Seguir o blog

domingo, 31 de dezembro de 2023

LICENCIOSIDADE NA CULTURA POPULAR (65)

FOLHETIM — Quais as normas adotadas pela Polícia para o combate ao lenocínio? E em que dispositivos legais se baseia a Polícia?
PINHEIRO MACHADO — Com a descentralização da nossa Polícia, não há, atualmente, uma "Especializada" de Costumes. O policiamento pertinente à matéria cabe integralmente, na Capital, aos Distritos Policiais e no Interior, às Delegacias de Município. Essas Unidades Policiais estão incumbidas, na sua área territorial, de combater as mais diversas espécies de delitos. Evidentemente, há uma escala de prioridades, sem se descurar, naturalmente, de nenhum setor. Os crimes mais danosos à sociedade são atendidos, e nem poderia ser diferente, com prioridade (crimes contra a pessoa, contra o patrimônio, tóxicos, etc). Assim, no que tange ao combate dos crimes contra os Costumes em geral, e em especial ao lenocínio, as normas policiais a serem adotadas estão umbilicalmente ligadas à problemática de cada Distrito Policial, focalizando o aspecto em nossa Capital. À guisa de exemplificação, podemos citar os casos do 3.º (Campos Elíseos) ou 2.° Distritos Policiais (Bom Retiro), em con- traposição aos serviços do 46.° (Perus) ou 47.° Distritos (Capão Redondo). Se naqueles, a concentração de estabelecimentos de hospedagem, a existência de "trottoir" ostensivo ao extremo, impõem uma certa norma de policiamento, nestes o problema é quase inexistente. De qualquer forma, porém, deve a Autoridade Policial atender às normas da nossa lei substantiva, agindo com o máximo rigor desde que sejam feridos os dispositivos constantes do nosso Código Penal, constantes dos artigos 227, 228, 229 e 230, a fim de coibir o lenocínio e delitos afins.
"A Polícia não pode resolver o problema da degeneração da bas-fond de São Paulo, mas pode moralizá-la", declarava em novembro de 1963, à imprensa, o general Aldévio Barbosa Lemos, acrescentando: "Resolvi encetar a campanha contra a degenerescência dos costumes que se vem verificando no coração de nossa metrópole, através dos anos, num flagrante e doloroso atentado aos nossos foros de cidade civilizada. Apesar de mal com-preendida por alguns elementos diretamente interessados, pois a prostituição é uma grande fonte de renda…”
Atualmente, há mulheres que "faturam" até Cr$ 6 mil por dia. Há delas que "pescam", em pontos fixos da chamada "Boca do Lixo", 60 homens por dia. E como elas aguentam tanto?
"Aguentando", foi a resposta que ouvi de uma velha prostituta. Mas isso não cansa, não esgota a mulher?
"Que nada. Com o tempo a gente se acostuma e encara a coisa com naturalidade e profissionalismo, como um trabalho qualquer".

(CONTINUA NA PRÓXIMA EDIÇÃO…)
Foto e reproduções de Flor Maria e Anna da Hora

sábado, 30 de dezembro de 2023

LICENCIOSIDADE NA CULTURA POPULAR (64)

FOLHETIM — O confinamento seria uma forma de minorar o problema em São Paulo?
PINHEIRO MACHADO — O confinamento, decisão administrativa que evidentemente foge da alçada policial, apresenta alguns pontos positivos e em contrapartida, muitos negativos. De certa forma, facilitaria um maior controle em termos de policiamento dos frequentadores das áreas previamente delimitadas, evitando-se com isso a incidência criminal que sempre acompanha, de perto, o exercicio da prostituição. De outro lado, porém, tal medida seria admitir-se, oficialmente, a condição de insolúvel a um problema que é uma verdadeira chaga na sociedade, dando-lhe portanto, cunho legal e robustecendo sua existência com consequências imprevisíveis. Parece-nos mais adequado com a época em que vivemos, com o homem em busca de soluções definitivas aos seus problemas, que fosse feito um estudo sério e responsável, voltado mais para o aspecto social da prostituição, notadamente em busca de suas causas e após identificá-las procurar, através de recursos públicos, minorá-las ou exaurí-las. A conotação prostituição com problema ligado a fatores econômicos e de sobrevivência pessoal nos parece clara e nessa faixa deveria ser equacionada visando sua posterior solução.
FOLHETIM Quais as medidas que apontaria para solucionar o problema, ou, no mínimo, extinguir ou diminuir o "trottoir" no Centro da cidade?
PINHEIRO MACHADO — Não cremos que haja uma solução a curto prazo, a solução poderia haver a médio ou a longo prazo, pois o problema é muito mais social do que policial. O "trottoir" é uma consequência da prostituição, e com o abrandamento desta, aquele poderia ser diminuído e até extinguido. Porém, com a prostituição em grande escala, torna-se impossível extinguir o "trottoir” pelos meios legais que dispomos. Evidentemente, não podemos utilizar meios arbitrários ou ilegais. Dentro dos meios legais a que nos referimos há a triagem, a averiguação, que como já vimos, não resolve o problema, mas em muitos casos, de certa forma, o abranda.

domingo, 24 de dezembro de 2023

LICENCIOSIDADE NA CULTURA POPULAR (63)

Paris, 6/8/1973, AP - "Marthe Richard, a ex-vereadora de Paris que, em 1946, pregou a extinção dos bordéis na França, disse ontem que mudou de opinião e que agora acredita que a verdadeira libertação da mulher deve incluir, até mesmo,o direito de ganhar a vida como prostituta.
A prostituição não é ilegal na França, mas a exploração de bordéis é punida com severas penas de prisão, por uma lei que tem, exatamente, o nome de Marthe Richard, atualmente com 84 anos.
Numa entrevista a uma emissora de rádio, a sra. Richard disse que os bordéis deveriam ser reabertos e autorizados a funcionar livremente, como na Alemanha Ocidental: a lei que tem meu nome é obsoleta, disse ela, acrescentando: durante toda a minha vida lutei não contra a prostituição, mas sim pela libertação da mulher. E, em 1973, a liberdade da mulher exige que ela seja autorizada a fazer de seu corpo o que bem entender".
"Até aí, tudo bem", disse-me um delegado, no Deic.
"Lógico", emendou outro, "a gente também vive num país livre”.
DELEGADO UM — Agora, o que não pode acontecer é você, junto com a sua senhora ou irmã, ou amiga, ou namorada, sair à rua e se defrontar com os escândalos que essas mulheres aprontam.
DELEGADO DOIS — Um cidadão de bem não pode passar pela avenida São João, por exemplo, sem receber uma pilhéria, uma "cantada". Meu Deus do céu, em que tempos estamos!
DELEGADO UM — Então, é por isso que a Polícia se vê obrigada a efetuar a recolha de prostitutas.
DELEGADO DOIS — E de travestis. Os travestis são mais escandalosos que as prostitutas.
DELEGADO UM — E perigosos. Acho que o confinamento seria uma forma, uma solução para o problema da prostituição em São Paulo. A própria Polícia seria beneficiada com isso, uma vez que o trabalho de vigilância, de investigação, se concentra numa determinada área. Confinamento. 
Procuramos o secretário Enio Viegas, da Segurança Pública, para falar sobre o assunto. Ele, no entanto, desculpou-se dizendo que estava muito ocupado e que entrássemos em contato com o delegado geral de Polícia, Tácito Pinheiro Machado (1926-2005).

