Mais
uma vez o selo Kuarup, de origem carioca, mas hoje com raízes fincadas na
capital de São Paulo, arranca do fundo do baú pérolas do samba de autoria e
interpretadas por artistas super especiais, como Paulinho da Viola e Elton
Medeiros.Essas pérolas estão no CD Samba na Madrugada
Paulinho
e Elton são geniais.
Outro
dia o querido Eduardo Gudin dizia que era importante eu ter uma conversa com
Elton, pois o Elton já não enxerga mais com os olhos que Deus lhe deu; e se
enxerga, enxerga muito pouco. Ele sofreu deslocamento de retina como eu. Só que
para ele, segundo Gudin, o mundo parece ter acabado. Ele esta triste.
Desesperado ou beirando o desespero. Falemos disso outra hora.
O
CD que me chega às mãos pela Kuarup foi lançado originalmente no formato de LP
em 1966, com texto de contra-capa assinado pelo compositor Hermínio Belo de
Carvalho. er
Arvoredo
é o samba que abre o disco, tendo como interprete o seu autor Paulinho da
Viola. Os primeiros acordes lembram a batida da bossa nova, mas só lembram
antes de se transformar numa oba-prima. A segunda música do disco, Maioria Sem
Nenhum, do Elton e por ele interpretada, não fica atrás da beleza que é Arvoredo
e da beleza que são as músicas seguintes:
14
Anos (Paulinho), Sofreguidão (Elton), Momento De Fraqueza (Paulinho) e todas as
outras, incluindo a derradeira intitulada expressa em dois títulos Alô, Alô (Paulinho
) e Sol Da Manhã (Elton).
O
CD Samba Na Madrugada é mágico, como mágicos são além de Paulinho e Elton, os
músicos que dele participam: Dino 7 Cordas (violão 7), Raul de Barros
(trombone),Copinha (flauta), Canhoto (cavaco)... e como se não bastasse tem
ainda Elton brincando com a caixa de fósforos.
Na
vida tudo é muito simples, mas complicamos
tudo.
O
homem é homem mulher é mulher, desde
Adão e Eva.
Como
a terra fértil aguarda a semente, a
mulher é semeada pelo homem e tudo acontece como num passe de mágica: e tudo se multiplica!
Estatísticas
apontam que a cada um segundo quatro bichos gente nascem n’algum lugar deste planetinha
que estamos destruindo.
Estatísticas
também apontam que no ano passado pelo menos 28 mil crianças de 10 a 14 anos
viraram mães, no Brasil.
Ainda
segundo estatísticas recentemente divulgadas é espantoso o número de crianças
que dão a luz Brasil afora, especialmente na Bahia de São Salvador.
Como
explicar essas estatísticas?
No
seu primeiro governo, Lula criou um projeto a que deu o nome de Fome Zero. A ideia, naturalmente, era acabar
com a fome. Mas isso é impossível, utópico, porque o poder transforma para o
bem ou para o mal.
Perdemos
para a África Açoriana na estatística que dá conta de milhares de brasileirinhas que dão á luz antes do
tempo.
Mais
de sete bilhões de pessoas habitam a Terra.
O
artigo 26 da constituição em vigor diz que a base familiar se constitui por um
homem e uma mulher. Não sei por que cargas d’água discutiu-se ontem na Câmara a
exaustão essa questão. O placar dessa
discussão resultou em 17 pontos favoráveis ao que se lê na constituição e cinco
contra.
A
questão é muito mais séria: complicamos tudo por nada.
O
analfabetismo é uma doença que tem cura. O Papa Francisco lembrou isso ontem,
em discurso histórico na Organização das Nações Unidas – Onu.
A
primavera é a estação que me serviu de berço para nascer. Foi num setembro. Mas,
hoje, a primavera se confunde com as demais estações.
Nesse
momento, parece verão: 36 graus.
Não
é da primavera que eu quero falar.
Ontem
à noite ouvi na TV que uma bola de fogo fora vista nos céus do sul do Brasil. Brilhava
e assustava muito, diz quem viu. E aí não teve jeito, lembrei da minha vó
Alcina.
