Acabo de ler A Hora da Estrela, obra prima, em que o real e a fantasia se encontram de modo perfeito, sem tirar nem por. Algo como também acontece no romance Os Capitães da Areia, do velho Jorge.
A criatividade de Clarice no seu mundo real é, sem dúvidas, im pres sio nan te!
Primeiro Clarice inventa um narrador: Rodrigo S. M..
Em seguida o narrador por Clarice inventado inventa Macabéa e seu primeiro e único namorado Olímpico de Jesus Moreira Chaves. O sobrenome, como diz o narrador, pura bobagem.
Macabéa é um ser inventado de uma realidade incrível. Ela vem das Alagoas, terra do Graciliano e do meu amigo Audálio Dantas.
Olímpico é paraibano, que nem eu.
Macabéa, uma jovenzinha minguada de nascimento cheia de fome e sonhos que vem aportar na grande cidade do Rio de Janeiro. É lá que se passa a história. Macabéa tem 19 anos de idade quando chega lá.
Órfã, com os pais perdidos ali quando tinha uns 2 ou 3 anos, nada sabe de nada, fez o primeiro ou segundo ano primário. Fala mal e escreve pior. A sorte dela foi fazer um curso de datilografia, por iniciativa da tia ranzinza, que foi não foi lhe dava uns cascudos para que se endireitasse na vida.
No Rio, morando nas proximidades da zona do Mangue, de malandros e prostitutas, Macabéa vai vivendo num quarto de pensão dividido por quatro Marias, todas simples como ela. Uma delas lhe empresta um rádio e Macabéa se informa e se ilustra com a cultura descartável que ouve. Ficou sabendo, por exemplo, que o cavalo é o único animal que não abusa do filho. E um dia ela encontra o paraibano personagem Olímpico de jesus etc. Olímpico, também semianalfabeto, sonha alto, quer ser deputado. Olímpico é uma figura real saída da imaginação de Clarice Lispector. O que dizer mais? o óbvio: A Hora da Estrela é uma obra prima, cujo personagem central se confunde com todas as Marias da vida real e irreal, como a Dora do romance Os Capitães da Areia. E nada mais direi.
Viva Clarice Lispector.
A Hora da Estrela virou filme em 1985, oito anos após lançado o livro. Assista:
PALHAÇO
O palhaço Piccolino paulista de Ribeirão Preto morreu no dia em que nasceu Clarice Lispector, 10 de dezembro. Ele tinha 96 anos de idade, completados no dia 07 de novembro passado. A tristeza e a alegria se misturam. Tudo é palhaçada. Clarice entendia isso per fei ta men te. Ela era no mais das vezes de sentimento publicamente triste. Clarice, como Piccolino se completavam nas suas alegrias de viver. Clarice de câncer. Piccolino de falência múltipla dos órgãos. E viva a vida! Aliás, o dia 10 de dezembro é o dia do Palhaço!