Ei, vem cá: você já ouviu falar de uma mulher chamada Vicentina de Paula Oliveira?
Não, sei que você não sabe quem foi essa Vicentina.
E se eu disser que essa Vicentina atendia pelo nome de Dalva de Oliveira, hein?
Meu amigo, minha amiga: você já ouviu falar de uma mulher chamada Isaura Garcia?
Hummm... Tá. Isaurinha Garcia. Isso mesmo, ela.
Dalva de Oliveira nasceu no interior paulista, numa cidade chamada Rio Claro, a pouco mais de 170 km da capital de São Paulo. Ano: 1917.
Isaurinha Garcia, paulistana do Brás, nasceu no dia 26 de fevereiro de 1923.
O que diachos tem a ver Dalva de Oliveira com Isaurinha Garcia, além de ambas terem nascido num mesmo século no Estado de São Paulo?
Isaura era filha de um italiano com uma brasileira. Pobre. Simples, humilde. Casal que queria tudo de bom para a filha, naturalmente. História essa: tinha 13 anos a menina Isaura quando participou de um programa de calouros na rádio Cultura. 1937. Foi gongada. No ano seguinte saiu-se vitoriosa num outro programa de calouros, interpretando um samba de Assis Valente intitulado Camisa Listrada, na Rádio Record.
Pela Record Isaura, que viraria Isaurinha, chegaria a se aposentar.
A história é longa e cheia de altos e baixos. Baixíssimos. Baixarias, na verdade.
Isaura deixou a casa dos pais ainda na primeira adolescência. Tinha uns 14, 15 anos. Fez isso por achar-se apaixonada por um bam-bam-bam da radiofonia paulistana, com quem viveu durante 18 anos. Isso não quer dizer que ela tenha sido exclusiva dele. Disse-me uma vez, às gargalhadas.
Isaurinha Garcia foi uma mulher marcante, tão marcante quanto a sua voz: ia do baixo ao alto.
Sabe amigo, amiga, daquelas pessoas que nos encantam derrepentemente?
Assim era Isaurinha cheia de obviedades surpreendentes: cantava com verdades, interpretando com intensidade as letras das canções que lhe chegavam às mãos.
O poeta mineiro Drummond talvez a chamasse de gauche e não erraria.
Isaurinha quando se apaixonava, apaixonava-se por completo. Sem medo. "Ele batia em mim, na cara. Pá!".
Referia-se ao músico pernambucano Walter Wanderley (1932-1986).
Quando ela uma vez a mim disse isso, e é certo que a outros jornalistas também, foi naquela maneira meio rindo. Gargalhando, mas um gargalhar meio triste, falso, de quem engole dor de maneira forçada. Dava pra ver.
Teve Isaurinha três maridos e muitos amantes. Ela: "Eles me traíam e eu dava o troco".
Dalva de Oliveira teve três maridos e nenhum amante.
Isaurinha Garcia teve apenas uma filha. Dalva, com seu primeiro e mais turbulento marido teve dois filhos.
Dalva de Oliveira é um marco da música popular brasileira no tocante à voz. Foi a nossa maior cantora da música popular. O seu timbre vocal ia do contralto ao soprano. Inimitável.
Isaurinha Garcia, a Personalíssima na acertada definição de Blota Júnior (1920-1999), foi de fato uma cantora que marcou época em 50 anos de carreira.Não precisa ir longe na memória, mas quem gosta de música bonita vai se amarrar, como se dizia lá pelos anos 80. É de 1945 seu primeiro sucesso musical: Mensagem, de Aldo Cabral e Cícero Nunes.