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terça-feira, 8 de abril de 2025

TEM CEGO NA CULTURA

Hoje, 8 de abril, comemora-se no Brasil o Dia do Sistema Braille. 

Esse sistema foi criado por um jovem francês de nome Louis Braille. Tinha esse jovem três anos de idade quando acidentalmente feriu os olhos e ficou cego. Era de família humilde, modesta. 

O 8 de abril como  Dia Nacional do Sistema Braille deve-se ao nascimento do carioca José Álvares de Azevedo, considerado o patrono dos cegos no País por ter trazido da França o sistema por ele assimilado numa escola própria de Paris. 

Foi esse Álvares de Azevedo a pessoa que convenceu o imperador Pedro II a criar a primeira instituição de ensino do braille. Chamou-se essa entidade de Imperial Instituto dos Meninos Cegos.

Bom, pessoal, amanhã 9 a TV Cultura levará ao ar, às 22 horas, o longa documento Vem Comigo, os caminhos da inclusão. Esse documentário foi dirigido por Sylvia Jardim. Não percam!

LICENCIOSIDADE NA CULTURA POPULAR (178)


O baiano Gregório vira rapidamente centro de atenção. Ele e o casal que o acompanhou até aqui. 

Curiosa, mocinha pergunta a Gregório quem são aquelas duas pessoas que o acompanham. E ele: 

— Laurindo, diga a essa bela mocinha quem são vocês.

O casal se identifica rindo e bem à vontade dizem ser ele Laurindo Rabelo e ela, Francisca Júlia César da Silva.

Surpresa e sem se conter, Mocinha pergunta: 

— Laurindo é o autor do poema safado As Rosas do Cume?

Pego assim de supetão, Laurindo balançou a cabeça afirmativamente, acrescentando: 

— E essa mulher é simplesmente a autora do poema Dança de Centauras.

O destrambelhado Inácio da Cangaceira, lá de trás, tira da memória alguns versos do famoso As Rosas do Cume: 


No cume da minha serra

Eu plantei uma roseira

Quanto mais as rosas brotam

Tanto mais o cume cheira


À tarde, quando o sol posto

E o vento no cume adeja

Vem travessa borboleta

E as rosas do cume beija


No tempo das invernadas

Que as plantas do cume lavam

Quanto mais molhadas eram

Tanto mais no cume davam…


Zé Ruela, que a tudo acompanhava um tanto nervoso, se mexendo todo, querendo falar, enfim toma coragem e após interromper Inácio da Cangaceira, pergunta com a voz enrolada e copo na mão: 

— Vocês conhecem essa outra do Seu Laurindo?

E antes de ouvir qualquer resposta, começou:


Amor, ao teu carro em vão

Tu me pretendes jungir

Eu não te posso servir

Já não tenho mais tesão 

De putas um batalhão

Já forniquei noutra era

Já fodi com porra fera

Mulatas, brancas e pretas

Hoje só como punhetas

JÁ não sou quem dantes era!


Todos batendo palmas, muita algazarra, brindes!

Levantei-me pedindo licença e perguntando se alguns dos presentes conhecia o poeta Renato Caldas, do Rio Grande do Norte. E antes que dissessem sim, porque não disseram, eu comecei:


Talvez não tivesse cheiro

Servia de brilhantina

Ninguém cagava em latrina

Se merda fosse dinheiro

Todo mundo era banqueiro!

Sanitário era baú

Porém aqui no Assu

A terra do interesse

Se tal coisa acontecesse

Pobre nascia sem cu


Enquanto dava uma bicada de boa cana e mordia um taco de carne de sol, Jarbas deu um berro chamando a atenção pra si.

— Esse poeta é dos bons. Supimpa!, disse emendando: 

— O Carlos Lacerda era doido pelo Renato. 

— De fato! O Lacerda chegou até a patrocinar um livro do Renato, confirmou o professor Wilson Seraine. 

— O Wilson sabe das coisas. Ele é da terra do João Cláudio Moreno, o Piauí, disse batendo palmas o Jessier Quirino.

Aqui em Areia a vida é como no céu: ótima!

Aqui tem de tudo. Tem fruta de todo tipo, legumes que não acabam nunca, pé de coco, pé de caju. O que se plantar por cá, dá. A fava daqui é grande, bonita e gostosa. Não há feijão e arroz melhor do que aqui na nossa Areia. Aqui ninguém sabe o que é fome. E o clima, hein?

