Pesquisa do Datafolha publicada no último fim de semana dá conta de que quase 50% dos brasileiros atuam, politicamente, na linha esquerda.
Isso me fez lembrar da Coluna Prestes, que atuou com intensidade no correr dos anos de 1920.
A Coluna era esquerda vermelhíssima.
Uma vez Prestes me disse, contrariamente ao que se dizia, que a Coluna que levou seu nome não partiu pra cima dos cangaceiros de Lampião. Disse-me o famoso comunista que seus homens, enfileirados, acompanharam de longe a movimentação dos homens do famoso cangaceiro. E só. Explicação do velho Prestes: "Se o governo queria pegar Lampião e também a Coluna, alguma coisa estava errada".
Os cangaceiros e a Coluna Prestes eram contra o governo vigente. Portanto, não fazia sentido os cangaceiros e a Coluna se digladiarem.
Digo isso para lembrar de Carlos Lacerda e Gerardo Mello Mourão (1917-2007).
Lacerda começou na política como comunista.
Mourão conheceu de perto a Coluna Prestes. Era menino, tinha ali por
volta de 8 anos de idade. Integrantes da Coluna chegaram a pernoitar na casa de Mourão, em Crateús, CE.
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Politicamente Gerardo Mello Mourão ingressou na política partidária defendendo os ideais da ação integralista. Ora, veja! Mas o tempo passou, e depois de 18 prisões, Mourão aliou-se à esquerda.
Carlos Lacerda, por sua vez, trocou a esquerda pelos ideais da direita canina. A morte de Vargas deve-se a ele, diga-se de passagem.
A história do cearense Gerardo Mello Mourão é interessantíssima.
Lacerda tinha um cérebro privilegiado. Falava várias línguas e hipnotizava multidões. O mesmo pode ser dito sobre Mourão.
Lacerda e Mourão, além de oradores, eram intelectuais de grande peso na vida brasileira. E também atuaram como jornalistas.
A obra literária de Mourão é fantástica. Recomendo, aliás, a leitura do livro A Invenção do Mar. Voltarei ao tema, mas antes leiam a entrevista que Mourão deu a Tarcísio de Holanda e Ana Maria Lopes poucos anos antes de morrer. Acesse: DEPOIMENTOS: GERARDO MELLO MOURÃO