Quero aqui dar prosseguimento ao texto de ontem, que teve no brasileiro Carlos Alberto Parreira um dos personagens ou temas.
Mas antes não posso deixar de dizer que notícia de rádio e TV eu acompanho desde pixote.
Sou de seca e de chuva.
Enchente matando gente e bicho também morrendo à toa no meu Nordeste querido quase sempre acontece, mas nem todo mundo dá fé.
Lá inda é assim, e com toda modernagem do mundo.
O noticiário se espalha.
Agora mesmo, vejo na TV o repórter de voz empostada dizer com cara de espanto fingido:
- 32 mortos e mais de mil desaparecidos.
No rádio, o número aumenta.
E nem é dez da noite.
Deus me perdoe: até parece que há torcida pela desgraça.
O noticiário:
- O governo liberou 100 milhões...
Um pedaço do Nordeste se afogando, se acabando em cores na TV que pede gols que trouxeram à tona o nome de um brasileiro bem-educado chamado Parreira.
Nos 70, os meus amigos Zé, Lula, Jarbas e Geraldo Azevedo se afogaram nos fundos do Capiberibe.
Explico: uma obra de arte de valor sem tamanho engendrada por eles foi pro beleléu nas águas fedorentas do rio que corta Recife.
Sobraram poucos exemplares daquela obra, para privilegiados.
Chamava-se Paemberu.
Novamente um pedaço do Nodeste volta a se afogar, como em 1985.
Lembro de Patativa do Assaré e do poema que fez, Seca d´Água, musicado por Chico e Fagner e interpretada pelo rei do baião Luiz Gonzaga, Paulinho da Viola, João do Vale, Elba, Roberto Ribeiro, Alcione, Gilberto Gil, Amelinha, Elza Soares, Ivan Lins, Beth Carvalho, Carlinhos Vergueiro, Erasmo, Cris Buarque...
O poema é este:
“É triste para o Nordeste o que a natureza fez
Mandou cinco anos de seca e uma chuva em cada mês
E agora em 85 mandou tudo de uma vez
A sorte do nordestino é mesmo de fazer dó
Seca sem chuva é ruim
Mas seca d’água é pior
Quando chove brandamente depressa nasce um capim
Dá milho, arroz e feijão, mandioca e amendoim
Mas com em 85 até o sapo achou ruim
Maranhão e Piauí estão sofrendo por lá
Mas o maior sofrimento é nessas bandas de cá
Pernambuco, Rio Grande, Paraíba e Ceará
A sorte do nordestino é mesmo de fazer dó
Seca sem chuva é ruim
Mas seca d’água é pior
O Jaguaribe inundou a cidade de Iguatu
E Sobral foi alagada pelo Rio Acaraú
O mesmo estrago fizeram Salgado e Banabuiu
Ceará martirizado, eu tenho pena de ti
Limoeiro, Itaíçaba, Quixeré e Aracati
Faz pena ver o lamento dos flagelados dali
Seus doutores governantes da nossa grande nação
O flagelo das enchentes é de cortar coração
Muitas famílias vivendo sem lar, sem roupa, sem pão
A sorte do nordestino é mesmo de fazer dó
Seca sem chuva é ruim
Mas seca d’água é pior”.
Bom, o que eu queria dizer, mesmo, é que Parreira demonstrou, com o seu gesto humano, de ser civilizado diante do técnico da seleção francesa, Raymond Domenech, que o mundo não se acaba apenas com uma/ou numa partida de futebol.
Sim, o seu gesto foi sublime; e foi sublime por ter sido feito de forma espontânea, principalmente.
Viva o Brasil!
Para o inferno quem pense que pátria não é coração.
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quarta-feira, 23 de junho de 2010
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