Trânsito
travado e eu dentro de um táxi em São Paulo, cidade selvagem que há anos
escolhi para viver – e trabalhar - de livre e espontânea vontade até o tempo
que me for possível.
Travada
e com trilha sonora ensurdecedora, recheada de gritaria, xingamento e buzinação
de timbres diversos.
Aparentemente
tranquilo, do alto de sua experiência o taxista com uma risadinha de lado, cínica,
diz que no Brasil é tudo assim mesmo, dotô.
Aquela
fala tranquila que diz ser nordestina ao incauto pode parecer estar se
referindo ao ano chinês, de cabra verde de madeira, que esta se iniciando. Mas,
não, é isso a que o motorista se refere.
A
sua observação me remete à máxima segundo a qual o ano brasileiro (de cachorro
louco?), todo ano brasileiro, começa mesmo depois do Carnaval.
Tudo
aqui começa depois do Carnaval. Mas não imediatamente após, pois por ai, se se
aguçar bem os ouvidos, é possível ouvir lá longe o gemido ou miado exausto de
um tamborim ou cuíca roncando na hora de sua morte, amém.
Pra
mim, o dia de hoje foi um dia sem fim.