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quarta-feira, 28 de novembro de 2018

NINFAS E DEUSES EM CAMÕES

Ilustração especialmente feita por Fausto para o poema A Viagem à Índia


Um dia Júpiter chamou
Seus pares pra conversar
Queria deles saber
Que posição adotar
Sobre certa viagem
de um certo homem no mar

Deuses foram chegando
Decididos a escutar
Decididos a entender
O que Júpiter tinha a falar
Seria sobre a viagem 
Daquele homem no mar?

Ouviu-se um zum, zum, zum
Eram Deuses a murmurar:
Quem seria esse valente 
decidido a enfrentar
Os mau humores do tempo
E as estranhezas do mar?

Seguiram-se discussões
Concordar ou discordar?
Proteger e garantir 
ou simplesmente negar 
o apoio preciso 
ao valente homem do mar?

Júpiter no seu discurso
Não falou só por falar
Foi ele quem afirmou
Ser preciso apostar
Nos valentes portugueses
Desbravadores do mar

  O poema Os Lusíadas, o épico poético mais conhecido em língua portuguesa e noutras línguas, talvez, foi publicado em 1572 com  o aval do censor oficial da inquisição, o dominicano Bartolomeu Ferreira. Essa obra demorou pelo menos 15 anos até ser concluída pelo seu autor Luís Vaz de Camões (1524-1580). Começou a ser escrita numa prisão de Lisboa e foi concluída provavelmente noutra prisão,na Índia.         Trata do heroísmo do povo português, das conquistas marítimas dos navegantes portugueses, como Vasco da Gama (1469-1524) que descobriu um meio diferente de chegar à Índia: pelo mar. 
 Vasco da Gama foi expressão máxima da navegação portuguesa. 
 O cristianismo e o paganismo se juntam tão perfeitamente na obra de Camões que ao menos avisado pode parecer uma obra feita pós Inquisição. 
 Camões mistura o real ao irreal. 
 Camões conta a história do heroísmo português de um modo como até então ninguém tinha contado. Ele começa do meio para o começo e daí para o final. 
 Os Lusíadas é uma obra composta por dez cantos, partes ou capítulos.
 O IX Canto, como os demais cantos, é fabuloso. Li te ral men te fabuloso. É lá que se acha a Ilha dos Amores, que me levou a gerar arriscadamente o poema que abre este texto. É um canto lindo! É o canto em que o gigante Adamastor é transformado em pedra, pelo simples fato de apaixonar-se por uma Ninfa, mulher de um mágico.
 Pra desenvolver essa obra, Camões fez uso da invenção de um poeta italiano chamado Ariosto. Foi esse poeta que inventou, ainda no século 16, a nova modalidade poética chamada de Medida Nova. Essa modalidade, nova, foi levada da Itália para Portugal por outro poeta: Sá de Miranda, em 1427.
 Mil cento e duas estrofes de oito versos decassílabos formam Os Lusíadas.

Richard Burton

 Estou terminando este texto quando o craque do traço brasileiro Fausto Bergoce telefona prá dizer que gostou demais do poema A Viagem à Índia, que lhe mandara momentos antes. Disse isso e disse mais: que um britânico de nome Richard Francis Burton (1821-1890) foi o cão chupando manga. Esse cara, que nada tem a ver com o maridão da Taylor, a atriz, pintou e bordou.
 Richard Francis Burton foi tudo o que um homem poderia ser na vida, na cama e na mesa. Apreciador de bom vinho, nunca se perdeu pelo copo.
 Burton foi poeta, viajante, antropólogo, tradutor, espião britânico e, cônsul na Pérsia,  no Brasil e em outros lugares. Na China, aprendeu a língua e  os dialetos do país.Até pelo Rio São Francisco ele navegou,antes descobrir a nascente do rio Tanganica, na África.Conviveu com canibais e pigmeus. Esse cabra, dito assim, parece até que não existiu. Do árabe para o inglês ele traduziu As Mil e um Noites e poemas de Catulo, não o nosso, mas o italiano Caio Valério. Quem o mandou ao Brasil foi a rainha Vitória. A Editora Cia das Letras tem uma Biografia muito interessante sobre ele, vale a pena ler. Ah! Richard Burton aprendeu português para ler Os Lusíadas, que pouco depois traduziria. Ele amava Camões.


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