Este é um dos piores dezembros que já vivi, até porque já não
vejo com a luz dos meus próprios olhos. Fiquei cego, como muitos de vocês devem
saber. Mas não é isso que me faz lamentar este dezembro. Lamento este dezembro,
e de tabela o Natal que se aproxima,
pelo fato de estarmos vivendo crise de tudo quanto é lado; inclusive, crise de
falta de vergonha de políticos, empresários e banqueiros.
Na Câmara, o seu presidente é uma vergonha.
No Senado, o seu presidente é outra vergonha.
Estamos cercados de crises por todos os lados: crise política,
crise econômica, crise moral...
Em 1954, em agosto o mês do folclore, Getúlio enfiou um tiro no
próprio peito. A sua morte deveu-se a acusação de que vivia nadando em lama até
o pescoço.
Quatro anos depois, um José também se matou. Esse José, que a
sensibilidade brasileira conhece por Assis Valente, engoliu veneno e morreu
numa praça do Rio de Janeiro. É desse José a obra-prima Boas Festas, lançada em
disco de 78 rpm, pelo argentino naturalizado Carlos Galhardo, no final de 33.
Ouça:
No começo deste milênio, o egípcio naturalizado Peter Alouche
escreveu, no formato de folheto de cordel, uma pérola inspirada no Filho de
Deus, Cristo. Essa pérola, Encontro no Metrô, foi gravada em CD pelos
cantadores repentistas, Sebastião Marinho e Andorinha.
Ouça:
Assis Valente matou-se na 2ª tentativa. Ao lado do corpo, foi
encontrado um bilhete com estas palavras: “vou parar de escrever pois estou
chorando de saudades de todos e de tudo”.
É vasta a obra do valente Assis e devo dizer que, pessoalmente,
tenho o maior respeito pelos seres que se matam.