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domingo, 4 de junho de 2023

LICENCIOSIDADE NA CULTURA POPULAR (22)

Assis Ângelo numa conversa com Jorge Mello

Ney Matogrosso canta com elegância músicas como Freguês da Meia-Noite, de Criolo (Kleber Cavalcante Gomes) e Folia no Matagal, de Eduardo Dusek. A primeira fala de um caso num restaurante francês localizado no bairro paulistano do Arouche. É simples, bonita. A segunda trata de, digamos, um enorme e curioso bacanal em que os personagens são pés de coqueiro e outras plantas e árvores. Começa assim: "O mar passa saborosamente a língua na areia/ Que bem debochada, cínica que é/ Permite deleitada esses abusos do mar/ Por trás de uma folha de palmeira/ A lua poderosa, mulher muito fogosa/ Vem nua, vem nua/ Sacudindo e brilhando inteira…".
O primeiro grande sucesso de Ney foi Homem com H, do já lembrado Antônio Barros.
Chico Buarque sempre foi de elegância irretocável como Milton, Djavan, Belchior e seu parceiro mais frequente, o piauiense Jorge Mello. É de Jorge, por exemplo, Eu Falei pra Você, de 1977. Um trecho: "Tô no ôco do mundo, moro em Copacabana/ acredite que é como estar noutro planeta/ Se meta, se mate na pressa, no túnel/ No túnel, na pressa, se mate, e se meta./ No mar mais azul, a coisa ficou preta/ Tem carro, tem gente querendo passar:/ na rua, na praia, em todo lugar/ É cachorro-quente ao invés do almoço/ Lhe falta a vida, o banho no poço/ e a viola gemendo pra gente cantar…”.
Noutra música, Observando o Lual, Jorge faz um engraçado trocadilho. Veja: “... Você já vai? Pergunto:/ E vai, por quê?/ Ela responde:/ — Vou-me já. Antes de você!”.
Nordestino como Jorge Mello, o pernambucano Luís Wilson é cheio de nove-horas no tocante a duplo sentido. Exemplos se acham nos forrós Dê Lembranças à Dona França e O Grilo da Prima. No primeiro, como o segundo em parceria com Duval Brito, ele canta: “Se Você for me faça me faça um favor dê lembrança a Dona França, não vá se esquecer…/ Eu não queria que você fosse embora, mas você quer ir agora, se for dê/ Dê lembrança a Dona França não vá esquecer!!!”. No segundo forró, diz: “A minha prima parece que ficou louca/ qualquer dia levo ela pro asilo/ Com tanto bicho bonito pra se criar e ela foi inventar de criar agora um grilo/ Ela da banho no grilo, da massagem no grilo. Bota perfume no grilo e puxa na barba do grilo…”.

Foto e reproduções por Flor Maria e Anna da Hora

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