O narrador dessa história, A Outra Anita, não é homem nem mulher, é um gato. Um gato preto sem nome, mas muito simpático. Está em todas as páginas ou em quase todas as páginas da biografia em quadrinhos da pintora Anita Malfatti (1889-1964), que a Faria e Silva acaba de editar.
O gato em questão, ao assumir a persona de narrador, começa logo dizendo: “Inquieta. Foi o que me atraiu nela. Inquieta de corpo e alma”.
Anita Catarina Malfatti nasceu na capital paulista. Com problema na mão direita, aprendeu a pintar com a mão esquerda. Estudou na Alemanha e nos Estados Unidos. Tinha 25 anos quando exibiu em público seus primeiros quadros. Sem repercussão nenhuma. Três anos depois, em 1917, realizou pra valer a sua primeira exposição individual. Essa exposição recebeu o olhar atento e severo do paulista de Taubaté Monteiro Lobato (1882-1948).
Sem papas na língua e com muito desembaraço na caneta, Lobato publicou um contundente artigo no jornal O Estado de S.Paulo, edição de 20 de dezembro daquele mesmo ano. Após ampla justificativa para o que dizia, ou para o que ia dizer, começou:
O gato em questão, ao assumir a persona de narrador, começa logo dizendo: “Inquieta. Foi o que me atraiu nela. Inquieta de corpo e alma”.
Anita Catarina Malfatti nasceu na capital paulista. Com problema na mão direita, aprendeu a pintar com a mão esquerda. Estudou na Alemanha e nos Estados Unidos. Tinha 25 anos quando exibiu em público seus primeiros quadros. Sem repercussão nenhuma. Três anos depois, em 1917, realizou pra valer a sua primeira exposição individual. Essa exposição recebeu o olhar atento e severo do paulista de Taubaté Monteiro Lobato (1882-1948).
Sem papas na língua e com muito desembaraço na caneta, Lobato publicou um contundente artigo no jornal O Estado de S.Paulo, edição de 20 de dezembro daquele mesmo ano. Após ampla justificativa para o que dizia, ou para o que ia dizer, começou:
Há duas espécies de artistas. Uma composta dos que vêem normalmente as coisas e em consequência disso fazem arte pura, guardando os eternos ritmos da vida, e adotados para a concretização das emoções estéticas, os processos clássicos dos grandes mestres. Quem trilha por esta senda, se tem gênio, é Praxíteles na Grécia, é Rafael na Itália, é Rembrandt na Holanda, é Rubens na Flandres, é Reynolds na Inglaterra, é Leubach na Alemanha, é Iorn na Suécia, é Rodin na França, é Zuloaga na Espanha. Se tem apenas talento, vai engrossar a plêiade de satélites que gravitam em torno daqueles sóis imorredouros. A outra espécie é formada pelos que vêem anormalmente a natureza, e interpretam-na à luz de teorias efêmeras, sob a sugestão estrábica de escolas rebeldes, surgidas cá e lá como furúnculos da cultura excessiva. São produtos do cansaço e do sadismo de todos os períodos de decadência: são frutos de fins de estação, bichados ao nascedouro. Estrelas cadentes, brilham um instante, as mais das vezes com a luz do escândalo, e somem-se logo nas trevas do esquecimento. Embora eles se dêem como novos precursores duma arte a vir, nada é mais velho do que a arte anormal ou teratológica: nasceu com a paranóia e com a mistificação…
O Gato e o Violino, por Anita Malfatti |
No jornal, o texto de Lobato recebeu o título A Propósito da Exposição de Malfatti. Esse texto seria em seguida publicado no livro Idéias de Jeca Tatu.
O artigo de Lobato foi de extrema importância para a carreira artística de Anita.
A primeira vontade pessoal de Monteiro Lobato era ser artista plástico. Seus bicos de pena são ótimos. Mas influenciado pelo avô José Francisco Monteiro, um figurão do Império, formou-se na Faculdade de Direito no Largo São Francisco, SP. Herdou uma fazenda e tornou-se o mais importante autor de livros infantis, no Brasil.
Anita era amiga do carioca Di Cavalcanti (1897-1976), que a incentivou a nunca parar de pintar. E foi ele, aliás, quem deu a ideia de se fazer um grande salão de artes em São Paulo, reunindo o que havia de mais significativo até então. Essa ideia resultou na Semana de Arte Moderna.
Se não fosse Di, é provável que não houvesse o que hoje se chama de Semana de 22, que reuniu Menotti Del Picchia, Mário e Oswald de Andrade, Villa-Lobos e pouquíssimas mulheres, entre as quais Anita Malfatti.
O artigo de Lobato sobre Anita no Estadão (clique na imagem para visualizar melhor) |
Essa história, ou parte dessa história, é narrada brilhantemente pelo gato do quadro O Gato e o Violino, que Anita pintou em 1949.
“O projeto nasceu de conversas entre o desenhista Yuri Garfunkel e a mestra em História da Arte Anita Limulja, refletindo sobre os impactos da Semana de Arte Moderna na produção artística nacional. Teo e eu logo fomos incorporados ao processo criativo”, conta Paulo Garfunkel, acrescentando: “Os ecos da Semana de 22 reverberam até hoje nas expressões artísticas brasileiras e Anita Malfatti, ‘a incompreendida’, como seus amigos a chamavam, é o alicerce do movimento”.
Todo desenvolvimento do projeto teve o acompanhamento da família Malfatti e a curadoria da historiadora Mayra Laudanna que organizou o site do IEB, Instituto de Estudos Brasileiros, da USP: VER ANITA
O lançamento físico ocorrerá nos próximos dias, em local ainda não definido. E a versão digital já está disponível gratuitamente na rede: A OUTRA ANITA