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quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

TOMANDO UMAS PARA LEMBRAR QUE O MUNDO É JÓIA

Como tantos, o poeta mineiro Carlos Drummond de Andrade andou dando mensagens sobre o Ano Novo.
Dele é o trecho que segue, do poema TEMPO, este:
“…Para você,
Desejo o sonho realizado.
O amor esperado.
A esperança renovada.
Para você,
Desejo todas as cores desta vida.
Todas as alegrias que puder sorrir.
Todas as músicas que puder emocionar.
Para você neste novo ano,
Desejo que os amigos sejam mais cúmplices,
Que sua família esteja mais unida,
Que sua vida seja mais bem vivida.
Gostaria de lhe desejar tantas coisas.
Mas nada seria suficiente…
Então, desejo apenas que você tenha muitos desejos.
Desejos grandes e que eles possam te mover a cada minuto
ao rumo da sua felicidade”.

O poeta francês Victor Hugo, espelho do meu amigo Peter Alouche, também andou falando sobre desejo, palavra que significa vontade e que tão bem mestre Drummond aplicou no poema acima referido.
Hugo, no seu DESEJO:
“Desejo primeiro que você ame,
E que amando, também seja amado.
E que se não for, seja breve em esquecer.
E que esquecendo, não guarde mágoa.
Desejo, pois, que não seja assim,
Mas se for, saiba ser sem desesperar.
Desejo também que tenha amigos,
Que mesmo maus e inconseqüentes
Sejam corajosos e fiéis,
E que pelo menos num deles
Você possa confiar sem duvidar.
E porque a vida é assim,
Desejo ainda que você tenha inimigos.
Nem muitos, nem poucos,
Mas na medida exata para que, algumas vezes,
Você se interpele a respeito
De suas próprias certezas.
E que entre eles haja pelo menos um que seja justo,
Para que você não se sinta demasiado seguro.
Desejo depois que você seja útil,
Mas não insubstituível.
E que nos maus momentos,
Quando não restar mais nada,
Essa utilidade seja suficiente para manter você de pé.
Desejo ainda que você seja tolerante,
Não com os que erram pouco, porque isso é fácil,
Mas com os que erram muito e irremediavelmente,
E que fazendo bom uso dessa tolerância,
Você sirva de exemplo aos outros.
Desejo que você, sendo jovem,
Não amadureça depressa demais,
E que sendo maduro, não insista em rejuvenescer...
E que sendo velho, não se dedique ao desespero.
Porque cada idade tem o seu prazer e a sua dor e
É preciso deixar que eles escorram por entre nós.
Desejo, por sinal, que você seja triste,
Não o ano todo, mas apenas um dia,
Mas que nesse dia descubra
Que o riso diário é bom.
O riso habitual é insosso e o riso constante é insano.
Desejo que você descubra,
Com o máximo de urgência,
Acima e a respeito de tudo, que existem oprimidos,
Injustiçados e infelizes, e que estão à sua volta.
Desejo ainda que você afague um gato,
Alimente um cuco e ouça o joão-de-barro
Erguer triunfante o seu canto matinal,
Porque, assim, você se sentirá bem por nada.
Desejo também que você plante uma semente,
Por mais minúscula que seja,
E acompanhe o seu crescimento,
Para que você saiba de quantas
Muitas vidas é feita uma árvore.
Desejo, outrossim, que você tenha dinheiro,
Porque é preciso ser prático.
E que pelo menos uma vez por ano
Coloque um pouco dele
Na sua frente e diga `Isso é meu`,
Só para que fique bem claro quem é o dono de quem...
Desejo também que nenhum de seus afetos morra,
Por ele e por você,
Mas que se morrer, você possa chorar
Sem se lamentar e sofrer sem se culpar.
Desejo por fim que você sendo homem
Tenha uma boa mulher,
E que sendo mulher,
Tenha um bom homem,
E que se amem hoje, amanhã e nos dias seguintes,
E quando estiverem exaustos e sorridentes,
Ainda haja amor para recomeçar.
E se tudo isso acontecer,
Não tenho mais nada a te desejar”.