(CONTINUA NA PRÓXIMA EDIÇÃO…)
Foto e reproduções de Flor Maria e Anna da Hora

sábado, 23 de dezembro de 2023

LICENCIOSIDADE NA CULTURA POPULAR (62)

De 70 para cá o "comércio" das chamadas "mulheres de vida fácil" cresceu assustadoramente, e os seus "pontos ", obviamente, duplicaram. Hoje, é comum deparar-se com grupos de garotas, algumas não tão novas, maquiadas ou não, bem vestidas ou não, "convidando" transeuntes apressados para rápidos instantes de "amor”, a qualquer hora do dia ou da noite.
“É bem sabido que a prostituição é um sub-produto da virtude; esta sociedade que compra tudo e tudo vende, hipocritamente condena os serviços daqueles que são usados para manter intactos os tabus e manter no alto os códigos de moral dessa mesma sociedade. Fabricam-se prostitutas como se fabricam roupas; tudo são bens de consumo: joga-se fora a roupa usada. Essas mulheres analfabetas cujas vidas são envenenadas pela humilhação e a miséria ignoram a rebelião que iria reivindicá-las como seres humanos, numa sociedade diferente, sem tarifas para o amor; mas em troca, encarnam-se a si mesmas, numa espécie de exorcismo ao inverso, e projetam para o plano religioso. Encarnam a mesma imagem que o sistema forjou delas, para usá-las e depreciá-las; mas aí, atenção: esse auto-retrato é impresso em negativo, porque o objeto de desprezo passa a ser o objeto de adoração; a abominação abre caminhos para a devoção, e a prostituta decide que é sagrada. Achavam que eu fosse uma cadela? Pois eu sou uma deusa”. (Eduardo Galeano, autor de As Veias Abertas da América Latina)
"Eu e mais uma centena de mulheres iguais a mim fomos detidas pela Polícia. Os tiras nos levaram para o 2.º DP (Bom Retiro). Lá fomos espancadas e tratadas que nem cachorros. É sempre assim. Exigiram ainda de cada uma de nós a quantia de Cr$ 1 mil. E ameaçaram ou dão esse dinheiro ou assinam o 59 (Art.59, vadiagem. Código Penal). Como não aguento mais ser explorada, eu disse vou contar tudo isso ao juiz corregedor. Ai, então, eu ouvi: se for, a sua vida não valerá um vintém." (Baiana).
Foi numa noite de outubro deste ano. Os policiais da Seccional Centro efetuaram uma "Operação Arrastão" e levaram cerca de 100 prostitutas ao 2.º Distrito para "averiguação", segundo eles. Parte dessas mulheres foram liberadas na manhã do dia seguinte. "Eu até tenho um salvo conduto. Eu e outras colegas minhas. Mas os tiras não quiseram conversar. Eles disseram que usavam os salvo condutos como papel higiênico, porque "o que nos interessa é dinheiro". Não dei o que eles queriam e me bateram. Fui junto com outras mulheres ao Fórum, e contei tudo ao dr. Laércio Talli. Agora, morro de medo de sair às ruas, porque juraram me pegar", afirma Elvira Lopes.

sexta-feira, 22 de dezembro de 2023

A PARDA ESCRAVA ISAURA

O instituto brasileiro de geografia e estatística, IBGE divulgou hoje dia 22 pesquisa do ano passado que registra a maioria de pardos na população brasileira. Isso me fez lembrar de uma obra prima de Bernardo Guimarães.

Escrava Isaura é um livro de Bernardo Guimarães conta a história da moça que dá título ao livro. É muito bonita e inteligente; fala corretamente a língua portuguesa e outras duas ou três. Sua simplicidade encanta e provoca raiva e desejo.

Guimarães desenvolve sua trama numa fazenda administrada por um português chamado Miguel que teria um caso com a escrava Juliana. Esse caso resultou no nascimento de Isaura. A mãe de Isaura morre e Isaura passa a ser “propriedade” de Ester, esposa de um certo comendador Almeida. Ester morre e seu marido também.

Se a mãe de Isaura era preta e o pai branco, a conclusão é óbvia. Isaura era parda. 

Com a morte do dono da fazenda e sua mulher, a história ganha fortes emoções. E quando surge Leoncio, filho único de Ester e do Comendador.

Leoncio casa-se por interesse com uma rica herdeira de nome Malvina. É simpática e obediente ao marido, que passa a atormentar Isaura com o propósito de satisfazê-lo na cama. Ela reluta e foge da fazenda junto com o pai, Miguel.

Esse livro foi publicado em 1875, 4 anos depois da chamada Lei do Ventre livre. E mais não conto para não quero quebrar o barato do leitor.

quinta-feira, 21 de dezembro de 2023

DORNELES É A BOA NOVA


Eu não sei se é o tal do Espírito de Natal, mas o fato é que o dia de hoje começou e tá terminando de modo muito bonito.
Não é todo dia que o lugar onde moro se enche de alegria por receber pessoas queridas que há tanto meus olhos não veem, como o coleguinha jornalista Manuel Dorneles.
Dorneles fez e faz parte da minha vida profissional e pessoal. Trabalhamos juntos durante anos na velha Folha, ao lado de Zanfra, Celsinho, Zé Luiz, Valmir Salaro, Hipólito, Leivinha, Moschela, esses e outros mais sob a batuta do sempre alegre e inspirado Hely Ivanini, com aquele bigodinho ridículo de Clark Gable.
O lado pessoal a que me refiro já no início do parágrafo acima justifica-se pelo fato de a nossa amizade perdurar até hoje, apesar das tempestades naturais que todos nós enfrentamos no dia a dia.
Dorneles é um cabeção, daqueles que fazem questão de participar de modo intenso e rico da vida. Lê, viaja, ama. Tem uma mulher linda: Silvana; e um filho super rápido na inteligência e imaginação, Vitor Lara. 
"O Vitor é maravilhoso! Ele enche de alegria a minha vida e a vida da Silvana", diz sem se conter o pai coruja Dorneles.
Manuel Dorneles volta a minha casa alegre, como sempre; falando coisas bonitas, de passado e futuro. Mas é o presente, em duplo sentido, o que lhe importa. Ele chegou com um destiladozinho nas mãos...
E papo vai, papo vem, Dorneles contou que participou de um livro de crônicas junto com Zanfra, Nereu, Carlão, Zélia, Padovani e Aurélio. Título: Contando História.
Bom nessa história toda é que Dorneles está escrevendo um livro de memórias, com destaque ao que viu, sentiu, mundo afora. São pelo menos 25 países que ele visitou, entre os quais China, Japão, Rússia, Suécia, Estônia, Dubai, Turquia...
Tudo bem, tudo bem, mas faz tempo que eu peço pra esse cara deixar de preguiça e reunir pelo menos parte das belas e necessárias entrevistas que fez com Jair Rodrigues, Inezita Barroso, Rolando Boldrin, Pena Branca e Xavantinho... Todas, e foram muitas, publicadas na extinta revista Kalunga.
A Kalunga foi uma criação do Dorneles e por Dorneles editada por ininterruptos 28 anos.
Esse Dorneles...

quarta-feira, 20 de dezembro de 2023

POIS, POIS: UM POETA PORNOGRÁFICO

O Brasil tem tudo o que todo mundo quer. No que se refere às artes, inclusive. 

Embora até hoje nenhum autor brasileiro tenha recebido o Nobel de literatura, não são poucos e excepcionais os nossos literatos. 

Pra valer, pra valer mesmo, os nossos primeiros poetas deram o ar da sua graça no século 17. O principal e mais afoito, polêmico e inspirado foi o soteropolitano Gregório de Matos Guerra. 

Esse Gregório desenvolveu temas em quadras, sextilhas, décimas e até sonetos. 

O soneto é modalidade poética que data ali do século 15 ou 16.

O italiano Francisco Petrarca foi o cara que deu ao soneto a forma que tem hoje.

Pois bem, Gregório nasceu de pais bem vividos e afortunados o que lhe possibilitou estudar na Universidade de Coimbra. Voltou doutor, com toda bola. Virou religioso, juiz e promotor na Província baiana. Casou-se com uma mulher chamada Maria dos Povos. Viveram bem, mas ele decepcionou-se com a Igreja e pulou fora.

O fato de ele ter se decepcionado com o catolicismo não bastou para calar-se. Pelo contrário, dedicou-se o quanto pôde a escrever poemas detonando religiosos e a elite dominante da época. Isso o fez odiado por muita gente. 

Por não se comportar como a Igreja queria acabou por se transformar no seu maior crítico. O resultado disso foi uma estadia forçada em Angola. Dois anos antes de morrer, deixaram-no sair de Angola de volta ao Brasil.

Gregório de Matos reconciliou-se com a Igreja, mesmo que não lhe permitissem pôr de novo os pés na Bahia. 

Esse poeta é considerado o mais ferino dentre todos os outros. Foi o primeiro e mais completo poeta pornográfico do Brasil, tendo páreo só no século 19, quando como um anjo torto o fluminense Laurindo Rabelo abriu suas asas e mostrou a que veio.

E de Rabelo o clássico As Rosas do Cume. 

Sacou?

Pouca gente poderosa escapou da pena afiada do retumbante Gregório de Matos. Não à toa ele entrou para a galeria dos literatos tupininquim como Boca do Inferno. Morreu em Reclfe, rogando perdão a Deus. 

