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terça-feira, 12 de janeiro de 2010

GARCÍA MÁRQUEZ, BRECHT, REICH? NÃO. EDUARDO COSTA

Não é de hoje a confusão que se faz em torno de nomes e obras lliterárias, seja no Brasil, seja fora do Brasil.
Os pontos nos is acabam, porém, sendo postos como no caso da autoria do poema Desejo, que imaginei fosse de Victor Hugo e como tal creditei no texto que postei neste blog no último dia do ano passado.
Mas como eu ia dizendo, não é de hoje que se faz confusão em torno de nomes e obras, aqui e alhures.
Pois bem, por muito tempo circulou nas hostes populares e acadêmicas a certeza de que os versos do poema No Caminho com Maiakovski eram mesmo do poeta russo Vladimir Vladimirovich Mayakovsky (1893-1930).
Não eram.
Uma vez, na noite de 25 de outubro de 2003, convidei para uma entrevista ao programa São Paulo Capital Nordeste, que apresentei por mais de seis anos, em Sampa, o niteroiense Eduardo Alves da Costa, safra de 36, bom papo, tranquilo, meio tímido, cabeça boa, que estava lançando pela editora Geração Editorial o livro... No Caminho com Maiakovski.
O poema-título começa na página 47 e se estende por mais duas.
É como se fosse um poema dentro de outro.
O autor começa:

“Assim como a criança
Humildemente afaga
A imagem do herói,
Assim me aproximo de ti, Maiakovski...”.

Mais adiante, timidamente:

“Tu sabes,
Conheces melhor do que eu...”.

E é aqui, extamente aqui, que entra a confusão em 15 linhas desrimadas, fortes, bombásticas, em tom de alerta a um povo que se via massacrado, oprimido, no Brasil de 68:

“Na primeira noite, eles se aproximam
E roubam uma flor
Do nosso jardim.
E não dizemos nada.
Na segunda noite, já não se escondem:
Pisam as flores,
Matam nosso cão,
E não dizemos nada.
Ate que um dia,
O mais frágil deles
Entra sozinho em nossa casa,
Rouba-nos a luz, e,
Conhecendo nosso medo,
Arranca-nos a voz da garganta.
E já não podemos dizer nada”.

E segue célere o poema de Eduardo Alves da Costa.
Tudo começou em 1977, quando o jornalista, escritor e terapeuta paulista Roberto Freire (1927-2008), criador de um negócio chamado somaterapia, que vem a ser terapia de grupo, publicou pela extinta editora Símbolo o livro Viva eu, Viva tu, Viva o Rabo do Tatu.
Nesse livro, Freire põe em epígrafe versos de Edurado, publicados pela primeira vez em 1968 e após a confusão feita e espalhada se desculpa; mas é tarde, pois mais do que depressa os versos atribuídos a Maiakovski e também a Gabriel Garcia Marques, Jorge Luís Borges, Wilhelm Reich, Brecht, Leopoldo Senghor e Jung correm impressos e de boca em boca mundo afora.
Fazer o quê?
Viva Eduardo Alves da Costa, e que mais belos versos ele nos brinde.

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