Pois bem, a história começa exatamente quando a menina Cândida recebe de presente do padrinho uma escrava de 12 anos para ser sua mucama. Quando ela recebe esse "presente", a casa onde vive com seus pais Florêncio e Leonídia e o irmão Liberato é toda festa. Enfim, a garotinha estava completando 11 primaveras.
Antes de prosseguir, devo dizer aos queridos leitores e leitoras que o primeiro dos 55 capítulos que formam o episódio Lucinda, a Mucama é todo feito com uma grotesca explanação do autor Joaquim Manuel de Macedo.
No texto de abertura do referido episódio, Macedo demonstra ou finge demonstrar desconhecimento dos ritos e crenças africanos. Na verdade, ele mete o pau a torto e a direito na formação do povo de África. Isso mesmo, deixando pra lá de claro a necessidade urgente de se pôr fim à escravidão reinante na sua época.
Bom, dito isso digo um pouco mais a respeito do enredo dessa história.
A pequena Cândida, entusiasmadíssima com o presente que lhe foi dado pelo padrinho, Plácido, não se contém e logo procura fazer amizade perguntando o que a sua mucama sabia fazer. Resposta foi que sabia lavar, passar, cozinhar e fazer boneca de pano.
Os dias, semanas e meses passam-se formando anos.
Cândida tinha lá seus 15 anos quando parecia já conhecer de sobra a vida mundana. A influência da mucama sobre ela era muito grande.
Foi Lucinda do alto de seus 16 ou 17 anos, quem atiçou prematuramente fantasias eróticas a sua "senhora".
E foi assim que, de uma hora pra outra, Cândida caiu na boca de meio mundo. Entre cochichos, diziam ser ela já uma grande "namoradeira".
Os namoros ou namoricos de Cândida eram arrumados pela Mucama. Tudo de modo sutil, disfarçado.
De repente, cai nas suas graças um francês aventureiro, Souvanel. Por ele, ela fica doidinha. Perde o juízo, literalmente. E por pouco, por muito pouco, não vira prostituta ao ser levada pelo amado a um cortiço. É salva no último instante.
Uma coisinha a mais: é com desespero que Cândida descobre ser o francês amante da mucama.
Ao tomar conhecimento da história, o irmão da menina tenta dar uma surra no vilão. Mas, não dá tempo, pois o tal francês é deportado ao seu país ao ser descoberto como criminoso procurado.
Quanto à mucama... Bom, procurem ler o livro As Vítimas-Algozes.
No seu tempo, Joaquim Manuel de Macedo chegou a ser acusado de racismo.
No seu tempo, também, não custa dizer que o poeta catarinense Cruz e Souza foi acusado de omissão por não envolver-se no movimento abolicionista. Foi vítima, e é verdade, de racismo. Morreu pobre, vítima de tuberculose, em 1898.