Foi num dia como hoje, 20 de dezembro, que Gregório nasceu.





terça-feira, 19 de dezembro de 2023

CAMISETA 100% DA PARAÍBA

Novidades para a melhoria da vida de todos. 
Isso mesmo!
Tudo muda, tudo se transforma, como disse um certo grego num tempo em que eu ainda nem existia. E quando tudo se transforma em algo melhor, melhor ainda.
Acabo de ser presenteado com uma belíssima camiseta feita todinha na Paraíba. É toda de algodão. Isto é: 100% de algodão colorido, inclusive.
Nesse belo presente a mim feito pela coleguinha jornalista Cilene Soares tem até uma frase, que nos remete a Graciliano Ramos: Vidas Secas.
Vidas Secas é um livro clássico escrito pelo alagoano Graciliano Ramos. Esse livro foi publicado no começo dos anos 30 do século 20. Conta esse livro a história de uma família nordestina tentando fugir da seca terrível que sofria. Dessa família, além do casal e seus filhos, tem uma cachorrinha fantástica chamada Baleia. 
Essa é uma história fantástica escrita por Graciliano.
Bom, na camiseta que ganhei tem um pequeno impresso escrito em cinco línguas: Inglês, Francês, Italiano, Alemão e Português. 
O que se lê no impresso é o seguinte:
"Este produto é feito de 100% algodão orgânico da Paraíba que já nasce colorido sem uso de aditivos ou corantes.
Por evitar a etapa de tingimento gera 87,5% de economia de água e baixo consumo de energia no processo seletivo.
O nosso algodão é plantado em assentamentos rurais e comunidades tradicionais com contrato de compra garantida. 
Esta ação da Natural Cotton Color é parte do "Projeto Algodão Paraíba", que inclui o incentivo à agricultura familiar para o desenvolvimento social e econômico local.
O algodão orgânico é certificado pela Ecocert e Friends of the Earth".

segunda-feira, 18 de dezembro de 2023

AMAR É BOM, AMÉM!


Por não ter o que fazer nesta vida tão bonita, continuo a ler coisas e livros que não li lá atrás.
Li quase todos os primeiros romances do Brasil, exatamente por não ter o que fazer. 
E desejo fundamentalmente ler quem está publicando o quê.
Pois é, aqui estou eu a me ver com a memória.
Por uma dessas razões inexplicáveis, chegou-me as mãos o livro chamado Os Homens que não Amavam as Mulheres. 
É um livro absolutamente fantástico por sua originalidade. O autor Stieg Larsson morreu sem saber do sucesso que alcançaria com o livro que escreveu.
Meus amigos, minhas amigas, eu quero dizer que o Stieg Larsson foi simplesmente incrível na sua forma de contar histórias.
Quero aprender a contar histórias como ele.



OS BOSSA-NOVISTAS ESTÃO PARTINDO…

Os artífices e grandes intérpretes da Bossa Nova estão desaparecendo.

No andar em que vivemos, já não se acham Vinicius, João Gilberto, Tom Jobim, Nara Leão e tantos e tantas.

Sinto saudade de alguns desses nomes. E também de um paraense chamado Billy Blanco.

Blanco foi um compositor muito inspirado e profícuo. Deixou uma obra exemplar. Muita gente boa o gravou e a seus parceiros, como Tom.

No último fim de semana partiu para a Eternidade o carioca Carlos Lyra, aos 90 anos de idade. 

Lyra foi autor e também intérprete de muita coisa boa. Entre seus parceiros o paraibano Geraldo Vandré.

Vandré está com 88 anos de idade praticamente recluso no Rio de Janeiro. Já não compõe nem grava nada. “Hoje eu só vejo TV”, disse-me outro dia indiferente a qualquer fala relacionada à música e artes em geral. O corpo de Carlos Lyra foi sepultado hoje.


LEIA MAIS: BILLY BLANCO MORREU • 25 ANOS SEM TOM JOBIM • HÁ 54 ANOS VANDRÉ LANÇAVA PRIMEIRO LP

domingo, 17 de dezembro de 2023

LICENCIOSIDADE NA CULTURA POPULAR (61)

"Outro dia eu fui atropelada por uma viatura policial. Umas pessoas que passavam na ocasião pelo local me levaram à Santa Casa de Misericórdia. Agora, em consequência do acidente, estou usando um pedaço de platina nos joelhos" - Maria Reis Bento da Silva.

É ela que aliando à luz 
Do olhar protervo o indumento 
Vilissimo do servo ao brilho 
Da augustal "toga pretexta"
Sente alta noite em 
Contorções sombrias
Na vacuidade das entranhas frias 
O esgotamento intrínseco da besta! 

("A Meretriz", Augusto dos Anjos)

A Secretaria da Segurança Pública e a Delegacia Geral de Polícia de São Paulo não sabem informar o
Hiroito
número de prostitutas em atividade na cidade, mas calcula-se que, pelo menos, 250 mil mulheres vivam da comercialização do próprio corpo, muitas delas, inclusive, de menor idade. O Juizado também não tem números precisos.
Há muitos anos, elas viviam numa espécie de confinamento, no bairro do Bom Retiro. Mas, lembra um dos antigos “reis” da Boca do Lixo, Hiroito Joanides (autor de "Boca do Lixo”), hoje, na medida do possível, um cidadão de respeito, "empurradas pela repressão policial, as prostitutas foram subindo as avenidas principais, no sentido cidade- bairro. Desde a praça Júlio Mesquita estendeu-se a prostituição pela av. São João acima, até alcançar e subir pela Av. Angélica. No fim desta, ramificou-se parte dela dobrando à direita, seguindo o curso da Av. Dr. Arnaldo, enquanto a outra parte, que dobrara à esquerda, seguira pela av. Paulista. Uma terceira ramificação ainda metia-se pela Av. Rebouças, passando desta para a av. Brasil, República do Líbano e parque do Ibirapuera. Uma outra corrente que desde a praça Júlio Mesquita descera a av. São João rumo ao centro da cidade, se estenderia à praça do Correio, não sem antes bifurcar- se na av. Ipiranga, por onde seguiria até a rua da Consolação e, por esta, até a av. Paulista. Era esse o cenário da prostituição em São Paulo, já no ano de 1970".

(CONTINUA NA PRÓXIMA EDIÇÃO…)
Foto e reproduções de Flor Maria e Anna da Hora

sábado, 16 de dezembro de 2023

LICENCIOSIDADE NA CULTURA POPULAR (60)

Em 1978, eu era repórter da Folha.
No suplemento dominical desse jornal, Folhetim, fui às ruas, apartamentos e bordéis para ouvir e registrar histórias vivas ocorridas com prostitutas de idades diversas com atuação na Capital paulista. Foram depoimentos incríveis, tocantes.
Para formar a reportagem intitulada A Luta Eterna das Damas da Calçada, publicada na edição de 4 de dezembro da Folha, ouvi o então delegado geral de polícia, Tácito Pinheiro Machado e até um rufião famoso chamado Hiroito Joanides (1936-1992), que anos depois publicaria um livro contando suas origens e trajetória criminosa na "boca do lixo" paulistana, local de tudo quanto é crime até os dias de hoje.
Ah! Sim, ia me esquecendo de dizer que já nos anos de 1970, antes até, São Paulo tinha uma área mais ou menos especial em que prostitutas e travestis praticavam o comércio sexual. Isso, aliás, é recordado por Hiroito: “O comércio sexual saiu da periferia e alcançou rapidamente vários pontos do centro da cidade”.
Em 1992, o vereador Zé Índio apresentou projeto na Câmara para “confinar” prostitutas, travestis e tal. O local em vista era o Sambódromo. Houve uma gritaria dos infernos. A população reclamou e depois de tanto reclamar o vereador recuou dizendo que “Sou o autor do projeto e não quero que algo assim tenha qualquer ligação com o Sambódromo. Essa área deve ser criada em lugares afastados da cidade”. Mas aí já era tarde.
O extinto jornal paulistano Notícias Populares em manchete de 1ª página, edição de 4 de dezembro de 1992, estampou: São Paulo ganha o 1º putódromo - Sambódromo viral bordel!
Fica o registro.
Essa reportagem, que à época da sua publicação provocou polêmica, compartilho com vocês a partir de agora.

A rua dos destinos
Desgraçados faz medo
O vício estruge
Ouvem-se os brados
Da danação carnal...


