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segunda-feira, 14 de junho de 2021

JOÃO DO BRASIL

O mundo mudou com a invenção da prensa pelo alemão Gutenberg, no começo da segunda parte do século 15.
O primeiro desafio de Gutenberg foi imprimir a Bíblia. A impressão durou cinco anos, de 1450 a 1455. 
Não se sabe quantos volumes foram impressos, mas essa é outra história. 
O primeiro jornal impresso de que se tem notícia foi o Nieuwe Tijdinghen, lançado em 1602 na Bélgica. 
No Brasil, o primeiro jornal foram dois: Correio Braziliense, editado por Hipólito José da Costa, em Londres; e Gazeta do Rio de Janeiro, editado pelo frei Tibúrcio José da Rocha. 
Esses dois jornais começaram a circular no mesmo ano: 1808. 
Logo após essas publicações, surgiram outras em diversas partes do País. 
Daquele tempo, três jornais ainda sobrevivem: Diário de Pernambuco (1825), O Estado de S. Paulo (1875) e o paraibano A União (1893). 
Choveu impressos no Império, feitos por escritores e políticos. 
Alguns marcaram época, como Diário Mercantil (1824-1827), Jornal do Commercio (1827-2016), Cidade do Rio (1887-1902) e Gazeta de Notícias (1875-1942). 
Escreviam nesses jornais Joaquim Manuel de Macedo, José de Alencar, Machado de Assis, Franklin Távora, Lima Barreto, Alfonso Guimarães, Olavo Bilac e outros mais, incluindo o autor do livro Os Sertões. 
Os Sertões, de Euclides da Cunha, conta a história da Guerra de Canudos (1896-1897). 
A história é longa. 
Na virada do século 19, surgiu nas páginas do jornal Cidade do Rio aquele que seria considerado o nosso primeiro repórter: João Paulo Emílio Cristóvão dos Santos Coelho Barreto, que ficaria famoso pelo pseudônimo João do Rio. 
As primeiras reportagens assinadas por esse João apareceram na Gazeta de Notícias. Tema: religiões. João foi um repórter destemido e seus textos, brilhantes, como brilhantes eram os textos de Machado de Assis e Lima Barreto. 
Lima não se dava com João, que nutria grande admiração por Machado. 
Machado mantinha distância de Lima e João. Sem explicação. 
Machado de Assis, Lima Barreto e João do Rio eram negros e de origem humilde. Não tiveram filhos. Esses três brasileiros deixaram uma obra fabulosa. 
Machado foi o primeiro jornalista a cobrir debates no Senado. 
Como Machado e Lima, João contou a história do Rio em formato de reportagem. Pelo avesso. 
Alguns estudos já foram feitos sobre a obra do repórter, que também foi contista. A propósito, leia: O HOMEM DA CABEÇA DE PAPELÃO 
A importância de João do Rio na cultura brasileira é referida por muita gente, inclusive por Carlos Lacerda (1914-1977) num LP dos anos 1970. 
Viva Gutenberg!

BELA ENTREVISTA DE RUY CASTRO À TV CULTURA

O jornalista mineiro Ruy Castro apareceu ontem 13 no programa Provocações, apresentado por Marcelo Tas.
Foi uma bela entrevista.
Confesso que nunca ouvi Castro falar tão bem e com tanta naturalidade sobre a história do Brasil.
Conheci Ruy Castro no tempo ainda em que eu era repórter do jornal Folha de S.Paulo e colaborador frequente do suplemento dominical Folhetim.
Lembro que eu havia  feito uma entrevista exclusiva com o cantor e compositor paraibano Geraldo Vandré. A primeira depois dele voltar do exílio. Essa entrevista ganhou capa do Folhetim e chamada de 1º página do Folhão, como chamávamos a Folha de S.Paulo.
À época Ruy Castro era editor da revista Playboy, da Abril.
Castro queria que eu escrevesse um artigo sobre Vandré. Eu disse não. E ele não gostou. Aproveitei para sugerir uma entrevista com o menestrel baiano Elomar. E aí ele ficou puto. E bateu o telefone.
Mas tudo passa, como diz a canção do também mineiro Nelson Ned (1947-2014).
Não podemos guardar raiva, mágoa de ninguém.
Parabéns pela entrevista, Ruy Castro.

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