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segunda-feira, 26 de dezembro de 2022

EU E MEUS BOTÕES (56)

'Pronto! Pode falar', disse Maria apertando um botão do seu celular. 

Calma, calma. Eu não sou robô. Ainda não, pelo menos. 

Maria caiu na risada, dizendo ironicamente: "Ah! Eu tinha me esquecido desse detalhe".

A fala provocou uma risada geral entre os botões.  Barrica: "Na verdade eu nunca pensei que seu Assis fosse um robô, mas ahora é hora de pensar nisso". Zilidoro: "É mesmo! Seu Assis fala de tudo com propriedade. Está sempre atualizado. Ligado em tudo. Parece saber de tudo. Nunca vi ninguém assim. A Maria brincou, mas acho que ela tem alguma razão no que diz".

O que é isso, pessoas? Vocês endoidar? Estão indo longe demais! Eu sou gente. Em mim bate um coração já bastante cansado, diga-se. Deixem de onda!

Essa foi a primeira vez que Assis adentrou a casa levando consigo uma mulher, jovem, bonita e engraçada. Apresentando-a disse que a conheceu em Oxford. Brasileira, nascida em Minas Gerais, Josefina Sebastiana Carolina Dora Flor Maria de Sapucaí especializou-se em História Geral dos Povos e no estudo de línguas árabes, incluindo a língua de Cristo, aramaico. "Virge Nossa Sinhora do céu! Que mulher é essa?", espantou-se sem dissimular o botão Zoião. "Cala boca, deixa o homem falar", disse num cutucão o poeta Zilidoro.

Pois bem, pessoal, Josefina é conhecida em boa parte no mundo como Flor Maria. Nos meios universitários, de Londres principalmente, há muitos que a chamam simplesmente My Flower. "Puxa vida, assim tão nova e já é isso tudo?", pensou em voz alta, estupefato, o Mané. "Uma mulher assim não sabe cuidar de uma casa, não sabe cuidar de filhos... eu hein! Tô fora!", disse o desabusado Lampa num muxoxo. 

O que Lampa falou, e como falou, provocou a reação de todos, que em uníssono o repreenderam: "Machão! Machão! Machão!".

De fato. A observação de Lampa além de lamentável, é triste e indefensável sob qualquer aspecto. Eu procurei seus olhos, mas ele os escondeu. Quando eu já ia mudar de assunto, Lampa levantou-se acabrunhado: "Dona Flor, me desculpe. A minha vida foi sofrida. Nunca estudei, nunca entrei numa escola, mas nunca matei ninguém. Dizem que matei, mas é mentira. Se eu fosse mais novo, eu pediria pra senhora me ensinar. Eu admiro muito o seu Assis e Zilidoro. De novo, dona Flor, lhe peço desculpas pelas besteiras que eu disse".

Ao dizer o que disse, acomodou-se no seu tamborete. A casa encheu-se de palmas. Lampa pareceu emocionado. Devagarzinho tirou o punhalzinho da cinta e com ele, cabisbaixo, passou a cutucar as unhas.

Maria achou graça e desculpou Lampa. Depois disse estar curiosa e entusiasmada com os nomes que o presidente eleito Luís Inácio Lula da Silva tem apresentado para ajudá-lo a governar. Entre esses, muitas mulheres. 

Antes de se retirar do ambiente ao lado de Maria, Assis disse que ele e todos os brasileiros de bem estão torcendo pra que tudo dê certo para o governo que se inicia domingo, dia 1°.

Jão e Zé convidaram os presentes para um cafezinho. 

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