Vó
Alcina, mulher santa que acreditava em todos os santos –e também no diabo-,
vaticinava que este mundinho-velho-cheio-de-poeira-de-meu-deus-do-céu, iria uma
dia se acabar em fogo. Parece que começou.
O
dólar sobe, a bolsa desce, o desemprego sobe, a crença popular pelo País desce,
a inflação sobe e a esperança desaparece?
Em
toda parte, o mundo dá sinais de que vai explodir. Em Meca, pessoas se
pisoteiam e milhares morrem e se ferem.
Da
Síria e de países em volta, milhões e milhões de pessoas procuram refazer suas
vidas ultrapassando fronteiras.
Vários
países da zona do euro, como a Hungria e Rússia, estão com suas forças de
segurança orientadas para impedir que imigrantes acessem seus territórios. É
êxodo jamais visto ou imaginado da história recente ou antiga.
Nem
no tempo de Moisés.
A
bola de fogo vista nos céus do sul do Brasil, e que minha vó Alcina acharia ser
coisa do Demo, não passou de um meteoro.
Meteoro
é assim: faz pluft antes mesmo de tocar o solo, espalhando faíscas que somem no
espaço.
E
pensar que no texto de hoje eu ia tratar da música parabéns a você, que o juiz
norte-americano resolveu, ontem, pô-la no universo do domínio público. Com
isso, a Warner deixa de faturar dois milhões de dólares/ano.
Acordei
com passarinhos trinando à minha janela como se formassem uma orquestra regida
pela força da criação. Á essa orquestra pareceu juntar-se a voz de uma amiga
que há muito não ouvia: Suzete.
A
primavera, como se vê, nos traz sempre emoções e boas lembranças.
Eu
perdi a luz dos meus olhos, mas continuo vendo de outras maneiras.
Viver
pode ser, quando queremos, um belo e salutar exercício de aprendizagem.
Hoje,
pela primeira vez, tive aula de como fazer da bengala uma espécie de bússula. E
como espécie de bússula, atravessei ruas
e avenidas por cerca de um ou dois quilômetros.
Voltarei
ao tema.
Ah!
sim: há sempre quem me pergunte sobre o que ocorreu comigo, ou com os meus
olhos.
Há 47 anos completados
no mês de setembro, como o de agora, o Brasil tomou conhecimento de uma das
músicas que por décadas daria dor de cabeça aos poderosos de plantão, fardados
ou não. Essa música, uma guarânia, era “Caminhando” ou “Pra não dizer que não falei
de flores”, do paraibano Geraldo Vandré.
Dentre os autores da
nossa música popular, Vandré, pseudônimo de Geraldo Pedrosa de Araújo Dias, é o
mais polêmico e pouco compreendido por parte de todos.
Logo mais à noite, no Palácio
das Artes, em Belo Horizonte, será lançado o quarto livro sobre a obra e a
trajetória desse artista. Título: “Vandré
- O Homem Que Disse Não” (Geração Editorial), do jornalista mineiro Jorge
Fernando dos Santos. Antes desse livro, foram lançados mais três, o
penúltimo, do também jornalista Vitor Nuzzi, “Vandré, uma canção interrompida”
(Independente; a nova edição será lançada ainda este ano pela Kuarup).
Dentre
todos, até agora, o livro mais completo é o de Vitor Nuzzi. Entre o início e o
término do livro, o autor demorou pelo menos 10 anos até lançá-lo. Em tempo:
até o final deste mês, o jornalista paraibano Gilvan de Brito lançará em noite
de autógrafo o livro: Não me chame Vandré”
O
pensar serve para tudo, para o bem e para o mal.
Repito,
não sei se foi Kamie ou Sartre, quem disse que estamos de passagem. Parece
óbvia a impressão, mas não é. Outra aparente obviedade é a do Espinoza, segundo
a qual “a vida é feita de encontros”.
Mas
o mundo como está, hoje, certamente terá dificuldade de distinguir o que é ou
não é obviedade.
É
óbvio gerar apátridas como hoje se gera?
É
óbvio congelarmos nossa sensibilidade diante do caos que a vida humana está se
tornando?
