O livro Pra Dançar e Xaxar na Paraíba, de Rômulo Nóbrega, foi lançado há 2 anos em Campina Grande PB com a presença de muita gente boa, incluindo músicos como Mahatma, aí com sua sanfona. |
A passeata dos 100 mil foi realizada, no Rio, em Junho. No mês seguinte, o paraibana Geraldo Vandre dava os toques finais a guarania que viraria uma espécie de hino alternativo.....
No dia 10 de julho de 1968, os nordestinos perdiam um dos seus maiores compositores: Rosil Cavalcanti.
Ao todo, Rosil compôs 82 músicas. Desse total duas dezenas foram gravadas originalmente por Jackson do Pandeiro
A primeira música gravada por Jackson foi Sebastiana, de Rosil.Ouça-o contando um pouco dessa história.
O tempo passou levando o campinense Rômulo Nóbrega a publicar, em parceria com o pesquisador de MPB José Batista Alves, uma das biografias musicais mais minuciosas e completas, “Pra Dançar e Xaxar na Paraíba: andanças de Rosil Cavalcanti”.
O texto abaixo é de autoria de Rômulo. Leiam-no:
Foi
nesse ritmo que Jackson do Pandeiro (1919 – 1982) se lançou no cenário nacional com o coco
“Sebastiana”, onde em Recife fez sucesso com esta música em dias que antecederam o carnaval de 1953, em
meio ao mais fervoroso clima de frevo naquela capital Pernambucana.
Quem estava por trás de
tudo isto? Ele, Rosil Cavalcanti (1915/1968), o pernambucano de Campina Grande,
como ele mesmo se intitulava, dado ao apego e carinho que tinha por esta cidade
e onde conheceu seu grande amor Maria
das Neves Ramos Coura, com quem se casou. Nascido em 20 de
dezembro de 1915, no engenho Zabelê, no atual município de Macaparana (Pe),
desde a infância e juventude participa das moagens de cana, fabrico de
rapadura, de açúcar, cachaça, ouve estórias do povo, as cantadeiras de novenas,
emboladores de coco, violeiros, participa de sambas (forrós).
De família tradicional
na política de Pernambuco, Rosil de Assis Cavalcanti trabalhou toda vida como
funcionário público. Em sua adolescência estuda nos melhores colégios
recifenses, nos anos de 1930, Colégio Oswaldo Cruz e Marista, destacando-se nas
atividades artísticas e no jeito brincalhão e espirituoso Seu primo de segundo
grau, Joaquim Francisco chegou a ser governador do estado. Em 1943, com pouco
mais de 20 anos, outro parente de Rosil assumiu a prefeitura da cidade de
Macaparana, que manteve até a gestão passada sob influência da família. Na
mesma década de 1940, Zé Francisco, Pai de Joaquim Francisco, iniciou sua
carreira política como deputado estadual. Maviael Cavalcanti foi deputado
estadual por vários mandatos. Maviael Cavalcanti Filho, foi prefeito na última
gestão. Mas a paixão de Rosil era outra. Em Aracaju formou sua primeira dupla “O
Tabareu e o Turco da Prestação” ao lado de Pedro Telles. Em João Pessoa refez a
dupla “Café com Leite”, com José Gomes (o futuro Jackson do Pandeiro), na Rádio
Tabajara e em Campina Grande foi onde atingiu o auge de toda sua riqueza
artística, pois atuou como cômico e crítico ora estava fazendo o povo rir,
cantar, brincar, dançar, ora provocando polêmicas, denunciando situações
erradas, dando suas opiniões, fazendo seus comentários como âncora, algo
inusitado para a época através de seus programas policiais que muitas vezes
trouxe problemas para si, onde enfrentou severas agressões.
Embora ríspido em certos
momentos, de pavio curto, Rosil conseguia angariar a simpatia e amizade de
todos e se tornou mais conhecido quando lançou o programa “Forró de Zé Lagoa”,
pela Rádio Borborema de Campina Grande, cujo comandante era o próprio, que se
caracterizava do “Capitão Zé Lagoa”.
Teve oitenta e duas
músicas gravadas originalmente pelos mais renomados cantores: Jackson, Marinês,
Genival Lacerda, Teixeirinha, Abdias, Zé Calixto, Luiz Gonzaga, Ary Lobo, Trio
Nordestino, Ademilde Fonseca, Jacinto Silva dentre outros. Sucessos como Meu
Cariri, Sebastiana, Cabo Tenório, Faz Força Zé, Aquarela Nordestina, Mané
Cazuza, Assunto Novo, Moxotó, Forró na Gafieira, Lição de Tabuada, Saudade de
Campina Grande, Na base da Chinela, Amigo Velho, Tropeiros da Borborema, Quadro
Negro, foram mais tarde regravados por muitos intérpretes como Clara Nunes, Gal
Costa, Zé Ramalho, Dominguinhos, Jorge de Altinho, Elba Ramalho, Biliu de
Campina e mais recentemente por Lucy
Alves.
Falecido prematuramente
no dia 10 de julho de 1968, fato que comoveu não só Campina Grande, mas toda a
região nordestina, a radiofonia campinense perdeu um dos seus grandes sustentáculos na difusão
da cultura nordestina, isto porque a famosa Rádio Borborerma transmitia em
ondas médias e tropicais, atingindo suas ondas até países do exterior.
Tudo isto é narrado no
livro “Pra Dançar e Xaxar na Paraíba: andanças de Rosil Cavalcanti”, (445 p), de
autoria de Rômulo C. Nóbrega e José Batista Alves, que foi lançado em outubro
último, ano do seu centenário. Encantado com a riqueza de informações
abrangendo Rosil e todo seu grupo, o promotor público Agnello Amorim prefaciou
esta biografia numa rica e harmoniosa história onde há o envolvimento mútuo de
Rosil e Campina Grande.
Por fim, Rosil deixou um
legado a esta cidade abraçada por ele, quando musicou o poema do tribuno
Raymundo Asfora, “Tropeiros da Borborema”, uma associação perfeita entre letra
e música, interpretada por Luiz Gonzaga, onde colocou os tropeiros num patamar
muito bem sedimentado, ofuscando ainda hoje os demais benfeitores e
construtores desta cidade como os boiadeiros, fabricantes de farinha e de rapadura,
os comerciantes pioneiros e seus fabulosos artífices.