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domingo, 17 de novembro de 2024

VIVA RACHEL DE QUEIROZ!

Hoje é domingo... Mas não foi num dia como hoje, tampouco num sábado ou numa sexta-feira que nasceu no já distante 1910 Rachel de Queiroz. 

Rachel nasceu no dia 17 de novembro, uma quinta-feira. Cedo, muito cedo, ela passou a interessar-se pela vida brasileira a partir do seu Ceará.

Tinha ela 17 anos de idade quando começou a publicar poemas no jornal do Estado onde nasceu. 

Foi no jornal O Ceará que Rachel passou a publicar seus primeiros textos na forma de versos, utilizando o pseudônimo de Rita de Queluz. Não demorou muito, essa Rita passou a integrar a redação daquele jornal. 

Enquanto atuava no jornal, Rachel punha no papel a história da grande seca de 15 que testemunhou. Nessa história ela conta o sofrimento de uma família retirante, constituída por um pai, uma mãe e dois filhos. A fome toma conta desses personagens. Um menino come uma raiz pensando ser macaxeira. Engana-se e morre envenenado, pois o que comera foi mandioca.

No decorrer da história, o casal e o outro filho chegam esfarrapados e se desmilinguindo de fome na capital cearense. Lá são jogados num campo de concentração. Isso, antes da tragédia mundial provocada pelo nazismo.

O menino que tivera o irmão morto na estrada é adotado por uma jovem de nome Conceição, de família proeminente na região. 

Pois bem, é  a partir de Conceição que Rachel de Queiroz constroe grandes personagens femininas enriquecendo sua ampla bibliografia.

Em 1930, Rachel publicava seu primeiro romance com personagens fortes, fortíssimas e cheias de esperança, como essas que acabamos de lembrar. 

O Quinze foi lançado à praça de modo independente. A tiragem não passou de mil exemplares. 

Depois desse romance, que chamou a atenção de críticos do eixo Rio-São Paulo, Rachel continuou publicando livros como Caminho das Pedras; As Três Marias; A Beata Maria do Egito; Dora, Doralina... 

As personagens dessas histórias são incríveis. 

Em Caminho dss Pedras, Rachel mostra a força da mulher como política. O mesmo acontece nos seus outros livros. 

No começo dos anos 30, Rachel chegou a ser presa sob a acusação de ser comunista.

Com a advento do Estado Novo (1937-1945), livros seus e de Jorge Amado, Zé Lins e Graciliano foram queimados em praça pública, em Salvador, BA.

Isto também ocorreria com Pagu, que pela primeira vez foi presa na França também sob a acusação de ser comunista.

Pagu foi presa outras 22 vezes por agentes do Estado Novo. A última prisão lhe rendeu cinco anos de cárcere. O PC a abandonou, como abandonou Graciliano e outros e outros e outros grandes nomes da intelectualidade brasileira. Pagu morreu de câncer. Mas essa é outra história. 

Antes de se tornar a grande escritora que foi, Rachel traduziu uns 40 ou 50 livros do inglês e do francês para o português. Entre os autores que traduziu encontram-se Jack London, Dostoiévski, Jane Austen, Jules Verne, Emily Brönte.

Rachel de Queiroz casou-se duas vezes, teve uma filha que morreu com um ano e pouco de idade. E ela própria no dia 4 de novembro de 2003. Dormindo...

Foi a primeira mulher a conquistar uma cadeira na masculina Academia Brasileira de Letras, ABL, em 1977.

Rachel foi também a primeira escritora brasileira a ganhar o prêmio Camões, em 1993.

É de 1992 o último romance de Rachel: Memorial de Maria Moura.

Maria Moura é uma cangaceira arretada, como a sua autora!

Curiosidade: em 1961, o presidente eleito Jânio Quadros convidou Raquel a ser ministra da Educação do seu governo. Ao declinar o convite, a escritora disse ser apenas uma jornalista, mas que ele poderia contar com ela...

LICENCIOSIDADE NA CULTURA POPULAR (148)

Sobre Lima Barreto já falamos um pouco. Mas não custa lembrar que na sua obra ele põe a mulher como em alto patamar. Heroína, quase deusa. Na visão dele, o homem beira o comportamento de uma besta. Não era brinquedo esse Barreto. Ele próprio sentiu na pele os horrores de uma sociedade racista, machista, hipócrita.
No romance Cemitério dos Vivos, que não teve tempo de concluir, Barreto cita curiosamente uma mulher que viveu em tempos da Idade Média. Seu nome: Heloísa de Argenteuil (1092-1164). Essa mulher comeu o pão amassado por todos os diabos, depois de ser seduzida e desvirginada por um cara chamado Pierre Abélard (1079-1142). Era religiosíssimo, vejam vocês!
Heloísa conheceu Bernardo quando tinha uns 17 anos de idade e ele uns 30.
Heloísa e Pierre trocavam cartas entre si de modo muito discreto. Em uma dessas cartas, ela diz a seu amado: “Eu preciso resistir àquele fogo que o amor instiga nos corações jovens. Nosso sexo (o feminino) não é nada além de fraqueza e tenho grande dificuldade em me defender pois me agrada esse inimigo que me ataca”. Em outra carta, Heloisa desabafa:

Enquanto gozávamos dos prazeres de um amor inquieto e, para usar um termo mais vergonhoso, mas mais expressivo, nos entregávamos à fornicação, a severidade divina perdoou-nos. Mas logo que legitimámos esses amores ilegítimos e cobrimos com a dignidade conjugal a ignomínia da fornicação, a ira do Senhor abateu pesadamente a sua mão sobre nós e o nosso leito imaculado não encontrou favor diante daquele que outrora tinha tolerado um leito manchado. Para um homem apanhado em flagrante adultério, a pena que sofreste seria suficiente como castigo. Mas o que outros merecem por adultério, caiu sobre ti pelo casamento, relativamente ao qual estavas convencido de já ter reparado todas as injustiças. O que as mulheres adúlteras fizeram aos seus fornicadores, a tua própria esposa fê-lo a ti…

Leolinda Figueiredo Daltro (1859-1935) foi uma das primeiras brasileiras a lutar a favor da cidadania feminina em todos os sentidos. Era baiana e de profissão enfermeira. Fundou jornais e pelo menos uma revista, Tribuna Feminina, no Rio, para onde se mudou em fins dos anos 80 do século 19. Promoveu discussão e até passeata que tinha a mulher como figura central.

Foto e Ilustrações de Flor Maria e Anna da Hora

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