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sexta-feira, 18 de novembro de 2022

FAUSTO SETENTÃO!


Ao criar o mundo, Deus encheu o Brasil de chargistas, cartunistas, quadrinistas e tudo o mais que recriam o tempo e a vida através de lápis, canetas, pincéis.
No Brasil, real e fictício, germinaram talentos chamados J. Carlos, Mendez, Jaguar, Henfil, Alcy, Nani, Santiago, Fortuna, Ziraldo, Laerte, Angeli, Novaes, Luiz Gê, JAL, Maurício de Sousa e os irmãos Paulo e Chico Caruso.
E Fausto Bergocce?
Fausto é um craque do traço nascido em Reginópolis, SP. Sabe tudo de criação e recriação. Inventa e reinventa a vida como mestre que é.
Fausto, através da sua obra, faz o tempo mais bonito.
Eu conheci Fausto Bergocce ali pelos começos da década de 80 na redação do suplemento Folhetim, que circulava aos domingos no jornal Folha de S.Paulo. Ilustrou muitos textos meus, inclusive textos que eu fazia para o extinto Pasquim.
O acervo de charges, cartuns, colagens, xilos, aquarelas, é riquíssimo.
A obra de Fausto calculada em números é absurda e linda. A ele pedi que escolhesse uma dezena de charges e cartuns para ilustrar essa coluna. E não se fez de rogado. O resultado é o que se vê.
Fausto é daqueles caras que encantam à primeira vista. É muito observador e tem curiosidade por tudo.

Conhece uma dúzia e meia de países, entre os quais Estados Unidos e França. Dentre todos em que botou os pés, destaca o Marrocos.
O Marrocos fica ao norte da África e foi lá, no final do século 16, que o jovem rei D. Sebastião de Portugal sumiu. A lenda diz que ele, D. Sebastião, seguia à frente de sua tropa combatendo inimigos na batalha de Alcácer-Quibir. Mas essa é outra história. O que importa é que Fausto tornou-se o orgulho do pai Antônio e da mãe, Maria. E dos irmãos Luiz, Francisco, Flávio, Maria Albina e Sebastiana.
A jornalista Carla Maio está mergulhada em pesquisas para contar como se deve, passo a passo, a história de Fausto Bergocce. O livro, que ainda não tem título, será lançado em 2023 e nele estará com a primeira ilustração de Fausto, publicada em 1972, no tablóide Diário de Guarulhos. Há 50 anos, pois.
Fausto, que está completando 70 anos de idade, já publicou 16 livros. O mais recente é Pré-Histórias, com prefácio assinado por mim.
Em 2023 Fausto e eu lançaremos o livro Histórias de Esquina.
Ah! Sim: Fausto, o cara que traça tudo, é um orgulho do Brasil.

LEIA MAIS: JOGANDO CONVERSA FORAHOJE É DIA DE FAUSTO!FAUSTO: O TURISTA APRENDIZREMÉDIO PRÁ TRISTEZA É CARTOONNO PAIAIÁ O MELHOR DE SEMPRE

BOQUINHA MILITAR PODE ACABAR

Indevidamente, e na moita, quase 80 mil militares receberam o tal auxílio Brasil. Indevidamente porque, segundo o presidente do TCU Bruno Dantas, estão empregados e trabalhando como funcionários públicos. Esse pagamento começou a ser feito em setembro de 2020. Somente o titular do ministério da Cidadania, Osmar Terra, tinha conhecimento da irregularidade.
Esse escândalo, mais um do governo Bolsonaro, foi levado à conhecimento num relatório ao vice-presidente da República eleito, Geraldo Alckmin.
Muitas irregularidades, e até crimes, contra o povo estão sendo identificados. 

Presidente também morre
De morte matada ou não
Lugar de quem não presta
É lá no fundo da prisão!

A cadeia te espera 
Presidente predador
Hoje quem foge é caça
Amanhã é caçador 
 
À propósito: por onde anda Bolsonaro, hein?
Os malucos e maluquetes bolsonaristas fizeram de um tudo para infernizar a vida do ministro Barroso, em Nova Iorque. Barroso, nervoso, deu o troco chamando um provocador de mané. Assim: "Perdeu, mané. Não amola!".