Portanto,
o que é ou não é óbvio está bem embaixo do nariz.
É
a velha questão do ser ou não ser, questionada em Hamlet pelo popular
Shakespeare.
Sim,
toda a obra do Shakespeare é baseada nos contos e demais histórias que ele
colheu na sua região há uns 500 anos. E é popular, também, porque é o
dramaturgo mais conhecido e aplaudido mundo afora nos últimos cinco séculos.
Mas
por quê diabos estou falando dessas coisas hoje, de novo?
Vocês
já perceberam que o Brasil poderia ser o palco em que melhor os personagens de
Shakespeare se movimentariam?
Dilma
cai ou não cai?
Pessoalmente,
acho que a cria de Lula não deveria cair; até porque teríamos de enfrentar nova
crise. Ou seja: uma crise dentro da outra.
Quem
assumiria as rédeas da situação? Temer? Cunha? O fato é que nós, todos,
continuaríamos perdendo.
Mais
uma vez, estamos num beco sem saída. E nem vou falar, como sempre falo, a
respeito de educação e cultura, ciências, matemática...
O
professor finge que ensina, o aluno finge que aprende, e nessa brincadeira de
empurra-empurra, mais uma vez, quem perde somos nós e quem virá depois de nós.
O
Brasil é mesmo estranho. Estamos no inverno: 33 graus, no momento.
O
mundo nos deus, através dos tempos, grandes pensadores. Filósofos que
mergulharam no Eu, tentando explicar praticamente o inexplicável do pensamento
humano, da dor humana, da vida em si. A esse tipo de estudo dá-se o nome de
Existencialismo.
Camus
e Sartre foram grandes pensadores que abraçaram essa linha de pesquisa para,
supostamente, nos salvar.
O
mundo está fervendo, está em polvorosa, gente matando gente como nunca se
matou. Mas, claro, isso não é e nunca foi novidade. Textos bíblicos já tratavam
do assunto. Caim matou Abel, não foi?
Façamos
de conta que o mundo, hoje, é um ônibus. Um grande ônibus, um ônibus enorme,
lotado de gente gorda, magra, de todo tipo. E aí, sádico, o motorista dá um brecada,
uma forte brecada, para arrumar os passageiros.
É
um inferno, não é?
Boa
parte do mundo árabe está pegando fogo, com o Estado Islâmico queimando e
matando gente ainda viva.
Acho
que foi Sartre quem disse que somos todos estrangeiros. Somos estrangeiros em
qualquer parte do mundo. Somos estrangeiros porque não somos pedras, nem
árvores com raízes profundamente fincadas no solo. Em qualquer solo do planeta.
Quer dizer, estamos de passagem por este mundinho que estamos explodindo.
E
sabe você aí, meu amigo, como em certas horas eu me sinto?
Sinto-me
que nem um barquinho de papel à deriva em alto mar, sem rumo nem capitão. E
você?
O mundo está pegando fogo, incluindo o Brasil e seus dirigentes sempre insensíveis com o futuro do povo.
O mundo está pegando fogo.
Vejamos o que está acontecendo no mundo árabe, na Europa.
Tudo um horror, um horror pela incapacidade de nós todos e, principalmente dos dirigentes mundiais, que escondem em si a capacidade de contribuir amando o próximo.
Os sírios continuam tentando atravessar o mediterrâneo para chegar à Itália, à Alemanha, Europa.
As pessoas continuam correndo atrás da sobrevivência. Isso mostra a importância do que é a vida.
A busca pela vida é a negação da morte.
Mas o que é que isso tem a ver com cultura popular?
O nome já diz.
Cultura Popular.
A cultura popular é feita pelo povo, povo de qualquer país.
Viver é um esforço de o povo se desdobrar em si, se desdobrar em arte.
O desdobramento do ser em si, em arte, é vida.
Quer ver?
Agora, a pouco, estiveram comigo na sede provisória do Instituto Memória Brasil (IMB), o maior cuiqueiro do Brasil, Osvaldinho, e o seu biógrafo: André Domingues. Com André veio o Gato com Fome, Cadu.
Foi uma conversa muito bonita a que nós tivemos hoje, aqui. Falamos de Brasil, de brasilidade, das incongruências da vida brasileira.
