traz um monte de personagens conflituosos. Começa com Carlos da Maia fazendo uma visita de reconhecimento à mansão da família.
A história é longa e se desenvolve em dois calhamaços prendendo o leitor do começo ao fim. Tem traições e até incesto. Acontece entre os irmãos Carlos e Maria Eduarda. Passa-se em Portugal dos 800, mais para o final. E pra não perder o hábito o autor atira sua pena ferina contra a sociedade portuguesa daquele tempo. É pra lascar! E por cá, me calo.
Segundo a sabedoria popular, a vida imita a arte. Basta ver o que tem ocorrido com a família Real do Reino Unido.

segunda-feira, 1 de abril de 2024

O VIRA LATA JÁ É CINQUENTÃO

Pois é, parece que foi ontem.
Foi num dia como hoje, há 50 anos, que o multitudo Magrão criou o personagem Vira Lata.
O Vira Lata ganhou cara e movimentos pelas mãos mágicas do quadrinista Líbero.
Sou de-cla-ra-da-men-te fã do Vira Lata.
O personagem de Magrão está sempre ao lado dos deserdados da vida. Pelos deserdados, incluindo negros e prostitutas e outras minorias, o Vira Lata arrisca a cada página a própria vida. É doido por liberdade e o caminho da liberdade ele está sempre trilhando e levando junto quem dela precisa.
Magrão, cujo nome de batismo é Paulo Garfunkel, acaba de nos mandar o texto que segue. E o cara escreve bem, é um ás!
Não faz muito tempo, Magrão e o irmão Jean estiveram por cá cantando e tocando e eu só ouvindo-os com admiração.
Leiam:

Vira Lata 5O anos

     Pela cronologia da história inventada, o Vira Lata nasceu no dia 31 de março de 1974, no Largo Paissandu, aos pés da estátua da Mãe Preta, no meio de uma parada militar que celebrava os 10 anos do golpe de 64.
     O personagem filho da uma mulher de sangue indígena com 5 pais de etnias diferentes, passou a infância numa casa de Candomblé e a adolescência numa colônia  japonesa no vale do Ribeira, de onde foi expulso por viver o primeiro amor com Tieko, supostamente sua meia irmã.
     Solto no mundo, perambulou Brasil adentro sobrevivendo de biscate, ora ajudante de caminhão, ora leão de chácara de boate, ora bóia fria.
     Depois de enfrentar dois capangas de um fazendeiro que ameaçavam uma família de cortadores de cana, ele volta para São Paulo, reencontra Juan, seu padrinho anarquista, talvez o único que tenha amado de verdade sua mãe, Lucinha.
Na cidade grande, confronta o Saneamento Básico, grupo de extermínio, que “limpa” as ruas da maior metrópole da América Latina.
     Ele acaba sendo  preso e estava no Carandiru fumando crack, em outubro de 1992, quando um idiota fardado ordenou um massacre que poderia ter sido evitado.
     Na cadeia encontrou o Doutor Drauzio Varella e se tornaram aliados no combate ao uso de drogas injetáveis, o grande disseminador do HIV nos anos 90, quando 17% dos 7.700 presos eram soro positivo, o que na época era praticamente uma sentença de morte.
     Um personagem de ficção contra inimigos reais, a epidemia da Aids e o preconceito sob todas suas estúpidas formas.

O sino da Sé bate doze badaladas.
A cidade ferve ao sol do meio dia.
O Vira Lata encosta a ponta do dedo médio no chão
 e toca a frente, a lateral e a parte posterior da cabeça:
 –Larôiê, Exú, Senhor dos Caminhos!
Depois se dissolve na multidão.

Os párias, os náufragos, os que não têm proteção do poder oficial nem do poder paralelo.
Que sequer são marginais, pois as margens estão ocupadas por facções e milícias.
Essa gente que sobrevive à deriva, agora tem com quem contar.
E aqueles que empunham armas e estalam chibatas, e os que ditam as ordens mas não sujam as mãos, não vão mais ficar impunes.

“Há que se lembrar da desdita pra que nunca mais se repita*.
Dúzias de ovos eclodem todos os dias no ninho da serpente.
Vamos nos manter atentos porque a liberdade está sempre por um fio.
Viva o Povo Brasileiro!” 31/03/2024

PAZ, SEMPRE PAZ!

A tomada do poder pela força militar em 1964 não pode ser esquecida. A coisa foi violenta, terrivelmente violenta.
Tudo começa quando Jânio Quadros renuncia à presidência da República no dia 25 de agosto de 1961.
O vice de Jânio, Jango, se achava em missão oficial na China. Ao tomar conhecimento da renúncia, Jango volta com as orelhas de pé.
Depois de muito empurra empurra e disse me disse, assume a faixa presidencial.
Jango tinha relações muito próximas com os sindicatos, com todos os sindicatos. Isso foi o suficiente para os militares chamarem-no de comunista. E aí já viu, né?
A tomada de poder ocorreu na manhã de 1º de abril de 1964.
Os generais gostaram da coisa e foi assim que permaneceram chafurdando no Brasil durante a eternidade de 21 anos seguidos. 
Durante aqueles 21 anos, os militares fecharam a boca do povo e dos artistas.
Muitos livros foram censurados e tirados de circulação.
Muitos discos foram proibidos de tocar e cantores e compositores, como Chico e Caetano, partiram para o exílio.
Vandré por pouco não foi pego e morto.
Que tal loucura nunca mais se repita.
O cantor, compositor e instrumentista Jean Garfunkel nos mandou o texto abaixo. Uma pérola. Confiram:

Bodas de Chumbo

Há que lembrar da desdita
Pa que jamais se repita
A dura dita, a dita dura
Da mentira e da impostura
Da mordaça e da censura
Da porrada e da tortura
Que rasura nossa história
De sessenta anos atrás
Nódoa escura na memória
Amarguras ancestrais
Que enxaguamos de lembranças
Pra que as gerações futuras
Construam sua esperança
Justa, lúcida e segura
Sabendo a fragilidade
Da palavra liberdade
Sabendo da relevância
Da palavra vigilância
Sabendo da inconsequência
Da palavra violência
Sabendo da desventura
Da palavra ditadura

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