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segunda-feira, 9 de outubro de 2017

A BONITA VOZ DE MÁRIO DE ANDRADE


Se vocês não ouviram, ainda é hora de ouvir. Sempre é hora de ouvir o que é bom, boa voz, boa música, boas histórias.
Encantei-me com a voz do multi-tudo paulistano Mário de Andrade. Uma pérola, uma relíquia achada nos arquivos da Biblioteca do Senado norte-americano. Sempre lá! Encantei-me também com a voz da cearense Raquel de Queiroz (1910-2003).
Mário e Raquel cantam , com espontaneidade dos anjos, pequenas peças do folclore brasileiro. Coisas como Peixe Vivo, de que tanto gostava o mineiro Juscelino Kubitscheck (1902-1976), por exemplo. E cantigas de escravos e de pedintes. Tudo muito bonito.
A voz de Mário era uma voz afinada, cheia, abaritonada, que ele modulava com a categoria de um profissional do ramo. Fácil, fácil, punha no bolso muitos cantores da época. Estamos falando de 1925, 1926. A voz de Raquel não ficava atrás da voz de Mário. Aliás, os dois formariam uma dupla prá ninguém botar defeito. 
Mário de Andrade cantando é, sem dúvida, uma curiosidade e tanto. Mas uma curiosidade que certamente faria muito bem aos ouvidos de bom gosto.
Há muitas curiosidades entre os nossos intelectuais.
Machado de Assis, além do grande romancista que foi, também escreveu ótimos poemas e no Senado cobriu para jornais alguns debates acalorados entre titãs da política da sua época. Alguns dos seus poemas foram gravados. 
Poemas do baiano Castro Alves foram musicados e gravados nos primórdios do disco no Brasil. Entre os cantores que o interpretaram se acham Mário Pinheiro, o primeiro; Vicente Celestino, e tantos e tantos, até a dupla caipira formada por Tonico e Tinoco.





Euclides da Cunha, o grande Euclides, também deixou para a história poemas de sua lavra. Poemas que despertam atenção até hoje e recebem interpretações de atrizes como Marisa Orth.
Gilberto Freyre, autor da obra prima Casa Grande & Senzala, chegou até a publicar um livro de poesia, em 1962.
O paraibano de João Pessoa Ariano Suassuna chegou, mesmo, a gravar um disco só com poemas seus.





E assim segue a história...




VIVA MÁRIO DE ANDRADE!

Ele passou por duas guerras, grandes guerras. A primeira em 1914, que durou 4 anos, três meses e catorze dias e a segunda que começou dois anos depois, de o ditador gaúcho Vargas instalar o Estado Novo (1937). Pois bem, estou falando do paulistano Mário de Andrade.
Mário nasceu no dia 09 de outubro de 1893. Era de família endinheirada, como se diz. Mas depois que o pai morreu ele teve de se virar, como também se virou, no início do século passado, o potiguar Luiz da Câmara Cascudo.
Será redundância dizer, mas digo: Mário de Andrade foi um intelectual de nível tão alto quanto Cascudo.
Mário era rebelde na sua juventude. Cascudo, nem tanto. Cascudo tinha fome e sede por pesquisas. Mário também. Cascudo não tocava piano, Mário tocava e, como pianista, manteve-se depois que o pai morreu: foi professor. Isso, em 1917. Nesse ano o mundo tomou conhecimento da primeira e maior greve de operários já registada. Foi na Rússia, mas essa é outra história.
Mário de Andrade morreu em 1945, poucos meses antes de a II Grande Gerra acabar.
Mário publicou livros necessários para a Compreensão da vida cultural do país. Escreveu sobre música, dança e fez viagens importantes para fazer pesquisa sobre o folclore. Encontrou no compositor e maestro carioca Villa-Lobos, um companheiro e amigo. É de Villa a pesquisa que resultou na colheita de cantigas de roda dos fundões da Paraíba.
Mário foi macho em todos os sentidos, inclusive quando assumiu a condição de homossexual.
Em carta enviada ao poeta pernambucano Manuel Bandeira, no dia 07 de abril de 1928, ele contou das suas angústias referentes à homossexualidade. Essa carta foi censurada pelos posteriores do Mário e somente veio a público há dois anos.
Em nada mudou na vida e obra de Mário, que seus familiares impediram o tempo todo de as pessoas, todas, conhecerem.
Eu disse lá em cima, que Mário era pianista. Com diploma e tudo, e professor e tal. Pois bem,  em pouquíssimas ocasiões o nosso paulistano arriscou-se a compor. Composição famosa dele é por exemplo, Viola Quebrada, que a querida Inezita Barroso e dezenas e dezenas de outros intérpretes gravaram e com certeza continuarão a gravar.


Meu amigo, minha amiga, você conhece a voz de Mário de Andrade? Já a ouviu em algum lugar?
Antes de ouví-la, eu quero lembrar  que Mário escreveu um belíssimo poema sobre São paulo, a Capital onde nasceu. Esse poema da década de 1920 chama-se Paulicéia Desvairada. Parte desse poema foi musicado pelo piauiense, amigo querido Jorge Mello:


 E por fim, está na Biblioteca dos EUA a única gravação da voz do Mário, cantando na sua casa junto com a cearense maravilhosa Raquel de Queiroz (1910-2003). Incrível, não é? O Brasil parece não gostar de história, de acervo, de memória. Bom, ouçam Mário e Raquel:



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