E na vida do mundo, em todos os tempos, tem e haverá, sempre, a lua.
A lua no nordeste é a lua que o mundo conhece. E tem a Lua Luana, o nome, um poema.
Na vida há tristezas, alegrias e, nisso tudo, a cultura popular.
Vocês querem saber um pouquinho sobre um fazedor de cultura popular?
O meu querido amigo jornalista Vitor Nuzzi gravou ontem as perguntas que fiz para Marimbondo Chapéu, um criador brasileiro. Leiam:
Quem é Marimbondo Chapéu? Nasceu
quando, onde, e qual o nome verdadeiro?
Marimbondo Chapéu é da região dali de
Alto Belo, próximo à cidade de Janaúba, vem da origem da espécie de marimbondo,
foi o nome que eu ganhei, mas o meu nome mesmo é Ivanilton da Silva. Tenho 34
anos de idade, resido em Montes Claros, pretendo residir também em São Paulo,
através de um grande projeto.
Você nasceu quando, exatamente?
Dia 27 do dois de 1981.
Pai e mãe, como chamam?
Maria de Fátima Marcelina
Silva, Antônio Augusto Silva.
Todos mineiros?
Todos mineiros.
Quantos filhos o casal teve?
Nós somos nove filhos. Eu sou mais do
meio. Tem mais três caçulas depois de mim.
E o pai e mãe, têm a ver com música?
A família já vem de origem de música,
né, Assis? Desde contando com Jaquinho, Jackson Antunes, já vem do trabalho de
ator. A nossa família já é direcionada a esse lado de trabalho. Eu parti para o
lado da música porque gostava de ouvir o som da rabeca, pela primeira vez, com
Zé Coco do Riachão. De lá para cá, apaixonei-me com a história.
E o Zé Coco, você conheceu?
Conheci, com certeza. Eu fui na casa
dele quando era novinho. Um dia, vendendo picolé ainda na rua, vi ele
fabricando as rabecas, as violas. Fiquei encantando com aquele trabalho dele,
passei a ir lá várias vezes, fui aprendendo aos pouquinhos, depois vim a São
Paulo para aperfeiçoar, porque não é fácil pegar uma perfeição de
fabricar.
O apelido, quem deu?
Foi José Osmar e Téo Azevedo.
Puxa, como assim?
Quando eu tinha 13, 14 anos, lá na Folia
de Reis lá de Alto Belo, eu era meio traquinas, falavam que eu era um menino
meio levado... Nisso, a gente estava foliando numa casa já antiga e na cumeeira
da casa tinha a ... Aí, eu tocando a rabeca, vi a caixa, direcionei o arco da
rabeca, coloquei o arco no meio dos marimbondos, os bichos veio caindo nas
minhas costas, deu uma ferroada. Téo Azevedo olhou assim, deu uma risada e
falou assim: "Esse aí é marimbondo chapéu, bicho". Aquela vozona
rouca, estridente dele... Os dois (Téo e o declamador José Osmar)
falaram na hora, né? Então ficou de autoria dos dois.
E você constrói rabeca, como é que é
isso?
Assis, eu gosto de construir rabeca
com pouquinha ferramenta. para mim não tem tanto maquinário para trabalhar. A
rabeca é fabricada com amor, carinho, coração, você se entrega a alma, viaja no
mundo. Cada vez que você dá um detalhe numa madeira, mais um sorriso você se
encontra. Eu fabrico com facão, estilete, um serrotinho e o coração.
Quantas rabecas você fez até hoje,
você tem ideia?
Já perdi a conta.
Quanto custa uma rabeca sua?
É baratinho, 300 reais.
E você escreve seu nome na rabeca?
Tem meu nome dentro da caixa da
rabeca.
Que madeira usa pra fazer?
Eu uso pinho, cedro, uso aquela caixa
de bacalhau. São madeiras fáceis de encontrar, porque tem aquela madeira de
lei, que é difícil, então uso madeira mais tradicional mesmo.
