O carioca Heitor Villa-Lobos, compositor, instrumentista e maestro, deixou o seu nome definitivamente gravado na história da música erudita, ou clássica, como a música de concerto é mais comumente chamada.
Antes de Villa, o Brasil marcou terreno com os eruditos José Maurício Nunes Garcia (1767-1830) e Antônio Carlos Gomes (1836-1896).
Nunes Garcia teve por berço o Rio de Janeiro e Carlos Gomes, São Paulo. Ambos eram negros.
O autor das bachianas brasileiras, Villa-Lobos, nasceu em 1897 e aos 6 anos de idade já encantava tocando instrumentos de corda, como violoncelo.
Na metade dos anos de 1920, Villa-Lobos já tinha como ideia definitiva descobrir e valorizar a música nascida do conhecimento e sentimento dos autores brasileiros. Pra ele, música é música. E por pensar dessa maneira, facilmente aproximou-se e fez amizade com inspirados compositores e intérpretes da música popular. Entre esses, João da Baiana, Donga, Pixinguinha e João Pernambuco, coautor de Luar do Sertão. À propósito, durante muito tempo, pensou-se que essa música, uma toada, era só de autoria do maranhense Catulo da Paixão Cearense (1863-1946).
Depois que o pai Raul morreu e a mãe também, Villa arrumou dinheiro pra investir no conhecimento. Foi quando começou a viajar pelo Brasil, Nordeste inclusive. O Norte, também. Chegou a estudar e apreciar repentes e emboladas dos cantadores nordestinos. Do Brasil profundo, recolheu cantigas de roda que o inspiraram a compor cirandas.
São incríveis as adaptações de Villa para as cantigas infantis.
Quem não conhece Xô, Xô Passarinho?
A variante desta cantiga é Xô Pavão, assinada pelo pernambucano Zé Dantas e gravada pelo rei do baião, Luiz Gonzaga.
Xô, Xô Passarinho tem origem ibérica. A base desta história, uma lenda é uma criança judiada pela madrasta, na ausência do pai. A menina finda enterrada viva e com o tempo, sobre a cova, nascem gramas que parecem cabelos. Tanto que um jardineiro quando vai cortar a grama, ouve do chão a voz pedindo para que não faça isso. O caso é que a menina gostava de brincar com pássaros, daí a expressão "Xô passarinho!".
Introdutor, assim podemos dizer, do canto orfeônico no Brasil, Villa encontrou no milionário Carlos Guinle (1889-1956) o seu primeiro mercenas. O segundo mercenas, digamos assim, foi o presidente Getúlio Vargas.
Villa participou do Governo Vargas e dele teve todo o apoio pra mexer com a música. E assim foi feito.
A obra de Villa é reconhecida no Brasil e no mundo todo.