"Tenho dois filhos, um menino e uma menina. Ambos são lindos. A garotinha, hoje com 13 anos, quer ser médica. Vou fazer o possível e até o impossível para que ela seja médica. Se sou, ou fui, uma senhora casada? Não. Cai na realidade aos treze anos, no interior da Bahia. Nem sei quem é, ou quem são os pais dos meus filhos" - Elvira Baiana Lopes de Almeida, 40 anos, em São Paulo desde 1957.

É a meretriz que
De cabelos ruivos bramando
Ébria e lasciva hórridos
Uivos na mesma esteira
Pública recebe entre
Farraparias e esplendores
O erotismo das classes
Superiores e o orgasmo
Bastardissimo da plebe!

sexta-feira, 15 de dezembro de 2023

NO CEARÁ, ANO BOM PRA CULTURA POPULAR


Assis Angelo e Klévisson Viana
O de 2023 se acha nos últimos dias, com o sol quente queimando o lombo do povo. Apesar disso, 2023 foi um bom ano para a cultura popular do Nordeste. Em alguns Estados, como o Ceará e a Paraíba, o 
cordel e cordelistas botaram pra quebrar.
Aqui na Capital paulista o ano de 2023 ficou a dever, no quesito cultura popular. 
Da minha parte, tive aprovado em edital da Secretaria do Estado da Cultura, um projeto que tem por objetivo produzir um livro em brasileiro com a adaptação que fiz do poema épico Os Lusíadas (narrativo), de Luís de Camões.
O ano de 2024 será marcado pelos 500 anos de nascimento do famoso poeta português. 
Pedi ao craque cearense Klévisson Viana um apanhado dos principais eventos de que participou no campo da cultura popular, no correr do ano que funda.
O relato de Klévisson, agora reconhecido como Mestre da Cultura do Estado do Ceará e Dr. Honoris Causas pela Universidade Estadual do Ceará – UECE é o seguinte:

Os últimos meses do ano de 2023 foram marcados por inúmeros eventos culturais e a Literatura de Cordel, patrimônio imaterial do povo brasileiro, foi agraciada com vários eventos importantes.
O ano marcou a retomada de eventos tradicionais como a FEIRA DO CORDEL BRASILEIRO, evento idealizado e coordenado por mim (Klévisson Viana), que teve sua quinta edição realizada nos dias 19 a 21 de outubro com presença de grandes nomes dessa arte em todo território nacional. Dentre os muitos artistas presentes ao certame, estiveram presentes o rabequeiro Beto Brito, parceiro de Zé Ramalho e Geraldo Azevedo, o Multiartista Adiel Luna, e o decano Chico Pedrosa Galvão, o maior declamador em atividade no país.
Em novembro, no dia 18,  com curadoria do cordelista e mestre de capoeira Olegário Alfredo, Minas Gerais realizou o V Encontro Mineiro do Cordel com presenças marcantes como da pesquisadora Simone Santos, a médica e cordelista Paola Tôrres, dentre outros.
Na Bahia, na pequena cidade de Antônio Cardoso, há poucos quilômetros de Feira de Santana, cidade cercada por quilombos, berço do samba e do multartista Antônio Ribeiro da Conceição, Mestre Bule-Bule, ele que é sambador, cordelista, repentista, cantor de sambas e licutixos, ocorreu de 23 a 25 de novembro a  1ª FLIAC - FEIRA LITERÁRIA INTERNACIONAL DE ANTÔNIO CARDOSO, com atrações de várias partes do Brasil e de países da África. A feira teve como principal homenageado seu filho ilustre Bule-Bule. Neste evento ministrei uma aula espetáculo e um recital ao lado do decano da poesia popular mestre Chico Pedrosa. Foram três dias de literatura, paletras, oficinas, contação de histórias, poesia, repente e muito samba tradicional. Até mestre, Bule-Bule cantou, encantou e caiu no samba.
Na pequena e rica Paraíba, mais precisamente na cidade de Pombal, berço do economista Celso Furtado e do grande poeta Leandro Gomes de Barros, um dos principais expoentes da Literatura de Cordel em todos os tempos, ocorreu a 2ª Feira de Cordel Leandro Gomes de Barros organizada pela pesquisadora e professora Ione Severo e professor Lairton Formiga. A feira rolou de 29 de novembro ao dia 01 de dezembro e contou com as presenças de Chico Pedrosa, Silvinha França e muitos outros poetas e pesquisadores, como a presença do jornalista e autor de dois livros importantes para Literatura de Cordel contemporânea Alberto Perdigão.
De 7 a 10 de dezembro a festa foi em Crato, Ceará, no Centro de Cultura do Cariri, onde ocorreu o XV ENCONTRO MESTRES DO MUNDO, com a presença dos maiores mestres da cultura tradicional do estado nas mais diversas linguagens e inúmeros visitantes e pesquisadores. Destaque para o show de Lia de Itamaracá. Dentre os palestrantes e expositores esteve presente os xilogravadores Francorli e Stênio Diniz e o decano Lucas Evangelista, cantador e cordelista.


quinta-feira, 14 de dezembro de 2023

IL GUARANY POR JÚLIO MEDAGLIA

Júlio Medaglia no traço do cartunista Fausto Bergocce

A ópera Il Guarany, baseada no romance homônimo do escritor cearense José de Alencar (1829-1877), com libreto do italiano Antonio Scalvini (1835-1881), já teve inúmeras versões e apresentações praticamente no mundo inteiro. A primeira apresentação dessa ópera foi regida pelo maestro e compositor paulista Antônio Carlos Gomes (1836-1896), no Teatro Scala de Milão.
A ópera Il Guarany é uma criação de Gomes, cuja ária foi gravada por muitos tenores entre os quais o incomparável Caruso. 
Uma das mais bonitas apresentações de Il Guarany teve a batuta do maestro paulistano Júlio Medaglia, na Ópera Nacional de Sófia.
A estreia dessa obra no Exterior por Medaglia ocorreu na sexta-feira 25 de outubro de 1996, ano do centenário da morte de Carlos Gomes "considerado o mais importante compositor operístico das Américas". 
"Subi ao palco tenso, nervoso, mas pra minha alegria deu tudo certo", lembra o maestro Medaglia.
O elenco da ópera regida por Júlio Medaglia contou com 300 artistas e foi transmitida pela TV para diversos países europeus, incluindo a extinta URSS.
A soprano Krasimira Stoianova, à época com 34 anos de idade, incorporou a personagem Cecí (Cecília) e o tenor Rumen Doikov, 43, foi na versão de Medaglia o índio Peri.
Cecí e Peri se apaixonam e enfrentam muitos problemas no decorrer do enredo. Ela é filha do rico português Dom Mariz, que chega ao Brasil com a força de quem quer conquistar grandes espaços. Nesse meio tempo os guaranis se confrontam com a tribo rival dos Aimorés. O sangue corre.
A história traçada por Alencar principia na primeira parte do século 17.
Dom Mariz morre e os Aimorés também.
Carlos Gomes tinha muita gratidão pelo imperador Pedro II. A razão disso é simples: Carlos Gomes, o Tonico de Campinas assim chamado por familiares e amigos tinha uns 14 oy 15 anos quando o imperador o viu tocando na banda musical do pai. Na ocasião foi dito que o procurasse no Império. Anos depois lá foi Gomes estudar música na Corte. A partir daí a sua vida mudou, pois o imperador o mandou à Itália. E lá foi uma sensação. 
No dia 2 de dezembro de 1870, Carlos Gomes subiu ao palco do Teatro Lírico Fluminense para homenagear o imperador regendo a ópera que apresentara mundialmente no Scala, em março daquele ano. 
O 2 de dezembro foi o dia do nascimento do imperador.
Bom, a apresentação de Júlio Medaglia na Ópera Nacional de Sófia foi um sucesso retumbante. Veja e ouça:



