Insone, a moça Luísa 
Salta do leito, em camisa... 
Verão! verão de
  rachar! 
Calor! calor que devora! 
Luísa vai dormir fora, 
Ao
  luar... 
Ardente noite estrelada... 
Entre as plantas,
  descansada, 
Põe-se Luísa a roncar. 
Dorme toda a Natureza...
  
E que esplendor! que beleza 
No luar! 
Olha-a o luar com
  ciúmes... 
E sabem vivos perfumes 
Do jardim e do pomar: 
E
  ela, em camisa, formosa, 
Repousa, como uma rosa, 
Ao luar!
  
Mas alguém (um fantasma ou gente?) 
Chega-se prudentemente,
  
Para o seu sono espreitar... 
— Alguém que, ardendo em desejo,
  
Lhe põe nos lábios um beijo, 
Ao luar... 
Ela dorme...
  coitadinha! 
Nem o perigo adivinha, 
Pobre! a dormir e a sonhar...
  
Sente o beijo... mas parece 
Que é um beijo quente que desce
  
Do luar... 
A lua (dizem-no os sábios...) 
Também tem
  boca, tem lábios, 
Lábios que sabem beijar. 
Luísa dorme, em
  camisa... 
Como é formosa a Luísa 
Ao luar! 
Vão depois
  correndo os meses, 
Entre risos e revezes... 
— Começa a moça a
  engordar... 
Vai engordando, engordando... 
E chora, amaldiçoando
  
O luar... 
Já todo o povo murmura 
E, na sua desventura,
  
Ela só sabe chorar; 
Chora e diz que não sabia 
Que tanto mal
  lhe faria 
O luar... 
O pai, que é homem sisudo, 
Homem
  que percebe tudo, 
Pergunta-lhe a praguejar: 
“ Que é que tu tens,
  rapariga?!” 
E ela: “ Eu tenho na barriga... O luar!”
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