A PRESENÇA DO NEGRO NA IMPRENSA BRASILEIRA (1)

Pesquisas indicam que a maioria da população brasileira é formada por pretos e pardos.
Pretos e pardos são pessoas que assim se declaram aos agentes do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Para fins políticos, segundo o Instituto, “negra é a pessoa de ancestralidade africana, desde que assim se identifique”.
A Região Nordeste é a que registra o maior número de pretos e pardos. Dentre os nove Estados, a Bahia é destaque. A História aponta que foi a Bahia o lugar em que os chamados “homens de cor” mais se rebelaram contra o sistema escravocrata. Foi lá, por exemplo, que ocorreu a Revolta dos Malês, na  madrugada de 25 de janeiro de 1835. Entre os líderes, uma mulher: Luiza Mahin, mãe do jornalista e poeta Luiz Gama.
Luiz Gonzaga Pinto da Gama foi o primeiro jornalista negro do Brasil. Nasceu em Salvador e pelo pai foi vendido como escravo. Tinha dez anos de idade. Passou uns tempos no Rio de Janeiro e depois, no interior paulista. Foi alfabetizado, às escondidas, por um amigo de seu dono.
Depois de livrar-se da condição de escravo, Luiz Gama dedicou-se à luta pela liberdade das pessoas escravizadas. No decorrer dessa luta conseguiu livrar do cativeiro centenas de homens e mulheres.
A própria liberdade Luiz Gama conseguiu pouco antes de completar 18 anos de idade, provando que nascera de um ventre livre. Casou-se aos 29 anos com uma mulher chamada Claudina Fortunato, com quem teve um filho: Benedito.
Na imprensa foi atuante, chegando a fundar jornais junto com profissionais do naipe de Angelo Agostini e Rui Barbosa. Chegou a dividir espaço em jornais com Castro Alves, O Poeta dos Escravos. Esse título, digamos assim, Alves ganhou espontaneamente da imprensa por sua dedicação à causa abolicionista. É dele o poema Navio Negreiro, uma parte do qual gravei com o professor músico Jorge Ribbas. Foi no jornal recifense A Primavera que publicou o primeiro poema sobre a temática, A Canção do Africano, em 1863. Começa assim:

Lá na úmida senzala,
Sentado na estreita sala,
Junto ao braseiro, no chão,
Entoa o escravo o seu canto,
E ao cantar correm-lhe em pranto
Saudades do seu torrão...

De um lado, uma negra escrava
Os olhos no filho crava,
Que tem no colo a embalar...
E à meia voz lá responde
Ao canto, e o filhinho esconde,
Talvez, pr’a não o escutar!...


Luiz Gama que viveu num tempo de extrema violência, política inclusive, morreu de diabetes e sem
voz, seis anos antes de a princesa Isabel assinar a Lei Áurea, na manhã do dia 13 de maio de 1888.  Tinha 52 anos. Seu féretro foi acompanhado por cerca de 4 mil pessoas. A população da Capital paulista era de 40 mil habitantes. O corpo está sepultado no Cemitério da Consolação.
Durante toda a sua vida Luiz Gama atuou na imprensa paulista e em alguns jornais do Rio. O que escreveu está sendo reunido pelo doutorando em História do Direito Bruno Rodrigues de Lima, da Universidade de Frankfurt. Segundo ele, esse material será publicado até o final deste ano pela editora Hedra, em 11 volumes.
Não à toa, os poderosos de seu tempo o temiam. Uma de suas frases fez muito barulho, esta: “Todo escravo que mata um senhor, seja em que circunstância for, mata em legítima defesa”.
Gama, autor do livro Primeiras Trovas Burlescas (1859) costumava apresentar-se assim:

Amo o pobre, deixo o rico,
Vivo como o Tico-tico;
Não me envolvo em torvelinho,
Vivo só no meu cantinho:
Da grandeza sempre longe
Como vive o pobre monge.
Tenho mui poucos amigos,
Porém bons, que são antigos,
Fujo sempre à hipocrisia,
À sandice, à fidalguia;
Das manadas de Barões?
Anjo Bento, antes trovões.
Faço versos, não sou vate,
Digo muito disparate,
Mas só rendo obediência
À virtude, à inteligência...
(Quem Sou Eu, páginas 110 a 114)