Bom, somos um país tropical. Mas nesse país o clima difere aqui e ali, sem mudar radicalmente suas características. 

Aqui nessa terrinha o mês mais quente é janeiro. O mais frio são três: junho, julho e agosto. 

No mês de calor mais forte os termômetros marcam até 31 graus. No tempo de frio, a máxima chega a 27 graus. 

segunda-feira, 7 de abril de 2025

OS CAMINHOS DA INCLUSÃO, NA TV CULTURA




Dados colhidos pelo IBGE em 2010 davam conta de que havia no Brasil pouco mais de 500 mil pessoas vivendo completamente cegas, isto é: sem um pingo de luz nos olhos. 
Passado pois 15 anos, não sabemos quantas pessoas se acham na escuridão. 
Os dados de 2010 indicavam também que a região com maior número de cegos totais era o Nordeste. 
Historicamente, cegos existem desde sempre. E famosos, como o poeta grego Homero. São dele os clássicos Ilíada e Odisseia, que contam histórias gigantes da Antiguidade. Haver com Troia. Detalhe: Troia é posterior a Homero... Bom, deixa pra lá!
Até hoje tem chovido cegos à granel, na Terra.
Em tempos mais recentes, entraram para a história da literatura cegos ou mais ou menos cegos como o romancista James Joyce (Ulysses), Aldo Huxley (Admirável Mundo Novo) e Jorge Luís Borges (O Aleph).
Borges sofreu descolamento de retina quando tinha já uns 50 anos de idade. Sem nada enxergar, ditou seus textos a sua mulher Maria Kodama, até morrer em 1986.
Pois é, a vida lá atrás continuou  como  continuará até os fins dos tempos. Óbvio, tão óbvio como nascer e morrer. 
A sociedade, seja em que tempo for, continuará pendendo para um lado e para o outro. Sempre haverá brigas e tudo mais. Não haverá ser perfeito, seja homem seja mulher ou bichos do mato.
Sempre haverá tempo para reflexão. 
Depois de amanhã quarta 9, às 22 horas, a TV Cultura SP levará ao ar o longa documentário Vem Comigo, os caminhos da inclusão. A direção é da jornalista Sylvia Jardim. Ela diz:
"Esperamos que esse seja apenas o início da jornada deste trabalho que mostra que todos nós, seres humanos, almejamos praticamente as mesmas coisas".
A obra trata do dia a dia e das dificuldades de pessoas que conquistam espaços na sociedade hoje dita moderna. Excelente, bom de ver e de ouvir. 
Entre as pessoas que se deixam gravar se acham uma dançarina surda, um programador sem braços, um atleta cadeirante...  Bom, e um jornalista escritor metido a besta, que sou eu. 

LICENCIOSIDADE NA CULTURA POPULAR (177)


Ao cantar o que acaba de cantar, Zé da Luz inesperadamente de todos chama a atenção para a figura alta, esguia, com ar irônico e despachada que acaba de chegar à roda de cantoria. Durante muito tempo encheu o saco de muita gente e do clero, inclusive. Só não foi excomungado porque o papa do seu tempo estava provavelmente de pileque, ou soltando palavras de amor no ouvido de alguma beata. Oliveira e Marinho ofereceram suas violas ao mesmo tempo ao ilustre visitante, que sorriu. Pegou a viola de Oliveira e começou:


As excelências do cono

é ser bem grande, e papudo,

apertado, bordas grossas,

chupão, enxuto, e carnudo.


Com cachopinha de gosto

em cama de bom colchão, 

nos peitinhos posta a mão, 

e o pé no fincapé posto:

ajuntar rosto com rosto, 

dormir um homem seu sono, 

acordar, calcar-lhe o mono

já quase ao gorgolejar,

então é o ponderar 

As excelências do cono.


Eu na minha opinião,

segundo o meu parecer,

digo, que não há foder, 

senão cono de enchemão;

porque um homem com Sezão,

inda sendo caralhudo,

meterá culhões, e tudo,

e assim mostra a experiência, 

que do cono a excelência

É ser bem grande, e papudo.


É também conveniente, 

que não tenha o parrameiro 

a nota de ser traseiro, 

e que seja um tanto quente:

que às vezes mui facilmente 

são tais as misérias nossas,

que havemos mister as moças

para regalo da pica

com cono de pouca crica,

Apertado, bordas grossas.