quarta-feira, 13 de dezembro de 2023

HOJE É O DIA NACIONAL DO FORRÓ

Ilustração extraída do livro Histórias de Esquina

Foto por João Konai
Foi no dia 06 de setembro de 2005 que o presidente Luis Inácio Lula da Silva, no seu primeiro mandato, sancionou a lei 21.716 que instituiu o Dia Nacional do Forró. Esse dia é comemorado desde então no dia 13 de dezembro.
O dia 13 de dezembro é o dia do nascimento de Luiz Gonzaga, o Rei do Baião.
Luiz Gonzaga nasceu numa fazenda do município pernambucano de Exu. Foi um dos nove filhos do casal Januário e Santana.
Januário era afinador de sanfonas e a mãe uma dona de casa. Foi praticamente às escondidas que o menino Luiz, chamado de Lula, aprendeu os segredos da sanfona. Tinha uns oito anos de idade quando pela primeira vez sentou-se num tamborete para tocar uma sanfona maior que ele próprio. E ao som da sanfona que tocava pessoas da região onde morava dançaram surpresas pelo som agradável que saía do instrumento daquele menino. 
O filho de Januário Santana tinha lá uns dezessete quando levou uma pisa dos pais e fugiu de casa, alistando-se no exército em Crato, CE. Na ocasião conseguiu enrolar os militares mentindo a idade.
A história de Gonzaga até virar Rei do Baião foi longa.
Até hoje já foram compostas e gravadas, mais de 500 composições musicais enaltecendo o nome e o talento do filho de Januário.
Fausto Bergocce e eu publicamos este ano o livro Histórias de Esquina, que está dando o que falar. Nesse livro há um pedaço da história do Rei do Baião. Edição já praticamente esgotada. E em 2012, junto com Osvaldinho do Acordeon, compus uma música pra Gonzaga, esta: 



terça-feira, 12 de dezembro de 2023

ERASMO É O CARA!

Livros clássicos assim chamados são os livros escritos há muito tempo cuja leitura permanece, de algum modo, atual. É o caso, por exemplo, de Elogio da Loucura, de Erasmo de Rotterdam (1466-1536).
Erasmo teve a brilhante ideia de personalizar e dar voz à Loucura.
Essa personagem, que continuará viva sempre a folgar e a incomodar muita gente ao mesmo tempo, arvora-se filha do deus romano Plutão equivalente ao deus grego Hades.
No livro de Erasmo a Loucura pinta e borda, tira sarro de todo mundo e até das instituições. 
O quase padre Erasmo mete o pau na Igreja, através da Loucura.
A Loucura não poupa praticamente ninguém. Não dá bola aos sábios, que considera idiotas; diz que os sucessores dos apóstolos de Cristo são fanáticos, demagogos, charlatões e quase sempre avaros. 
No correr das páginas de Elogio a Loucura o autor, pela boca da sua personagem, diz que quem deveria seguir os mandamentos divinos não os seguem.
Ma verdade, na verdade, a Loucura está em todos nós num grau maior ou num grau menor. O fato é que alguém desprovido de Loucura é desprovido de tudo, seja em que grau for.
No livro famoso de Erasmo há muitas citações a personagens históricos e lendários como Homero, Virgílio, Cícero, Platão, Sócrates, Aristóteles, Aristófanes. 
Na falta de a Loucura elogiar alguém, ela autoelogia-se:

De fato, que mais poderia convir à Loucura do que ser o arauto do próprio mérito e fazer ecoar por toda parte os seus próprios louvores? Quem poderá pintar-me com mais fidelidade do que eu mesma? Haverá, talvez, quem reconheça melhor em mim o que eu mesma não reconheço? De resto, esta minha conduta me parece muito mais modesta do que a que costuma ter a maior parte dos grandes e dos sábios do mundo. É que estes, calcando o pudor aos pés, subornam qualquer panegirista adulador, ou um poetastro tagarela, que, à custa do ouro, recita os seus elogios, que não passam, afinal, de uma rede de mentiras. E, enquanto o modestíssimo homem fica a escutá-lo, o adulador ostenta penas de pavão, levanta a crista, modula uma voz de timbre descarado comparando aos deuses o homenzinho de nada, apresentando-o como modelo absoluto de todas as virtudes, muito embora saiba estar ele muito longe disso, enfeitando com penas não suas a desprezível gralha, esforçando-se por alvejar as peles da Etiópia, e, finalmente, fazendo de uma mosca um elefante. Assim, pois, sigo aquele conhecido provérbio que diz: Não tens quem te elogie? Elogia-te a ti mesmo.
Pois bem, a Loucura é uma loucura. Está em todo canto, em todas as cabeças masculinas ou femininas.
Na leitura de Erasmo a Loucura aparece de modo mais natural, portanto mais original, na cabeça das crianças e dos idosos.

Por tudo isso, observai, senhores, que, quanto mais o homem se afasta de mim, tanto menos goza dos bens da vida, avançando de tal maneira nesse sentido que logo chega à fastidiosa e incômoda velhice, tão insuportável para si como para os outros. E, já que falámos de velhice, não fiqueis aborrecidos se por um momento chamo para ela a vossa atenção. Oh! como os homens seriam lastimáveis sem mim, no fim dos seus dias! Mas, tenho pena deles e estendo-lhes a mão. Não raro, as divindades poéticas socorrem piedosamente, com o divino segredo da metamorfose, os que estão prestes a morrer: Fetonte transforma-se em cisne, Alcion em pássaro, etc. Também eu, até certo ponto, imito essas benéficas divindades. Quando a trôpega velhice coloca os homens à beira da sepultura, então, na medida do que sei e do que posso, eu os faço de novo meninos. De onde o provérbio: Os velhos são duas vezes crianças.
De tudo tem no livro Elogio da Loucura. 
No referido livro o autor, sempre pela boca da Loucura, diz do nascimento e da morte; da vaidade narcisista, da gratidão, do amor, verdade, mentira, da volúpia... 

Que seria esta vida, se é que de vida merece o nome, sem os prazeres da volúpia? Oh! Oh! Vós me aplaudis? Já vejo que não há aqui nenhum insensato que não possua esse sentimento. Sois todos nuito sábios, uma vez que, a meu ver, loucura é o mesmo que sabedoria. Podeis, pois, estar certos de que também os estóicos não desprezam a volúpia, embora astutamente se finjam alheios a ela e a ultrajem com mil injúrias diante do povo, a fim de que, amendontrando os outros, possam gozá-la mais freqüentemente. Mas, admitindo que esses hipócritas declamem de boa fé, dizei-me, por Júpiter, sim, dizei-me se há, acaso, um só dia na vida que não seja triste, desagradável, fastidioso, enfadonho, aborrecido, quando não é animado pela volúpia, isto é pelo condimento da loucura. Tomo Sóflocles por testemunho irrefragável, Sóflocles nunca bastante louvado. Oh! nunca se me fez tanta justiça! Diz ele, para minha honra e minha glória: “Como é bom viver! mas, sem sabedoria, porque esta é o veneno da vida”. Procuremos explicar essa proposição.

Volúpia tem a ver com sensualidade, prazer, sexo; infidelidade... Erasmo:

O que dissemos da amizade também pensamos e com mais razão dizemos do matrimônio. Trata-se (como deveis estar fartos de saber) de um laço que só pode ser dissolvido pela morte. Deuses eternos! Quantos divórcios não se verificariam, ou coisas ainda piores do que o divórcio, se a união do homem com a mulher não se apoiasse, não fosse alimentada pela adulacão, pelas carícias, pela complacência, pela volúpia, pela simulação, em suma, por todas as minhas sequazes e auxiliares? Ah! como seriam poucos os matrimônios, se o noivo prudentemente investigasse a vida e os segredos de sua futura cara metade, que lhe parece o retrato da discrição, da pudicícia e da simplicidade! Ainda menos numerosos seriam os matrimônios duráveis, se os maridos, por interesse, por complacência ou por burrice, não ignorassem a vida secreta de suas esposas. Costuma-se achar isso uma loucura, e com razão; mas é justamente essa loucura que torna o esposo querido da mulher, e a mulher do esposo, mantendo a paz doméstica e a unidade da família. Corneia-se um marido? Toda a gente ri e o chama de corno, enquanto o bom homem, todo atencioso, fica a consolar a cara-metade, e a enxugar com seus ternos beijos as lágrimas fingidas da mulher adúltera. Pois não é melhor ser enganado dessa forma do que roer-se de bílis, fazer barulho, pôr tudo de pernas para o ar, ficar furioso, abandonando-se a um ciúme funesto e inútil?

