Eu quase ia me esquecendo, mas a minha querida Anninha da Hora lembrou-me
que hoje é o Dia do Pão de Queijo. E disse-me ela, ainda em tom de
lembrança, que hoje é também o Dia do Patrimônio Histórico.
Anninha meus amigos, minhas amigas, é asa que me faz voar na vida depois que
os meus olhos fecharam-se para as cores.
Hoje 17 pra mim seria um dia como outro qualquer. E noite.
Anninha me faz vivo, essa minha querida moleca empresta-me os olhos dela para
que eu veja vida...
Hoje 17 faz 35 anos que o poeta mineiro Carlos Drummond de Andrade foi pra
além de nós. Está no céu.
Eu conheci Drummond. Eu o entrevistei para o Folhetim.
O Folhetim era um suplemento dominical do diário paulistano Folha de S.Paulo.
Ai, ai, ai, por que estou dizendo isso tudo?
A Anninha é uma danada, ela me tira do prumo. Ela diz coisas que esqueço, que
esqueci. E hoje 17 eu queria falar da morte, do passamento, de um cara chamado
Diogo de Assis Pacheco. Paulistano.
Diogo Pacheco foi um dos caras mais incríveis que tive a oportunidade e a
alegria de conhecer. Frequentei a casa dele.
Pacheco era incrível em todos os sentidos. Brincalhão, cheio de graça. Gostava
de whisky, destilados, que nem eu. Levou-me a sua casa várias vezes. E numa
dessas idas, ocorreu uma desgraça.
O maestro Diogo Pacheco morava bem, e muito bem, num apartamento ali na zona
Oeste de Sampa.
Naquele tempo eu fumava. E muito. Pobre de mim.
Na casa do Diogo, um dia estávamos eu e ele ouvindo música na sua sala
especial. De música. Coisas incríveis, musicalmente falando. Clássicos de
todos os tamanhos, desde Chopin a Mozart.
Aí fumando, fumando, aceso um cigarro caiu num tapete especialíssimo do
maestro. Queimou. O maestro ficou doido. Esculhambou-me e fiquei do tamanhinho
de nada. E foi ali, a partir dali, que decidi parar de fumar. E parei! De vez!
Diogo Pacheco foi assistente do meu querido amigo cearense
Eleazar de Carvalho. E foi Eleazar quem a me apresentou Pacheco, seu assistente na Orquestra do
Estado de São Paulo, OSESP (abaixo).
Meu Deus, quanta coisa mais eu poderia dizer sobre Diogo Pacheco!?
Atenção: foi Diogo Pacheco, ali em 1966, que resolveu a polêmica musical do
suposto plágio de Disparada, de Vandré. História. E não custa lembrar que o
erudito Diogo Pacheco passou a vida tentando popularizar o erudito.
Quando Anninha lembrou-me o pão de queijo, fiquei naturalmente com a boca
cheia d'água.
Quando Anninha lembrou-me que hoje é o dia do Patrimônio Histórico, pensei:
Será que o Brasil questiona este dia? Não, não... O dia morreu, a noite está
chegando ao fim e ninguém em mídia nenhuma falou desse dia tão importante no
nosso calendário.
O corpo do maestro Diogo de Assis Pacheco foi sepultado hoje no final da
tarde, no Cemitério da Consolação, onde se acham outros corpos da vida
brasileira bastante conhecidos como Monteiro Lobato e a
Marquesa de Santos.