Seguir o blog

terça-feira, 25 de agosto de 2020

PRESIDENTE BUNDÃO (1)

Quem nasceu no Nordeste ali pelos anos de 1950 saberá o que agora digo: a molecada daquele tempo, sem saudosismo, era muito incherida.
Incherida quer dizer atrevida, metida a besta, que falava palavrão como se fosse palavrinha. Isto é: palavrão sem a conotação de agressão.
Aliás, a molecada dos anos de 1950 respeitava o próximo e os adultos. Mas aprontava.
Naquele tempo dos anos 50, um pouco antes ou depois, a meninada era incherida porque adorava fazer da palavrinha um palavrão. Exemplo?
Lembro quando, ali com meus oito, dez anos, um moleque da minha idade ousava me chamar de fela da puta.
Eu ficava uma arara, quando um bostinha me chamava de fela da puta.
Quando me chamavam de fela da puta, ou eu chamava os outros de fela da puta, a resposta era: "fela da puta é quem me chama/ fela da puta é araruta/ teu pai é corno/ tua mãe é puta".
Dizíamos isso com a cara feia, cheia de ira, raiva. Era um desabafo.
Sabem aquela coisa de torcida xingando juiz? Pois é.
Lembro disso tudo, porque ouvi há pouco notícia dando conta de que o nosso querido presidente da república chamou, ousadamente, os jornalistas de bundões. Que horror! Que ousadia, vinda da boca de um presidente!
Se isso fosse dito naqueles tempos passados a que há pouco me referi, é certo que algum moleque responderia cheio de raiva: "bundão é quem me chama...".
Coisa triste, não é mesmo?
Como é que pode o presidente não respeitar a cadeira, a faixa e o cargo importantíssimo que o povo, através da urna, lhe concedeu?
É bom respeitar para ser respeitado, não é mesmo?
Quem não respeita, corre o risco seriíssimo de não ser respeitado.
Pois bem, bundão é quem me chama.


POSTAGENS MAIS VISTAS