Mas a maior regalia,

que no cono se há de achar,

para que possa levar

dos conos a primazia

(este ponto me esquecia)

para ser perfeito em tudo,

é nunca se achar barbudo,

por dar bom gosto ao foder,

como também deve ser

Chupão, enxuto, e carnudo.


Ao findar o último verso cantado, Gregório inclina-se um pouco com a viola nas mãos em agradecimento à chuvarada de palmas e hurras que lhe são dirigidas por todo mundo. Oliveira toma pra si a palavra. Diz, entusiasmadíssimo, que Gregório é sem dúvida um mestre na arte da cantoria: 

— O cantador Gregório nos dá uma aula de graça, saber e espontaneidade discursiva e poética. Abriu o baião com um mote, glosou tudo bonitamente em décimas de cantador.

O entusiasmo contagia todo mundo que, em coro, pede aos gritos que Gregório continue. Sem se fazer de rogado, põe a viola no peito e recomeça:


É este, o que chupa e tira

vida, saúde, e fazenda,

e se hemos falar verdade

é hoje o Amor desta era.

Tudo uma bebedice,

ou tudo uma borracheira,

que se acaba ao dormir, 

e co dormir se começa. 

O Amor é finalmente 

um embaraço de pernas, 

uma união de barrigas,

um breve tremor de artérias. 

Uma confusão de bocas, 

uma batalha de veias, 

um reboliço de ancas,

quem diz outra coisa é besta.


Novas palmas enchem de alegria o ambiente. 

Mocinha de Passira, quieta até agora, aproxima-se do cantador para parabenizá-lo e abraçá-lo com fervor. Puxa-o pelo braço e o leva até à churrasqueira, onde já se acham Jarbas, Julio, Jorge, Mário, Dorneles e Jessier Quirino.

Enquanto isso, Cajú e Castanha pegam de novo seus pandeiros e começam contando lorotas pra emendar num gancho de putaria:


Eu vou mostrar a diferença

Nesse meu repente nobre

Da mulher do corno rico

Pra mulher do corno pobre


A mulher do corno rico

Transa em motel de luxo

Pede só bebidas finas

No conforto rela o bucho

Numa cama bem fofinha

Deita e rola com o urso


A mulher do corno pobre

Transa mesmo é no mato

Sai mordida de formiga

De mosquito e carrapato

É que o danado do urso

Não pode pagar um quarto


A mulher do corno rico

Usa perfume francês

A calcinha é de renda

Troca todo dia três

Camisinha de primeira

Ela exige do freguês


A mulher do corno pobre

Usa perfume fuleiro

A calcinha é de algodão

E fica nela o mês inteiro

A camisinha que conhece

É de tripa de carneiro


A mulher do corno rico

Vive ganhando presente

É vestido, é sapato

É casaco, é corrente

Quando ganha carro zero

Ela fica bem mais quente


A mulher do corno pobre

Essa ai não ganha nada

Ao contrário ela leva

É sopapo, é porrada

Leva murro, leva tapa

Pra ficar mais assanhada


A mulher do corno rico

Tem babá, tem motorista

Só frequenta lugar fino

Tem cartaz com colunista

Muitas vezes com o urso

Sai em foto de revista


A mulher do corno pobre

Coitadinha passa mal

Anda só de coletivo

Só frequenta chaparral

Só é vista com o urso

Em folha policial


A mulher do corno rico

Todo ano faz cruzeiro

Agarrada com o urso

Se diverte no estrangeiro

Do coitado do marido

Ela esbanja o dinheiro


A mulher do corno pobre

Também sai pra passear

Agarrada com o urso

Por aí vai turistar

Na ilha do Maruim

Vai tomar banho de mar

domingo, 6 de abril de 2025

ADEUS, ANTÔNIO BARROS!



Os terríveis e loucos dias que ora vivemos nunca param. Pobres de nós. 

Esses dias têm levado consigo para o além amigos e amigas que cuidadosamente o tempo me deu.

Hoje 6, no Hospital Nossa Senhora das Neves de João Pessoa, morreu o instrumentista, compositor e cantor paraibano Antônio Barros. Era de Queimadas.

Super brincalhão, Barros batia pandeiro e tocava violão como poucos. 

Barros começou a compor ali pela metade dos anos 1950. Deixou centenas e centenas de músicas compostas em ritmos diversos. 

