No nosso calendário festivo há data para tudo, inclusive para o cordel.
Hoje, 1º de agosto, é o Dia do Cordel, do Poeta Cordelista. Nacional do Cordel.
É fato que não se sabe, com firmeza, quem e quando lançou o primeiro folheto. Coisa antiga.
O jornalista e historiador José Ramos Tinhorão já fazia citação de folhetos em livros seus. Em Rei do Congo - A Mentira Histórica que Virou Folclore, Tinhorão cita três cordéis do século 16, publicados em Portugal: Almocreve de Petas, ou moral disfarçada para correção das miudezas da vida, por José Daniel Rodrigues da Costa; Anatômico Jocoso, que em diversas operações manifesta a ruindade do corpo humano, para emenda ao vicioso, de Frei Lucas de Santa Catarina e Folheto de Ambas Lisboas, sem indicação de autoria.
É pensamento comum que a Donzela Teodora e a imperatriz Porcina foram dois dos folhetos poéticos publicados ali pelo tempo da Idade Média. Século 13, por aí.
A Donzela é personagem que encanta a todos que tomam conhecimento da sua história: é uma jovem linda de origem espanhola escravizada e como tal vendida por um mouro em Tunes, Tunísia, cidade localizada ao norte de África.
Eu já andei escrevendo sobre a Donzela Teodora.
A história contida no folheto A Imperatriz Porcina é fabulosa, como fabulosa é a história da Donzela. Fabulosa e trágica. Conta que o irmão de um rei violenta a intimidade da cunhada. Por aí.
No princípio, lá bem atrás, os folhetos não tinham ilustração na capa. Isso só veio a acontecer na virada do século 19, no Brasil.
Ilustravam as capas dos folhetos xilogravuras.
É interessantíssima a história da xilogravura.
Quem não conhece, já é tempo de conhecer a história de Jeová Franklin, autor do livro Xilogravura Popular na Literatura de Cordel.
A primeira vez que a palavra Cordel aparece num livro é no dicionário contemporâneo Aulete.
Houve e ainda há grandes cordelistas, no nosso país. Os pioneiros foram Silvino Pirauá de Lima e Leandro Gomes de Barros, autores respectivamente de História do capitão do Navio e A Donzela Teodora.
Leandro foi o poeta brasileiro que adaptou a Donzela para a nossa língua em folheto publicado, provavelmente, em 1905.
Entre os cordelistas contemporâneos, de grande qualidade, podemos citar Klévisson Viana, Marco Haurélio e João Gomes de Sá.
E há mulheres escrevendo folhetos de cordel com inegável talento.
O cordelismo e o repentismo se misturam de certo modo. Afirmo sem medo de errar que um cantador repentista é também cordelista. Oliveira de Panelas, Ivanildo Vila Nova, Geraldo Amancio e Sebastião Marinho são exemplos do que digo. E há curiosos, como eu. Não sou cordelista nem repentista, mas aqui e acolá cometo investidas no campo poético em sextilhas e septilhas. E quadras.
No correr da pandemia provocada pelo Novo Coronavírus, escrevi e publiquei quatro folhetos: Jornalismo e Liberdade Nos Tempos de Pandemia, Serpente Quer Por Ovo No Coração do Brasil, Coronavírus: Piolho do Cramunhão faz o mundo todo tremer e Repórter Entrevista Piolho Do Cramunhão.
Também escrevi, publiquei e declamei o folheto A Vida como Tragédia e um Cego por Testemunha.
Na linha de sextilha acabo de escrever umas estrofes em homenagem ao apresentador de TV e contador de causos Rolando Boldrin. Esses versos, que intitulo Sr. Boldrin, ganharam as cordas da viola e a voz do cantador Sebastião Marinho. Confira:
A professora Yvone Dias Avelino, da PUC-SP, acaba de publicar um trabalho sobre o tema Literatura de Cordel. O texto foi apresentado no III Congresso Internacional e Interdiciplinar em Patrimônio Cultural, em Lisboa. Cordel é coisa séria. Leia: LITERATURA DE CORDEL: ASSIS ÂNGELO E O INSTITUTO MEMÓRIA BRASIL
VISITA
Há pouco estiveram comigo um bando de talentos, à frente o xilogravador e cordelista cearense Klévisson Viana. Confira: https://www.facebook.com/paulodetarso.bezerragomes/videos/5407856159302216