A
Igreja do Diabo é um conto do sempre bom Machado de Assis. Eu gosto muito desse
conto. Nesse conto o Diabo, cansado dos ensinamentos de Deus e cheio de inveja
pela quantidade enorme de seguidores de Deus, o Diabo inventa de fazer
concorrência com Deus. Mas antes disso, o Diabo vai ao Céu pedir permissão a
Deus para fundar a sua própria Igreja. E assim é feito. Ao descer a Terra, o
Diabo resolve criar uma filosofia própria para destronar Deus.
Na
sua nova investida contra Deus e as coisas Divinas, o Diabo inverte tudo.
Inverte os valores sociais, os valores de cada um de nós. Assim, por exemplo, a
venalidade vira a principal virtude humana. Se a mulher pode vender o seu
cabelo, o homem o seu chapéu, as botas, por que não pode também vender a sua
palavra, a sua crença, a sua fé, o seu voto?
Essas
questões se acham no conto A Igreja do Diabo.
Ouvindo
ontem no Rádio os feiticeiros Barbosa e Levy justificando o injustificável
perante o povo brasileiro, não deixei de pensar no Diabo e na sua igreja.
Pois
bem, do forno da danação planautina acaba de sair um bolo amargo e indigesto.
Esse bolo, chamado de “Pacote de corte de gastos” pela imprensa d’aqui d’acolá
tem gosto de jiló. Um horro, na verdade, é bem mais amargo do que jiló, pois
nesse bolo não há tempero que o torne digesto.
Mas,
diachos, de novo não era bem isso o que eu queria dizer.
O
povo brasileiro é muito, muitíssimo, maior do que as feitiçarias e maldades
contra ele praticadas.
Ontem
eu fiz uma referência, cá, neste blog a respeito do compositor, cantor e
luthier Marimbondo Chapéu.
No centro do poder político, Brasília,
feiticeiros estão em ação contra o humor de nós todos, brasileiros. O clima lá
está fervendo, frevendo, do jeito que o diabo gosta.
Eu
disse frevendo. O frevo veio daí. Digo: a origem da palavra frevo vem de “frever”.
E hoje é o dia Nacional do Frevo, mas não é desse dia que eu quero falar e nem
da “frevança” política que ora se desenvolve em salas secretas do Planalto.
Estamos
nos últimos dias do inverno, mas a seca predomina em boa parte do território
nacional. Inclusive São Paulo, onde o governo nega – mas há – racionamento da
água. Há racionamento de água também, em Campina Grande, que é a principal
cidade paraibana depois de João Pessoa, a capital do Estado.
No
Piauí, há municípios que não tem o solo molhado por água de chuva há mais de 04
anos.
E
o Rio São Francisco, hein?
O
Rio São Francisco está secando, pedindo socorro.
A
seca atinge o velho Chico há pelo menos dois anos seguidos. A sua nascente, na
Serra da Canastra já secou, faz tempo. Em alguns pontos dos seus dois mil e
setecentos quilômetros já é possível fazer a travessia a pé. Terrível, não é?
O
rio passa por cinco munícipios beneficiando cerca de 16 milhões de pessoas. Mas
e agora?
Há
quase 200 anos já se falava na sua transposição. Parte dessa transposição foi
inaugurada em Cabrobó, PE, há coisa de dois meses.
A próxima novela da Globo, Velho Chico, vai
abordar o tema. A novela tem estreia prevista no segundo semestre do ano que
vem, de acordo, como nos disse a autora, Edmara Barbosa, em visita ao Instituto
Memória Brasil, IMB. Na ocasião ela estava acompanhada de um de seus
colaboradores, o cordelista Marco Haurélio.
CANTORIA NO IMB
Nesse
último final de semana, esteve em visita no Instituto Memória Brasil o luthier
e instrumentista Marimbondo Chapéu. Marimbondo, que faz parte da trupe do ator
mineiro, Jackson Antunes, atualmente na novela das 09 (Globo), tocou e cantou
belas páginas do cancioneiro rural, entre as quais Luar do Sertão.
Os
últimos dias do inverno estão se indo. A temperatura aqui, na capital paulista,
está pra lá de baixa. Ali pelos 14, 15 graus.
