Sempre houve cegos no Brasil e no mundo. A situação de antes talvez fosse pior do que hoje, mas ser cego é uma barra dos diachos!
Eu perdi a luz dos meus olhos há poucos anos e nesses poucos anos creio que já paguei todos os meus pecados e os pecados dos amigos que continuam a minha volta. São amigos de ouro, amigos queridos e aqui nem vou citá-los porque certamente eles não gostariam desse tipo de propaganda.
Amigos de verdade, verdadeiros, são pérolas, são tudo de bom, são anjos que estão sempre a nos dar força, distribuindo alegrias.
Muito antes de Cristo vir à terra, cegos incríveis marcaram história. Caso de Homero...
Eu conheci muitos cegos na minha vida de menino, de adolescente na Paraíba e mundo afora. Anônimos e famosos, incluindo Patativa do Assaré. Assaré fica no Ceará, antes do Crato. Era da cidade do Crato o cidadão Pedro Pereira da Silva, que nasceu em 1912 e morreu em 1997.
Pedro nasceu cego e com 29 anos de idade ganhou uma rabeca e danou-se a tocar e a cantar romances inteiros que decorava. E logo ficou famoso, e logo passou a ser chamado de cego Oliveira.
Casou-se e teve 9 filhos. Um deles, José, também rabequeiro, desaparecido em 2009. Cego Oliveira comeu o pão que o diabo amassou, como todos os cegos.
No decorrer da vida Cego Aderaldo cantou tudo que lhe vinha ao conhecimento. Tocou e cantou em folias de rei e prá morto seguir em paz com suas incelenças ou "cantos de vigilança", ainda comuns no interiorzão do sertãozão deste Brasilzão sem eira nem beira.
O Brasil, ou melhor, seus governantes, dispensa à população cega indiferença. Sou testemunha disso, portanto falo com cátedra.
Você meu amigo, minha amiga, sabe quantos cegos trabalham formalmente no Senado?
Dia desse pedi a um amigo, Severo, que mora em Brasília e trabalha no Senado, que fizesse um levantamento a respeito desse tocante assunto. resultado: No Senado brasileiro há apenas dois cidadãos formalmente contratados... Triste, não é? Enquanto isso, o Congresso aprova Estatuto disso e daquilo, incluindo o das pessoas com deficiência visual, ou seja, cegas. Uma pergunta, não custa fazer: quem, de fato, são cegas, as pessoas que têm poder e vêm com os olhos ou as pessoas que não têm poder e vêm com as luz dos olhos apagada.
O cego Oliveira cantou em toda parte do Ceará, nos bares, nas festas de casamento e batizado, nas feiras livres, até que participou de um filme Nordeste.... e Repente de Tânia Quaresma, e de um disco produzido por Fagner em que Patativa declamava seus próprios poemas. E aí começou a dar entrevista no rádio, na televisão e o povo achando que com isso ele estava rico. Resultado: morreu à míngua e só uns quinze dias depois é que apareceu nos jornais cearenses a notícia da sua partida definitiva deste mundinho de meu Deus do Céu.
BRINCANDO COM A HISTÓRIA (47)