Fantástico, não?
A vida é isso, é desejo, realização.
Eu gosto do Natal, mas não gosto dessa figurinha ridícula que o comércio maleficamente espalha entre nós e nossos filhos e netos, e a que dão o nome idiota de Papai Noel.
Machado de Assis, no seu SONETO DE NATAL inserido por ele próprio no livro Poesias Completas (W. Jackson Inc. Editores, 1900), resultante de Chrysalidas, Phalenas e Americanas (que ele chamava de Occidentaes) anteriormente publicados, à pág. 376, diz:
“Um homem — era aquela noite amiga,
Noite cristã, berço do Nazareno, —
Ao relembrar os dias de pequeno,
E a viva dança, e a lépida cantiga,
Quis transportar ao verso doce e ameno
As sensações da sua idade antiga,
Naquela mesma velha noite amiga,
Noite cristã, berço do Nazareno.
Escolheu o soneto... A folha branca
Pede-lhe a inspiração; mas, frouxa e manca,
A pena não acode ao gesto seu.
E, em vão lutando contra o metro adverso,
Só lhe saiu este pequeno verso:
`Mudaria o Natal ou mudei eu?’".
Fica no ar a pergunta que pode ser estendida a todos nós.

Um telefonema há pouco me fez bem.
Tinhorão, ele, a antena à qual nada escapa com relação à cultura brasileira, me faz uma pergunta, na bucha:
“Você conhece a Ópera dos Três Vinténs, do Kurt Weill e Brecht, estreada em 1928, em Berlin?”.
Disse que sim.
“Você já ouviu o trecho overture dessa ópera?”.
Sim...
“Você conhece a canção Sabiá, de Tom Jobim (letra de Chico Buarque)?”.
Digo de novo que sim, que empatou com a guarânia Pra não Dizer que não Falei de Flores, de Geraldo Vandré, no Festival Internacional da Canção, FIC etc., em setembro de 68.
“E aí?”, ele pergunta de novo com a vontade da constatação da informação e do saber.
No Youtube: THREEPENNY OPERA OVERTURE Chamber League.
Pra encerrar, revelo: de João Pessoa, PB, me vem o e-mail:
“Caro Chico,
Que 2010 seja de glória para suas letras faladas e escritas.
O que faz do homem, homem, é a transcendência. Como matéria, tudo apodrece.
Lembre-me aos seus,
do irmão, Miguel”.
Lembrado, Miguel, lembrado. Sempre.
O vento nos dá trilhas e o mar somos nós.
Aproveitando o ensejo, quero mandar aqui o meu abraço querido, carinhoso e apertado aos amigos de sempre; aos conhecidos vindos de todas as vidas etc., como Isa, Chico de Isa, Vitória recém chegada, Gabriel gênio, Darlan solidário, Vandré único, Behring compreensivo, Peter além do óbvio, Paulo Benites ocupado, Marco Haurélio cuidando de cordel, como Klévisson e Arievaldo, sumidos; Gregório expandindo seus negócios, Roberto Luna que não sei por onde anda, Geraldo Nunes voando sobre Sampa, Aluizio Gibson resolvendo paradas, Cássio nos Stêites se firmando a cada dia no mundo da música, Wagner idem, Chinem quieto, Alcides preocupado, Alê sonhando, Vanzolini ensinando e quem quer apredendo... E o da Cuíca, como vai?
Deus do céu, como é bom viver!
Também de bom tudo quero desejar aos meus filhos e à neta, Iara.
Para todos, enfim, tudo de bom.
Ah! Sim, na foto acima eu e a minha vida; essa que atende por Andrea Lago.
E como não tenho muito o que fazer, agora vou almoçar, isto é jantar, e tomar mais uma que não sou de ferro.
Sozinho, naturalmente.
O mundo capitalista é uma bosta, e leva os moles à farsa!

É uma bosta capistalisno
Mas quem sou, Assis, pra dizer
Depois de andar tempos por aí
Que este mundo é bonito sem ser?
Prefiro umas e outras tomar
Para ficar bebo e esquecer.

A línguagem do título é dos 70, quem lembra?

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