O
Coringão acaba de abater o Joinville, por 3 a 0. E aí, naturalmente, a
temperatura aumentou... E como se não bastasse, amigos e amigas chegam trazendo
luzes à minha mente: Daniel, Celia e Celma...
A
Celia chega toda feliz de Minas Gerais. Passou por Ubá, São João del Rei,
Tiradentes, Bichinho... Em Bichinho, elas apresentaram a seus amigos Marisa e
Osvaldinho Viana –excelente dupla de artistas-, que as acompanhavam, as doceiras
da região, Maria e Osni.
A
apresentação de Celia e Celma a Osvaldo e Marisa, foi só o começo de uma festa
consagrada pela mágica das doceiras e da cantoria, que contou no repertório
belíssimos clássicos da música brasileira, como Tristezas do Jeca, Luar do
Sertão e Chalana. Fiquei encantado.
Puxa,
como é a vida!
Hoje
eu ia só falar de um cara que nasceu em 1265. Esse cara partiu com 56 anos de
idade. Eu quero falar de Dante, o autor de A Divina Comédia.
No
século XIV, a obra prima do poeta italiano já era conhecida do público na sua
primeira e segunda partes.
A
Divina Comédia, originalmente escrita como A Comédia, é dividida em três
partes: o Inferno, que trata de ciclos terríveis relacionados ao humano; o
Purgatório, que trata dos pecados capitais e ameniza o humano; e, por fim, o
Paraíso, que é a parte em que o autor, na sua grandeza genialíssima, carrega
para a felicidade, em pensamento, o amor da sua vida: Beatriz.
Beatriz
já faz parte da música brasileira, por intermédio de Edu Lobo.
A
Beatriz de Edu é, naturalmente, inspirada no poema do Dante.
Esse
poema gerou muitas inspirações, como a Canção do Exílio, de Gonçalves Dias. O
nosso Belchior espraiou-se por inteiro nesse famoso poema de Dante. Salvador Dali, também. Em tempo mais distante,
Franz Liszt, também espraiou-se numa composição totalmente baseada nas três
partes de A Divina Comédia.
Dante
Alighieri é incrível! E é tanto, que não me espantei quando o Papa Francisco
disse que ele, Dante, foi o Poeta da Esperança.
E
a esperança, cá pra nós, está na mágica das doceiras Maria e Osni, e, é claro,
em Dante.
Todos
nós deveríamos ser como vinho, ou seja: quanto mais velho, melhor.
Mas
não é sobre isso que eu quero falar.
Há
750 anos, nascia na Itália o poeta Dante
Alighieri (1265 – 1321), autor da obra-prima A Divina Comédia.
Mas
não é sobre Dante que eu quero falar.
Houve
um tempo em que todos nós éramos jovens.
Eu
sou da safra de 1952 e o conterrâneo Geraldo Pedrosa de Araújo Dias, de 1935.
Geraldo
é o criador do mais polêmico personagem da música popular brasileira: Vandré.
Eu
conhecí Geraldo em agosto de 1978 e um mês depois, precisamente no dia 17, um
domingo, publiquei no extinto Folhetim, do paulistano Folha de S.Paulo, a primeira
entrevista que o criador de Vandré deu ao retornar do exílio.
A
entrevista intitulada O Desaparecido provocou grande polêmica dentro e fora da
imprensa. Recebi centenas de telegramas e cartas de leitores espalhados Brasil
a fora.Desde então eu e o entrevistado temos conversado muito. Ontem mesmo, à
noite, conversamos um pouco sobre seus 80 anos hoje completados. Brincando, ele
disse:
- Vou comemorar a data no próximo ano.
Também
ontem falei com Boldrin, que conheço desde o começo dos anos 80.
À
época ele gravava o programa Som Brasil no teatro Nydia Lícia. Bom, disse
Boldrin:
-
Há muito tento trazê-lo ao meu programa. Cheguei a convidá-lo para estar comigo
na gravação do programa de dez anos na TV Cultura.
Geraldo
é um ícone da nossa música popular e, como tal, por muita gente considerado uma
pessoa “muito difícil”.
