É a velha história:
“... Na primeira noite, eles se aproximam/e roubam uma flor/do nosso jardim./E não dizemos nada./Na segunda noite, já não se escondem:/pisam as flores, matam nosso cão,/e não dizemos nada./Até que um dia,/o mais frágil deles/entra sozinho em nossa casa/roubam-nos a luz, e,/conhecendo nosso medo,/arrancam-nos a voz da garganta/E já não podemos dizer nada...”.
Lembrei desse poema (No Caminho Com Maiakósvski), do niteroiense Eduardo Alves da Costa, ao tomar conhecimento do crime cometido por João Sayad esta semana, ao demitir, num minuto e meio e sem nenhuma razão e prosa, o grande maestro e arranjador paulistano Júlio Medaglia, um nome cuja inteligência e sensibilidade o mundo civilizado elogia e aplaude; menos a direção da Fundação Padre Anchieta, que há muito anda correndo loucamente para se nivelar por baixo, como tudo indica, à grade comercial das emissoras abertas, que não têm compromisso algum com educação e cultura deste País historicamente judiado pelas elites e colonizadores.
A demissão do maestro da Fundação Padre Anchieta equivale a um retrocesso sem igual no campo da cultura musical, por isso não custa compará-la à violência praticada pelo personagem do poema de Eduardo Alves da Costa, que, aliás, por falta de esclarecimentos, muita gente inda pensa ser da lavra do poeta russo referido no título.
Júlio Medaglia tem ensinado e ajudado o quanto pode a formar opinião e a divulgar o que há de bom na nossa cultura, primeiro através do programa Pentagrama e depois através do programa Temas e Variações, que apresentou até terça passada pela Rádio Cultura FM.
Perdemos todos, incluindo os jovens instrumentistas que exibiam talentos a granel no belíssimo programa Prelúdio, criado, dirigido e apresentado pelo maestro nos fins de semana, via TV Cultura.
Enquanto Serra trabalha no desmonte do PSDB e a direção Fundação Padre Anchieta troca os pés pela cabeça, quem paga o pato são os cidadãos, em prejuízo à formação cultural de quem não tem opção de escolha na televisão.
O maestro foi funcionário da Fundação durante cerca de duas décadas, não custa lembrar.
Nos últimos cinco anos, ele continuava trabalhando na empresa, mas sem vínculos empregatícios; e o que ganhava como remuneração, servia apenas como ajuda de custo, digamos assim. Isto é: praticamente ele pagava para trabalhar.
Uma pena.
A sua demissão pelo Sr. Sayad é lamentável sobre qualquer aspecto.
A inteligência está de luto.
E não fazemos nada...
AVANT-PREMIÈRI
João Bernardo Caldeira informa hoje na sua coluna que será lançado até junho um novo canal de TV a cabo, o Movie Box Brazil, com conteúdo 100% nacional. Inicialmente, a programação será toda composta por programas licenciados, adquiridos com produtores e distribuidores como Downtown e Imovision. Até outubro, outros dois canais serão lançados, também dedicados a conteúdo nacional, focados em música e turismo. Nos próximos 20 dias, o sinal via satélite entrará em fase de testes. Para exibição dos canais, estão sendo mantidas negociações com a NET e a OI TV. No ano passado, o setor de TV por assinatura cresceu 30% em assinantes. Além do mercado interno aquecido, o momento é bom porque o Brasil atualmente é uma vitrine internacional.
Fica o registro.
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sexta-feira, 29 de abril de 2011
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