Analfabeto
da escola e doutor da vida, formado pela seca, pelo vento e doutorado em fauna
e flora e na alma humana, Luiz Gonzaga — não à toa do Nascimento — nasceu pra
não morrer.
Cedo,
muito cedo, ele encontrou no pai Januário o caminho das histórias encantadas,
do folclore, que apostou transformar no real, na realidade da vida Nordestina.
Da vida brasileira.
A
sanfona foi seu instrumento para alcançar a realidade que pretendia, em termos
de Nordeste e Brasil.
Antes
dele não havia Nordeste.
O
Nordeste dos invasores, dos escravos, da violência era o Nordeste do Inferno
sem entendimento geográfico, sem mapeamento geográfico. Com Luiz Gonzaga o
Nordeste começou a ser uma terra conhecida e boa, embora problemática, dentro
deste mundo que é o nosso Brasil com seus mais de 200 milhões de seres.
Mais
de um terço da população brasileira habita os nove estados da região
nordestina.
O
total dos nove estados passa do 1,5 milhão de km².
Luiz
Gonzaga foi um ser diferente dos seres seu tempo: ele via além dos olhos.
Detalhe:
Gonzaga, nos seus tempos de rapaz, fez tudo aparentemente de errado,
apaixonando-se, inclusive, por uma jovem que imaginou transformar-se na mulher
da sua vida. Essa ousadia rendeu-lhe uma mega surra dada com gosto/desgosto
pelos pais Januário e Santana que o levou a fugir de casa e alistar-se no
Exército mesmo com idade inferior a 18 anos. Isso mudou-lhe a vida.
Em
março de 1978, ele disse a mim em entrevista publicada no extinto D. O.
Leitura, que seu sonho era ser “cartaz”.
Cartaz,
pra quem não sabe ou lembra, era/é pessoa de destaque num grupo. De artistas,
principalmente.
E
folclore, você sabe o que é?
O
estudioso da cultura popular Luís da Câmara cascudo (1898-1986) detestava o
termo “folclorista”. Escute: https://youtu.be/TeLQm3SbyJQ
e leia http://almanaque.folha.uol.com.br/entcascudo.htm. Mais: cascudo escreveu 39
livros que tratam especialmente de cultura popular, num total de quase nove mil
páginas.
A
expressão Folclore é de origem inglesa: folk, povo; lore, ciência.
Essa
história de folclore, como tal definida, data do século 19. Começou com William
Thoms (1803-85), quando enviou uma carta à revista Athenaeum mostrando seu
pensamento sobre o comportamento do povo, até então impensáveis.
Essa
história é muito bonita, pois tem a ver com o nosso comportamento. A propósito
publiquei um opúsculo explicando essa história (reprodução da capa ao lado).
Comportamento,
meu amigo, minha amiga, você sabe o que é?
Comportamento
é tudo que fazemos, que falamos...
Nesse
quesito, Luiz Gonzaga foi absolutamente fantástico.
Luiz
Gonzaga, conhecido como Rei do Baião, foi o artista que, mais do que qualquer
intelectual, refez o Nordeste para o Brasil. E feito/refeito isso, ele mapeou o
Brasil através da música.
E
Carmen Miranda, hein?
Não
falei de Carmen Miranda (1909-55) até agora. Pois, pois.
Luiz
Gonzaga levou o baião para o Brasil e Carmen Miranda, que nasceu em
Portugal, para o mundo.
Aliás,
não foi por acaso que Carmen gravou a música Baião. Em inglês, numa versão do
norte-americano Ray Gilbert (1912-76). Ouça:
Essa
história e outras mais estarei detalhando sábado 22, a partir das 20h, numa
live que será transmitida para o mundo (Eita!), entre o Instituto Memória
Brasil, IMB, e o Centro Cultural Santo Amaro. Agende-se: https://www.facebook.com/assis.angelo.9/videos/3201090999972017
O dia
22 de agosto é o dia Internacional do Folclore.
Toda
a obra musical de Luiz Gonzaga tem por base o folclore, a partir do próprio
gênero baião que ele estilizou.
Asa
Branca, Assum preto, Lenda de São João, Juazeiro e outras mais tornaram-se
clássicos da nossa música.
Pouca
gente sabe que Asa Branca tem origem no folclore pernambucano. Leia mais: http://www.jornalistasecia.com.br/edicoes/culturapopular04.pdf
É do
Cego Oliveira (Pedro Pereira da Silva; 1912-97) a primeira e única gravação de
Asa Branca no original. Ouça:
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