O Brasil tem tudo o que todo mundo quer. No que se refere às artes, inclusive.
Embora até hoje nenhum autor brasileiro tenha recebido o Nobel de literatura, não são poucos e excepcionais os nossos literatos.
Pra valer, pra valer mesmo, os nossos primeiros poetas deram o ar da sua graça no século 17. O principal e mais afoito, polêmico e inspirado foi o soteropolitano Gregório de Matos Guerra.
Esse Gregório desenvolveu temas em quadras, sextilhas, décimas e até sonetos.
O soneto é modalidade poética que data ali do século 15 ou 16.
O italiano Francisco Petrarca foi o cara que deu ao soneto a forma que tem hoje.
Pois bem, Gregório nasceu de pais bem vividos e afortunados o que lhe possibilitou estudar na Universidade de Coimbra. Voltou doutor, com toda bola. Virou religioso, juiz e promotor na Província baiana. Casou-se com uma mulher chamada Maria dos Povos. Viveram bem, mas ele decepcionou-se com a Igreja e pulou fora.
O fato de ele ter se decepcionado com o catolicismo não bastou para calar-se. Pelo contrário, dedicou-se o quanto pôde a escrever poemas detonando religiosos e a elite dominante da época. Isso o fez odiado por muita gente.
Por não se comportar como a Igreja queria acabou por se transformar no seu maior crítico. O resultado disso foi uma estadia forçada em Angola. Dois anos antes de morrer, deixaram-no sair de Angola de volta ao Brasil.
Gregório de Matos reconciliou-se com a Igreja, mesmo que não lhe permitissem pôr de novo os pés na Bahia.
Esse poeta é considerado o mais ferino dentre todos os outros. Foi o primeiro e mais completo poeta pornográfico do Brasil, tendo páreo só no século 19, quando como um anjo torto o fluminense Laurindo Rabelo abriu suas asas e mostrou a que veio.
E de Rabelo o clássico As Rosas do Cume.
Sacou?
Pouca gente poderosa escapou da pena afiada do retumbante Gregório de Matos. Não à toa ele entrou para a galeria dos literatos tupininquim como Boca do Inferno. Morreu em Reclfe, rogando perdão a Deus.
Foi num dia como hoje, 20 de dezembro, que Gregório nasceu.
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