Os poderosos mais esclarecidos viam no filho de dona Luiza Mahin um dos revoltosos da tomada de São Domingos, no Haiti.
Se Luiz Gama foi o primeiro jornalista negro de nossa história, também não custa lembrar que foi um jornalista negro o primeiro e único, até agora, a ocupar a cadeira de presidente da República, entre 1909 e 1910, depois de eleger-se deputado Constituinte, governador do Rio de Janeiro e senador.
Refiro-me ao fluminense Nilo Procópio Peçanha. Nilo Peçanha nasceu no dia 2 de outubro de 1867 e
morreu no dia 24 de agosto de 1924. Era pobre, de família pobre. O pai era padeiro. Frequentou a Faculdade de Direito do Largo São Francisco, em São Paulo, mas bacharelou-se no Recife. Tinha 20 anos. E, como Luiz Gama, foi um grande abolicionista. Permaneceu no cargo de presidente por 17 meses, substituindo Afonso Pena (1847-1909), que morreu no Catete vítima de pneumonia.
Bom administrador da coisa pública, Nilo Peçanha criou o Ministério da Agricultura e introduziu o ensino técnico no Brasil, depois de criar o Serviço de Proteção ao Índio, que em 1967 se transformaria na Funai.
Contemporâneo de Luiz Gama foi o poeta, tipógrafo e editor literário Francisco de Paula Brito quem descobriu Machado de Assis para as letras nacionais.
O tempo faria de Machado crítico literário e colunista político, com presença frequente no Parlamento. Publicava seus textos políticos no Diário do Rio de Janeiro. Embora tenha sido o fundador da revista A Mulher do Simplício (1832) e dos jornais O Homem de Cor (1833) e A Marmota (1849), Brito não se considerava jornalista.
A importância dos jornalistas negros na imprensa brasileira é inegável. Muitos jornais foram fundados,
dirigidos e redigidos por profissionais negros, mas nem todos são identificados. Ficavam na moita. Muitos textos eram assinados com o carimbo, digamos, de Redator. Poucos sabiam quem era Redator ou O Redator.
Editor era um detalhe, como detalhe era o corpo redacional.
Os jornais pioneiros no campo de luta pelo abolicionismo foram publicados em Pernambuco (O Homem), Rio Grande do Sul (O Exemplo), São Paulo (A Pátria) e outras publicações noutras partes do País.
A chamada “imprensa negra” continuou atuando. Hoje são poucas as publicações direcionadas à questão da negritude, mas o problema continua grave.
Todo dia sai notícia relacionada ao racismo.
No último dia 29 de outubro deste ano de 2022, a deputada por São Paulo Carla Zambelli, de revólver
em punho, foi vista e filmada por câmeras instaladas estrategicamente nas ruas perseguindo um jornalista negro, atuante no setor esportivo: Luan Araújo, de 32 anos.
Nos jornais, revistas, rádio e televisão, o campo de trabalho para jornalistas negros está se ampliando, embora vagarosamente.
O primeiro repórter negro a ocupar espaço de apresentador no Jornal Nacional, ainda o mais assistido,
foi o paulista Heraldo Pereira. Isso em 2002, portanto há exatos 20 anos. Heraldo passou pelos principais jornalísticos da TV Globo, incluindo o Fantástico. E continua firme fazendo o que sabe fazer: jornalismo. A propósito, ele destaca que foi numa edição desse programa que fez uma de suas melhores
reportagens. Tratava-se do acordo entre o governo da África do Sul com os grupos que defendiam o fim do apartheid.
A primeira jornalista negra a apresentar o Jornal Nacional foi a paulistana, da região de Pinheiros, Maria Júlia Coutinho, a Maju.
Maju é uma pessoa incrível, cheia de graça e muito simples. Sabidona. Sabe de tudo e um pouco a mais. Conheci Maju pouco antes da pandemia do Novo Coronavírus, quando apresentava um programa todo seu na extinta Rádio Globo. E aí falei, falei e declamei, declamei e disse muita coisa. POEMA DOS OLHOS
Maju foi vítima do radicalismo político e racial, de pessoas que atacam pessoas por pensarem diferente.
Antes de Heraldo, estreou no programa Fantástico a repórter negra, carioca, Glória Maria. Linda. Isso em 1998. Uma de suas melhores reportagens foi a que fez sobre o chamado “País da Felicidade”,  localizado no Continente asiático, Butão.
Glória é do ano de 1949. Bem mais nova do que ela é Mariana Aldano, nascida na Capital paulista em
1986. É negra, ativíssima. De uma inteligência espantosa. Simples. Antes de ser contratada pela TV Globo, correu mundo. Fala alemão, dinamarquês, espanhol e inglês e esteve a trabalho em Londres,
Alemanha, Dinamarca, Malásia, Hong Kong e Tailândia. Perguntei: Qual é a importância dos  movimentos negros no Brasil?
Mariana considera de extrema importância os movimentos negros não só no Brasil, mas também mundo afora. Pra ela, e também pra mim, “somos todos iguais, independentemente de cor, condição social e crença”.
À propósito, esse entendimento natural consta da nossa Constituição (1988), especialmente no art. 5º:
Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade...

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