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quinta-feira, 25 de novembro de 2021

IMPRENSA NEGRA, RESISTENTE E HEROICA: PARTE VI

Em 1843, Paula Brito convenceu Teixeira e Sousa a escrever um romance que ele, Brito, publicaria sob o título O Filho do Pescador, cujo enredo é recheado de traições e crimes. Foi o primeiro romance a ser publicado por um autor brasileiro em terras brasileiras. Curiosidade: em 1859 a maranhense Maria Firmina dos Reis ficaria conhecida por ser a primeira mulher a publicar um romance, Úrsula.
Maria dos Reis era negra, morreu cega e pobre na casa de uma amiga.
A primeira dramaturga brasileira foi Maria Angélica de Sousa Rego, que assinava simplesmente como Maria Ribeiro. Escreveu 2 dezenas de peças. A primeira publicada em livro em 1866, Cancro Sociais. Morreu em 1880, aos 50 anos de idade.
O primeiro livro, em versos, publicado na terra brasileira foi Marília de Dirceu (1812), do português de Porto Tomás Antônio Gonzaga (1744-1810).
Esse Gonzaga fez parte da conjuração mineira, que terminou na morte por enforcamento/esquartejamento de Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes (1746-1792).
Como no Rio de Janeiro, em São Paulo o clima político e libertário também era de novidades. No campo jornalístico, principalmente.
Em 1827, surgiu naquela província o primeiro jornal impresso: O Farol Paulistano, editado por José da Costa Carvalho (marquês de Monte Alegre; 1849-1852). Durou até 1831, ano da abdicação de Pedro I ao trono.
Em 1829, o italiano naturalizado Libero Badaró fez circular o jornal a que deu o título de O Observador Constitucional. O jornal, como o editor, era de linha liberal e contra a monarquia. Polêmico.
Na noite de 20 de novembro de 1830, quando caminhava de volta pra casa, Badaró teve os passos interrompidos por 4 desconhecidos que o alvejaram com tiros de bacamarte. Antes de morrer teria dito: “Morre um liberal, mas não morre a liberdade”.
Badaró era um grande crítico do imperador Pedro II.
Os jornais se multiplicavam País afora.
Em São Paulo no ano de 1864, o caricaturista de origem italiana Angelo Agostini (1843-1910) e o baiano Luiz Gama fundaram o primeiro periódico de linha editorial humorística: Diabo Coxo, que durou um ano e pouco e deu vez ao Cabrião, também humorístico e também com textos e caricaturas de Gama e Agostini. Esse durou até o fim de 1866.
No decorrer dos anos de 1860, o jovem escritor Aluísio de Azevedo publicava seus primeiros textos nos jornais A Flecha, O Pensador e A Pacotilha, no Maranhão sua terra. Eram textos contra a Igreja e contra a escravatura.
A história registra que o padre Vieira atuou durante anos no Maranhão e do Maranhão, os poderosos de plantão o expulsaram para Portugal, onde permaneceu durante alguns anos e retornou para concluir sua missão de evangelizar indígenas e mexer com a cabeça dos negros…
O ano de 1870 chega com Aluísio tentando sucesso no Rio de Janeiro.
No Rio, publica seu primeiro livro, O Mulato, que deixa de cabelos de pé a sociedade conservadora. Não à toa. Nessa obra, o autor cria um personagem diabólico, o padreco a quem dá o nome de Diogo. Sacana, sem escrúpulos. A violência come solta nas páginas desse texto.
Diabólico também era o personagem Pedro na polêmica peça de teatro O Demônio Familiar, de José de Alencar.
Essa peça estreou no dia 5 de novembro de 1857, no ginásio Dramático, RJ.
Três anos depois, Alencar continuaria a provocar polêmica com a peça Mãe. Belíssima.
A personagem central é Joana, uma negra. É quando Joaquim Nabuco acusa o autor de escravocrata. O pau come, até porque José de Alencar nas suas falas como deputado e representante da Elite, achava ser necessário o trabalho escravo para o crescimento do Brasil. Defendia que a libertação dos escravos fosse feita paulatinamente, lenta e gradual.
A essa altura, o imperador já o havia chamado de “teimoso” e “filho de padre”, “de valor, porém muito mal-educado”.
A mãe negra é uma personagem fortíssima na nossa literatura e música. O baiano Dorival Caymmi compôs e gravou em 1957 uma canção sobre essa temática. Assim:

Na hora em que o sol se esconde
E o sono chega
O sinhozinho vai procurar
Hum, hum, hum
A velha de colo quente
Que canta quadras e conta histórias
Para ninar
Hum, hum, hum

Sinhá Zefa que conta história
Sinhá Zefa sabe agradar
Sinhá Zefa que quando nina
Acaba por cochilar
Sinhá Zefa vai murmurando
Histórias para ninar

Peixe é esse meu filho, peixe é esse meu filho
Não meu pai
Peixe é esse mutum, manganem
É toca do mato guenem, guenem
Suê filho ê

Toca aê marimbaê(História pro Sinhozinho)

***

Esse texto foi originalmente escrito para o Newsletter Jornalistas & Cia. Já os conhece? Confira: Jornalistas&Cia, especial Perfil Racial da Imprensa Brasileira 

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