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quinta-feira, 5 de outubro de 2023

ADEUS, FILHO

Francisco e seus irmãos

Francisco com sua irmã mais nova, Clarissa
Todos os dias em todos os cantos morrem e nascem pessoas.
Todos os dias em todos os cantos nascem e morrem pessoas.
O nascimento nos encanta, nos faz alegres e esperançosos.
Vida é esperança.
A morte quase sempre nos surpreende, nos pega quase sempre desprevenidos. Não nos acostumamos com a morte.
A morte é uma tragédia.
Eu era criança e tinha uns 2 ou 3 anos.
A minha vó Alcina, que Deus a tenha, um dia me levou à casa de uma comadre sua.
Na sala da casa dessa comadre, cujo o nome não lembro, havia uma espécie de mesinha improvisada sobre a qual se achava um pequenino caixão de cor azul e dentro jazia o corpo de uma menina de mais ou menos um ano de idade. Em volta espalhava-se no ar um cheiro incômodo de vela queimando e vozes femininas, na maioria, entoando um canto triste que parecia nunca se acabar.
Eu não entendia nada do que estava ocorrendo, mas notava que havia muita tristeza no ambiente.
A minha vó pegou-me ao colo e fez-me ver a menina que no caixão estava. Lembro que perguntei: "Ela está com os olhos fechados, por quê?".
A minha avó passou a mão no rosto, enxugou lágrimas que insistiam em cair. Lembro que olhou pra mim, enquanto me punha no chão. Disse: "Ela está dormindo".
Retruquei o que dizia dona Alcina: "Se eu fosse ela, eu abria os olhos".
Essa imagem nunca saiu da minha memória.
O Dia de São Francisco é o dia 4 de outubro.
Enquanto eu falava do santo de Assis, Itália, o meu filho Francisco fechava os olhos e dormia um sono sem fim, num leito de hospital do Rio Grande do Norte, RN.
Francisco viveu livre sem aceitar as amarras sociais. Aos 42 anos alçou voo como os pássaros e virou estrela.
Deixa saudades e a voz gravada num disco em que declama o poema Vidas Secas, de sua autoria.

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