Luís tinha um irmão que tentou estuprar Maria. E a partir daí o romance cresce, ganha contornos inimagináveis. Encurtando: Lucas defende a irmã com unhas e dentes e tiros. O que também faz o pai, que é preso e a mãe morre de desgosto. A essa altura, Maria é posta pra fora da terra onde morava com a família.
Maria casa-se com o canoeiro João, que mata Luís por assédio à Maria. Maria fica só com o filho de 4 anos.
Essa é a história.
O incrível nisso tudo é o preconceito exalado pelo autor Peixoto. Ele foi um dos primeiros escritores a criticar ferozmente o livro de estreia de Gilka Machado, Cristais Partidos (1915), chamando-a de “matrona imoral”, e “mulatinha escura”.
Gilka subiu paredes com essas críticas, reconhecendo porém: “Aquela primeira crítica (por que negar?) surpreendeu-me, machucou-me e manchou o meu destino. Em compensação, imunizou-me contra a malícia dos adjetivos”.
Ao contrário de Gilka, a mineira Ana Maria Gonçalves tem colhido muitos elogios da crítica sobre a sua obra.
Ana Maria embrenhou-se no campo da pesquisa para inteirar-se sobre a história da escravidão no Brasil. O pretexto era conhecer suas origens. O resultado foi o livro Um Defeito de Cor, com cerca de 1.000 páginas. Sensacional.
A autora dá de mão de uma personagem real, histórica, de nome Luiza Mahin e com ela vai até o fim procurando o filho que o pai vendera quando tinha dez anos de idade. O filho era o poeta abolicionista Luiz Gama. Daí pra frente é tudo basicamente ficção. Luiza morre surda e cega, vangloriando-se modestamente por ter convencido o romancista Joaquim Manuel de Macedo a dar nome de Carolina a uma das suas personagens do livro A Moreninha, lançado em 1844.
Carolina é amiga branca de Luiza.
No livro de Maria Gonçalves tem violência de todo tipo, inclusive estupros. Tem também padre transando com seminarista, mulher morando com padres e muito mais sob os olhares de Xangô, Oxum e outros santos da crença africana.