Ano
passado ele me perguntou se eu poderia pô-lo em contato com a cantora Joan
Baez, também ícone da música norte-americana. Realizei o seu desejo pondo-o
frente a frente a Baez. Na ocasião, ela disse estar a sua disposição, inclusive
para gravarem juntos um disco. Enigmático,
Geraldo riu e não
respondeu
se aceitaria ou não a inusitada proposta.
Um
amigo meu, Vitor Nuzzi, me disse outro dia que não poderia morrer sem assistir
um Fla-Flu no Maracanã, Rio de Janeiro.
Ele
é paulistano da Aclimação, bairro que faz divisa com a Liberdade.
O
bairro da Liberdade é o que acolhe o maior número de japoneses no Brasil, desde
1908. Uma curiosidade: 100 anos antes, em 1808, era implantada no Brasil a
Imprensa Régia.
Tanta
coisa a dizer...
O
meu amigo, ao contar que não poderia partir sem assistir um Fla-Flu, fez-me
lembrar o tempo em que os grandes clássicos de futebol eram disputados naturalmente
em campo e comemorados ao sair do campo.
Nuzzi,
paulistano, como já disse, espantou-se com o fato de que as torcidas de Fla e
Flu deixaram o estádio em confraternização, brincando, cantando, se divertindo.
Um passatempo natural de domingo, com famílias inteiras assistindo e brincando,
comemorando, se confraternizando...
A
fala do Nuzzi me lembra também os grandes embates medievais entre mouros e cristãos.
Também
me lembra os embates entre cantadores repentistas, aqui no Brasil...
A
fala lembra ainda os embates entre compositores da nossa música, como Vandré,
Chico, Gil, Sérgio Ricardo...
Mas
tudo é paz, e tudo deve ser feito em disputa em paz.
No
Maracanã, meu amigo realizou a sua vontade de assistir um Fla-Flu. Um Fla-Flu
em que as torcidas se uniam e brincavam entre si, comemorando a vida, a alegria
de viver.
Assim
é que é a vida.
Ou
assim é que deveria ser.
Por
lembrança, o mineiro Rosa (1908-1967) dizia que todo ser inteligente deveria
ser necessariamente torcedor do Flamengo.
Ninguém
é perfeito, o Nuzzi é são-paulino.
Amanhã
12, um amigo em comum, e aqui me refiro a mim e ao Nuzzi, está fazendo 80 anos
de vida.
Geraldo
Pedrosa de Araújo Dias, paraibano de João Pessoa, torcedor do Botafogo da
Paraíba, nasceu no dia 12 de setembro de 1935.
E
um dia, quem sabe, o levaremos a assistir a uma partida histórica entre o
Juventus e o Nacional, cá da capital paulistana. Essa partida, certamente,
ocorrerá no mítico estádio da rua Javari, que fica ali localizado no centro do
mundo: Mooca.
Amanhã
12, quem sabe, voltaremos a falar um pouco mais a respeito de um cara que quer
um Brasil para brasileiros, brasileiros cidadãos. Esse cara é Geraldo Pedrosa
de Araújo Dias, que nós todos conhecemos como Geraldo Vandré.
Fico
ouvindo na vitrola o disco rodar com Piaf repetindo quase a exaustão:
Padam,
Padam...
Padam,
Padam talvez não queira dizer nada, não há tradução.Mas Padam, Padam, na memória
de Piaf traz uma história de amor que termina em “coração de madeira”.
Padam,
Padam, talvez seja essa expressão entendida na interpretação da Piaf como o “tam,
tam, tam, tam”, do Beethoven; o “pararam”, do amigo Luiz Guerrero. É como se de
um modo ou de outro usássemos o et-cetera para dizermos coisas que tais. Assim,
como...Reticências servem para deixar no ar uma imagem, uma repetição, uma
ideia de algo por vir. Também quase uma obviedade.
Padam,
Padam...O amigo José Cortêz me telefona,um tanto decepcionado, com os rumos
inda indefinidos ora hoje o Brasil passa.
Através
dele, José, fico sabendo que a Bienal do Livro de Recife foi abreviada.