Todos ou quase todos os cantores da nossa música popular gravaram pelo menos uma música desse cara tão prolífico e sensível que era. Entre esses Luiz Gonzaga, Jackson do Pandeiro, Genival Lacerda, Ney Matogrosso, Gilberto Gil, Elba Ramalho, Marinês; Trio Nordestino... Entre seus sucessos se acham Homem com H, Bate Coração, Por Debaixo dos Panos e muito mais.

Em 2021, a Paraíba o incluiu entre seus patrimônios culturais. 

Antônio Barros morreu aos 95 anos, três semanas e três dias de idade. Deixou uma filha com a sua mulher Cecéu: Maíra, cantora e advogada especializada em direitos autorais. 

Se assim continuarem os dias logo ficarei sem falar com mais ninguém. 


LICENCIOSIDADE NA CULTURA POPULAR (176)

 O som da rabeca continua chegando até nós. 


Como se tivessem ensaiado, os artistas presentes acorreram em direção ao som. E lá estava Bibiu tocando uma rabequinha que que aprendeu com Deus. Num piscar d'olhos, Cajú e Castanha sacam os pandeiros e mandam ver. O mesmo fazem os violeiros e tudo vira uma festa.

Lá do fundo ouve-se a voz do Nêumanne chamando a atenção para a chegada do compositor e maestro Júlio Medaglia, trazendo consigo o amigo e também maestro Marcos Arakaki. Alto e bom som todos batem palmas e gritam em uníssono: 

— Viva o maestro! Viva o maestro!

Julio sorri, agradecendo.

Não estava combinado, mas o maestro trouxe um violino pra tocar.

Perguntam-me: 

— Seu Olégna, o maestro vai tocar o quê??

É João Cabeleira perguntando um tanto tímido. Acho graça na pergunta e sugiro que a dirija ao maestro, que se adianta:

— Estou a disposição de vocês!

Zé da Luz volta a me provocar. Insiste na questão se vou ou não aceitar o seu desafio.

Antes que eu respondesse a Zé da Luz,  Zé da Bia pergunta quem são os estrangeiros que vêm à fazenda. De improviso respondo sem viola, sem nada:


Esse tal Marquês de Sade

Nunca foi brinquedo não 

Cabraxo do sadismo 

Filho da praga, pai do cão 

Veio à Terra pra fazer 

Do prazer aberração!


Pietro era devasso 

Mulherengo, tarado

Mulheres o chamavam

De amor, meu namorado

Enfim a vida é fácil 

Pra quem é bem criado


Rétif de La Bretonne 

Sempre foi um bom autor 

Escreveu diversos livros

Com histórias de amor

No campo filosófico 

Foi um grande pensador 


De repente alguém levanta a mão. É Joyce perguntando sobre Casanova. De improviso, respondo:


Não era do barulho 

Ele era do baralho

Amava vida boa 

E odiava o trabalho 

Pra ele as mulheres 

Foram sempre do caralho!



Depois das palmas, de novo ouço Zé pedindo desafio. Em uníssono, todos fazem a pergunta:

— E aí, vai ou não vai?

Foi então que pedi uma viola.

Zé da Luz abriu um sorrisão na cara, também batendo palmas. Pigarreou e perguntou se não tinha uma caninha na casa pra molhar o bico.

De bate pronto, quase num passe de mágica, surgiu nas mãos de Zé um copo esborrotando que rapidamente emborcou goela abaixo. Feito isso, pegou a viola e começou a dedilhá-la e a cantar: 


Era veneziano 

O mais famoso sedutor 

Nascido para ser padre 

Desistiu foi professor 

Pra com calma ensinar 

Os caminhos do amor 


Eu:


Foi um aventureiro 

Diferente dos demais 

Não pensava duas vezes 

Pra quebrar regras legais 

Pra ele certas coisas 

Eram muito naturais 


Zé da Luz:


A mãe era uma atriz 

E o pai um bom ator 

O casal teve seis filhos 

Entre eles um pintor 

Que fixou em tela 

O mano galanteador 


Eu:


Era um cara simples 

Bonito e elegante 

Andava bem vestido 

Com firmeza, confiante 

Chamava a atenção 

Por ser também galante 


Zé da Luz:


Varão, forte e viril 

— E bem dotado também!