Por fim, no excepcional livro de Erasmo, lê-se que a Loucura não é chegada à memória. Na verdade, a Loucura detesta a memória: 

Esperais um epílogo do que vos disse até agora? Estou lendo isso em vossas fisionomias. Mas, sois verdadeiramente tolos se imaginais que eu tenha podido reter de memória toda essa mistura de palavras que vos impingi. Em lugar de um epílogo quero oferecer-vos duas sentenças. A primeira, antiquíssima, é esta: Eu jamais desejaria beber com um homem que se lembrasse de tudo. E a segunda, nova, é a seguinte: Odeio o ouvinte de memória fiel demais. E, por isso, sedes sãos, aplaudi, vivei, bebei, oh celebérrimos iniciados nos mistérios da Loucura.

O livro Elogio a Loucura foi originalmente publicado em 1511, dois anos depois de ser escrito. Provou e ainda provoca polêmica. Sempre.

segunda-feira, 11 de dezembro de 2023

POR QUE SE MATA TANTO?

Não sei exatamente o que leva os poderosos a fazer guerra mundo a fora. Isso desde tempos imemoriais.

O que move os poderosos a matar crianças,  mulheres nesse mundo de meu Deus do céu e do Diabo dos infernos, será que é o poder pelo poder ou simplesmente a vontade louca de acabar com a própria raça?

A Rússia está engolindo a Ucrânia há quase dois anos.

O terror do Hamas engoliu crianças, mulheres, homens e um pedaço da esperança da região invadida, na manhã do último 07 de outubro, há quase dois meses.

A uma ação segue-se uma reação, como prova a Ciência.

É gente morrendo como diacho mundo a fora.

Os conflitos sangrentos pipocam no continente africano, formado por cinquenta e quatro países.

Agora, como se não bastasse, o ditador de plantão da Venezuela botou as garras de fora enquanto baba e ameaça aos berros invadir a pacata e rica Guiana que faz fronteira com este nosso País.

Escutei há pouco o ministro da defesa José Múcio dizer, pacientemente, que o Brasil não permitirá de modo algum que o podre Maduro invada o território da Guiana.

Pois é, foi na África que surgiu o tal homo sapiens.

BOM PAPO NO VIRGULINO

Fui, não vi e gostei.
Não vi porque meus olhos não me deixam ver. Ai, ai, ai...
Pois é: sábado fui conhecer o mais novo restaurante de culinária nordestina. Fica pertinho daqui de casa, no bairro paulistano de Santa Cecília e tem por nome Virgulino. Fica na Martin Francisco, 111. Seu proprietário é um mineiro chamado Wagner Martins. Bom papo e coisa e tal.
Quem me levou ao Virgulino foi Luiz Wilson e a sua excepcional produtora musical e cantora Fatel. Téo Azevedo, o craque das quebradas de Montes Claros, MG, foi conosco. Ele e a filha, Ana Cláudia.
Além de saborear uma feijoada "laite", molhei o bico com um tiquim de uma caninha muito da mimosa feita lá na minha terrinha paraibana. Pois, pois.
Na ocasião, começo de tarde, findei por fazer um papo com Wagner, Téo Azevedo, Fatel e Luiz Wilson.
Wilson está lançando o segundo livro da carreira. É este aqui (aí em cima, na foto). O título já diz tudo: Minha Terra Minha Gente Minha Vida.
Já o leram pra mim. Meu ouvido gostou. Ele conta tudo ou quase tudo que lhe a aconteceu e o que  continua a lhe acontecer, desde seu nascimento em Pernambuco e sua presença cá em São Paulo. Ah! Sim: tem até foto minha no livro, pra quem não gosta de ler.
Recomendo a leitura do novo livro de Luiz Wilson, que oficialmente foi lançado sexta-feira no Virgulino. Entre inúmeros amigos, amigas e admiradores e tal, estiveram prestigiando o autor que também é radialista (Rádio Imprensa FM), a empresária Isabel Soares, Carol, Anastácia, Daniel Gonzaga, Cajú e Castanha, o cordelista Varneci, Dantas do Forro e Cacá Lopes.
O papo feito lá no restaurante Virgulino está aí embaixo. Clique:

domingo, 10 de dezembro de 2023

LICENCIOSIDADE NA CULTURA POPULAR (59)

Muita gente já falou a respeito de prostituição, cafetina, rufião, bordel e tudo mais. Isso em tudo em muitas línguas de países pobres ou ricos, livres ou ditatoriais, conservadores e tal.
Esse tema tem sido abordado na poesia, no romance; no teatro, no cinema, por aí.
Mas uma coisa é literatura, ficção. Outra coisa é a realidade que quando não mata deixa marcas. A coisa é séria.
Em 1982, a Edições Paulinas reuniu estudiosos para exporem suas ideias no livro A Prostituição em Debate. Nesse livro há interessantes artigos como A Mulher de "Vida Fácil" Numa Conjuntura Difícil, A Prostituição Aspectos Jurídicos, De Canaã a Corinto: o Sexo Explorado, escritos respectivamente por José Alberto da S. Curado, Euclides Benedito de Oliveira e Airton José da Silva.
Na artigo De Canaã a Corinto, o autor começa assim:

"Em face do fenômeno da prostituição, quando abordado teologicamente, uma pergunta logo se impõe: o que diz a Bíblia? Pergunta que vem acompanhada, logicamente, pela necessidade de maiores precisões: era fenômeno conhecido nas épocas do Antigo e Novo Testamento? Como foi visto e tratado pela sociedade israelita e pelos primeiros cristãos? Há na Sagrada Escritura alguma pista para a solução do problema?".
A prostituição em si nunca foi um problema que afetasse de modo negativo todos os povos. Houve em civilizações antigas igualdade entre homens e mulheres no tocante a sexo.
Em alguns lugares de antigamente a mulher adúltera era punida com apedrejamento até à morte. No tempo de Cristo, o próprio Cristo partia contra os  agressores  e a favor das mulheres.
No livro Historia da Prostituição em Todos Os Povos do Mundo Desde A Mais Remota Antiguidade Até Aos Nossos Dias, de 1885, o autor Pedro Dufour dá um mergulho profundo nessa questão trazendo à tona o comportamento de povos antigos, como o gauleses.
Na Galícia, a prostituição era praticada nas sombras das árvores, de modo sutil e distante de olhos indiscretos e era coisa rara.

(CONTINUA NA PRÓXIMA EDIÇÃO…)
Foto e reproduções de Flor Maria e Anna da Hora

sábado, 9 de dezembro de 2023

LICENCIOSIDADE NA CULTURA POPULAR (58)

Fora a música, a temática aqui abordada estende-se pelas áreas mais diversas da cultura popular.
No campo da literatura de cordel o primeiro autor a escrever e a publicar um folheto narrando o cotidiano de um bordel foi o paraibano Leandro Gomes de Barros. Título: Meia Noite no Cabaré.
Depois de Leandro, vieram inúmeros outros cordelistas escrevendo sobre o assunto. Exemplos: Velório no Cabaré, Antonio Leite; O Velho no Cabaré, Tiago Monteiro; O Pau-de-Sebo no Cabaré de Tumbaúba,  Marco Di Aurélio; Lampião no Cabaré do Oscar Frota, Lucarocas; A Deusa do Cabaré, Adalgiso de Oliveira; O Rufião Broxa Que Não Largou o Vício de Ficar na Rua Com Prostitutas, K. Gay Nawara; ABC da Meretriz, Bonelfo Coelho Cavalcante.
O pernambucano de Bezerros J. Borges é o mais longevo, criativo e reconhecido xilogravador do Brasil. Suas xilos já ilustraram inúmeros livros de autores nacionais e estrangeiros, como Eduardo Galeano (1940-2015). 
Além de xilogravador consagrado mundo afora, Borges também estende o seu talento no campo da literatura popular.  Entre tantos folhetos que já publicou, destaque para A Chegada da Prostituta no Céu. Já no começo desse folheto, Borges escreve:

Do rosto da poesia
Eu tirei o santo véu
E pedi licença a ela
Para tirar o chapéu 
E escrever a chegada 
Da prostituta no céu

Sabemos que a prostituta
É também um ser humano 
Que por uma iludição 
Fraqueza ou desengano 
O seu viver é volúvel 
Sempre abraça ao engano

Em 1975, a diretora de cinema Tânia Quaresma (1950- 2021) assinou o longa Nordeste: Cordel, Repente e Canção. Nesse filme, uma pérola do gênero, aparecem os ainda iniciantes Zé Ramalho e a dupla de emboladores Caju e Castanha. Aparece também o poeta e rabequeiro Cego Oliveira (1912-1997) interpretando um verdadeiro clássico da poesia popular. Um trecho:

Estava cantando em Goiânia
Na casa de um amigo
Quando uma mulher mundana
Chegou pra falar comigo...