E
também através dele, José, fico sabendo que houve – a imprensa não noticia – que
como tão rapidamente chegou da mesma forma acabou a Bienal, ou algo que o
valha, do Rio de Janeiro. O assunto é música, o assunto é poesia, o assunto é
conhecimento.
E
também através do meu amigo José, fico eu sabendo que o governo deixou de
comprar livros para distribuição entre as escolas do meu Brasil brasileiro.
È,
também não gostei. É como se a Pátria Educadora fosse uma mera referência a
educação.
E
aí o meu amigo José, um louco educador, fundador de uma tradicional editora que
leva o seu nome (Cortêz Editora), como espécie de protesto achou de presentear
o Brasil com algo em torno de 1,5 milhão e meio de exemplares de livros que
editou distribuindo praticamente de graça. De graça porque cada exemplar, desse
milhão e meio, custará pra todo mundo reais de cincoenta 50 centavos, um, dois,
três...
A
tristeza de José Cortêz reflete na grandeza dele em distribuir todo o seu estoque
de livros a preço de banana. De banana não, pois banana esta com o preço pela
hora da morta, como o tomate, o abacaxi, o limão...
As
bienais ou feiras de livros no Brasil, estão em extinção.
Nós, brasileiros, lutamos desde sempre
pelo direito de ir e vir. Está na Constituição, em todas as nossas Constituições;
desde a primeira, de 1824. E desde ontem, vivemos problemas de todos os tipos.
Problemas graves. Problemas de corrupção...
O Regente Feijó (Diogo Antônio Feijó, 1784 -1843), foi o nosso primeiro governante.
Bastardo, criado entre padres, fez a
sua época o que hoje ninguém faz: dedicou-se completamente ao Brasil, querendo,
desejando, lutando de todas as formas para que o Brasil ganhasse a liberdade.
Em 1821, o Regente Feijó, paulista,
herdou da família que o criou um volume bastante de dinheiro.
Em 1822, Dom Pedro disse num berro “independência
ou morte”.
Foi num dia como hoje, 7 de setembro.
Era um sábado. Hoje, tantos anos
depois, segunda, ainda não o entendemos.
O grito do Ipiranga, ou seja: foi um
grito pela insatisfação que o seu autor, a essa altura, já nutria por sua terra
Portugal. Mas esse seu gesto, só foi reconhecido cinco anos depois.
Que eu quero dizer o seguinte: a
liberdade tão ansiada por nós, todos, é um passarinho que deve ser, sempre, bem
tratado.
O grito do Ipiranga passou a ser
reconhecido como importante verdadeiro, repito, só cinco anos depois.
A Inglaterra e França foram os
primeiros países, depois de cinco anos, a reconhecer o ato de Dom Pedro como um
berro de liberdade.
Agora, que tal você aí procurar saber
o que é que tem o Regente Feijó com a independência
do Brasil?
O
dólar no céu, cutucando o sol que está meio doido, torra os miolos do Brasil. Quer
dizer:: dólar subindo, alto estima descendo e o prato na mesa do pobre cada vez
mais minguando ...
A
crise política e a crise econômica se abraçam pondo a vida brasileira em estado
de alerta.
A
imprensa mundo a fora, especialmente The
Economist e o Financial Times, bota lenha na fogueira dizendo que dona Dilma e
a sua equipe econômica perderam o rumo tipo: Apertem o Cinto Que o Piloto
Sumiu.
Pois
é, é como se todos nós estivéssemos sozinhos dentro de um avião a três mil pés
e a três mil km/h voando em direção ao inferno. Mas, calma, pensemos como Gramsci (1891 -1937). Segundo ele ser pessimista na
avaliação é correto, como é correto também
sermos otimistas na ação.
O
mundo, desde a sua origem, tem se apresentado a nós pobres mortais crise, crise, crise, crise e crise, mas de
todas as crises, pequenas, médias e catastróficas, temos saído. Portanto, não
vai ser essa merrequinha, ou marolinha como dizia Lula, que vai nos levar as
profundas do inferno.
O
Brasil não é propriamente o Olimpo, embora alimente deuses de todas as matizes.
Eu
Gostaria de saber como é que os cordelistas deste Patropi estão acompanhando a
turbulência que o avião Brasil esta sofrendo.