Andou por todo canto 

Num eterno vai e vem 

Verdade seja dita 

Nunca dormiu sem ninguém 


Eu:


Casanova era fã 

De Pietro Aretino 

Um poeta sem vergonha 

Devasso e cretino 

Diziam inimigos 

Do ousado libertino 


Zé da Luz:


Mas ele não ligava 

Pois tempo não perdia 

Gostava de bom vinho 

De mulher e putaria 

Quando queria chamava 

O Deus Baco pra orgia 


Eu:


Por um rabo de saia 

Tudo fazia num piscar 

Leão caçava a pau 

E onça fazia miar 

Do céu tirava o sol 

Somente pra se mostrar 


Zé da Luz:


Casanova foi um cara 

Que gostava de pecar 

E pecava todo dia 

Sem poder se controlar 

Sua fama ele fez 

Pra na história ficar 


Eu:


No seu tempo fez de tudo 

Com beleza, alegria 

Seu prazer era o prazer 

Que dava e recebia 

Casanova fez de tudo 

Com mulher o que queria 


Sob uma chuva de palmas, Zé da Luz e eu chamamos Sebastião Marinho e Oliveira de Panelas para darem continuação à prosa poética improvisada ao som de violas.


Marinho:


Um amante completo 

No rigor da perfeição 

Casanova sempre foi 

Um mestre da sedução 

Pra ele toda mulher 

Era benção da Criação 


Oliveira:


Esse cara fez de tudo 

Inda mais até faria 

Pra um dia ser lembrado 

Pelas coisas que sabia 

No seu mundo aprendeu 

A viver com ousadia 


Marinho:


Casanova nunca teve 

Nem limite nem noção 

Por uma mulher gostosa 

Agarrava até o Cão 

O inferno todos sabem 

É o mundo da perdição 


Oliveira:


Pode ser pode não ser 

Verdade o que contou 

Mas ele contava bem 

As batalhas que travou 

Sua luta era na cama 

Com as mulheres que amou 


Marinho:


Nesse mundo ele passou 

Amando e sendo amado 

Pra onde quer que fosse 

Era sempre desejado 

As mulheres viam nele 

Um macho apaixonado 


Oliveira:


Casanova não fumava 

Casanova não bebia 

Casanova tinha medo 

De brochar em plena orgia 

Por isso se cuidava 

Pra fazer o que fazia 


Marinho:


O cara no entanto 

Não era brinquedo, não 

Estava sempre pronto 

Pra entrar em ação 

Mulher ele chamava 

Para chamegar no chão 


Oliveira:


Viver é coisa boa 

Mas é bom ter cuidado 

Quem anda sem destino 

Pode pegar trem errado 

Um trem de pés pra cima

É um trem descarrilado


Marinho:


Pacato de bom papo 

Detestava confusão 

De briga ele fugia 

Sem nem topar discussão 

Porém um dia foi preso 

E atirado na prisão 


Oliveira:


Fora vítima de quem?

E qual a acusação?

Quem seria seu carrasco

Alguém da Inquisição?

Ou um maluco qualquer

Sem rumo, sem direção?


Marinho:


Agora o que fazer 

Ali encarcerado 

Que nem um preso qualquer 

Depois de condenado?

Fugir, tinha de fugir 

Pra não ser crucificado 


Oliveira:


Pra isso fez um plano 

Pra lá de bem bolado 

Furar uma parede 

Subir lá no telhado 

E pronto! Estava livre 

Que nem um ser alado 


Marinho:


Muita coisa ele fez 

Até mesmo por compulsão 

Estudou e aprendeu 

A arte da tradução 

Não à toa encantou-se 

Com Homero e Platão 


Oliveira:


Teve tempo pra ouvir 

Muito tempo para ler 

Escutando aprendeu 

A cultura do saber 

Seguindo essa trilha 

Completou-se no prazer 


Marinho:


Traduziu Ilíada 

Para italianos 

Livro trata da guerra 

Entre gregos e troianos 

Que começou com um rapto 

E durou mais de dez anos 


Oliveira:


Aprendeu tudo que quis 

No belo campo da cultura 

Leu Dante, Camões e Sade 

Mestres da literatura 

Porém ele aprendeu 

A viver com pica dura


Marinho:


Tinha sorte no amor 

E no jogo tinha azar 

Não sabendo o que fazer 

Ajoelhou-se pra rezar 

Seu destino era perder 

Muitíssimo antes de ganhar 


Oliveira:


Morreu longe de casa

Esquecido sem ninguém 

Distante das mulheres 

E dos seus filhos também 

No jogo perdeu tudo 

Um por um cada vintém 


Zé da Luz:


Atenção chegou agora 

Direto de São Salvador 

Gregório de Matos e Guerra

Inspirado cantador 

Que hoje já é lenda 

Como grande pegador!

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