Por Deus escreva um poema
Relativo ao meu dilema
Na Porta dos Cabarés

Deixei a casa paterna
Com 15 anos de idade
Para viver na taverna
De escândalo e vaidade...

De chorar tenho razões 
Sem ter dos meus pais notícias
Por pai, por mãe e por irmão
Eu tenho somente a polícia...

E agora meus senhores
Acabei de terminar
Hajam de me desculpar...

sexta-feira, 8 de dezembro de 2023

OS HORRORES DE BARBACENA

Pergunto por perguntar: o que havia em comum entre o escritor Lima Barreto, o jogador de futebol Heleno de Freitas, o playboy João Acácio e a dona de casa Letícia Poletti?
Bom, Lima Barreto passou temporadas num hospício no Rio de Janeiro. Morreu em novembro de 1922, deixando uma obra maravilhosa.
Heleno de Freitas era um cara muito bonito, charmoso, advogado e um futebolista excepcional. Morreu num hospital psiquiátrico de Barbacena, MG. Ano: novembro de 1959.
João Acácio, que ficou conhecido como Bandido da Luz Vermelha, depois de preso pela polícia de São Paulo, foi enviado ao hospital psiquiátrico de Franco da Rocha, SP, onde permaneceu durante uns 30 anos. Morreu a tiros num bar em Santa Catarina, em 1998.
Barreto escreveu Diário do Hospício e o romance (inacabado) Cemitério dos Vivos, em que conta os momentos que viveu como "doido" no hospital. 
Sobre Heleno de Freitas há um livro e pelo menos um filme. Dizem as boas ou más línguas que Freitas chegou a ter um caso com Eva Perón, Evita, quando integrou o Boca Juniors. 
Acácio, que cheguei a entrevistar no manicômio, foi o personagem título do filme Bandido da Luz Vermelha.
Já houve quem questionasse sobre o fato de um louco poder ou ter condições de escrever obras-primas e tal.
No livro A História da Loucura o autor Michel Foucalt, diz lá pras tantas que "a loucura do homem é um espetáculo divino". E que "o mundo aos olhos de Deus é uma loucura".
O assunto é muito importante e já foi falado de muitas formas. Mas necessário se faz, sempre, falar de Elogio da Loucura, do holandês Erasmo de Roterdã (1466-1536). Nesse livro, Erasmo dá voz à loucura.
"De médico e louco, todos nós temos um pouco", segundo o dito popular.
Pois bem, Letícia Poletti ficou órfã da mãe quando tinha 10 anos de idade. Ainda tinha essa idade quando o pai pegou uma mulher e sumiu, deixando pra trás Letícia e três irmãos que foram enfiados num orfanato em Minas. Ao sair do orfanato, Letícia teve um homem arrumado por um irmão. Esse homem casou-se com ela.
A vida de Letícia Poletti foi um inferno, ao lado do marido João de Souza.
Com João, Letícia teve três filhas.
O detalhe trágico nessa história toda é que Letícia apanhava muito do marido e um dia resolveu fugir. 
Ao tentar ficar com a guarda das filhas, Letícia foi de novo agredida pelo marido e levada a uma delegacia onde também apanhou. Em seguida, o marido, que era um cara muito rico, a "internou" no hospital Colônia de Barbacena. Morreu novinha, aos 36 anos de idade.
O hospital de Barbacena foi inaugurado em 1903, virou espécie de prisão em 1911 e num ano qualquer de 1980 foi fechado. No seu lugar foi criado o Museu da Loucura.
Conta a história que morreram pelo menos 60 mil "internos" do hospital Colônia de Barbacena.
A vida trágica de Letícia Poletti é reconstituída e muito bem narrada no podcast O Coração nas Sombras, cujo roteiro traz a assinatura de Paulo Garfunkel, o Magrão, também autor da vinheta de abertura do documento.
A história de Letícia é contada em quatro episódios. Ouvi três, que compartilho com vocês:


quinta-feira, 7 de dezembro de 2023

LUIS WILSON CONTA SUA HISTÓRIA EM LIVRO

O cantor e compositor pernambucano Luís Wilson está contando em livro as suas origens e trajetória profissional. 
No livro Minha Terra Minha Gente Minha Vida (Editora Areia Dourada), Wilson lembra que está em São Paulo há quase três décadas. Trabalhou no comércio varejista e há 15 anos apresenta o programa Pintando o 7, aos domingos (das 10 às 12h) na Rádio Imprensa. É um programa apresentado ao vivo, com a participação na produção da cantora mineira Fatel.
A obra de Luis Wilson está distribuída num compacto, LP e CDs. Tem parceria com muita gente bonita, como Anastácia. A propósito, os dois acabam de lançar o forró A Corda e a Caçamba.
Em 2009 Wilson publicou o livro Vendendo e Aprendendo em Cordel, em pouco tempo esgotado.
Minha Terra Minha Gente Minha Vida será lançado amanhã 8, a partir das 19h, no restaurante Virgulino.
Você vai ao lançamento do livro de Luis Wilson? Eu vou!




LEIA MAIS: NO RÁDIO: MÚSICA DO NORDESTE (1)

quarta-feira, 6 de dezembro de 2023

É PALMEIRAS NA CABEÇA!

Logo mais as 21h 30, em Belo Horizonte, o Palmeiras sairá do Mineirão com a taça de campeão do Brasileirão, depois de enfiar uns três gols na caçapa do Cruzeiro. Será a 12ª taça, para a alegria dos seus torcedores.
Todos ingressos foram vendidos antecipadamente.
O primeiro título de campeão do Brasileirão o Palmeiras papou em 1959.
É claro que o português Abel Ferreira está botando banca de mestre, como técnico do Palmeiras há três anos. Até agora são oito títulos que deu ao time e de tabela, aos palmeirences.
O Palmeiras foi fundado em 1914, com o título de Palestra Itália. O nome mudou  no começo da 2ª Grande Guerra.
Um dos maiores ídolos do Palmeiras é o carioca Ademir da Guia, hoje com 81 anos de idade. Mora no bairro paulistano de Perdizes.
Um dos grandes torcedores do Palmeiras foi o cantor Silvio Caldas (1908-1998). Pra seu time, Sílvio fez e cantou a música Tarantela Verde e Branco. Ouça:


VANDRÉ É HOMENAGEADO EM FESTIVAL DE CINEMA

Assis, Geraldo e Medaglia
Exatos 55 anos e dois meses depois da histórica noite de apresentação de Pra Não Dizer que Não Falei de Flores, ou Caminhando, o seu autor o paraibano Geraldo Vandré reuniu a imprensa hoje 6 para falar a respeito da homenagem que recebeu do 18° Festival de Cinema Aruanda. A entrevista ocorreu em João Pessoa, PB.
Durante a "sabatina", Vandré confirmou a informação de que o refrão de Caminhando foi feito de improviso enquanto apresentava a música no Festival Internacional da Canção realizado em outubro de 1968, no Maracanãzinho, RJ.
Em junho deste ano de 2023 Geraldo Vandré concedeu a primeira entrevista à TV Bandeirantes depois que voltou do exílio em 1973.
A homenagem do Aruanda se completará com a exibição de um documentário sobre ele feito por uma televisão da Bulgária, em 1970. A exibição desse documento ocorrerá no auditório do Hotel Manaíra na Capital paraibana logo mais, nesta noite.
A entrevista à Bandeirantes ocorreu dois dias antes da prosa que tivemos com ele e o maestro paulistano Júlio Medaglia. 
No começo da carreira, Vandré teve pelo menos uma música com arranjos de Medaglia.




terça-feira, 5 de dezembro de 2023

A LEVEZA DE KUNDERA NUM DE SEUS CLÁSSICOS

A história é boa e muito bem contada. Passa-se no decorrer da invasão russa em Praga, na República Tcheca, antiga Tchecoslováquia. No enredo se acham dois homens e três mulheres. 
Tereza é uma mulher simples que trabalha num banco. Certo dia, surge a sua frente um médico muito bem quisto num hospital onde dá expediente. Seu nome: Tomas. 
Os personagens aqui já citados vivem sob o regime comunista. 
A segunda mulher que aparece no romance A Insustentável Leveza do Ser, de Milan Kundera, é uma artista plástica chamada Sabina. 
Além de Tereza, Tomas e Sabina, surge de repente o casal Franz e Marie Claude. 
Tomas e Tereza é um casal como outro qualquer da vida real. Ela é independente, tem o seu trabalho e tal. Ele é do tipo libertino, daqueles que não se controlam diante de um rabo de saia. Tereza não liga, tanto que um dia descobre Sabrina na vida do marido. Chega até a ir ao ateliê da artista. Dão-se bem. Lá pras tantas, Sabina tira a roupa e o mesmo faz Tereza. Riem, enquanto Sabina lhe conta sua história. 
A história de Kundera ganha ritmo quando Sabina se muda de cidade indo pra Suíça, onde faz amizade com um casal de idosos muito ricos. Nesse meio tempo, Sabina dá em cima de um professor nomeado pelo autor como Franz. 
O fim da história é interessante, mas não vou adiantar. Acrescento, porém, que o médico cai em desgraça ao ter publicado no jornal de linha comunista uma carta em que sugere que os líderes do partidão ceguem os olhos como fez o personagem  Édipo.
Quanto ao casal Franz e Marie, bom... 
Recomendo a leitura do belíssimo A Insustentável Leveza do Ser.
Kundera (1929-2023) era de origem tcheca.

segunda-feira, 4 de dezembro de 2023

DIA DA RAPADURA

Cachaça é um aperitivo, uma coisa boa, advinda de uma planta chamada cana.
A cana nos deu açúcar, aperitivo alcoólico e rapadura.
Rapadura é o suco da cana, não no seu estagio de fermentação.
Desse estagio de fermentação resulta o bom álcool cachaçal.
A cana como planta vem do mundo asiático.
A Índia foi o primeiro país a descobrir a cana. Corria o século V a.C.
O papo é bom, gostoso, enebriante.
Em 1532 chegou ao Brasil o português Martim Afonso de Souza. Navegador.
Em 1533 o Souza citado criou o primeiro engenho no Brasil. Ali em São Vicente, nossa primeira cidade como tal falada.
E a rapadura?
No Brasil a rapadura nasceu junto com o açúcar.
Nosso primeiro produto pecuário.
A rapadura, derivada da cana de açúcar, é produzida em três ou quatro dezenas de países.
A Índia lidera a produção de cana. 
O país que mais consome rapadura é a Colômbia. Cada colombiano ingere pelo menos 30kg de rapadura/ano.
Até aqui falei e falei. E antes de falar mais, sugiro aos políticos de plantão que criem o dia nacional da rapadura.
A rapadura exista na literatura popular, literatura erudita e na música. 
A quem interessar, sugiro a leitura dos livros do escritor paraibano José Lins do Rego (1901-1957).


LEIA MAIS: KLÉVISSON VIANA LANÇA MAIS UM BELO LIVRO

domingo, 3 de dezembro de 2023

LICENCIOSIDADE NA CULTURA POPULAR (57)

Corria os anos de 1960 quando o baiano de Irará Tom Zé conquistava o primeiro lugar do IV Festival de Música Popular Brasileira promovido pela TV Record. A música premiada tinha por título São São Paulo, meu Amor. Um trecho: 

Salvai-nos por caridade
Pecadoras invadiram
Todo o centro da cidade 
Armadas de rouge e batom
Dando vivas ao bom humor 
Num atentado contra o pudor 
A família protegida
O palavrão reprimido
Um pregador que condena
Uma bomba por quinzena
Porém com todo defeito
Te carrego no meu peito

A propósito bordel, prostituição e coisas do gênero como orgia se acham às pampas na discografia da nossa música popular. Alguns títulos e autores: Orgia, de Luiz Peixoto e A. Neves; Cabaré, de João Bosco; Bordel Lilás, Pablo; Mulher de Bordel, Adalberto e Adriano; Rei do Puteiro, Gasparzinho; Tango do Meretrício, João de Almeida Neto; Vida de Cabaré, Felipão; Mulher de Cabaré, de Luiz Guimarães. 
E quase todos os grandes e conhecidos cantores e cantoras gravaram discos interpretando coisas que tais. Nelson Gonçalves foi um deles, como Chico Alves, Orlando Silva, Sílvio Caldas, Alceu Valença, Roberto Müller, Marília Batista, Zaira Cavalcanti, Elis Regina e mais tantos e tantas.
Marília gravou, de Noel Rosa, a canção dor de
corno A dama do Cabaré. Essa dama é conquistada num papo de meia hora.  
O piauiense Roberto Müller, de batismo, é dos anos 30 e em 1975 gravou o bolerão de Luiz Guimarães, Mulher de Cabaré. Lá pras tantas, ele canta:

Mulher de cabaré
Não tem amor sincero
Mulher de cabaré
Eu amo, mas não quero
Sob luzes fluorescentes
Passa a noites acordada
Forçada a um copo de bebida
Morta de sono amargurada.

Nelson, dentre todos, foi provavelmente o artista que mais gravou músicas falando de orgia, bordel, prostituição e prostituta. Alguns exemplos: Abre a Janela, Auto-retrato, Fica Comigo Esta Noite, Leviana, Quem há de dizer, Meu vício é você, Dolores Sierra e o tango Carlos Gardel, de David Nasser e Herivelto Martins. Lá pras tantas diz a letra:

Carlos Gardel
Se cantavas a tragédia das perdidas
Compreendendo suas ouvidas
Perdoavas seu papel

Por isso enquanto houver um tango triste
Um otário, um cabaret, uma guitarra 
Tu viverás também 
Carlos Gardel

Além de cantoras e cantores, o tema também tem sido gravado por grupos musicais como O Raimundos.
Esse grupo, formado no ano de 87 em Brasília, começou a gravar disco quatro anos depois. 
Em 1994, o Raimundos lançou sua música mais famosa: Puteiro em João Pessoa. No puteiro do título em questão um dos integrantes do grupo perdeu a sua inocência. O chargista Angeli conta essa história em quadrinhos.

(CONTINUA NA PRÓXIMA EDIÇÃO…)
Foto e reproduções de Flor Maria e Anna da Hora

sábado, 2 de dezembro de 2023

LICENCIOSIDADE NA CULTURA POPULAR (56)

A Bíblia dá conta de que cornos são a representação da força e do poder divinos.
O bordel mais famoso do Estado de São Paulo foi a Casa de Eny, em Bauru.
Muita gente importante e conhecida virou noites nesses bordéis, cujos produtos de comer, de comer mesmo, custavam os olhos da cara. 
Essa casa de Bauru foi estudada por Lucius de Mello, autor do livro Eny e o Grande Bordel Brasileiro. 
No La Licorne passaram nomes como Nat King Cole, Julio Iglesias e Henry Kissinger para quem "o poder é afrodisíaco".
Da área do cinema norte-americano foi visto num dos inferninhos da noite paulistana um cara chamado John Wayne, figurinha carimbada dos filmes de faroeste. 
"Os conservadores não têm por que temer o futuro do bordel", escreve Murphy no seu livro. E acrescenta: 
"Depois de mais de 3 mil anos de serviços à comunidade, poucos duvidam que ele irá sobreviver sob uma ou outra forma durante milhares de anos mais, ou pelo menos enquanto continuar sendo uma fonte de renda".
Os bordéis se metamorfoseam e se multiplicam por aí das formas as mais diversas.
Sempre haverá uma mulher ou homem dispostos a oferecer o corpo. Os lugares para uso dele podem variar: ora uma casa, ora um apartamento. Pode ser também num sítio alugado ou próprio. 
Os caminhos de acesso ao prazer sexual são fáceis. Para tanto, basta um clique num site pornô e, como num passe de mágica, aparecerá ou aparecerão uma ou mais mulheres ou homens, dependendo do gosto do interessado ou interessada.
A imaginação humana não tem limite.
O escritor japonês Yasunari Kawabata no livro A Casa das Belas Adormecidas conta a história de uma hospedaria que tinha como especialidade oferecer aos velhotes que a procuravam moçoilas belas e virgens.
O detalhe da narrativa feita por Kawabata, Nobel de Literatura em 1968, é que as mocinhas ofertadas estavam sempre deitadas nuas, dormindo, sob o efeito de drogas. 
Os clientes dessa história pagavam para admirar esses corpos inertes, sem avançar o "sinal".
Em última análise, a tal hospedaria era uma espécie de bordel. 

POSTAGENS MAIS VISTAS